Guerra na Ucrânia: ministro cita ‘sanha’ expansionista da Otan e se opõe à ‘cancelamento’ da Rússia


Mauro Vieira afirma que avanço da aliança militar provocou o conflito e compara situação à crise dos mísseis em Cuba, durante a Guerra Fria

Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, citou a “sanha” por expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como um dos motivos para a guerra na Ucrânia. Esse é um argumento usado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, para explicar suas razões ao determinar a invasão do país vizinho, no Leste Europeu. Contudo, o chanceler brasileiro ponderou que a ampliação da aliança militar ocidental para a fronteira russa “não justifica” a ação militar de Putin.

“A situação em que nos encontramos foi provocada por essa sanha, esse avanço, e hoje os contatos diretos de países da Otan com a fronteira imediata russa são enormes, desde a Finlândia, passando pelos países bálticos. É uma situação que é avaliada pelo governo (russo) como um risco a sua segurança”, afirmou o chanceler Mauro Vieira.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, detalha a política externa brasileira na Câmara dos Deputados Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
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Vieira participou na quarta-feira, dia 24, de audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. O ministro também reiterou, durante sua participação, a decisão da diplomacia de trabalhar contra o isolamento de Putin, que chamou de “cancelamento” da Rússia.

Ao abordar as razões da guerra e ecoar um argumento de Moscou, o ministro comentou relato histórico do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O parlamentar petista fez apanhado de citações e análises sobre a expansão da Otan, atribuídas a diplomatas, especialistas, integrantes da comunidade de inteligência e outras autoridades dos Estados Unidos, desde os anos 1990. Segundo ele, diversas autoridades e conselheiros presidenciais apontavam que seria um erro grave a Otan agregar novos países até chegar ao entorno russo, após o fim da União Soviética.

O deputado criticou a decisão de expandir a Otan, quebrando um acordo que previa “nenhuma polegada em direção ao Leste Europeu”. A aliança passou de 16 para 30 países-membros, destacou o petista. Chinaglia lembrou que, em 2008, durante uma conferência da Otan em Bucareste, a Rússia, que não foi aceita no grupo, esperava que a Otan desistisse da integração de vizinhos como Ucrânia e Georgia. Ele afirmou que “na ocasião Putin declarou que se a Ucrânia entrasse para Otan ela o faria sem a Crimeia e sem o Donbass”.

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“Vejam, Putin antecipou o que a Rússia Faria 14 anos atrás”, afirmou Chinaglia. Citando informações reservadas dos Estados Unidos, ele lembrou que os russos consideravam o ingresso da Ucrânia na Otan como um “desafio direto” à existência de seu país.

“Os Estados Unidos são os maiores responsáveis por reacender a Guerra Fria no nível que está. Ninguém, por parte da Rússia, disse que não faria o que fez, ao contrário. Pois bem, pagaram para ver e agora há um desafio para buscar a paz”, criticou Chinaglia, segundo quem Zelenski é um presidente “de extrema-direita que usa e contribui para a matança de seu povo para fazer o jogo perigoso da política internacional”.

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O ministro, então, respondeu que concordava e apreciava as referências trazidas pelo deputado, que ilustravam “um caminho no sentido da situação em que estamos”. “Sem dúvida nenhuma, houve erros de avaliação, iniciativas equivocadas que levaram a essa pressão sobre a Rússia. Evidente que isso não justifica que haja invasão e agressão ao território (ucraniano). Mas havia na dissolução da União Soviética um entendimento de que não haveria essa expansão”, disse o chanceler.

Mauro Vieira comparou a situação a um dos episódios mais críticos da Guerra Fria, quando os soviéticos instalaram mísseis nucleares apontados para o território dos Estados Unidos a 145 quilômetros da costa da Flórida, em Cuba. Washington reagiu e fez um bloqueio na ilha, exigindo a desmontagem das armas, até que um acordo foi negociado com Moscou.

“Isso nada mais é do que o outro lado da moeda de 1962, quando houve a crise dos mísseis russos em Cuba. É a mesma situação vista de outro ângulo”, comparou Vieira.

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As declarações ocorrem num contexto de desconfiança global sobre a posição do Brasil no conflito. Parte do Ocidente enxerga manifestações do governo brasileiro como mais favoráveis a Moscou.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva busca se colocar como equilibrado, e o presidente lançou a ideia de mediar um acordo de paz. Em viagens ao exterior, ele fez críticas aos países da Otan aliados de Kiev, como os Estados Unidos e potências europeias, e equiparou responsabilidades dos presidentes da Rússia e da Ucrânia pela guerra.

