Os Estados Unidos não querem um Iraque na Síria. A Turquia, a Arábia Saudita, o Irã e Israel, tampouco. A melhor forma de evitar este cenário seria uma transição do atual regime de Bashar al Assad para alguma forma de democracia que garanta a segurança das minorias cristãs e alauítas e consiga impedir a emergência de um governo religioso sunita, mantendo a secularidade da Síria. Além disso, o objetivo de todos é evitar uma guerra civil.
No Iraque, com a queda de Saddam Hussein, ocorreu o erro de eliminar toda a estrutura do Estado e do Exército iraquiano. Esta medida levou à formação de um governo sem uma burocracia preparada, falindo o Estado iraquiano. Ex-integrantes das Forças Armadas fundaram milícias, sabotando as iniciativas democráticas.
Por este motivo, os países do Ocidente e a Turquia não falam na saída de Assad e muito menos em intervenção militar para derrubá-lo. Em vez disso, pressionam o líder sírio para iniciar a transição. Seria positivo para ele próprio. Autoridades americanas, através de seu embaixador Robert Ford e do senador John Kerry, amigo pessoal de Assad, pressionam o regime de Damasco a moderar a sua posição e aceitar que o cenário mudou.
Não dá para saber se Assad entendeu o recado. Uma resolução na ONU condenando a violência talvez ajudasse. O certo é que, aos poucos, ele começa a permitir a entrada de jornalistas americanos de origem síria, como Hala Gorani, da CNN. A oposição tem se manifestado em alguns casos sem violência. Opositores organizam reuniões, ainda que monitoradas pelo regime. Mas a repressão continua dura, como vimos hoje e ontem em Hama.
Assad quer mais uma vez convencer o Ocidente de que ele possa ser o reformista e o líder da transição. O obstáculo seria o próprio regime, de quatro décadas, relutante em fazer concessões. Notem que o regime não é apenas Assad. O cenário sírio é distinto da Líbia, onde Kadafi está acima de tudo. O regime sírio é formado pelos membros do Baath, comandantes das forças de segurança e a elite financeira de Damasco. Muitas destas pessoas acham o líder sírio fraco por não ter agido com mais dureza contra os manifestantes - isto é, 1.500 seria pouco. Além disso, Assad nunca conseguiu provar que é um reformista. Ao contrário, se mostrou igual a líder como Mubarak.
O ideal seria mesmo uma transição na Síria, onde surgisse um Estado democrático, sem a necessidade de guerra civil. Um processo mais próximo do Egito (onde ainda não há democracia), do que do Iraque. Nesta iniciativa, o papel diplomático da embaixada dos EUA em Damasco e do governo de Erdogan, na Turquia, têm sido fundamental.
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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios