Em meio a tensão militar entre China e EUA, Taiwan alerta para risco de conflito


Intensas atividades militares da China no estreito de Taiwan emergem como o novo ponto de pressão na relação cada vez mais acirrada com o território e com os americanos

Por Redação
Atualização:

TAIPÉ E PEQUIM - A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, alertou, em um artigo publicado pela revista Foreign Affairs nesta terça-feira, 5, para consequências catastróficas caso a região caia sob o dominínio da China. Segundo ela, seu país está comprometido a defender a democracia "custe o que custar" contra as agressões chinesas.

"A recusa de Taiwan em desistir, sua adoção persistente da democracia e seu compromisso de agir como uma parte interessada responsável (mesmo quando sua exclusão das instituições internacionais tornou isso difícil) agora estão estimulando o restante do mundo a reavaliar seu valor como uma democracia liberal na linha de frente de um novo choque de ideologias", escreveu a presidente. 

"À medida que os países reconhecem cada vez mais a ameaça que o Partido Comunista Chinês representa, eles devem compreender o valor de trabalhar com Taiwan. E devem se lembrar que, se Taiwan cair, as consequências serão catastróficas para a paz regional e o sistema de alianças democráticas. Seria um sinal de que na competição global de valores de hoje, o autoritarismo tem o controle sobre a democracia."

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Bombardeiro chinês PLA Xian H-6, após incursão de mais de 50 aeronaves militares na zona de defesa aérea de Taiwan. Foto: EFE/EPA/Ministério da Defesa do Taiwan

O artigo é publicado no momento em que as intensas atividades militares da China no estreito de Taiwan emergem como o novo ponto de pressão na relação cada vez mais acirrada com o território - considerado por Pequim uma província rebelde - e com os Estados Unidos.

Cerca de 150 aeronaves chinesas participaram de exercícios militares na região, demarcada por Taiwan como uma zona prioritária de defesa, provocando reações de Taipé, em meio a troca de acusações entre as duas superpotências sobre a responsabilidade de cada uma na instabilidade provocada na região.

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Autoridades de Taiwan registraram a presença de 149 aeronaves chinesas no setor sul do estreito que divide os dois países, dentro da Zona de Identificação de Defesa Aérea. Oficialmente, a zona é considerada um espaço aéreo internacional, mas Taipé reivindica o direito de exigir que as aeronaves que por ali trafegam se identifiquem por motivos de segurança nacional. 

De acordo com o Ministério da Defesa do país, apenas nas ações de segunda-feira, 4, foram identificados 34 caças Shenyang J-16 e 12 bombardeiros Xian H-6, que têm capacidade de transportar armas nucleares. Em resposta, caças taiwaneses foram enviados para a área, e sistemas de defesa aérea foram postos em prontidão - apesar de nenhuma aeronave chinesa ter entrado no espaço aéreo do país.

Analistas apontam que as manobras chinesas passam algumas mensagens, como a de que Pequim vai continuar a pressionar Taiwan por uma eventual unificação do território, e também serve de alerta aos EUA e Taiwan para que ambos não avancem além dos limites impostos pelo governo chinês na região.

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Durante os últimos dias, o órgão de Taipé responsável pelas relações entre os Taiwan e China exigiu que Pequim interrompesse o que chamou de "provocações irresponsáveis" e acusou o país de ser o "principal responsável" pelas tensões recentes. 

Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan Foto: Taiwan Presidential Office via AP

A atual tensão mostra como o estreito de Taiwan se tornou uma região sensível na disputa entre as principais potências internacionais. O movimento chinês ocorre depois de uma série de avanços americanos sobre a região do Indo-Pacífico, definida pelo presidente Joe Biden como foco de sua política externa - em grande parte com o objetivo de conter o expansionismo da China.

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No mês passado, EUA, Reino Unido e Austrália anunciaram um novo pacto de segurança para "manter a paz na região Indo-Pacífica", batizada de aliança Aukus, que prevê a construção de uma frota de submarinos nucleares para os australianos. Também em setembro, dois porta-aviões americanos entraram no Mar do Sul da China e participaram de exercícios navais nos arredores da ilha japonesa de Okinawa, a cerca de 700 km de Taiwan. As operações contaram com a participação de embarcações de Reino Unido, Holanda, Canadá, Japão e Nova Zelândia.

