Os militares de Israel se retiraram nesta segunda-feira, 1º, do maior hospital de Gaza, após uma operação de duas semanas, na qual disseram ter matado cerca de 200 membros do grupo terrorista Hamas e detido centenas de outros. Palestinos relataram que as tropas deixaram para trás vários corpos e uma vasta área de destruição.
Os militares descreveram o ataque ao Hospital Al-Shifa, iniciado no dia 18 de março, como um dos mais bem-sucedidos dos quase seis meses de guerra. A operação, porém, ocorreu em um momento de crescente frustração em Israel, com dezenas de milhares de pessoas protestando contra o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu no domingo, 31, e exigindo que ele fizesse mais para trazer para casa dezenas de reféns detidos em Gaza, na maior manifestação antigovernamental desde o início da guerra.
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Os militares israelenses disseram que entre os 200 mortos estavam altos agentes do Hamas e outros terroristas que se reagruparam no local após um ataque anterior em novembro, e que apreenderam armas e informações valiosas.
A agência de saúde da ONU disse que mais de 20 pacientes morreram e dezenas foram colocados em risco durante a operação, que trouxe mais destruição a um hospital que já havia praticamente parado de funcionar, após outra invasão israelense em novembro. Palestinos afirmaram que as tropas israelenses esvaziaram à força casas perto do hospital, no centro da cidade de Gaza, e forçaram centenas de residentes a ir para sul.
Imagens de vídeo que circularam online mostraram edifícios fortemente danificados e carbonizados, montes de terra que foram revolvidos por escavadeiras e pacientes em macas em corredores escuros.
Um morador, Yahia Abu Auf, relatou à Associated Press que escavadeiras do exército abriram até um cemitério improvisado no pátio do Al-Shifa. “A situação é indescritível”, disse ele. “A ocupação destruiu todo o sentido de vida aqui.”
Centenas de detidos
O contra-almirante Daniel Hagari, principal porta-voz militar de Israel, disse que o grupo terrorista Hamas e o grupo menor da Jihad Islâmica estabeleceram seu principal quartel-general dentro do hospital. Ele descreveu dias de combates corpo a corpo e culpou o grupo terrorista Hamas pela destruição, dizendo que alguns combatentes se barricaram em enfermarias de hospitais enquanto outros lançaram morteiros contra o complexo.
Hagari afirmou que as tropas prenderam cerca de 900 supostos militantes durante o ataque, incluindo mais de 500 combatentes do grupo terrorista Hamas e da Jihad Islâmica, e apreenderam mais de 3 milhões de dólares em diferentes moedas, bem como armas.
O contra-almirante negou que civis tenham sido feridos pelas forças israelenses, dizendo que o exército retirou mais de 200 dos cerca de 300 a 350 pacientes que estavam no centro médico e entregou comida, água e suprimentos médicos aos demais. Dois soldados israelenses foram mortos no ataque junto com cerca de 200 militantes, disseram os militares.
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista Hamas, por sua vez, informou que, após a saída dos soldados, “dezenas” de cadáveres foram encontrados no hospital, incluindo alguns em estado de decomposição. Um médico disse à AFP que mais de 20 corpos foram recuperados e que alguns foram esmagados por veículos militares durante a retirada.
Nesta segunda-feira, o grupo terrorista Hamas pediu “desculpas” à população de Gaza pelas dificuldades provocadas pela guerra instaurada contra Israel, mas reiterou sua vontade de prosseguir com a luta para alcançar “a vitória e a liberdade” dos palestinos.
Os militares israelenses já haviam atacado o hospital Al-Shifa em novembro, depois de dizerem que o grupo terrorista Hamas mantinha um elaborado centro de comando e controle dentro e abaixo do complexo. o Exército revelou um túnel que passava por baixo do hospital e que levava a alguns quartos, bem como armas que disse ter confiscado do interior de edifícios médicos, mas não na escala que alegava antes da operação.