Para o chanceler, a posição brasileira é clara. Ele a definiu como de “equilíbrio construtivo”, em vez de neutralidade, pois o Brasil se engaja conforme os interesses nacionais.

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O presidente Lula condenou a violação da integridade territorial da Ucrânia. Em discurso durante sessão de trabalho do G7

“Como todos sabem, condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia tanto na Assembleia Geral quanto no Conselho de Segurança, e, ao mesmo tempo, alertamos para os riscos do ‘cancelamento’ da Rússia e das sanções unilaterais, que em nada contribuem para a construção de uma solução negociada. Pelo contrário, apenas diminuem os espaços de diálogo e estimulam uma arriscada espiral confrontacionista”, discursou.

No fim de semana, Lula não se reuniu com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Os dois estavam em Hiroshima, no Japão, convidados para a cúpula do G-7, mas nem sequer se cumprimentaram. Lula disse que abriu espaço na sua agenda para atender um pedido de conversa presencial, feito pelos ucranianos, mas que Zelenski não apareceu.

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Lula e Mauro Vieira receberam recentemente o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Brasília. Na ocasião, ele apontou uma similaridade de visões entre Brasília e Moscou, sem ter sido contestado. O fato provocou decepção em capitais do Ocidente. Diplomatas dos Estados Unidos viram um claro sinal de alinhamento.

O presidente havia enviado o assessor especial Celso Amorim a Moscou, para sondar Putin, e depois de cobrado também despachou o conselheiro e ex-chanceler a Kiev para ouvir Zelenski.

Diante de pressões, Lula voltou a reiterar que condena a violação territorial da Ucrânia e que Putin errou, mas que não aceita sanções unilaterais. O presidente afirma que nenhum dos lados na guerra deseja discutir a paz agora, mas que ambos precisarão ceder em prol de um acordo.

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, citou a “sanha” por expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como um dos motivos para a guerra na Ucrânia. Esse é um argumento usado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, para explicar suas razões ao determinar a invasão do país vizinho, no Leste Europeu. Contudo, o chanceler brasileiro ponderou que a ampliação da aliança militar ocidental para a fronteira russa “não justifica” a ação militar de Putin.

“A situação em que nos encontramos foi provocada por essa sanha, esse avanço, e hoje os contatos diretos de países da Otan com a fronteira imediata russa são enormes, desde a Finlândia, passando pelos países bálticos. É uma situação que é avaliada pelo governo (russo) como um risco a sua segurança”, afirmou o chanceler Mauro Vieira.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, detalha a política externa brasileira na Câmara dos Deputados Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Vieira participou na quarta-feira, dia 24, de audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. O ministro também reiterou, durante sua participação, a decisão da diplomacia de trabalhar contra o isolamento de Putin, que chamou de “cancelamento” da Rússia.

Ao abordar as razões da guerra e ecoar um argumento de Moscou, o ministro comentou relato histórico do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O parlamentar petista fez apanhado de citações e análises sobre a expansão da Otan, atribuídas a diplomatas, especialistas, integrantes da comunidade de inteligência e outras autoridades dos Estados Unidos, desde os anos 1990. Segundo ele, diversas autoridades e conselheiros presidenciais apontavam que seria um erro grave a Otan agregar novos países até chegar ao entorno russo, após o fim da União Soviética.

O deputado criticou a decisão de expandir a Otan, quebrando um acordo que previa “nenhuma polegada em direção ao Leste Europeu”. A aliança passou de 16 para 30 países-membros, destacou o petista. Chinaglia lembrou que, em 2008, durante uma conferência da Otan em Bucareste, a Rússia, que não foi aceita no grupo, esperava que a Otan desistisse da integração de vizinhos como Ucrânia e Georgia. Ele afirmou que “na ocasião Putin declarou que se a Ucrânia entrasse para Otan ela o faria sem a Crimeia e sem o Donbass”.

“Vejam, Putin antecipou o que a Rússia Faria 14 anos atrás”, afirmou Chinaglia. Citando informações reservadas dos Estados Unidos, ele lembrou que os russos consideravam o ingresso da Ucrânia na Otan como um “desafio direto” à existência de seu país.