Durante os exercícios militares, o Pentágono emitiu um comunicado no qual afirma que o aumento das atividades militares chinesas perto de Taiwan pode desestabilizar a região, além de elevar o risco de um erro de cálculo. "Nosso compromisso com Taiwan é sólido e contribui para a manutenção da paz e da estabilidade ao longo do estreito de Taiwan e ao redor da região", diz o texto.

O premiê australiano, Scott Morrison (esq.), Joe Biden (cen.), e Boris Johnson (dir), ao anunciar acordo sobre submarinos Foto: Brendan Smialowski / AFP
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Em resposta, Pequim culpou os EUA pela tensão, acusando Washington de agir de forma agressiva na região. Segundo analistas, as aeronaves chinesas que participaram dos exercícios estariam simulando ataques contra navios americanos.

"Taiwan pertence à China e os EUA não estão em posição de fazer essas declarações irresponsáveis. As declarações do lado americano violam seriamente o princípio de "uma só China" (...) e mandam um sinal extremamente errado e irresponsável", respondeu a porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying.

Apesar de as autoridades de Taiwan se considerarem uma nação independente, para Pequim o arquipélago para onde os nacionalistas fugiram ao serem derrotados na guerra civil é parte integrante de seu território. A China vê as parcerias militares taiwanesas com outras nações, como os EUA, como uma violação de sua própria soberania.

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Em 1979, quando restabeleceram plenamente as relações diplomáticas com a China, os EUA concordaram em reconhecer Pequim como única representante do povo chinês. Apesar disso, Washington manteve uma aliança com Taipé, incluindo o fornecimento de armas, que em longo prazo busca evitar que a reunificação do território chinês leve Pequim a controlar o Estreito de Taiwan, vital para a navegação na região.

Em uma entrevista coletiva, a porta-voz chinesa criticou recentes planos de venda de armas americanas a Taiwan, e afirmou que esse tipo de ação "mina as relações entre EUA e China e a paz e a estabilidade da região".

"A 'independência de Taiwan' não leva a lugar algum. A China vai tomar todas as medidas necessárias para esmagar todas as tentativas relacionadas à 'independência de Taiwan'. A China tem uma vontade firme de salvaguardar sua soberania nacional e sua integridade territorial", declarou Hua Chunying./ AP, AFP e NYT

TAIPÉ E PEQUIM - A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, alertou, em um artigo publicado pela revista Foreign Affairs nesta terça-feira, 5, para consequências catastróficas caso a região caia sob o dominínio da China. Segundo ela, seu país está comprometido a defender a democracia "custe o que custar" contra as agressões chinesas.

"A recusa de Taiwan em desistir, sua adoção persistente da democracia e seu compromisso de agir como uma parte interessada responsável (mesmo quando sua exclusão das instituições internacionais tornou isso difícil) agora estão estimulando o restante do mundo a reavaliar seu valor como uma democracia liberal na linha de frente de um novo choque de ideologias", escreveu a presidente. 

"À medida que os países reconhecem cada vez mais a ameaça que o Partido Comunista Chinês representa, eles devem compreender o valor de trabalhar com Taiwan. E devem se lembrar que, se Taiwan cair, as consequências serão catastróficas para a paz regional e o sistema de alianças democráticas. Seria um sinal de que na competição global de valores de hoje, o autoritarismo tem o controle sobre a democracia."

Bombardeiro chinês PLA Xian H-6, após incursão de mais de 50 aeronaves militares na zona de defesa aérea de Taiwan. Foto: EFE/EPA/Ministério da Defesa do Taiwan

O artigo é publicado no momento em que as intensas atividades militares da China no estreito de Taiwan emergem como o novo ponto de pressão na relação cada vez mais acirrada com o território - considerado por Pequim uma província rebelde - e com os Estados Unidos.

Cerca de 150 aeronaves chinesas participaram de exercícios militares na região, demarcada por Taiwan como uma zona prioritária de defesa, provocando reações de Taipé, em meio a troca de acusações entre as duas superpotências sobre a responsabilidade de cada uma na instabilidade provocada na região.

