A Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou, por meio de projeções, que a Índia ultrapassou a China em tamanho de população durante este mês de abril. Com isso, a Índia se torna o país mais populoso do planeta e tira o reinado chinês que durava desde 1950, quando começou a contagem da ONU.
Segundo os demógrafos das Nações Unidas, a liderança indiana será possível em virtude do encolhimento da população chinesa, que chegou a um ápice de 1,426 bilhão de pessoas no ano passado e desde então começou a encolher, já que estão nascendo menos pessoas do que morrendo no país. Agora, a estimativa é de que a Índia tem 1,428 bilhão de habitantes enquanto a China tem 1,425 bilhão de habitantes.
No entanto, a ONU não confirma a data exata de quando aconteceu a ultrapassagem. “O momento exato desta ultrapassagem não é conhecido e jamais será”, diz o diretor da divisão de Demogafia da ONU, John Wilmoth. “Existem muitas incertezas sobre os dados.”
Com isso, a lista de países mais populosos do mundo passará a ter um novo top 10, composto ainda por Estados Unidos, Indonésia, Paquistão, Nigéria, Brasil, Bangladesh, Rússia e México.
Impacto global
A mudança ocorre num momento em que a Índia tenta se cacifar como protagonista no cenário global. O país deve sediar ainda este ano a cúpula do G-20. No front econômico, tem atraído diversas empresas multinacionais que tem tentado reduzir sua dependência da China.
Índia e a China são vizinhas e têm um relacionamento complicado, que inclui uma longa disputa de fronteira na região do Tibete. Os Estados Unidos e a União Europeia veem cada vez mais a Índia, a maior democracia do mundo, como um contrapeso à China, mas seus interesses nem sempre se alinham.
A Índia, ao contrário de grande parte do Ocidente, absteve-se de condenar sua aliada da Guerra Fria, a Rússia, por causa da guerra na Ucrânia e adotou uma posição neutra no conflito. O país depende de petróleo russo e desde a invasão as compras de combustível russo dispararam.
O futuro da Índia
A marca de se tornar o país mais populoso do mundo também coloca questões para o futuro indiano. A principal delas é se o país conseguirá repetir o sucesso econômico chinês nas últimas décadas, impulsionado por uma mão de obra abundante e barata, que hoje, segundo analistas, colocou Pequim como uma superpotência em ascensão.
O governo indiano, que não conduz um censo demográfico desde 2011, não comentou as estimativas da ONU.
Reformas na década de 1990 estimularam o crescimento da Índia. Hoje, sua economia de US$ 3 trilhões é a quinta maior do mundo, impulsionada pelo crescimento de setores altamente qualificados, principalmente na área de tecnologia.
Mas a economia da Índia ainda está muito atrás da China. Em 1970, os dois países tinham rendas per capita quase iguais, mas hoje o produto interno bruto da China é de US$ 12.556 por pessoa, em comparação com os US$ 2.256 da Índia, de acordo com dados de 2021 do Banco Mundial.
Economistas alertam que, mesmo com o aumento do PIB da Índia, também aumentou o desemprego. Cerca de 80% dos trabalhadores indianos ainda trabalham em empregos informais, que muitas vezes são precários, mal pagos e oferecem poucos ou nenhum benefício. Ainda assim, a Índia deve se beneficiar do que é chamado de “dividendo demográfico”, quando o aumento da população em idade ativa estimula o rápido crescimento econômico, desde que haja forte participação na força de trabalho, disse Wilmoth.
Ao mesmo tempo, a vasta população da Índia também significa que muitos desafios se desenrolam em grande escala, seja enfrentando a crescente ameaça da mudança climática, disparidades entre suas populações urbanas e rurais, um número cada vez menor de mulheres na força de trabalho ou uma divisão religiosa cada vez maior.
“Para que este século pertença à Índia, ela deve aproveitar ao máximo sua vantagem demográfica”, disse Brahma Chellaney, professor de assuntos estratégicos do Center for Policy Research. “A crise demográfica da China é oportuna para o crescimento da Índia – mas apenas se ela conseguir encontrar empregos de boa qualidade para sua abundante juventude.”/ AP e EFE