ROMA ― Um verdadeiro império econômico de cerca de US$ 5 bilhões (R$ 26 bilhões) foi confiscado de “testas de ferro” de Matteo Messina Denaro, o último chefão da Cosa Nostra, preso na segunda-feira, 16, após passar 30 anos foragido. Segundo fontes dos investigadores, o patrimônio do líder da máfia siciliana pode ser ainda maior.
O líder da temida organização criminosa “lavou” parte de sua enorme fortuna, que começou com o tráfico de drogas nas décadas de 1980 e 1990, em atividades legais, incluindo uma rede de usinas eólicas, resorts turísticos, edifícios, supermercados e obras de arte. De acordo com o jornal econômico Il Sole24Ore, o chefe da máfia usou “laranjas” para lavar dinheiro sujo.
A Direção Investigativa Antimáfia italiana (DIA) considera que, graças à cumplicidade de empresários, profissionais e amigos, Denaro construiu um império que alcança, inclusive, outros países, entre eles vários da América Latina.
“O rei foi descoberto, agora procura-se o seu tesouro”, anunciaram os investigadores da equipe da polícia especializada em crimes econômicos.
“Não há dúvida de que sua fortuna é maior. O cálculo até agora foi feito com base em operações policiais, como no setor de supermercados e de usinas eólicas”, explicou à Rai News24 Eleonora Montani, professora de direito penal da Universidade Bocconi e membro do comitê antimáfia de Milão.
“O crime organizado entra nos setores, onde consegue se infiltrar. A máfia não investe para o bem da sociedade, mas para obter lucros para ela”, afirmou.
O jornal La Repubblica garante que Matteo Messina Denaro utilizou profissionais como eletricistas e açougueiros, para lavar dinheiro sujo, que foram verdadeiros magos financeiros.
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“Em 2018, a DIA ordenou o confisco dos bens de Carmelo Patti, um eletricista de Pavia [norte], mas de origem siciliana, que em poucos anos se tornou um dos cinco homens mais ricos da Itália” com a Valtur, uma rede de hotéis e resorts, afirma o jornal.
Segundo o último relatório da DIA, que pode ser consultado on-line, a temida organização não investe apenas na Sicília. Também lava dinheiro em vários países e em paraísos fiscais.
Para Giuseppe Pipitone, jornalista siciliano e especialista em máfia, as relações de Matteo Messina Denaro com a América Latina datam de meados do século XX.
Essas relações são próximas, graças a seu pai, “don Ciccio” Messina Denaro, também chefe da máfia local, amigo íntimo da família mafiosa Cuntrera-Caruana. Conhecida como “os banqueiros da Cosa Nostra”, desfrutou de uma posição-chave no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro entre as décadas de 1980 e 1990.
“As famílias Cuntrera e Caruana emigraram para o Canadá, depois para o Reino Unido e finalmente para a Venezuela, onde rapidamente se tornaram os maiores traficantes de drogas do mundo”, beneficiados por suas conexões com os chefões colombianos da cocaína.
Coordenada por Pipitone, a edição especial dedicada à máfia do jornal Il Fatto Quotidiano publicada no ano passado cita um mafioso arrependido que contou que, há 20 anos, Matteo Messina Denaro investiu US$ 5 milhões (R$ 26 milhões) em uma granja, por meio de seus amigos na Venezuela. “Galinhas, ou cocaína?”, questionou./ AFP