“Os Estados Unidos são os maiores responsáveis por reacender a Guerra Fria no nível que está. Ninguém, por parte da Rússia, disse que não faria o que fez, ao contrário. Pois bem, pagaram para ver e agora há um desafio para buscar a paz”, criticou Chinaglia, segundo quem Zelenski é um presidente “de extrema-direita que usa e contribui para a matança de seu povo para fazer o jogo perigoso da política internacional”.

O ministro, então, respondeu que concordava e apreciava as referências trazidas pelo deputado, que ilustravam “um caminho no sentido da situação em que estamos”. “Sem dúvida nenhuma, houve erros de avaliação, iniciativas equivocadas que levaram a essa pressão sobre a Rússia. Evidente que isso não justifica que haja invasão e agressão ao território (ucraniano). Mas havia na dissolução da União Soviética um entendimento de que não haveria essa expansão”, disse o chanceler.

Mauro Vieira comparou a situação a um dos episódios mais críticos da Guerra Fria, quando os soviéticos instalaram mísseis nucleares apontados para o território dos Estados Unidos a 145 quilômetros da costa da Flórida, em Cuba. Washington reagiu e fez um bloqueio na ilha, exigindo a desmontagem das armas, até que um acordo foi negociado com Moscou.

“Isso nada mais é do que o outro lado da moeda de 1962, quando houve a crise dos mísseis russos em Cuba. É a mesma situação vista de outro ângulo”, comparou Vieira.

As declarações ocorrem num contexto de desconfiança global sobre a posição do Brasil no conflito. Parte do Ocidente enxerga manifestações do governo brasileiro como mais favoráveis a Moscou.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva busca se colocar como equilibrado, e o presidente lançou a ideia de mediar um acordo de paz. Em viagens ao exterior, ele fez críticas aos países da Otan aliados de Kiev, como os Estados Unidos e potências europeias, e equiparou responsabilidades dos presidentes da Rússia e da Ucrânia pela guerra.

Para o chanceler, a posição brasileira é clara. Ele a definiu como de “equilíbrio construtivo”, em vez de neutralidade, pois o Brasil se engaja conforme os interesses nacionais.

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O presidente Lula condenou a violação da integridade territorial da Ucrânia. Em discurso durante sessão de trabalho do G7

“Como todos sabem, condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia tanto na Assembleia Geral quanto no Conselho de Segurança, e, ao mesmo tempo, alertamos para os riscos do ‘cancelamento’ da Rússia e das sanções unilaterais, que em nada contribuem para a construção de uma solução negociada. Pelo contrário, apenas diminuem os espaços de diálogo e estimulam uma arriscada espiral confrontacionista”, discursou.

No fim de semana, Lula não se reuniu com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Os dois estavam em Hiroshima, no Japão, convidados para a cúpula do G-7, mas nem sequer se cumprimentaram. Lula disse que abriu espaço na sua agenda para atender um pedido de conversa presencial, feito pelos ucranianos, mas que Zelenski não apareceu.

Lula e Mauro Vieira receberam recentemente o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Brasília. Na ocasião, ele apontou uma similaridade de visões entre Brasília e Moscou, sem ter sido contestado. O fato provocou decepção em capitais do Ocidente. Diplomatas dos Estados Unidos viram um claro sinal de alinhamento.

O presidente havia enviado o assessor especial Celso Amorim a Moscou, para sondar Putin, e depois de cobrado também despachou o conselheiro e ex-chanceler a Kiev para ouvir Zelenski.

Diante de pressões, Lula voltou a reiterar que condena a violação territorial da Ucrânia e que Putin errou, mas que não aceita sanções unilaterais. O presidente afirma que nenhum dos lados na guerra deseja discutir a paz agora, mas que ambos precisarão ceder em prol de um acordo.

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, citou a “sanha” por expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como um dos motivos para a guerra na Ucrânia. Esse é um argumento usado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, para explicar suas razões ao determinar a invasão do país vizinho, no Leste Europeu. Contudo, o chanceler brasileiro ponderou que a ampliação da aliança militar ocidental para a fronteira russa “não justifica” a ação militar de Putin.

“A situação em que nos encontramos foi provocada por essa sanha, esse avanço, e hoje os contatos diretos de países da Otan com a fronteira imediata russa são enormes, desde a Finlândia, passando pelos países bálticos. É uma situação que é avaliada pelo governo (russo) como um risco a sua segurança”, afirmou o chanceler Mauro Vieira.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, detalha a política externa brasileira na Câmara dos Deputados Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Vieira participou na quarta-feira, dia 24, de audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. O ministro também reiterou, durante sua participação, a decisão da diplomacia de trabalhar contra o isolamento de Putin, que chamou de “cancelamento” da Rússia.

