Guerra na ucrânia: como um pequeno país da Otan acelerou armamento de Kiev


País de apenas 645 mil habitantes doou parte do arsenal militar e se moveu para comprar armas no mercado

Por Lara Jakes

As forças armadas de Luxemburgo consistem em menos de mil soldados, um avião de carga, dois helicópteros compartilhados com a polícia e menos de 200 caminhões, que vão de Humvees a 10 veículos Dingo de última geração, para reconhecimento de combate.

Não há tanques, aviões de guerra ou mísseis de defesa aérea Patriot para contribuir para o esforço da Otan para armar a Ucrânia. O país doou 102 mísseis antitanques e 20 mil cartuchos de munição de metralhadora – uma quantidade possível para não comprometer o próprio exército.

Assim, Luxemburgo, uma nação de 645 mil habitantes, decidiu usar a riqueza considerável que possui para tentar comprar armas para a Ucrânia, assinando um acordo multimilionário no ano passado para obter 6 mil foguetes da era soviética. No fim, apenas 600 foram entregues e o governo começou um esforço para gastar o restante do dinheiro.

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Mecânico trabalha em uma fábrica militar em Luxemburgo, em imagem do dia 9. País buscou mercado aberto para comprar armas e enviar em ajuda à Ucrânia Foto: Jim Huylebroek/NYT

Em um momento em que os estoques ocidentais de armas e munições da era soviética estão perto do fim, as dificuldades de Luxemburgo fornecem uma janela de tempo para o problema de fornecer armas necessárias à Ucrânia para conter a Rússia até chegada dos foguetes, mísseis e tanques ocidentais, no fim do ano.

A Ucrânia tem gastado munições desde o início da guerra com a segurança de aliados para repor seus estoques. Mas não há empresas militares em Luxemburgo, e o governo deu tudo o que julgava poder dar do próprio arsenal limitado.

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Determinado a fazer uma contribuição maior para o esforço de guerra, Luxemburgo montou, logo após a invasão da Rússia, uma equipe com dois homens que atuavam como negociadores de armas internamente. Eles se propuseram a vasculhar os mercados de armas comerciais na Europa e nos Estados Unidos, e a demonstrar que o compromisso de seu país em derrotar a Rússia era tão grande quanto a dos seus aliados muito maiores da Otan.

“Somos tão pequenos, não temos um grande exército e, portanto, temos estoque limitado, mas queríamos desde o início ajudar a Ucrânia”, disse o ministro da Defesa de Luxemburgo, François Bausch, que também atua como ministro dos Transportes e vice-primeiro-ministro do país, em uma entrevista recente. “Mas somos flexíveis e, portanto, podemos comprar no mercado o que eles precisam e entregá-lo diretamente a eles.”

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Bausch também fez um paralelo da guerra com a situação vivida por Luxemburgo nas duas primeiras guerras mundiais, nas quais também foi, assim como a Ucrânia, um Estado invadido. “Fomos invadidos muitas vezes no século passado, por isso temos uma enorme sensibilidade para o que isso significa para o que está acontecendo agora na Ucrânia”, disse. “Não podemos deixar Putin fazer o que ele pretende”.

A maioria dos países da Otan está doando armamentos dos próprios estoques militares, de uma maneira simples; outros também estão comprando armas em mercados comerciais, o que é um negócio mais obscuro, particularmente quando se compra armas da era soviética. Em geral, são armamentos de pouca utilidade para a Otan e feito com vendedores que podem não querer se identificar por medo de comprometer os negócios com a Rússia.

Mecânico faz manutenção em veículo alemão Dingo, pertencente às forças militares de Luxemburgo, em imagem do dia 9 Foto: Jim Huylebroek/NYT
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Os homens da nova unidade de compra de armas do Luxemburgo sabiam pouco disso. Logo eles descobriram que poderiam encomendar os foguetes BM-21 Grads, da era soviética, em uma fábrica na República Tcheca. Mas, como é comum no imprevisível mundo da aquisição de armas, o acordo foi colocado de lado.

Com uma alta demanda por BM-21 Grads depois que a guerra começou, o fabricante tcheco ficou sem peças. Para piorar a situação, a maioria dos fornecedores da empresa estava localizada na Rússia ou em países que se recusavam a exportar equipamentos que pudessem ser usados para ajudar a Ucrânia. No final, Luxemburgo teve que se contentar com os 600 foguetes, um décimo de sua meta original.

