Íngrid Betancourt, a única mulher na corrida presidencial da Colômbia, anunciou nesta sexta-feira, 20, que vai retirar sua candidatura para apoiar a do engenheiro Rodolfo Hernández, um populista e independente. Hernández é o candidato que mais cresce nas pesquisas e tem chances de chegar ao segundo turno.
“Hoje tomei a decisão de apoiar o único candidato que hoje pode derrotar o sistema”, disse Betancourt, candidata do Partido Verde Oxigênio, que nem chegou a 1% nas pesquisas de intenção de voto para o próximo dia 29, em um ato ao lado de Hernández em Barranquilla, no norte do país.
“Esta é uma decisão difícil para mim e para o meu partido porque significa que vamos nos afastar para apoiar Rodolfo, para dar-lhe todo o nosso apoio nesta última semana e depois durante todo o segundo turno”, disse Betancourt, que voltou à corrida presidencial 20 anos após seu sequestro pelos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), quando era candidata nas eleições de 2002.
A política acrescentou: “Temos de nos libertar de um sequestro muito mais longo e muito mais horrendo do que o que vivi, nos libertar dos corruptos que roubam todas as nossas esperanças todos os dias e que empobreceram a Colômbia”.
Íngrid Betancourt e Rodolfo Hernández compartilham um discurso comum de combate à corrupção e saques, e contra a política tradicional e aquilo que a ex-senadora chama de “maquinaria”.
Hernández apareceu com 20,9% das intenções de voto em uma pesquisa publicada nesta sexta-feira pela empresa Invamer. Em abril, ele possuía com 13,9%. Ele se encontra em terceiro lugar nas pesquisas, atrás do esquerdista Gustavo Petro (40%) e do direitista e ex-prefeito de Medellín, Federico “Fico” Gutiérrez (27,1%).
Entretanto, o crescimento registrado em um mês indica que Hernández pode ultrapassar o segundo lugar e ir ao segundo turno. No discurso desta noite, Betancourt afirmou que o candidato é o único “que pode chegar ao segundo turno e derrotar Petro ou Fico”.
De fato, enquanto um segundo turno entre Petro e Fico daria ao primeiro uma ampla vitória com 52,7% em comparação com 44,2% que o ex-prefeito de Medellín obteria, se a disputa for entre Petro e Hernández, a distância diminuiria para um quase empate em 50% e 47,4%, respectivamente.
Íngrid fala ao 'Estadão'
Betancourt se apresentou nas eleições deste ano como uma alternativa de centro, mas em menos de três meses a coalizão foi desfeita e ela decidiu correr por conta própria, até desistir da candidatura nesta sexta-feira.
O novo aliado de Betancourt foi prefeito da cidade de Bucamaranga entre os anos de 2016 e 2019 e surpreende nas eleições deste ano com o avanço nas pesquisas. Ele não está filiado a nenhum partido e não participou das primárias de março, que definiram os candidatos para as coalizões de esquerda, centro e direita.
Com grande espontaneidade em se expressar midiaticamente e com uma mensagem anticorrupção, o engenheiro ganhou a simpatia do eleitorado colombiano, cansado das elites conservadoras e liberais que tradicionalmente governam o país.
A carreira política escassa e o programa de governo tornam difícil colocá-lo dentro de um espectro político. Por um lado, retoma bandeiras progressistas, como a legalização do uso recreativo da maconha e o debate sobre novas políticas na luta antidrogas no país que é o maior produtor mundial de cocaína. Ele também concorda com a esquerda em questionar o impacto que os acordos de livre comércio tiveram na agricultura colombiana e propõe frear a importação de alimentos produzidos no país.
Quanto à guerrilha do ELN, a último reconhecida na Colômbia, Hernández propõe um acordo semelhante ao que o governo de Juan Manuel Santos assinou em 2016 com as FARC.
Por outro lado, ele retoma propostas de direita ao apoiar o fracking (método para extração de petróleo e gás criticado por um alto índice de ocupação de terra) e ao propor um endurecimento da política de imigração atual, que regularizou quase um milhão de venezuelanos que estavam ilegais no país. Durante a campanha, o candidato de Betancourt alertou que centenas de milhares de imigrantes que não iniciaram o processo de regularização podem ser deportados. /EFE E AFP