Ao abordar as razões da guerra e ecoar um argumento de Moscou, o ministro comentou relato histórico do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O parlamentar petista fez apanhado de citações e análises sobre a expansão da Otan, atribuídas a diplomatas, especialistas, integrantes da comunidade de inteligência e outras autoridades dos Estados Unidos, desde os anos 1990. Segundo ele, diversas autoridades e conselheiros presidenciais apontavam que seria um erro grave a Otan agregar novos países até chegar ao entorno russo, após o fim da União Soviética.

O deputado criticou a decisão de expandir a Otan, quebrando um acordo que previa “nenhuma polegada em direção ao Leste Europeu”. A aliança passou de 16 para 30 países-membros, destacou o petista. Chinaglia lembrou que, em 2008, durante uma conferência da Otan em Bucareste, a Rússia, que não foi aceita no grupo, esperava que a Otan desistisse da integração de vizinhos como Ucrânia e Georgia. Ele afirmou que “na ocasião Putin declarou que se a Ucrânia entrasse para Otan ela o faria sem a Crimeia e sem o Donbass”.

“Vejam, Putin antecipou o que a Rússia Faria 14 anos atrás”, afirmou Chinaglia. Citando informações reservadas dos Estados Unidos, ele lembrou que os russos consideravam o ingresso da Ucrânia na Otan como um “desafio direto” à existência de seu país.

“Os Estados Unidos são os maiores responsáveis por reacender a Guerra Fria no nível que está. Ninguém, por parte da Rússia, disse que não faria o que fez, ao contrário. Pois bem, pagaram para ver e agora há um desafio para buscar a paz”, criticou Chinaglia, segundo quem Zelenski é um presidente “de extrema-direita que usa e contribui para a matança de seu povo para fazer o jogo perigoso da política internacional”.

O ministro, então, respondeu que concordava e apreciava as referências trazidas pelo deputado, que ilustravam “um caminho no sentido da situação em que estamos”. “Sem dúvida nenhuma, houve erros de avaliação, iniciativas equivocadas que levaram a essa pressão sobre a Rússia. Evidente que isso não justifica que haja invasão e agressão ao território (ucraniano). Mas havia na dissolução da União Soviética um entendimento de que não haveria essa expansão”, disse o chanceler.

Mauro Vieira comparou a situação a um dos episódios mais críticos da Guerra Fria, quando os soviéticos instalaram mísseis nucleares apontados para o território dos Estados Unidos a 145 quilômetros da costa da Flórida, em Cuba. Washington reagiu e fez um bloqueio na ilha, exigindo a desmontagem das armas, até que um acordo foi negociado com Moscou.

“Isso nada mais é do que o outro lado da moeda de 1962, quando houve a crise dos mísseis russos em Cuba. É a mesma situação vista de outro ângulo”, comparou Vieira.

As declarações ocorrem num contexto de desconfiança global sobre a posição do Brasil no conflito. Parte do Ocidente enxerga manifestações do governo brasileiro como mais favoráveis a Moscou.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva busca se colocar como equilibrado, e o presidente lançou a ideia de mediar um acordo de paz. Em viagens ao exterior, ele fez críticas aos países da Otan aliados de Kiev, como os Estados Unidos e potências europeias, e equiparou responsabilidades dos presidentes da Rússia e da Ucrânia pela guerra.

Para o chanceler, a posição brasileira é clara. Ele a definiu como de “equilíbrio construtivo”, em vez de neutralidade, pois o Brasil se engaja conforme os interesses nacionais.

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O presidente Lula condenou a violação da integridade territorial da Ucrânia. Em discurso durante sessão de trabalho do G7

“Como todos sabem, condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia tanto na Assembleia Geral quanto no Conselho de Segurança, e, ao mesmo tempo, alertamos para os riscos do ‘cancelamento’ da Rússia e das sanções unilaterais, que em nada contribuem para a construção de uma solução negociada. Pelo contrário, apenas diminuem os espaços de diálogo e estimulam uma arriscada espiral confrontacionista”, discursou.

