TEERÃ - O governo iraniano acusou neste domingo, 16, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de fazer declarações intervencionistas depois que o americano demonstrou apoio público aos protestos que completam um mês no Irã. A agitações começaram após a morte de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos, que foi detida pela polícia moral por uso de “roupas inadequadas” em 13 de setembro.
Três dias depois, no dia 16, a jovem foi declarada morta em um hospital da capital depois de entrar em coma enquanto estava sob custódia da polícia, desencadeando manifestações massivas que já deixaram centenas de mortos no país. Protestos também foram registrados em outros países do mundo contra a morte da jovem.
“Como ele [Biden] não tem conselheiros de confiança e não tem boa memória, recordo-lhe de que o Irã era forte e firme demais para se render às sanções cruéis e ameaças em vão”, disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, Naser Kanani.
O Irã completa neste domingo um mês de protestos que ganham cada vez mais força conforme o governo aperta a sua repressão. Os iranianos voltaram às ruas em várias cidades no sábado, 15, apesar dos bloqueios às redes sociais no país e buscando novos locais onde não haja concentração de forças de segurança. No fim do dia, um grande incêndio atingiu uma prisão onde prisioneiros políticos e ativistas antigovernamentais são mantidos na capital iraniana. Ao menos quatro pessoas morreram e 61 ficaram feridas no fogo.
Em comunicado publicado no Instagram, Kananí afirmou que no sábado, Biden “apoiou revoltas no Irã pela enésima vez por meio de declarações intervencionistas”, disse ele.
“O presidente americano afirmou que o governo iraniano está opressivo e afirmou estar impressionado com as mulheres do país persas pelos protestos. Nunca nos surpreendemos com suas alegações ou com o intervencionismo dos Estados Unidos, porque a intervenção, o estupro e assassinato são a verdadeira natureza do sistema americano”, acrescentou Kanani.
Em 6 de outubro, os Estados Unidos impuseram sanções ao ministro do Interior do Irã, Ahmad Vahidi, assim como à ministra das Comunicações, Eisa Zarepour, e a cinco funcionários de alto escalão das forças de segurança do país, em represália à repressão violenta aos protestos pelos direitos das mulheres e contra a obrigatoriedade do uso do véu. As mobilizações contra a morte de Mahsa Amini são realizadas sobretudo por jovens e mulheres ao grito de “mulher, vida, liberdade”, um antigo lema curdo.
Para entender
A polícia tem reprimido duramente os atos com o uso de bastões, gás lacrimogêneo, canhões de água e, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), munições reais. Os números de mortos, feridos e detidos durante os protestos são incertos, com número oficiais - pouco atualizados - apontando algumas dezenas, enquanto cálculos de ONGs de direitos humanos apontando já mais de 200 mortos.
O regime iraniano acusou os “inimigos” dos protestos, em especificamente os Estados Unidos e Israel, e alertou a União Europeia contra a imposição de sanções, às quais responderá com “reciprocidade”.
Quatro morreram em incêndio em Evin
Na noite de sábado, um incêndio e confrontos foram registrados entre os prisioneiros e as forças de segurança na prisão de Evin, em Teerã, onde estão presos políticos, ativistas e jornalistas. Ao menos quatro prisioneiros morreram e outros 61 ficaram feridos, informou a autoridade judicial do Irã.
“Quatro prisioneiros morreram por inalação de fumaça causada pelo incêndio e 61 ficaram feridos”, disse o portal Mizan Online, acrescentando que quatro dos feridos estão em estado grave.
As autoridades iranianas foram rápidas em garantir que não há ligações entre o incidente na prisão e os protestos contra a morte de Mahsa Amini, segundo a agência estatal IRNA. Na tentativa de distanciar os dois fatos, a mídia estatal disse que o fogo começou após uma briga entre prisioneiros.
Muitos dos detidos nos protestos foram presos em Evin, onde grupos de direitos humanos relatam repetidos abusos de prisioneiros. Conforme a mídia estatal, o incêndio foi extinto após várias horas e nenhum detido escapou. / EFE, AFP e AP