O país, no entanto, conseguiu entregar ou contratar aproximadamente US$ 94 milhões (R$ 485 milhões) em armas e outras ajudas militares para a Ucrânia de fabricantes no Reino Unido, França, Polônia e Países Baixos - cerca de 16% do orçamento de defesa do país, disse Bausch.

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A entrega foi resultado de um esforço alto do país, mas representa uma quantia pequena em comparação com os bilhões de dólares em assistência de segurança que potências da Otan, como Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos, deram à Ucrânia desde o início da guerra. Somente esses três países prometeram quase US$ 40 bilhões (R$ 206 bilhões) até agora.

Menos tradição militar

Anna-Lena Högenauer, professora associada de ciência política e relações internacionais da Universidade de Luxemburgo, disse que o governo parece lidar com as questões morais sobre envolvimento militar, apesar do apoio público à Ucrânia. “Luxemburgo tem menos tradição e certamente menos experiência em se envolver em conflitos”, disse Högenauer. “Está um pouco fora da zona de conforto de um pequeno Estado que realmente não pensa em termos militares.”

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Luxemburgo gasta menos em forças armadas do que qualquer outro país da Otan e foi o único país da aliança a contribuir com menos de 1% do PIB para a defesa nacional no ano passado. Com um PIB de US$ 130 mil por pessoa (R$ 671 mil) – de longe o mais alto da Otan –, Luxemburgo contribuiu apenas US$ 25 milhões (R$ 129 milhões) para a Ucrânia em ajuda humanitária e contribuições para programas da Otan e da União Europeia que apoiam Kiev, de acordo com dados fornecidos pelo governo.

Isso atraiu repreensões de aliados que apoiavam de outra forma, particularmente no contexto do conflito em curso na Ucrânia. “O contexto de conflito em rápida evolução nos obriga a encontrar argumentos para fazer mais, em vez de razões para tornar difícil”, escreveu o embaixador dos EUA em Luxemburgo, Thomas Barrett, em um artigo de opinião no ano passado.

Autoridades de Luxemburgo dizem que a situação é mais complexa que isso. Mesmo que o governo decida fornecer mais dinheiro para equipar as forças armadas da Ucrânia, disse Bausch, não há pessoas suficientes no departamento para decidir como fazer da melhor maneira, sem o risco de ser mal utilizado.

Além disso, há o problema de encontrar armas para comprar, como os dois negociadores do país – ambos oficiais militares que se deslocaram para zonas de conflito – logo descobriram.

As forças armadas de Luxemburgo consistem em menos de mil soldados, um avião de carga, dois helicópteros compartilhados com a polícia e menos de 200 caminhões, que vão de Humvees a 10 veículos Dingo de última geração, para reconhecimento de combate.

Não há tanques, aviões de guerra ou mísseis de defesa aérea Patriot para contribuir para o esforço da Otan para armar a Ucrânia. O país doou 102 mísseis antitanques e 20 mil cartuchos de munição de metralhadora – uma quantidade possível para não comprometer o próprio exército.

Assim, Luxemburgo, uma nação de 645 mil habitantes, decidiu usar a riqueza considerável que possui para tentar comprar armas para a Ucrânia, assinando um acordo multimilionário no ano passado para obter 6 mil foguetes da era soviética. No fim, apenas 600 foram entregues e o governo começou um esforço para gastar o restante do dinheiro.

Mecânico trabalha em uma fábrica militar em Luxemburgo, em imagem do dia 9. País buscou mercado aberto para comprar armas e enviar em ajuda à Ucrânia Foto: Jim Huylebroek/NYT

Em um momento em que os estoques ocidentais de armas e munições da era soviética estão perto do fim, as dificuldades de Luxemburgo fornecem uma janela de tempo para o problema de fornecer armas necessárias à Ucrânia para conter a Rússia até chegada dos foguetes, mísseis e tanques ocidentais, no fim do ano.

A Ucrânia tem gastado munições desde o início da guerra com a segurança de aliados para repor seus estoques. Mas não há empresas militares em Luxemburgo, e o governo deu tudo o que julgava poder dar do próprio arsenal limitado.

Determinado a fazer uma contribuição maior para o esforço de guerra, Luxemburgo montou, logo após a invasão da Rússia, uma equipe com dois homens que atuavam como negociadores de armas internamente. Eles se propuseram a vasculhar os mercados de armas comerciais na Europa e nos Estados Unidos, e a demonstrar que o compromisso de seu país em derrotar a Rússia era tão grande quanto a dos seus aliados muito maiores da Otan.