Autoridades de Taiwan registraram a presença de 149 aeronaves chinesas no setor sul do estreito que divide os dois países, dentro da Zona de Identificação de Defesa Aérea. Oficialmente, a zona é considerada um espaço aéreo internacional, mas Taipé reivindica o direito de exigir que as aeronaves que por ali trafegam se identifiquem por motivos de segurança nacional. 

De acordo com o Ministério da Defesa do país, apenas nas ações de segunda-feira, 4, foram identificados 34 caças Shenyang J-16 e 12 bombardeiros Xian H-6, que têm capacidade de transportar armas nucleares. Em resposta, caças taiwaneses foram enviados para a área, e sistemas de defesa aérea foram postos em prontidão - apesar de nenhuma aeronave chinesa ter entrado no espaço aéreo do país.

Analistas apontam que as manobras chinesas passam algumas mensagens, como a de que Pequim vai continuar a pressionar Taiwan por uma eventual unificação do território, e também serve de alerta aos EUA e Taiwan para que ambos não avancem além dos limites impostos pelo governo chinês na região.

Durante os últimos dias, o órgão de Taipé responsável pelas relações entre os Taiwan e China exigiu que Pequim interrompesse o que chamou de "provocações irresponsáveis" e acusou o país de ser o "principal responsável" pelas tensões recentes. 

Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan Foto: Taiwan Presidential Office via AP

A atual tensão mostra como o estreito de Taiwan se tornou uma região sensível na disputa entre as principais potências internacionais. O movimento chinês ocorre depois de uma série de avanços americanos sobre a região do Indo-Pacífico, definida pelo presidente Joe Biden como foco de sua política externa - em grande parte com o objetivo de conter o expansionismo da China.

No mês passado, EUA, Reino Unido e Austrália anunciaram um novo pacto de segurança para "manter a paz na região Indo-Pacífica", batizada de aliança Aukus, que prevê a construção de uma frota de submarinos nucleares para os australianos. Também em setembro, dois porta-aviões americanos entraram no Mar do Sul da China e participaram de exercícios navais nos arredores da ilha japonesa de Okinawa, a cerca de 700 km de Taiwan. As operações contaram com a participação de embarcações de Reino Unido, Holanda, Canadá, Japão e Nova Zelândia.

Durante os exercícios militares, o Pentágono emitiu um comunicado no qual afirma que o aumento das atividades militares chinesas perto de Taiwan pode desestabilizar a região, além de elevar o risco de um erro de cálculo. "Nosso compromisso com Taiwan é sólido e contribui para a manutenção da paz e da estabilidade ao longo do estreito de Taiwan e ao redor da região", diz o texto.

O premiê australiano, Scott Morrison (esq.), Joe Biden (cen.), e Boris Johnson (dir), ao anunciar acordo sobre submarinos Foto: Brendan Smialowski / AFP

Em resposta, Pequim culpou os EUA pela tensão, acusando Washington de agir de forma agressiva na região. Segundo analistas, as aeronaves chinesas que participaram dos exercícios estariam simulando ataques contra navios americanos.

"Taiwan pertence à China e os EUA não estão em posição de fazer essas declarações irresponsáveis. As declarações do lado americano violam seriamente o princípio de "uma só China" (...) e mandam um sinal extremamente errado e irresponsável", respondeu a porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying.

Apesar de as autoridades de Taiwan se considerarem uma nação independente, para Pequim o arquipélago para onde os nacionalistas fugiram ao serem derrotados na guerra civil é parte integrante de seu território. A China vê as parcerias militares taiwanesas com outras nações, como os EUA, como uma violação de sua própria soberania.

Em 1979, quando restabeleceram plenamente as relações diplomáticas com a China, os EUA concordaram em reconhecer Pequim como única representante do povo chinês. Apesar disso, Washington manteve uma aliança com Taipé, incluindo o fornecimento de armas, que em longo prazo busca evitar que a reunificação do território chinês leve Pequim a controlar o Estreito de Taiwan, vital para a navegação na região.

Em uma entrevista coletiva, a porta-voz chinesa criticou recentes planos de venda de armas americanas a Taiwan, e afirmou que esse tipo de ação "mina as relações entre EUA e China e a paz e a estabilidade da região".

