Os indianos começam a ir às urnas nesta sexta-feira, 19, e esse é apenas o início de um processo democrático colossal. Só no dia 4 de junho, depois de seis semanas de votação, a Índia irá saber se o seu poderoso primeiro-ministro, Narendra Modi, permanecerá no cargo pelo terceiro mandato.
Por que a eleição demora tanto? A resposta curta: a Índia é o país mais populoso do mundo, com 969 milhões de eleitores elegíveis. Isso é mais do que um décimo da população mundial, ou cerca de quatro vezes o número de eleitores elegíveis na segunda maior democracia do mundo, os Estados Unidos.
Já a resposta longa envolve a geografia da Índia, as regras eleitorais, aparato de segurança, feriados e as urnas eletrônicas — uma coreografia complicada para um país grande e complexo.
A Índia é assustadoramente grande
As primeiras eleições parlamentares nacionais da Índia, de 1951 a 1952, duraram mais de 120 dias. Em 1977, elas levaram cinco dias. Mas, em geral, elas levam semanas ou meses, mesmo sem eleições primárias, por conta de sua enorme escala.
O país possui uma área terrestre de mais de três milhões de metros quadrados, com pessoas em megacidades, espalhadas pelo Himalaia, no deserto Thar, dentro de florestas e ao longo do rio Ganges.
A lei indiana também estabelece que eleitores não podem ser obrigados a se deslocar mais de 2 quilômetros de suas casas até uma seção eleitoral. Para tornar isso possível, 12 milhões de trabalhadores das eleições irão percorrer o país para instalar seções eleitorais este ano, às vezes a pé, bicicleta, helicóptero ou barco — ou até mesmo a cavalo, camelo ou elefante.
Algumas dessas viagens podem levar dias. Em 2019, a urna mais alta do país estava a mais de 4,5 mil metros acima do nível do mar, no Vale Spiti, no Himalaia. Em 2009, uma equipe de cinco pessoas percorreu as profundezas da Floresta Gir, em Gujarat, no oeste da Índia, para alcançar o único habitante de um templo Hindu remoto.
“É uma honra, realmente é”, disse o religioso, Bharatdas Darshandas aos jornalistas após a eleição daquele ano. “Isso prova como a Índia valoriza a sua democracia.”
As forças de segurança preservam a ordem
Nos primeiros anos da democracia da Índia, conflitos entre apoiadores de partidos rivais tornaram-se mortais. Candidatos foram sequestrados. Agentes policiais, falhando em manter a ordem, foram acusados de tomar lado sob a pressão dos políticos no poder. Então, iniciando nos anos 1990, forças paralimitares nacionais começaram a ser mobilizadas em grande escala nas eleições.
O país está destacando mais de 300 mil membros de suas forças de segurança nacional para ajudar a transportar as urnas e manter a paz nas cabines de votação este ano. Como eles não conseguem cobrir todo o país de uma vez só, as eleições são divididas em múltiplos estágios. Em cada fase, os solados trocam de uma região para a outra.
Essas preocupações de segurança prolongam as eleições que, de outra forma, levariam somente alguns dias, disse Vikram Singh, o ex-chefe de polícia do maior Estado da Índia, Uttar Pradesh, que já supervisionou a segurança nas eleições em disputas passadas. Mas ele disse que os eleitores estavam mais seguros por conta desses cuidados.
A violência é pouco frequente nos locais de votação hoje em dia. A presença de soldados ali também inspira confiança nos resultados eleitorais.
Embora a existência múltiplas fases no processo eleitoral tenha evitado surtos de violência, também suscitou críticas de que torna o processo eleitoral demasiado longo. SY Quraishi , um antigo comissário-chefe eleitoral, disse em uma entrevista que as lacunas entre as fases deram mais tempo para que rumores e desinformação se espalhassem.
Calendário leva em conta feriados e festivais
Quando a Comissão Eleitoral da Índia programa as votações, tenta evitar os vários feriados e festivais religiosos da Índia. A época das colheitas, o calendário acadêmico, o período de exames e o clima também são levados em conta.
O planejamento cuidadoso ajudou a alcançar uma alta taxa de participação eleitoral. Em 2019, 67% do eleitorado votou nas eleições nacionais, a taxa de participação mais elevada da história do país.
Um feriado durante esta eleição é o Mahavir Jayanti, em 21 de abril, um dos festivais mais importantes do Jainismo, uma religião de cerca de seis milhões de pessoas na Índia. Outra é o aniversário de Buda, 23 de maio, quando os monges carregarão relíquias sagradas de Buda em carruagens e as pessoas decorarão suas casas com flores e doarão a quem precisa.
Milhões de urnas são necessárias
As urnas eletrônicas foram padronizadas em todas as eleições nacionais da Índia em 2004. Tornaram a votação mais simples para milhões de pessoas, especialmente nas cidades populosas da Índia, onde os locais de votação mais movimentadas podem receber até 12 mil pessoas no dia da votação.
As máquinas foram construídas para serem mais portáteis e leves que as urnas tradicionais. Mas devem ser transportados para onde quer que estejam instaladas as seções de voto. Cada máquina consiste em uma “unidade de controle” que contabiliza e armazena votos; “unidades eleitorais” com botões que os eleitores pressionam; e uma impressora que gera um comprovante de papel.
Eles também vêm com malas de transporte especiais que os tornam fáceis de embalar. Os trabalhadores seguem salvaguardas elaboradas para transportá-los por todo o país.
Graças a estas máquinas, terminada a votação, a contagem é rápida.