Al Qaeda no Iraque
Esta organização surgiu no Iraque, depois da invasão dos Estados Unidos. A rede terrorista de Osama bin Laden, que até 2003 não tinha espaço no território iraquiano por ser duramente combatida por Saddam Hussein, aproveitou o vácuo de poder depois da queda do ditador e ganhou força em áreas sunitas do país.
Surge dos EUA
Os EUA, então governados pelo presidente George W. Bush, implementou a política do surge que consistia em dois pilares - primeiro, a multiplicação no número de militares americanos; em segundo lugar, o pagamento de mesada a líderes sunitas para eles se voltarem contra a Al Qaeda e apoiarem o governo central em Bagdá. Esta estratégia americana deu certo e a Al Qaeda no Iraque foi derrotada
Guerra da Síria
Com a eclosão da guerra civil da Síria, emergiram centenas de facções rebeldes armadas pelo Ocidente e por países do Golfo para lutar contra Assad. Algumas mais radicais do que outras. A Al Qaeda tinha seu braço no território, chamado Frente Nusrah. Mas a Al Qaeda no Iraque cruzou a fronteira e começou a lutar com o comando de Abu Bakr Al Baghdadi e os dois lados entraram em atrito
Al Qaeda x ISIS (Estado Islâmico)
O comando central da Al Qaeda determinou que Frente Nusrah seria sua representante na Síria. Isso levou a um rompimento de Al Baghdadi com a rede terrorista de Bin Laden. Além disso, a Al Qaeda considera o ISIS muito radical na forma como mata civis, estupra mulheres e reprime minorias religiosas
O retorno ao Iraque
Em 2011, os EUA retiraram as tropas do Iraque. Esta decisão, tomada por Bush e levada adiante por Obama, previa a permanência de uma pequena força remanescente. O governo do Iraque, embora aliado americano, não permitiu. Controlado por xiitas ligados ao premiê Nuri al Maliki, esta administração em Bagdá marginalizou os sunitas. Os líderes tribais não recebiam mais mesada. Isso abriu espaço para o ISIS crescer mais uma vez nas áreas sunitas do Iraque e expandir seu território para os dois lados da fronteira (partes da Síria e do Iraque)
E o nome ISIS ou ISIL?
Estas são as siglas em inglês para o nome que Al Baghdadi usava para seu grupo até semanas atrás. Querem dizer Islamic State in Iraq and Syria (ou Levant), já que seu grupo domina porções dos dois países. Note que a última letra varia entre Síria e Levante. Isso porque a palavra em árabe é "Sham", usada para se referir a Damasco, ou à região da Síria, não necessariamente o país, muitas vezes descrito no Ocidente como "Levante", o que incluiria também o Líbano - vale frisar que o ISIS não domina Damasco e controla apenas uma cidade grande da Síria, chamada Al Raqah
Por que muitas pessoas falam Estado Islâmico agora?
Porque Al Baghdadi decidiu alterar o nome da região que ele controla para que não seja restrito apenas ao Iraque e à Síria. Literalmente, estratégia de marketing. Isso significa, por exemplo, que o grupo possa ter ambição de se expandir para a Jordânia, Arábia Saudita e outros países. A sigla EI é, obviamente, Estado Islâmico. Outros escrevem IS, que é Islamic State em inglês
Como decidir qual nome usar?
Alguns órgãos de imprensa no Brasil, como a Globo e o Estadão, optaram por Estado Islâmico. O New York Times manteve ISIS. A BBC usa IS. O governo dos EUA fala ISIL
Por que organizações islâmicas reclamam da denominação?
Porque para a maioria das organizações islâmicas do mundo, sejam elas sunitas ou xiitas, o ISIS não representa o islamismo. Ao contrário, prega uma visão totalmente distorcida da religião. Mas, ao adotar o nome Estado Islâmico, muitas pessoas associam práticas barbaras do grupo a todos os muçulmanos. Lembram ainda que as maiores vítimas do ISIS são os próprios muçulmanos, embora, claro, cristãos e outras minorias, como os yazidis, também sejam vítimas inclusive de possível genocídio. Muito se falou do jornalista americano decapitado pelo ISIS, mas a decapitação de um soldado libanês, sunita, que estava defendendo o seu país e o caráter multireligioso do Líbano, foi quase ignorada, a não ser em Beirute ou Damasco
E qual nome você usa?
Eu tenho usado ISIS e Estado Islâmico juntos. Desta forma, busco, de forma didática, evitar confusões na cabeça de quem acompanha o tema. Mas, na minha visão, o ideal seria mesmo a sigla ISIS pois retira a associação com os demais muçulmanos
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Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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