A primeira delas foi Victoria California Woodhull, em 1872. Na época, mulheres não podiam votar nos EUA. E o objetivo dela era justamente que as mulheres tivessem os mesmos direitos dos homens, incluindo o votp. Tanto que ela criou e concorreu pelo Partido dos Direitos Iguais. Seu vice foi o ex-escravo e abolicionista Frederick Douglas, embora este nunca tenha aceitado concorrer ao cargo.
Victoria, na época, tinha só 34 anos. Teria 35, idade mínima para ocupar a Presidência, no dia da posse. No dia da eleição, não pôde votar. Primeiro, por ser mulher. Em segundo lugar, por ter sido presa ao chamar um pastor de adúltero hipócrita quando este a chamou de indecente. Ficou um mês na cadeia.
Não há registros de quantos votos ela teve. Certamente, não teve nenhum no Colégio Eleitoral. Mas deixou sua marca. Mais impressionante é o restante da sua história. Seu pai era um criminoso trapaceiro em Ohio. Sua mãe era analfabeta. Ela, que era a sétima de dez irmãos, estudou por apenas três anos e, aos 15, foi obrigada a se casar com um médico charlatão bêbado. Um dos seus filhos nasceu com deficiência mental. Posteriormente, se divorciou e casou com um coronel. Foi morar em Nova York.
Sua irmã teve como amante o magnata Cornelius Vanderbilt. Junto com ela, Victoria foi a primeira corretora de valores em Wall Street. Ambas abriram um fundo e operavam na Bolsa de Valores. Foram chamadas pelo New York Herald de "rainhas das finanças". Também foi a primeira mulher a fundar um jornal. Vitoria também defendia o direito ao divórcio e pregava a liberdade sexual e casamentos entre negros e brancos ou de judeus e cristãos. Era defensora ainda do vegetarianismo e do uso de minissaias.
Morreu aos 88 anos na Inglaterra, onde vivia e havia se casado pela terceira vez, agora com um banqueiro. Nunca pôde votar para presidente dos EUA. Afinal, o direito ao voto para as mulheres demorou mais meio século depois de sua candidatura.
Eu descobri a história dela hoje e fiquei encantado.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires