Israel argumenta que estes territórios são uma extensão das colinas do Golã e eram da Síria até a Guerra dos Seis Dias, há 42 anos. Com a conquista e a posterior anexação, teriam se tornado parte de Israel, em ato não reconhecido pela comunidade internacional. Para se defender, os israelenses argumentam que a ONU confirma que Israel se retirou de todo o sul do Líbano em 2000. Na realidade, as Nações Unidas afirmam que a área era síria, mas, recentemente, decidiram montar uma comissão para investigar a quem pertence o território.
O Líbano e o Hezbollah dizem que a cidade e as fazendas pertencem ao governo de Beirute, argumentando que os moradores de Ghajar se descrevem como libaneses. Já as fazendas são parte da zona rural de Shebaa, uma vila que ainda integra o território libanês. O Hezbollah usa ocupação como desculpa para o grupo carregar armas, com a justificativa de que ainda luta contra a ocupação israelense.
O presidente da Síria, Bashar al Assad, assim como diversas autoridades em Damasco, admite que Shebaa e Ghajar são libanesas. Mas os sírios nunca assinaram nada formal neste sentido e aceitam negociar este tema com os libaneses apenas quando Israel se retirar dos dois territórios e também das colinas do Golã.
"O problema é que esta disputa vem da época dos mandatos britânico e francês, depois da Primeira Guerra Mundial. As fronteiras de Israel com o Líbano são bem definidas porque era a divisa entre um território controlado pela Grã-Bretanha e outro pela França. Já a da Síria com o Líbano, ambos sob domínio francês, nunca tiveram as fronteiras bem delineadas. Shebaa e Ghajar são apenas algumas das áreas em disputa, mas que ganharam maior notoriedade por estarem ocupadas por Israel", disse ao Estado Walid Mubarak, professor de Relações Internacionais da Universidade Americana-Libanesa em Beirute e um dos principais especialistas neste conflito.
Ghajar é ainda mais complicado do que Shebaa. Metade da cidade ficaria na Síria e a outra no Líbano, segundo a linha azul estabelecida pela ONU depois da retirada israelense do sul libanês em 2000. Na Guerra de 2006, Israel reocupou a metade oficialmente libanesa e hoje mantém sob controle quase toda a vila. No Líbano, a Coalizão 14 de Março, que venceu as eleiçõe e se opõe às armas do Hezbollah, torce por uma iniciativa de Israel, cujo objetivo seria justamente enfraquecer o grupo xiita. Com o fim da ocupação israelense de Shebaa e de Ghajar, o governo poderia argumentar para a organização de que não há mais motivos para a milícia se armar. Já a Síria, segundo Mubarak, não quer uma desocupação separada do Golan. "Assim, os sírios podem usar como barganha nas negociações com Israel", afirmou.
Em recente visita ao Líbano, o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, recebeu pedidos das autoridades libanesas para pressionar Israel a se retirar dos territórios. Em Beirute e Damasco, os dois governos, em sintonia neste ponto, dizem que, independentemente de serem sírias ou libanesas, o certo é que as Fazendas de Shebaa e Ghajar não são israelenses e, consequentemente, a ocupação desrespeita a ONU.
Shebaa pode ser observada à distância de alguns pontos do sul do Líbano. De longe, é possível ver posições das Forças Armadas de Israel. Ghajar é fechada. Israel permite a entrada apenas de soldados israelenses, além dos moradores, que são majoritariamente muçulmanos alauítas. Eles podem circular por Israel e pelo restante das colinas do Golã, mas os israelenses não permitem que eles visitem o Líbano. Alguns aceitaram a cidadania de Israel para poder trabalhar depois que a vila foi anexada no início dos anos 1980, apesar de não abandonarem a cidadania libanesa.
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