"A 'independência de Taiwan' não leva a lugar algum. A China vai tomar todas as medidas necessárias para esmagar todas as tentativas relacionadas à 'independência de Taiwan'. A China tem uma vontade firme de salvaguardar sua soberania nacional e sua integridade territorial", declarou Hua Chunying./ AP, AFP e NYT

TAIPÉ E PEQUIM - A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, alertou, em um artigo publicado pela revista Foreign Affairs nesta terça-feira, 5, para consequências catastróficas caso a região caia sob o dominínio da China. Segundo ela, seu país está comprometido a defender a democracia "custe o que custar" contra as agressões chinesas.

"A recusa de Taiwan em desistir, sua adoção persistente da democracia e seu compromisso de agir como uma parte interessada responsável (mesmo quando sua exclusão das instituições internacionais tornou isso difícil) agora estão estimulando o restante do mundo a reavaliar seu valor como uma democracia liberal na linha de frente de um novo choque de ideologias", escreveu a presidente. 

"À medida que os países reconhecem cada vez mais a ameaça que o Partido Comunista Chinês representa, eles devem compreender o valor de trabalhar com Taiwan. E devem se lembrar que, se Taiwan cair, as consequências serão catastróficas para a paz regional e o sistema de alianças democráticas. Seria um sinal de que na competição global de valores de hoje, o autoritarismo tem o controle sobre a democracia."

Bombardeiro chinês PLA Xian H-6, após incursão de mais de 50 aeronaves militares na zona de defesa aérea de Taiwan. Foto: EFE/EPA/Ministério da Defesa do Taiwan

O artigo é publicado no momento em que as intensas atividades militares da China no estreito de Taiwan emergem como o novo ponto de pressão na relação cada vez mais acirrada com o território - considerado por Pequim uma província rebelde - e com os Estados Unidos.

Cerca de 150 aeronaves chinesas participaram de exercícios militares na região, demarcada por Taiwan como uma zona prioritária de defesa, provocando reações de Taipé, em meio a troca de acusações entre as duas superpotências sobre a responsabilidade de cada uma na instabilidade provocada na região.

Autoridades de Taiwan registraram a presença de 149 aeronaves chinesas no setor sul do estreito que divide os dois países, dentro da Zona de Identificação de Defesa Aérea. Oficialmente, a zona é considerada um espaço aéreo internacional, mas Taipé reivindica o direito de exigir que as aeronaves que por ali trafegam se identifiquem por motivos de segurança nacional. 

De acordo com o Ministério da Defesa do país, apenas nas ações de segunda-feira, 4, foram identificados 34 caças Shenyang J-16 e 12 bombardeiros Xian H-6, que têm capacidade de transportar armas nucleares. Em resposta, caças taiwaneses foram enviados para a área, e sistemas de defesa aérea foram postos em prontidão - apesar de nenhuma aeronave chinesa ter entrado no espaço aéreo do país.

Analistas apontam que as manobras chinesas passam algumas mensagens, como a de que Pequim vai continuar a pressionar Taiwan por uma eventual unificação do território, e também serve de alerta aos EUA e Taiwan para que ambos não avancem além dos limites impostos pelo governo chinês na região.

Durante os últimos dias, o órgão de Taipé responsável pelas relações entre os Taiwan e China exigiu que Pequim interrompesse o que chamou de "provocações irresponsáveis" e acusou o país de ser o "principal responsável" pelas tensões recentes. 

Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan Foto: Taiwan Presidential Office via AP

A atual tensão mostra como o estreito de Taiwan se tornou uma região sensível na disputa entre as principais potências internacionais. O movimento chinês ocorre depois de uma série de avanços americanos sobre a região do Indo-Pacífico, definida pelo presidente Joe Biden como foco de sua política externa - em grande parte com o objetivo de conter o expansionismo da China.

No mês passado, EUA, Reino Unido e Austrália anunciaram um novo pacto de segurança para "manter a paz na região Indo-Pacífica", batizada de aliança Aukus, que prevê a construção de uma frota de submarinos nucleares para os australianos. Também em setembro, dois porta-aviões americanos entraram no Mar do Sul da China e participaram de exercícios navais nos arredores da ilha japonesa de Okinawa, a cerca de 700 km de Taiwan. As operações contaram com a participação de embarcações de Reino Unido, Holanda, Canadá, Japão e Nova Zelândia.