“Somos tão pequenos, não temos um grande exército e, portanto, temos estoque limitado, mas queríamos desde o início ajudar a Ucrânia”, disse o ministro da Defesa de Luxemburgo, François Bausch, que também atua como ministro dos Transportes e vice-primeiro-ministro do país, em uma entrevista recente. “Mas somos flexíveis e, portanto, podemos comprar no mercado o que eles precisam e entregá-lo diretamente a eles.”

Bausch também fez um paralelo da guerra com a situação vivida por Luxemburgo nas duas primeiras guerras mundiais, nas quais também foi, assim como a Ucrânia, um Estado invadido. “Fomos invadidos muitas vezes no século passado, por isso temos uma enorme sensibilidade para o que isso significa para o que está acontecendo agora na Ucrânia”, disse. “Não podemos deixar Putin fazer o que ele pretende”.

A maioria dos países da Otan está doando armamentos dos próprios estoques militares, de uma maneira simples; outros também estão comprando armas em mercados comerciais, o que é um negócio mais obscuro, particularmente quando se compra armas da era soviética. Em geral, são armamentos de pouca utilidade para a Otan e feito com vendedores que podem não querer se identificar por medo de comprometer os negócios com a Rússia.

Mecânico faz manutenção em veículo alemão Dingo, pertencente às forças militares de Luxemburgo, em imagem do dia 9 Foto: Jim Huylebroek/NYT

Os homens da nova unidade de compra de armas do Luxemburgo sabiam pouco disso. Logo eles descobriram que poderiam encomendar os foguetes BM-21 Grads, da era soviética, em uma fábrica na República Tcheca. Mas, como é comum no imprevisível mundo da aquisição de armas, o acordo foi colocado de lado.

Com uma alta demanda por BM-21 Grads depois que a guerra começou, o fabricante tcheco ficou sem peças. Para piorar a situação, a maioria dos fornecedores da empresa estava localizada na Rússia ou em países que se recusavam a exportar equipamentos que pudessem ser usados para ajudar a Ucrânia. No final, Luxemburgo teve que se contentar com os 600 foguetes, um décimo de sua meta original.

O país, no entanto, conseguiu entregar ou contratar aproximadamente US$ 94 milhões (R$ 485 milhões) em armas e outras ajudas militares para a Ucrânia de fabricantes no Reino Unido, França, Polônia e Países Baixos - cerca de 16% do orçamento de defesa do país, disse Bausch.

A entrega foi resultado de um esforço alto do país, mas representa uma quantia pequena em comparação com os bilhões de dólares em assistência de segurança que potências da Otan, como Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos, deram à Ucrânia desde o início da guerra. Somente esses três países prometeram quase US$ 40 bilhões (R$ 206 bilhões) até agora.

Menos tradição militar

Anna-Lena Högenauer, professora associada de ciência política e relações internacionais da Universidade de Luxemburgo, disse que o governo parece lidar com as questões morais sobre envolvimento militar, apesar do apoio público à Ucrânia. “Luxemburgo tem menos tradição e certamente menos experiência em se envolver em conflitos”, disse Högenauer. “Está um pouco fora da zona de conforto de um pequeno Estado que realmente não pensa em termos militares.”

Luxemburgo gasta menos em forças armadas do que qualquer outro país da Otan e foi o único país da aliança a contribuir com menos de 1% do PIB para a defesa nacional no ano passado. Com um PIB de US$ 130 mil por pessoa (R$ 671 mil) – de longe o mais alto da Otan –, Luxemburgo contribuiu apenas US$ 25 milhões (R$ 129 milhões) para a Ucrânia em ajuda humanitária e contribuições para programas da Otan e da União Europeia que apoiam Kiev, de acordo com dados fornecidos pelo governo.

Isso atraiu repreensões de aliados que apoiavam de outra forma, particularmente no contexto do conflito em curso na Ucrânia. “O contexto de conflito em rápida evolução nos obriga a encontrar argumentos para fazer mais, em vez de razões para tornar difícil”, escreveu o embaixador dos EUA em Luxemburgo, Thomas Barrett, em um artigo de opinião no ano passado.

Autoridades de Luxemburgo dizem que a situação é mais complexa que isso. Mesmo que o governo decida fornecer mais dinheiro para equipar as forças armadas da Ucrânia, disse Bausch, não há pessoas suficientes no departamento para decidir como fazer da melhor maneira, sem o risco de ser mal utilizado.

