A decisão do primeiro-ministro Narendra Modi de substituir a palavra Índia por “Bharat”, um antigo nome sânscrito, nos convites para um jantar do G-20 desencadeou um debate acalorado. A especulação é que Modi poderia mudar oficialmente a marca do país.
Desde que foi eleito em 2014, o primeiro-ministro e o seu governo têm trabalhado para apagar vários vestígios do domínio colonial ou mogol, muitas vezes instigando a mudança e por vezes cedendo às exigências da base nacionalista hindu do partido. O gatilho para o novo impulso pode ser o fato de “Índia” ser o nome de uma aliança formada por vários partidos da oposição em julho, para desafiar Modi e o seu partido nas eleições nacionais marcadas para 2024.
A primeira disposição da Constituição da Índia estabelece os dois nomes oficiais do país como “Índia, isto é, Bharat.” O nome do país pode ser alterado, ou um dos dois nomes pode ser omitido desta disposição por meio de uma emenda constitucional. Tal emenda precisaria de uma maioria de dois terços nas câmaras baixa e alta do parlamento.
Caso acontecesse, a Índia não seria o primeiro território a fazer esta alteração. O próprio Brasil, ao longo de sua história, já foi, por exemplo, Pindorama e Estados Unidos do Brasil. Mudanças recentes igualmente foram feitas por diversas nações. Os motivos são diversos — de adequação à grafia local até questões ideológicas (confira abaixo alguns exemplos).
Como surgiu o nome Bharat?
A origem da palavra foi atribuída a várias fontes na longa história da Índia. Pode ter derivado da palavra sânscrita Bharata, que significa fogo, ou ter descendido do rei indiano Bharata, que aparece na mitologia hindu como um ancestral. O nome Bharatvarsha, ou o reino de Bharat também é mencionado em textos antigos. A Índia deriva da palavra sânscrita Sindhu que significa rio, que os conquistadores árabes e gregos alteraram para Hind e depois para Índia. O nome ganhou destaque quando os britânicos assumiram a administração do país.
Quais são outros países que já mudaram de nome?
O caso mais recente de mudança de nome foi protagonizado pela Turquia, mas somente em inglês. A ONU aceitou um pedido do país em junho de 2022 para mudar o nome oficial de Turkey para Türkiye (pronuncia-se ‘turquiei)’. A mudança abre caminho para o fim de trocadilhos com a palavra inglesa turkey, usada também para designar o animal peru.
Desde 2019, a Macedônia é oficialmente Macedônia do Norte. A alteração foi feita em um acordo com a vizinha Grécia, que, em um impasse de quase três décadas, exigia esta troca e chegou a bloquear as negociações de adesão da Macedônia à da Otan e à União Europeia (UE) para aumentar a pressão. O governo grego protestava contra o nome alegando que ele sugeria aspirações territoriais sobre uma região ao norte da Grécia também chamada Macedônia.
Até 1972, o Sri Lanka era o Domínio do Ceilão, nome o qual foi batizado quando descoberto por Portugal em 1500. A adoção, porém, veio a passos lentos. Diversas instituições do país, inclusive públicas, permaneceram usando o nome antigo até 2011, quando o governo determinou que todas as referências ao antigo Ceilão fossem eliminadas, incluindo em documentos públicos e nome de empresas. A troca foi uma tentativa de afastamento do seu passado colonial.
Da mesma forma, desde 2020, as comunicações oficiais do governo o qual os brasileiros ainda costumam chamar de Holanda passaram a aceitar apenas a nomenclatura Países Baixos (the Netherlands). Há uma questão geográfica envolvida nesta alteração, já que os Países Baixos consistem em 12 províncias, duas das quais - Noord (Norte) Holland e Zuid (Sul) Holland - formam a região conhecida como Holanda. Ou seja, além de um nome que designou o país anteriormente, Holanda também nomeia uma região e duas províncias.
Outro país que vem realizando uma campanha para ser conhecido de outra forma é a República Checa, que pede para ser designada como Chéquia, por uma questão de simplificação. Embora a mudança tenha sido aceita pela ONU e pela União Europeia, o nome não teve muita adesão a nível internacional./Com Washington Post.