Durante os exercícios militares, o Pentágono emitiu um comunicado no qual afirma que o aumento das atividades militares chinesas perto de Taiwan pode desestabilizar a região, além de elevar o risco de um erro de cálculo. "Nosso compromisso com Taiwan é sólido e contribui para a manutenção da paz e da estabilidade ao longo do estreito de Taiwan e ao redor da região", diz o texto.

O premiê australiano, Scott Morrison (esq.), Joe Biden (cen.), e Boris Johnson (dir), ao anunciar acordo sobre submarinos Foto: Brendan Smialowski / AFP

Em resposta, Pequim culpou os EUA pela tensão, acusando Washington de agir de forma agressiva na região. Segundo analistas, as aeronaves chinesas que participaram dos exercícios estariam simulando ataques contra navios americanos.

"Taiwan pertence à China e os EUA não estão em posição de fazer essas declarações irresponsáveis. As declarações do lado americano violam seriamente o princípio de "uma só China" (...) e mandam um sinal extremamente errado e irresponsável", respondeu a porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying.

Apesar de as autoridades de Taiwan se considerarem uma nação independente, para Pequim o arquipélago para onde os nacionalistas fugiram ao serem derrotados na guerra civil é parte integrante de seu território. A China vê as parcerias militares taiwanesas com outras nações, como os EUA, como uma violação de sua própria soberania.

Em 1979, quando restabeleceram plenamente as relações diplomáticas com a China, os EUA concordaram em reconhecer Pequim como única representante do povo chinês. Apesar disso, Washington manteve uma aliança com Taipé, incluindo o fornecimento de armas, que em longo prazo busca evitar que a reunificação do território chinês leve Pequim a controlar o Estreito de Taiwan, vital para a navegação na região.

Em uma entrevista coletiva, a porta-voz chinesa criticou recentes planos de venda de armas americanas a Taiwan, e afirmou que esse tipo de ação "mina as relações entre EUA e China e a paz e a estabilidade da região".

"A 'independência de Taiwan' não leva a lugar algum. A China vai tomar todas as medidas necessárias para esmagar todas as tentativas relacionadas à 'independência de Taiwan'. A China tem uma vontade firme de salvaguardar sua soberania nacional e sua integridade territorial", declarou Hua Chunying./ AP, AFP e NYT

TAIPÉ E PEQUIM - A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, alertou, em um artigo publicado pela revista Foreign Affairs nesta terça-feira, 5, para consequências catastróficas caso a região caia sob o dominínio da China. Segundo ela, seu país está comprometido a defender a democracia "custe o que custar" contra as agressões chinesas.

"A recusa de Taiwan em desistir, sua adoção persistente da democracia e seu compromisso de agir como uma parte interessada responsável (mesmo quando sua exclusão das instituições internacionais tornou isso difícil) agora estão estimulando o restante do mundo a reavaliar seu valor como uma democracia liberal na linha de frente de um novo choque de ideologias", escreveu a presidente. 

"À medida que os países reconhecem cada vez mais a ameaça que o Partido Comunista Chinês representa, eles devem compreender o valor de trabalhar com Taiwan. E devem se lembrar que, se Taiwan cair, as consequências serão catastróficas para a paz regional e o sistema de alianças democráticas. Seria um sinal de que na competição global de valores de hoje, o autoritarismo tem o controle sobre a democracia."

Bombardeiro chinês PLA Xian H-6, após incursão de mais de 50 aeronaves militares na zona de defesa aérea de Taiwan. Foto: EFE/EPA/Ministério da Defesa do Taiwan

O artigo é publicado no momento em que as intensas atividades militares da China no estreito de Taiwan emergem como o novo ponto de pressão na relação cada vez mais acirrada com o território - considerado por Pequim uma província rebelde - e com os Estados Unidos.

Cerca de 150 aeronaves chinesas participaram de exercícios militares na região, demarcada por Taiwan como uma zona prioritária de defesa, provocando reações de Taipé, em meio a troca de acusações entre as duas superpotências sobre a responsabilidade de cada uma na instabilidade provocada na região.

Autoridades de Taiwan registraram a presença de 149 aeronaves chinesas no setor sul do estreito que divide os dois países, dentro da Zona de Identificação de Defesa Aérea. Oficialmente, a zona é considerada um espaço aéreo internacional, mas Taipé reivindica o direito de exigir que as aeronaves que por ali trafegam se identifiquem por motivos de segurança nacional. 

