A presidente de Honduras, Xiomara Castro, anunciou que promoverá a abertura de relações “oficiais” com a China, sem especificar se isso implicará uma ruptura dos laços tradicionais com Taiwan, que pediu ao país da América Central para não cair na “armadilha” de Pequim.
Após o anúncio, a China celebrou “a pertinente declaração da parte hondurenha”, segundo o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin. Já a chancelaria de Taiwan pediu ao país da América Central para “examinar com cuidado e não cair na armadilha da China e tomar a decisão errada de prejudicar a amizade de longa data entre Taiwan e Honduras”.
Em sua conta no Twitter, a presidente hondurenha afirmou, na noite de terça-feira, 14, que “instruiu o chanceler hondurenho, Eduardo Reina, para que trabalhe na abertura de relações oficiais com a República Popular da China” e acrescentou que isto “mostra” sua “determinação para cumprir seu plano de governo e expandir as fronteiras com liberdade”.
Na manhã desta quarta-feira, 15, o embaixador de Honduras em Taipé, Harold Burgos, compareceu ao ministério taiwanês das Relações Exteriores.
“O verdadeiro objetivo das promessas falsas e atraentes do regime ditatorial chinês é retirar nossos aliados diplomáticos e suprimir o espaço internacional de Taiwan”, afirmou o ministério taiwanês em um comunicado divulgado após a reunião.
O porta-voz da China, por sua vez, disse que o país “está disposto a desenvolver relações amistosas e de cooperação com Honduras e outros países do mundo, com base no princípio de uma só China”. Sob o princípio, nenhum país pode manter relações diplomáticas oficiais simultâneas com a China e Taiwan.
A China tem como meta reunificar o território de Taiwan e, nos últimos tempos, vem aumentando sua presença militar no estreito que separa a ilha do continente, alimentando especulações de que possa estar reunindo forças para eventualmente lançar uma invasão e reintegrar o território pela via militar.
No começo do mês, o chanceler hondurenho anunciou tratativas com a China para construir uma represa hidroelétrica e negou as versões de que seu país estabeleceria relações com Pequim. Reina se reuniu em 1º de janeiro com o vice-chanceler chinês, Xie Feng, em Brasília, à margem da cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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“O que estamos buscando, nesta visão de criar mais capacidades energéticas para o país, é que a China financie (a represa) Patuca II”, disse à época.
Com um crédito de cerca de US$ 300 milhões (R$ 1,2 bilhão), a China financiou a represa Patuca III, inaugurada em janeiro de 2021 pelo então presidente Juan Orlando Hernández.
Em janeiro do ano passado, o vice-presidente de Taiwan, William Lai Ching-te, compareceu à posse de Castro. Pouco depois, Reina anunciou a continuidade das relações com Taiwan.
O analista hondurenho Raúl Pineda disse à AFP que o tuíte de Castro “não esclarece que tipo de relações” seriam e caso sejam “diplomáticas, isto vai gerar um rompimento com Taiwan e um distanciamento com os Estados Unidos”.
“Atualmente, as relações China-EUA estão muito tensas. Desse ponto de vista, seria uma decisão muito infeliz do governo Castro”, afirmou.
Alexander Huang, analista político da Universidade Tamkang de Taipé, por sua vez, considera que Taiwan tem recursos limitados para resistir ao poderio da China no campo diplomático.
A América Latina tem sido um palco crucial das disputas entre Pequim e Taipé desde que se separaram em 1949, após a vitória das forças comunistas na guerra civil chinesa. Alinhados com Washington, todos os países centro-americanos se mantiveram durante décadas ligados a Taiwan. Atualmente, somente Honduras, Guatemala e Belize mantêm laços com a ilha.
Costa Rica (em 2007), Panamá (2017), El Salvador (2018) e Nicarágua (2021) romperam com Taipé e se vincularam a Pequim, que há muitos anos trabalha para que os países diplomaticamente aliados à ilha mudem de lado. Somente 14 países do mundo reconhecem Taiwan, incluindo Paraguai, Haiti e outras sete pequenas nações do Caribe e do Pacífico.