O autor do artigo, André Lajst, é um jovem brasileiro e israelense, serviu a força aérea de Israel e é especialista em Terrorismo, segurança nacional e história israelense. Escreve mensalmente para o The Jerusalem Post e para o The Times of Israel.
ANDRÉ LAJST
DE ISRAEL
Lassana Bathily é muçulmano, proveniente de Mali, morava na França e trabalhava no Hyper Kasher, o mercado alvo de um ataque terrorista na última sexta feira, matando 4 reféns.
Bathily trabalhava para judeus, e na última sexta feira, arriscou a vida para salvar 15 judeus que estavam no supermercado. Sim, um muçulmano salvando judeus do terrorismo islâmico radical. Não seria tão trágico se não fosse tão complexo.
Jeannette Bougrab tem origens muçulmanas e perdeu o marido, um dos cartunistas mortos na quarta feira em Charlie Hebdo. Bougrab trabalhou no passado no governo do então presidente Nicolas Sarkozy como uma ponte entre o governo e os imigrantes para ajuda-los a se integrar na sociedade.
Ahmed Merabet era muçulmano e trabalhava como policial em Paris. No atentado na quarta feira, Ahmed foi assassinado pelos terroristas a queima roupa enquanto tentava combate-los.
Com olhos clínicos podemos afirmar que a minoria da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra mundial acreditava nas ideologias do partido, que a minoria dos japoneses eram radicais como os kamikazes suicidas, que a minoria dos russos eram comunistas radicais que matavam em nome da ideologia.
Sim, a maioria dos ataques terroristas hoje em dia éfeita por muçulmanos radicais e extremistas, e a gigantesca maioria das vitimas desses ataques são muçulmanos também.
Paremos um segundo, e olhemos para a situação de maneira mais lógica e veremos facilmente que o terrorismo e o radicalismo islâmico aos poucos estão claramente tentando roubar algo que não pertence a eles: A religião islâmica em si.
Sejamos claros e verdadeiros, uma pequena porcentagem de muçulmanos no mundo são radicais e extremistas comparados com a quantidade de fiéis desta religião. Sabemosque não são um numero pequeno de pessoas, porém ainda são a pequena minoria.
Esta semana vi um vídeo surpreendente no qual o Presidente do Egito Abdel El-Sisi discursava a um grupo de clérigos religiosos muçulmanos na Jordânia e disse claramente que estes radicais estão "roubando a religião" e que somente uma reforma rigorosa que venha de dentro do islã poderá combater de forma efetiva estes radicais. Ele tem razão. A solução duradoura para este problema vira de dentro do islã e não de fora.
Como judeu, israelense e sionista, servi ao exercito do meu país onde vi muçulmanos e cristãos árabes também servindo ao Exercito de Israel. Tenho amigos muçulmanos em Israel e conheço bem a opinião deles em relação ao terrorismo. E, claro, são radicalmente contra. Tento por um instante me colocar no lugar deles nestes momentos e tenho certeza que me sentiria tão triste e enlutado como estou na minha real identidade. Os muçulmanos de bem precisam ser fortes e ter motivação para criar as reformas e as devidas revoluções contra estes radicais terroristas que deturpam o islã e interpretam a mesma da maneira que bem entendem.
Temos nosso papel neste progresso e um deles é não generalizar. É abrir uma porta a estas pessoas moderadas e não fecha-las. E caso tenham dúvidas, bom, Bathily, o funcionário muçulmano no supermercado Kasher, não pensou duas vezes ao arriscar sua vida para salvar 15 judeus.
Não acredito em utopias e em contos de fadas. Entendo o significado do terrorismo radical e a necessidade de combate-lo. O que está acontecendo no mundo muçulmano e em especial na Europa é importante, é sério e merece toda nossa atenção e preocupação e principalmente e acima de tudo, da nossa razão.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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