Além disso, há o problema de encontrar armas para comprar, como os dois negociadores do país – ambos oficiais militares que se deslocaram para zonas de conflito – logo descobriram.

As forças armadas de Luxemburgo consistem em menos de mil soldados, um avião de carga, dois helicópteros compartilhados com a polícia e menos de 200 caminhões, que vão de Humvees a 10 veículos Dingo de última geração, para reconhecimento de combate.

Não há tanques, aviões de guerra ou mísseis de defesa aérea Patriot para contribuir para o esforço da Otan para armar a Ucrânia. O país doou 102 mísseis antitanques e 20 mil cartuchos de munição de metralhadora – uma quantidade possível para não comprometer o próprio exército.

Assim, Luxemburgo, uma nação de 645 mil habitantes, decidiu usar a riqueza considerável que possui para tentar comprar armas para a Ucrânia, assinando um acordo multimilionário no ano passado para obter 6 mil foguetes da era soviética. No fim, apenas 600 foram entregues e o governo começou um esforço para gastar o restante do dinheiro.

Mecânico trabalha em uma fábrica militar em Luxemburgo, em imagem do dia 9. País buscou mercado aberto para comprar armas e enviar em ajuda à Ucrânia Foto: Jim Huylebroek/NYT

Em um momento em que os estoques ocidentais de armas e munições da era soviética estão perto do fim, as dificuldades de Luxemburgo fornecem uma janela de tempo para o problema de fornecer armas necessárias à Ucrânia para conter a Rússia até chegada dos foguetes, mísseis e tanques ocidentais, no fim do ano.

A Ucrânia tem gastado munições desde o início da guerra com a segurança de aliados para repor seus estoques. Mas não há empresas militares em Luxemburgo, e o governo deu tudo o que julgava poder dar do próprio arsenal limitado.

Determinado a fazer uma contribuição maior para o esforço de guerra, Luxemburgo montou, logo após a invasão da Rússia, uma equipe com dois homens que atuavam como negociadores de armas internamente. Eles se propuseram a vasculhar os mercados de armas comerciais na Europa e nos Estados Unidos, e a demonstrar que o compromisso de seu país em derrotar a Rússia era tão grande quanto a dos seus aliados muito maiores da Otan.

“Somos tão pequenos, não temos um grande exército e, portanto, temos estoque limitado, mas queríamos desde o início ajudar a Ucrânia”, disse o ministro da Defesa de Luxemburgo, François Bausch, que também atua como ministro dos Transportes e vice-primeiro-ministro do país, em uma entrevista recente. “Mas somos flexíveis e, portanto, podemos comprar no mercado o que eles precisam e entregá-lo diretamente a eles.”

Bausch também fez um paralelo da guerra com a situação vivida por Luxemburgo nas duas primeiras guerras mundiais, nas quais também foi, assim como a Ucrânia, um Estado invadido. “Fomos invadidos muitas vezes no século passado, por isso temos uma enorme sensibilidade para o que isso significa para o que está acontecendo agora na Ucrânia”, disse. “Não podemos deixar Putin fazer o que ele pretende”.

A maioria dos países da Otan está doando armamentos dos próprios estoques militares, de uma maneira simples; outros também estão comprando armas em mercados comerciais, o que é um negócio mais obscuro, particularmente quando se compra armas da era soviética. Em geral, são armamentos de pouca utilidade para a Otan e feito com vendedores que podem não querer se identificar por medo de comprometer os negócios com a Rússia.

Mecânico faz manutenção em veículo alemão Dingo, pertencente às forças militares de Luxemburgo, em imagem do dia 9 Foto: Jim Huylebroek/NYT

Os homens da nova unidade de compra de armas do Luxemburgo sabiam pouco disso. Logo eles descobriram que poderiam encomendar os foguetes BM-21 Grads, da era soviética, em uma fábrica na República Tcheca. Mas, como é comum no imprevisível mundo da aquisição de armas, o acordo foi colocado de lado.

Com uma alta demanda por BM-21 Grads depois que a guerra começou, o fabricante tcheco ficou sem peças. Para piorar a situação, a maioria dos fornecedores da empresa estava localizada na Rússia ou em países que se recusavam a exportar equipamentos que pudessem ser usados para ajudar a Ucrânia. No final, Luxemburgo teve que se contentar com os 600 foguetes, um décimo de sua meta original.

O país, no entanto, conseguiu entregar ou contratar aproximadamente US$ 94 milhões (R$ 485 milhões) em armas e outras ajudas militares para a Ucrânia de fabricantes no Reino Unido, França, Polônia e Países Baixos - cerca de 16% do orçamento de defesa do país, disse Bausch.