De acordo com o Ministério da Defesa do país, apenas nas ações de segunda-feira, 4, foram identificados 34 caças Shenyang J-16 e 12 bombardeiros Xian H-6, que têm capacidade de transportar armas nucleares. Em resposta, caças taiwaneses foram enviados para a área, e sistemas de defesa aérea foram postos em prontidão - apesar de nenhuma aeronave chinesa ter entrado no espaço aéreo do país.

Analistas apontam que as manobras chinesas passam algumas mensagens, como a de que Pequim vai continuar a pressionar Taiwan por uma eventual unificação do território, e também serve de alerta aos EUA e Taiwan para que ambos não avancem além dos limites impostos pelo governo chinês na região.

Durante os últimos dias, o órgão de Taipé responsável pelas relações entre os Taiwan e China exigiu que Pequim interrompesse o que chamou de "provocações irresponsáveis" e acusou o país de ser o "principal responsável" pelas tensões recentes. 

Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan Foto: Taiwan Presidential Office via AP

A atual tensão mostra como o estreito de Taiwan se tornou uma região sensível na disputa entre as principais potências internacionais. O movimento chinês ocorre depois de uma série de avanços americanos sobre a região do Indo-Pacífico, definida pelo presidente Joe Biden como foco de sua política externa - em grande parte com o objetivo de conter o expansionismo da China.

No mês passado, EUA, Reino Unido e Austrália anunciaram um novo pacto de segurança para "manter a paz na região Indo-Pacífica", batizada de aliança Aukus, que prevê a construção de uma frota de submarinos nucleares para os australianos. Também em setembro, dois porta-aviões americanos entraram no Mar do Sul da China e participaram de exercícios navais nos arredores da ilha japonesa de Okinawa, a cerca de 700 km de Taiwan. As operações contaram com a participação de embarcações de Reino Unido, Holanda, Canadá, Japão e Nova Zelândia.

Durante os exercícios militares, o Pentágono emitiu um comunicado no qual afirma que o aumento das atividades militares chinesas perto de Taiwan pode desestabilizar a região, além de elevar o risco de um erro de cálculo. "Nosso compromisso com Taiwan é sólido e contribui para a manutenção da paz e da estabilidade ao longo do estreito de Taiwan e ao redor da região", diz o texto.

O premiê australiano, Scott Morrison (esq.), Joe Biden (cen.), e Boris Johnson (dir), ao anunciar acordo sobre submarinos Foto: Brendan Smialowski / AFP

Em resposta, Pequim culpou os EUA pela tensão, acusando Washington de agir de forma agressiva na região. Segundo analistas, as aeronaves chinesas que participaram dos exercícios estariam simulando ataques contra navios americanos.

"Taiwan pertence à China e os EUA não estão em posição de fazer essas declarações irresponsáveis. As declarações do lado americano violam seriamente o princípio de "uma só China" (...) e mandam um sinal extremamente errado e irresponsável", respondeu a porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying.

Apesar de as autoridades de Taiwan se considerarem uma nação independente, para Pequim o arquipélago para onde os nacionalistas fugiram ao serem derrotados na guerra civil é parte integrante de seu território. A China vê as parcerias militares taiwanesas com outras nações, como os EUA, como uma violação de sua própria soberania.

Em 1979, quando restabeleceram plenamente as relações diplomáticas com a China, os EUA concordaram em reconhecer Pequim como única representante do povo chinês. Apesar disso, Washington manteve uma aliança com Taipé, incluindo o fornecimento de armas, que em longo prazo busca evitar que a reunificação do território chinês leve Pequim a controlar o Estreito de Taiwan, vital para a navegação na região.

Em uma entrevista coletiva, a porta-voz chinesa criticou recentes planos de venda de armas americanas a Taiwan, e afirmou que esse tipo de ação "mina as relações entre EUA e China e a paz e a estabilidade da região".

"A 'independência de Taiwan' não leva a lugar algum. A China vai tomar todas as medidas necessárias para esmagar todas as tentativas relacionadas à 'independência de Taiwan'. A China tem uma vontade firme de salvaguardar sua soberania nacional e sua integridade territorial", declarou Hua Chunying./ AP, AFP e NYT

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