O Irã transferiu nesta quinta-feira, 10, quatro americanos da prisão de Evin e os colocou em prisão domiciliar na primeira etapa de um grande, mas tênue acordo entre os dois adversários de longa data, segundo pessoas familiarizadas com as negociações.
A Casa Branca aplaudiu a transferência, mas se recusou a definir os termos de um acordo maior com o Irã, dizendo que as negociações “continuam em andamento e são delicadas”.
Fontes familiarizadas com o assunto disseram que o Irã deve conceder liberdade a cinco americanos ao todo em troca da soltura de vários iranianos presos por Washington e a liberação de US$ 6 bilhões em receitas de petróleo iraniano mantidas na Coreia do Sul.
A Embaixada do Irã na ONU afirmou aos meios de comunicação que os dois países concordaram em “libertar e perdoar reciprocamente cinco prisioneiros”.
Dadas as relações ácidas entre EUA e Irã, o complexo acordo ainda pode desmoronar, disseram pessoas familiarizadas com as negociações, falando sob condição de anonimato. “Já passei por várias tentativas fracassadas de libertar reféns americanos mantidos no Irã. Não acredito que nada aconteça até que aconteça”, disse Jared Genser, advogado da família Namazi.
Siamak Namazi, um iraniano-americano, estava atrás das grades em Teerã havia quase oito anos, o período mais longo que a república islâmica já prendeu qualquer americano.
Outros prisioneiros transferidos para prisão domiciliar foram Morad Tahbaz, um iraniano-americano que também possui cidadania britânica, e Emad Shargi, um cidadão americano-iraniano com dupla cidadania, de acordo com Genser. Ambos foram presos em 2018.
O quarto e o quinto americanos detidos no Irã permanecem não identificados a pedido de suas famílias.
“Embora recebamos com satisfação a notícia da libertação desses indivíduos da prisão para prisão domiciliar, eles nunca deveriam ter sido presos em primeiro lugar”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller. “Continuamos a trabalhar diligentemente para levar essas pessoas para casa, para seus entes queridos. Eles devem ter permissão para deixar o Irã e se reunir com seus entes queridos o mais rápido possível”.
Os EUA e o Irã vinham negociando os termos da libertação de prisioneiros havia meses. A evolução de quinta-feira marca um raro ponto positivo nas relações EUA-Irã, que foram marcadas por profunda desconfiança e pelo fracasso em reviver um acordo nuclear que o presidente Biden prometeu renovar.
Desde que Biden chegou ao poder, Teerã se recusou repetidamente a falar diretamente com Washington, exigindo que terceiros ajudassem a mediar as discussões. O Catar desempenhou um papel significativo em facilitar as discussões entre os dois lados sobre a libertação dos detidos e sediar as negociações, disse uma fonte. Suíça, Omã, Emirados Árabes Unidos e Iraque também desempenharam um papel.
Em meio às negociações de libertação de prisioneiros, os EUA e o Irã também discutiram um possível acordo informal que buscaria impor algumas limitações à expansão do programa nuclear iraniano e evitar uma crise internacional.
O Departamento de Estado rejeitou relatos de que garantiu um acordo relacionado ao programa nuclear do Irã. “Rumores sobre um acordo nuclear, provisório ou não, são falsos e enganosos”, disse Miller a repórteres em junho. “Sempre acreditamos que a diplomacia é o melhor caminho a seguir.”
Autoridades dos EUA também insistiram que as negociações com prisioneiros não estão ligadas a discussões nucleares. Autoridades europeias, que apoiam um acordo entre os EUA e o Irã para restringir o programa nuclear de Teerã, esperam que o progresso sobre os detidos possa ajudar a abrir caminho para discussões mais produtivas.
O então presidente Donald Trump retirou os EUA do acordo nuclear de 2015 forjado durante o governo Obama, que impôs limitações estritas ao programa nuclear do Irã em troca do alívio das sanções. Biden prometeu voltar ao acordo, mas os dois lados não conseguiram superar níveis profundos de desconfiança.
Namazi foi condenado a 10 anos de prisão sob a acusação de “colaboração com um governo estrangeiro hostil”, uma alegação que as Nações Unidas, organizações de direitos humanos e os EUA consideram infundada. Ele foi preso em 2015 durante uma viagem de negócios ao Irã.
Os EUA disseram que, ao prender Namazi e outros cidadãos americanos, o Irã usou reféns para ganhar influência nas negociações internacionais.
A prisão de Evin, em Teerã, tem um longo histórico de abusos dos direitos humanos e é vista como a pedra angular do governo autoritário de Teerã.