A entrega foi resultado de um esforço alto do país, mas representa uma quantia pequena em comparação com os bilhões de dólares em assistência de segurança que potências da Otan, como Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos, deram à Ucrânia desde o início da guerra. Somente esses três países prometeram quase US$ 40 bilhões (R$ 206 bilhões) até agora.

Menos tradição militar

Anna-Lena Högenauer, professora associada de ciência política e relações internacionais da Universidade de Luxemburgo, disse que o governo parece lidar com as questões morais sobre envolvimento militar, apesar do apoio público à Ucrânia. “Luxemburgo tem menos tradição e certamente menos experiência em se envolver em conflitos”, disse Högenauer. “Está um pouco fora da zona de conforto de um pequeno Estado que realmente não pensa em termos militares.”

Luxemburgo gasta menos em forças armadas do que qualquer outro país da Otan e foi o único país da aliança a contribuir com menos de 1% do PIB para a defesa nacional no ano passado. Com um PIB de US$ 130 mil por pessoa (R$ 671 mil) – de longe o mais alto da Otan –, Luxemburgo contribuiu apenas US$ 25 milhões (R$ 129 milhões) para a Ucrânia em ajuda humanitária e contribuições para programas da Otan e da União Europeia que apoiam Kiev, de acordo com dados fornecidos pelo governo.

Isso atraiu repreensões de aliados que apoiavam de outra forma, particularmente no contexto do conflito em curso na Ucrânia. “O contexto de conflito em rápida evolução nos obriga a encontrar argumentos para fazer mais, em vez de razões para tornar difícil”, escreveu o embaixador dos EUA em Luxemburgo, Thomas Barrett, em um artigo de opinião no ano passado.

Autoridades de Luxemburgo dizem que a situação é mais complexa que isso. Mesmo que o governo decida fornecer mais dinheiro para equipar as forças armadas da Ucrânia, disse Bausch, não há pessoas suficientes no departamento para decidir como fazer da melhor maneira, sem o risco de ser mal utilizado.

Além disso, há o problema de encontrar armas para comprar, como os dois negociadores do país – ambos oficiais militares que se deslocaram para zonas de conflito – logo descobriram.

As forças armadas de Luxemburgo consistem em menos de mil soldados, um avião de carga, dois helicópteros compartilhados com a polícia e menos de 200 caminhões, que vão de Humvees a 10 veículos Dingo de última geração, para reconhecimento de combate.

Não há tanques, aviões de guerra ou mísseis de defesa aérea Patriot para contribuir para o esforço da Otan para armar a Ucrânia. O país doou 102 mísseis antitanques e 20 mil cartuchos de munição de metralhadora – uma quantidade possível para não comprometer o próprio exército.

Assim, Luxemburgo, uma nação de 645 mil habitantes, decidiu usar a riqueza considerável que possui para tentar comprar armas para a Ucrânia, assinando um acordo multimilionário no ano passado para obter 6 mil foguetes da era soviética. No fim, apenas 600 foram entregues e o governo começou um esforço para gastar o restante do dinheiro.

Mecânico trabalha em uma fábrica militar em Luxemburgo, em imagem do dia 9. País buscou mercado aberto para comprar armas e enviar em ajuda à Ucrânia Foto: Jim Huylebroek/NYT

Em um momento em que os estoques ocidentais de armas e munições da era soviética estão perto do fim, as dificuldades de Luxemburgo fornecem uma janela de tempo para o problema de fornecer armas necessárias à Ucrânia para conter a Rússia até chegada dos foguetes, mísseis e tanques ocidentais, no fim do ano.

A Ucrânia tem gastado munições desde o início da guerra com a segurança de aliados para repor seus estoques. Mas não há empresas militares em Luxemburgo, e o governo deu tudo o que julgava poder dar do próprio arsenal limitado.

Determinado a fazer uma contribuição maior para o esforço de guerra, Luxemburgo montou, logo após a invasão da Rússia, uma equipe com dois homens que atuavam como negociadores de armas internamente. Eles se propuseram a vasculhar os mercados de armas comerciais na Europa e nos Estados Unidos, e a demonstrar que o compromisso de seu país em derrotar a Rússia era tão grande quanto a dos seus aliados muito maiores da Otan.