No fim de semana, Lula não se reuniu com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Os dois estavam em Hiroshima, no Japão, convidados para a cúpula do G-7, mas nem sequer se cumprimentaram. Lula disse que abriu espaço na sua agenda para atender um pedido de conversa presencial, feito pelos ucranianos, mas que Zelenski não apareceu.

Lula e Mauro Vieira receberam recentemente o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Brasília. Na ocasião, ele apontou uma similaridade de visões entre Brasília e Moscou, sem ter sido contestado. O fato provocou decepção em capitais do Ocidente. Diplomatas dos Estados Unidos viram um claro sinal de alinhamento.

O presidente havia enviado o assessor especial Celso Amorim a Moscou, para sondar Putin, e depois de cobrado também despachou o conselheiro e ex-chanceler a Kiev para ouvir Zelenski.

Diante de pressões, Lula voltou a reiterar que condena a violação territorial da Ucrânia e que Putin errou, mas que não aceita sanções unilaterais. O presidente afirma que nenhum dos lados na guerra deseja discutir a paz agora, mas que ambos precisarão ceder em prol de um acordo.

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, citou a “sanha” por expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como um dos motivos para a guerra na Ucrânia. Esse é um argumento usado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, para explicar suas razões ao determinar a invasão do país vizinho, no Leste Europeu. Contudo, o chanceler brasileiro ponderou que a ampliação da aliança militar ocidental para a fronteira russa “não justifica” a ação militar de Putin.

“A situação em que nos encontramos foi provocada por essa sanha, esse avanço, e hoje os contatos diretos de países da Otan com a fronteira imediata russa são enormes, desde a Finlândia, passando pelos países bálticos. É uma situação que é avaliada pelo governo (russo) como um risco a sua segurança”, afirmou o chanceler Mauro Vieira.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, detalha a política externa brasileira na Câmara dos Deputados Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Vieira participou na quarta-feira, dia 24, de audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. O ministro também reiterou, durante sua participação, a decisão da diplomacia de trabalhar contra o isolamento de Putin, que chamou de “cancelamento” da Rússia.

Ao abordar as razões da guerra e ecoar um argumento de Moscou, o ministro comentou relato histórico do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O parlamentar petista fez apanhado de citações e análises sobre a expansão da Otan, atribuídas a diplomatas, especialistas, integrantes da comunidade de inteligência e outras autoridades dos Estados Unidos, desde os anos 1990. Segundo ele, diversas autoridades e conselheiros presidenciais apontavam que seria um erro grave a Otan agregar novos países até chegar ao entorno russo, após o fim da União Soviética.

O deputado criticou a decisão de expandir a Otan, quebrando um acordo que previa “nenhuma polegada em direção ao Leste Europeu”. A aliança passou de 16 para 30 países-membros, destacou o petista. Chinaglia lembrou que, em 2008, durante uma conferência da Otan em Bucareste, a Rússia, que não foi aceita no grupo, esperava que a Otan desistisse da integração de vizinhos como Ucrânia e Georgia. Ele afirmou que “na ocasião Putin declarou que se a Ucrânia entrasse para Otan ela o faria sem a Crimeia e sem o Donbass”.

“Vejam, Putin antecipou o que a Rússia Faria 14 anos atrás”, afirmou Chinaglia. Citando informações reservadas dos Estados Unidos, ele lembrou que os russos consideravam o ingresso da Ucrânia na Otan como um “desafio direto” à existência de seu país.

“Os Estados Unidos são os maiores responsáveis por reacender a Guerra Fria no nível que está. Ninguém, por parte da Rússia, disse que não faria o que fez, ao contrário. Pois bem, pagaram para ver e agora há um desafio para buscar a paz”, criticou Chinaglia, segundo quem Zelenski é um presidente “de extrema-direita que usa e contribui para a matança de seu povo para fazer o jogo perigoso da política internacional”.

O ministro, então, respondeu que concordava e apreciava as referências trazidas pelo deputado, que ilustravam “um caminho no sentido da situação em que estamos”. “Sem dúvida nenhuma, houve erros de avaliação, iniciativas equivocadas que levaram a essa pressão sobre a Rússia. Evidente que isso não justifica que haja invasão e agressão ao território (ucraniano). Mas havia na dissolução da União Soviética um entendimento de que não haveria essa expansão”, disse o chanceler.

