Ao noticiar a morte de Gilles Lapouge, jornais franceses abordaram a longa relação do jornalista e escritor com o Brasil. Le Figaro, Le Monde e Le Journal du Dimanche ainda destacaram o papel de Gilles na imprensa francesa por ter sido um dos criadores do programa Ouvrez les guillemets (Abra aspas), que se tornaria o Apostrophes, uma das principais produções televisivas de literatura do país. Segundo familiares, Lapouge não resistiu a uma infecção pulmonar. Jornalista do Estadão há 70 anos, ele faria 97 anos em novembro.
O Le Figaro cita a relação de Gilles Lapouge com o Brasil e compara sua curiosidade com a do escritor Stendhal, lembrando do livro 'Dicionário dos Apaixonados pelo Brasil'. O texto lembra que Gilles foi "pego" pelo vírus do jornalismo pela sua passagem no Brasil, nos anos 1950, quando se tornou correspondente do Estadão.
"Desde essa data e por mais de 60 anos, ele colaborava regularmente com o principal jornal do País, O Estado de S. Paulo, escrevendo o equivalente, segundo seus cálculos, a cerca de cinquenta volumes da "Pléiade" (coleção de livros de uma famosa casa editorial francesa)", escreveu o Figaro. De acordo com o acervo do Estadão, foram mais de 10 mil textos escritos. Pelo menos cinco dos mais de 25 livros que escreveu ao longo de sua trajetória tiveram o Brasil como tema.
No Brasil, viajou pela Amazônia, Rio de Janeiro, São Paulo e era apaixonado pelo Nordeste, principalmente pelo sertão. "Ele tinha memórias muito fortes do Brasil. Amava o Nordeste, o sertão. Sempre contava dos anos no Brasil, das leituras de Jorge Amado. Ele gostava muito das histórias dessa região", disse ao Estadão o amigo Michel Goujon, editor do clube de livros France Loisirs que trabalhou com Gilles por muitos anos. "Ele era um purista com a escrita, escrevia e corrigia 100 vezes. Muitas vezes, seus textos se assemelham a poemas, eles têm um musicalidade".
"Na França, todos admiravam Gilles e você só podia vê-lo depois que ele escrevia sua coluna. Ele impressionou a todos nós com a beleza de sua alma, seu humor e sua elegância. Ele era um viajante, foi para a África com seus filhos há dois anos. Para nós, é uma árvore enorme e bonita que acaba de ser derrubada", afirmou Valérie Dumeige, que foi editora do escritor na Éditions Arthaud.
O jornal Le Monde escreveu que um grande "escritor viajante" morreu, destacando a curiosidade como uma das características marcantes de Lapouge. Cita a passagem de Lapouge pela rádio e também pela televisão, descrevendo-o como um "homem das mídias". A agência de notícias francesa AFP, que distribui seu conteúdo para dezenas de países, também noticiou a morte do escritor e sua relação com o Brasil.
O Le Journal du Dimanche usa as próprias palavra de Lapouge para descrevê-lo: "Sou mais um viajante surpreendido do que um viajante surpreendente". O texto também cita o "caminho único" de ser um profundo conhecedor do Brasil.
O jornal cita a passagem de Lapouge na imprensa francesa em veículos como Le Monde, le Figaro e em transmissões televisivas para falar de literatura na França. O diário usou as mesmas palavras da Embaixada da França no Brasil para resumir uma característica inconfundível de Lapouge: 'Era um apaixonado pelo Brasil".