“Somos tão pequenos, não temos um grande exército e, portanto, temos estoque limitado, mas queríamos desde o início ajudar a Ucrânia”, disse o ministro da Defesa de Luxemburgo, François Bausch, que também atua como ministro dos Transportes e vice-primeiro-ministro do país, em uma entrevista recente. “Mas somos flexíveis e, portanto, podemos comprar no mercado o que eles precisam e entregá-lo diretamente a eles.”

Bausch também fez um paralelo da guerra com a situação vivida por Luxemburgo nas duas primeiras guerras mundiais, nas quais também foi, assim como a Ucrânia, um Estado invadido. “Fomos invadidos muitas vezes no século passado, por isso temos uma enorme sensibilidade para o que isso significa para o que está acontecendo agora na Ucrânia”, disse. “Não podemos deixar Putin fazer o que ele pretende”.

A maioria dos países da Otan está doando armamentos dos próprios estoques militares, de uma maneira simples; outros também estão comprando armas em mercados comerciais, o que é um negócio mais obscuro, particularmente quando se compra armas da era soviética. Em geral, são armamentos de pouca utilidade para a Otan e feito com vendedores que podem não querer se identificar por medo de comprometer os negócios com a Rússia.

Mecânico faz manutenção em veículo alemão Dingo, pertencente às forças militares de Luxemburgo, em imagem do dia 9 Foto: Jim Huylebroek/NYT

Os homens da nova unidade de compra de armas do Luxemburgo sabiam pouco disso. Logo eles descobriram que poderiam encomendar os foguetes BM-21 Grads, da era soviética, em uma fábrica na República Tcheca. Mas, como é comum no imprevisível mundo da aquisição de armas, o acordo foi colocado de lado.

Com uma alta demanda por BM-21 Grads depois que a guerra começou, o fabricante tcheco ficou sem peças. Para piorar a situação, a maioria dos fornecedores da empresa estava localizada na Rússia ou em países que se recusavam a exportar equipamentos que pudessem ser usados para ajudar a Ucrânia. No final, Luxemburgo teve que se contentar com os 600 foguetes, um décimo de sua meta original.

O país, no entanto, conseguiu entregar ou contratar aproximadamente US$ 94 milhões (R$ 485 milhões) em armas e outras ajudas militares para a Ucrânia de fabricantes no Reino Unido, França, Polônia e Países Baixos - cerca de 16% do orçamento de defesa do país, disse Bausch.

A entrega foi resultado de um esforço alto do país, mas representa uma quantia pequena em comparação com os bilhões de dólares em assistência de segurança que potências da Otan, como Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos, deram à Ucrânia desde o início da guerra. Somente esses três países prometeram quase US$ 40 bilhões (R$ 206 bilhões) até agora.

Menos tradição militar

Anna-Lena Högenauer, professora associada de ciência política e relações internacionais da Universidade de Luxemburgo, disse que o governo parece lidar com as questões morais sobre envolvimento militar, apesar do apoio público à Ucrânia. “Luxemburgo tem menos tradição e certamente menos experiência em se envolver em conflitos”, disse Högenauer. “Está um pouco fora da zona de conforto de um pequeno Estado que realmente não pensa em termos militares.”

Luxemburgo gasta menos em forças armadas do que qualquer outro país da Otan e foi o único país da aliança a contribuir com menos de 1% do PIB para a defesa nacional no ano passado. Com um PIB de US$ 130 mil por pessoa (R$ 671 mil) – de longe o mais alto da Otan –, Luxemburgo contribuiu apenas US$ 25 milhões (R$ 129 milhões) para a Ucrânia em ajuda humanitária e contribuições para programas da Otan e da União Europeia que apoiam Kiev, de acordo com dados fornecidos pelo governo.

Isso atraiu repreensões de aliados que apoiavam de outra forma, particularmente no contexto do conflito em curso na Ucrânia. “O contexto de conflito em rápida evolução nos obriga a encontrar argumentos para fazer mais, em vez de razões para tornar difícil”, escreveu o embaixador dos EUA em Luxemburgo, Thomas Barrett, em um artigo de opinião no ano passado.

Autoridades de Luxemburgo dizem que a situação é mais complexa que isso. Mesmo que o governo decida fornecer mais dinheiro para equipar as forças armadas da Ucrânia, disse Bausch, não há pessoas suficientes no departamento para decidir como fazer da melhor maneira, sem o risco de ser mal utilizado.

Além disso, há o problema de encontrar armas para comprar, como os dois negociadores do país – ambos oficiais militares que se deslocaram para zonas de conflito – logo descobriram.

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