Mauro Vieira comparou a situação a um dos episódios mais críticos da Guerra Fria, quando os soviéticos instalaram mísseis nucleares apontados para o território dos Estados Unidos a 145 quilômetros da costa da Flórida, em Cuba. Washington reagiu e fez um bloqueio na ilha, exigindo a desmontagem das armas, até que um acordo foi negociado com Moscou.

“Isso nada mais é do que o outro lado da moeda de 1962, quando houve a crise dos mísseis russos em Cuba. É a mesma situação vista de outro ângulo”, comparou Vieira.

As declarações ocorrem num contexto de desconfiança global sobre a posição do Brasil no conflito. Parte do Ocidente enxerga manifestações do governo brasileiro como mais favoráveis a Moscou.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva busca se colocar como equilibrado, e o presidente lançou a ideia de mediar um acordo de paz. Em viagens ao exterior, ele fez críticas aos países da Otan aliados de Kiev, como os Estados Unidos e potências europeias, e equiparou responsabilidades dos presidentes da Rússia e da Ucrânia pela guerra.

Para o chanceler, a posição brasileira é clara. Ele a definiu como de “equilíbrio construtivo”, em vez de neutralidade, pois o Brasil se engaja conforme os interesses nacionais.

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O presidente Lula condenou a violação da integridade territorial da Ucrânia. Em discurso durante sessão de trabalho do G7

“Como todos sabem, condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia tanto na Assembleia Geral quanto no Conselho de Segurança, e, ao mesmo tempo, alertamos para os riscos do ‘cancelamento’ da Rússia e das sanções unilaterais, que em nada contribuem para a construção de uma solução negociada. Pelo contrário, apenas diminuem os espaços de diálogo e estimulam uma arriscada espiral confrontacionista”, discursou.

No fim de semana, Lula não se reuniu com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Os dois estavam em Hiroshima, no Japão, convidados para a cúpula do G-7, mas nem sequer se cumprimentaram. Lula disse que abriu espaço na sua agenda para atender um pedido de conversa presencial, feito pelos ucranianos, mas que Zelenski não apareceu.

Lula e Mauro Vieira receberam recentemente o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Brasília. Na ocasião, ele apontou uma similaridade de visões entre Brasília e Moscou, sem ter sido contestado. O fato provocou decepção em capitais do Ocidente. Diplomatas dos Estados Unidos viram um claro sinal de alinhamento.

O presidente havia enviado o assessor especial Celso Amorim a Moscou, para sondar Putin, e depois de cobrado também despachou o conselheiro e ex-chanceler a Kiev para ouvir Zelenski.

Diante de pressões, Lula voltou a reiterar que condena a violação territorial da Ucrânia e que Putin errou, mas que não aceita sanções unilaterais. O presidente afirma que nenhum dos lados na guerra deseja discutir a paz agora, mas que ambos precisarão ceder em prol de um acordo.

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, citou a “sanha” por expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como um dos motivos para a guerra na Ucrânia. Esse é um argumento usado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, para explicar suas razões ao determinar a invasão do país vizinho, no Leste Europeu. Contudo, o chanceler brasileiro ponderou que a ampliação da aliança militar ocidental para a fronteira russa “não justifica” a ação militar de Putin.

“A situação em que nos encontramos foi provocada por essa sanha, esse avanço, e hoje os contatos diretos de países da Otan com a fronteira imediata russa são enormes, desde a Finlândia, passando pelos países bálticos. É uma situação que é avaliada pelo governo (russo) como um risco a sua segurança”, afirmou o chanceler Mauro Vieira.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, detalha a política externa brasileira na Câmara dos Deputados Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Vieira participou na quarta-feira, dia 24, de audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. O ministro também reiterou, durante sua participação, a decisão da diplomacia de trabalhar contra o isolamento de Putin, que chamou de “cancelamento” da Rússia.

Ao abordar as razões da guerra e ecoar um argumento de Moscou, o ministro comentou relato histórico do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O parlamentar petista fez apanhado de citações e análises sobre a expansão da Otan, atribuídas a diplomatas, especialistas, integrantes da comunidade de inteligência e outras autoridades dos Estados Unidos, desde os anos 1990. Segundo ele, diversas autoridades e conselheiros presidenciais apontavam que seria um erro grave a Otan agregar novos países até chegar ao entorno russo, após o fim da União Soviética.

