THE WASHINGTON POST - A Rússia deportou de 900 mil a 1,6 milhão de cidadãos ucranianos de regiões ocupadas na Ucrânia em uma operação sistêmica de “filtragem”, disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em um comunicado nesta quarta-feira, 13, em uma forte condenação a Moscou e uma confirmação das alegações que autoridades ucranianas fazem há tempos.
Muitos dos “deportados à força”, incluindo 260 mil crianças, algumas separadas de suas famílias, acabaram em regiões isoladas no extremo leste da Rússia, disse Blinken.
“Relatos indicam” que as forças russas levaram milhares de crianças de orfanatos na Ucrânia e as colocaram para adoção na Rússia, segundo o comunicado.
Reportagens do The Washington Post em março mostraram que civis ucranianos já estavam sendo deportados. Alguns foram levados para Taganrog, uma cidade portuária russa no Mar de Azov. De lá, eles seriam enviados de trem para cidades e vilas em toda a Rússia. Em março, imagens de satélite e vídeos verificados pelo jornal americano mostraram que as forças apoiadas pela Rússia estavam começando a construir um acampamento em Bezymenne, na região do leste da Ucrânia controlada por separatistas.
No final de junho, a vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk, disse que 1,2 milhão de ucranianos foram deportados à força para a Rússia, incluindo 240 mil crianças. Duas mil das crianças seriam órfãs. O chefe do Centro de Controle de Defesa Nacional da Rússia, Mikhail Mizintsev, disse que 2.359.000 “refugiados” ucranianos se mudaram para a Rússia, incluindo 371.925 crianças.
Na semana passada, Courtney Austrian, vice-chefe da missão dos EUA na Organização para Segurança e Cooperação na Europa, disse em um discurso que 18 “campos de filtragem” foram identificados em ambos os lados da fronteira Ucrânia-Rússia. Com a ajuda de grupos de procuração, autoridades russas montaram acampamentos em escolas, centros esportivos e instituições culturais em territórios ocupados pela Rússia.
A declaração de Blinken cita relatos de testemunhas sobre autoridades russas transportando dezenas de milhares de pessoas para centros de detenção em Donetsk.
Moscou “supostamente” armazenou dados biométricos e pessoais de civis e os submeteu a buscas invasivas, de acordo com o comunicado, que observa que alguns ucranianos foram coagidos a assinar acordos para permanecer na Rússia.
“A transferência ilegal e deportação de pessoas protegidas é uma grave violação da Quarta Convenção de Genebra sobre a proteção de civis e é um crime de guerra”, disse Blinken, traçando paralelos com operações de filtragem russas anteriores na Chechênia e em outros lugares.
Robert Goldman, especialista em crimes de guerra e direitos humanos da American University, disse que deportações forçadas na escala que Blinken descreve podem equivaler a uma intenção genocida.
“Isso só aumenta a triste ladainha de violações sistemáticas das proibições mais básicas que temos na lei para coisas que não pensávamos que veríamos novamente, desde a 2ª. Guerra, mas estão acontecendo”, disse ele.
Moradores da Lituânia, Estônia e Letônia alertaram que a história está se repetindo.
De 1941 a 1952, um total de meio milhão de pessoas dos estados bálticos foram deportados para a Rússia. O objetivo das expulsões era principalmente político, visando expurgar a região das forças antissoviéticas. Entre o primeiro grupo de pessoas estavam os homens da elite báltica, incluindo educadores, escritores, advogados e outros profissionais, junto com suas famílias. Mais tarde, durante a “Operação Priboi”, mulheres e crianças foram deportadas e enviadas para as fazendas para trabalhar. Muitos morreram no caminho.