ENVIADO ESPECIAL A ROMA E AO VATICANO - Os encontros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Itália com o presidente Sergio Mattarella e com a primeira-ministra Giorgia Meloni foram marcados por tentativas de descontração, por parte do brasileiro, e por novos deslizes diplomáticos sobre a Guerra na Ucrânia.
Lula voltou a insistir durante as conversas privadas com líderes italianos na tese que a proposta de paz formulada pela Ucrânia, que prevê a retirada total de tropas russas do território ucraniano e a devolução de territórios ocupados, será uma ‘rendição’ da Rússia e ‘humilhação’ de Vladimir Putin caso progrida.
No encontro o presidente italiano, Sergio Mattarella, Lula ouviu que a Itália e a Europa tem muito “medo” sobre as próximas ações de Putin. O italiano comparou Putin ao líder nazista Adolf Hitler e explicitou o receio de que o russo comece a anexar países no Leste Europeu, invadindo e tomando territórios, como Hitler fez durante a 2.ª Guerra.
Matarella defendeu o lado ucraniano e ouviu de Lula que aceitar os termos da fórmula de paz proposta por Volodmir Zelenski seria impor uma “humilhação” a Putin. Segundo Lula, haveria o risco do próprio russo jamais acatar os termos por se sentir humilhado.
A ideia central da proposta de Zelenski é que a Rússia abandone por completo o território ucraniano. Lula se referiu à formula utilizando a palavra “rendição”, como fez a jornalistas em público.
A recorrente fala de Lula sobre a suposta “rendição russa” ecoa o discurso do presidente russo, Vladimir Putin, e já foi criticada por especialistas em relações internacionais.
Visita de Lula na Europa
A Rússia invadiu a Ucrânia e ocupou ilegalmente territórios ucranianos. Dizer que um plano de paz que inclua a retirada de tropas russas e a devolução de território ocupado ilegalmente é “rendição” cria uma falsa equivalência entre agredido e agressor.
Analistas também dizem que esse posicionamento de falsa neutralidade atrapalha a relação do Brasil com países ocidentais que defendem a total retirada russa de território ucraniano.
Pizza paulistana é melhor
No encontro reservado com Giorgia Meloni, a chefe do governo italiano e expoente da direita radical na Europa, Lula fez piadas para quebrar o gelo.
No Palácio Chigi, Lula disse a Meloni que em São Paulo se comem “pizzas melhores do que em Roma”, uma brincadeira provocativa, dado o orgulho dos romanos de sua culinária e das normas tradicionais das pizzas. Meloni sorriu, segundo pessoas que presenciaram a cena. A delegação brasileira achou a italiana com semblante sério e jeito mais ríspido, mas sem ser grosseira.
Apesar da pouca (ou nenhuma afinidade), o encontro correu de forma protocolar. Em público, Lula elogiou Meloni e disse ter se impressionado com a líder de um campo político rival.
Com Sergio Mattarella, o presidente brasileiro fez uma piada semelhante. Durante um almoço no Palácio Quirinale, disse que no Brasil vivem mais italianos que na própria Itália, uma referência aos cerca de 30 milhões de descendentes que vivem no País.
Depois, em público, Lula viria a cobrar que os líderes políticos italianos atendam seu convite e visitem o Brasil. Meloni e Mattarella jamais pisaram no País.
Também com Mattarella, Lula pediu que os países se esforcem para ampliar o potencial do comércio bilateral (no patamar atual de US$ 10,5 bilhões).
E voltou a afirmar que o Brasil considera “inaceitável” a abertura das compras governamentais aos europeus, o que faz parte de um capítulo do texto do acordo Mercosul-União Europeia.