O deputado criticou a decisão de expandir a Otan, quebrando um acordo que previa “nenhuma polegada em direção ao Leste Europeu”. A aliança passou de 16 para 30 países-membros, destacou o petista. Chinaglia lembrou que, em 2008, durante uma conferência da Otan em Bucareste, a Rússia, que não foi aceita no grupo, esperava que a Otan desistisse da integração de vizinhos como Ucrânia e Georgia. Ele afirmou que “na ocasião Putin declarou que se a Ucrânia entrasse para Otan ela o faria sem a Crimeia e sem o Donbass”.

“Vejam, Putin antecipou o que a Rússia Faria 14 anos atrás”, afirmou Chinaglia. Citando informações reservadas dos Estados Unidos, ele lembrou que os russos consideravam o ingresso da Ucrânia na Otan como um “desafio direto” à existência de seu país.

“Os Estados Unidos são os maiores responsáveis por reacender a Guerra Fria no nível que está. Ninguém, por parte da Rússia, disse que não faria o que fez, ao contrário. Pois bem, pagaram para ver e agora há um desafio para buscar a paz”, criticou Chinaglia, segundo quem Zelenski é um presidente “de extrema-direita que usa e contribui para a matança de seu povo para fazer o jogo perigoso da política internacional”.

O ministro, então, respondeu que concordava e apreciava as referências trazidas pelo deputado, que ilustravam “um caminho no sentido da situação em que estamos”. “Sem dúvida nenhuma, houve erros de avaliação, iniciativas equivocadas que levaram a essa pressão sobre a Rússia. Evidente que isso não justifica que haja invasão e agressão ao território (ucraniano). Mas havia na dissolução da União Soviética um entendimento de que não haveria essa expansão”, disse o chanceler.

Mauro Vieira comparou a situação a um dos episódios mais críticos da Guerra Fria, quando os soviéticos instalaram mísseis nucleares apontados para o território dos Estados Unidos a 145 quilômetros da costa da Flórida, em Cuba. Washington reagiu e fez um bloqueio na ilha, exigindo a desmontagem das armas, até que um acordo foi negociado com Moscou.

“Isso nada mais é do que o outro lado da moeda de 1962, quando houve a crise dos mísseis russos em Cuba. É a mesma situação vista de outro ângulo”, comparou Vieira.

As declarações ocorrem num contexto de desconfiança global sobre a posição do Brasil no conflito. Parte do Ocidente enxerga manifestações do governo brasileiro como mais favoráveis a Moscou.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva busca se colocar como equilibrado, e o presidente lançou a ideia de mediar um acordo de paz. Em viagens ao exterior, ele fez críticas aos países da Otan aliados de Kiev, como os Estados Unidos e potências europeias, e equiparou responsabilidades dos presidentes da Rússia e da Ucrânia pela guerra.

Para o chanceler, a posição brasileira é clara. Ele a definiu como de “equilíbrio construtivo”, em vez de neutralidade, pois o Brasil se engaja conforme os interesses nacionais.

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O presidente Lula condenou a violação da integridade territorial da Ucrânia. Em discurso durante sessão de trabalho do G7

“Como todos sabem, condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia tanto na Assembleia Geral quanto no Conselho de Segurança, e, ao mesmo tempo, alertamos para os riscos do ‘cancelamento’ da Rússia e das sanções unilaterais, que em nada contribuem para a construção de uma solução negociada. Pelo contrário, apenas diminuem os espaços de diálogo e estimulam uma arriscada espiral confrontacionista”, discursou.

No fim de semana, Lula não se reuniu com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Os dois estavam em Hiroshima, no Japão, convidados para a cúpula do G-7, mas nem sequer se cumprimentaram. Lula disse que abriu espaço na sua agenda para atender um pedido de conversa presencial, feito pelos ucranianos, mas que Zelenski não apareceu.

Lula e Mauro Vieira receberam recentemente o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Brasília. Na ocasião, ele apontou uma similaridade de visões entre Brasília e Moscou, sem ter sido contestado. O fato provocou decepção em capitais do Ocidente. Diplomatas dos Estados Unidos viram um claro sinal de alinhamento.

O presidente havia enviado o assessor especial Celso Amorim a Moscou, para sondar Putin, e depois de cobrado também despachou o conselheiro e ex-chanceler a Kiev para ouvir Zelenski.

Diante de pressões, Lula voltou a reiterar que condena a violação territorial da Ucrânia e que Putin errou, mas que não aceita sanções unilaterais. O presidente afirma que nenhum dos lados na guerra deseja discutir a paz agora, mas que ambos precisarão ceder em prol de um acordo.

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