A pouco mais de um ano das eleições, o favoritismo de Donald Trump entre os republicanos segue inabalado apesar do acúmulo de processos criminais. No caso mais recente, analistas avaliam que o indiciamento pela tentativa de reverter a derrota para Joe Biden em 2020 pode inclusive impulsionar Trump na primeira etapa da disputa, a nomeação do partido.
Apesar de já ter ocupado a Casa Branca, Donald Trump continua se apresentando para os eleitores como alguém de fora da política. O primeiro ex-presidente da história americana a ser acusado criminalmente alega que seria vítima de uma “caça às bruxas” promovida pelas instituições e usa a suposta perseguição como tema central de campanha.
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As acusações são antecipadas pelo próprio Trump para mobilizar os apoiadores, uma estratégia que repetiu esta semana. Na segunda-feira, um dia antes de virar réu pela tentativa de reverter o resultado da última eleição, ele avisou que seria indiciado “a qualquer momento”.
Depois que as queixas criminais foram confirmadas, a campanha acusou o governo Joe Biden de “instrumentalizar o Departamento de Justiça para interferir nas eleições”.
Para o analista político Stu Rothenberg ouvido pela Reuters, a estratégia deve surtir efeito nas primárias e impulsionar a campanha de Trump, que enfrentará pelo menos dois julgamentos durante a disputa interna do partido. “Isso reunirá seus apoiadores para seus pontos de discussão – sobre como o establishment e o ‘estado profundo’ estão contra ele e contra eles”, avalia.
As pesquisas, até o momento, corroboram o favoritismo do magnata. Esta semana o levantamento feito pelo jornal The New York Times mostra que Trump tem 54% das intenções de voto para as primárias do partido Republicano. São 37 pontos à frente do principal rival, o governador da Flórida, Ron DeSantis.
DeSantis é um afilhado político de Trump que se distanciou ao ganhar repercussão nacional e, diante dos números, demonstrou um apoio sutil ao ex-presidente. Sem citar o caso diretamente, ele declarou que a “politização do estado de direito” é uma das razões para o “declínio do país” e prometeu que, se eleito, vai garantir “um padrão único de justiça para todos os americanos”.
A pesquisa mostra ainda que a parcela anti-Trump é pequena dentro do partido, corresponde a apenas 1/4 dos eleitores republicanos. Apenas 19% afirmam que o comportamento dele depois da derrota em 2020 ameaçou a democracia americana e só 17% acreditam que ele cometeu crimes graves, apesar das acusações que pesam contra o republicano.
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As alegações de perseguição política podem ajudar Trump a manter o amplo apoio que tem dentro do partido ajudar nas primárias. Uma eventual disputa contra Biden, no entanto, deve ser acirrada e as pesquisas mostram que o atual presidente deve ter mais facilidade de conquistar os eleitores que ainda estão indecisos.
O levantamento do New York Times mostra que os dois estão empatados neste momento: democrata tem 43% das intenções de voto. O republicano, também. Outros 14% dos eleitores não demonstraram preferência por nenhum dos dois principais candidatos. Esses podem decidir uma disputa tão polarizada em um sistema político que não tem espaço para terceira via.
Entre os que estão indecisos neste momento, 27% tem uma opinião favorável a Biden contra 15% dos que penderiam mais para o lado de Trump. Nessa parcela dos americanos, 63% acham que o republicano cometeu crimes sérios e 59% acham que ele ameaçou a democracia americana.
Enquanto as pesquisas apontam para o futuro, o passado recente também mostrou os riscos da estratégia de radicalizar o discurso para manter a base.
Nas eleições de meio de mandato do ano passado, havia a expectativa por uma “onda vermelha” - em referência a cor do partido Republicano - que não se concretizou. Além de afastar indecisos, a retórica de Trump e aliados ajudou a inspirar o maior comparecimento dos jovens, uma parcela do eleitorado que costuma pender mais para o lado democrata, em estados decisivos.
No ano passado, Donald Trump, que se fez muito presente na campanha tentando chamar para si a “onda vermelha” acabou saindo como derrotado da disputa mesmo sem estar nas urnas e virou alvo de críticas inclusive de republicanos.