O assassinato de Ismail Haniyeh, um dos líderes políticos mais importantes do Hamas, na capital do Irã, nesta quarta-feira, 31, ameaça aumentar as tensões no Oriente Médio e pode comprometer ainda mais qualquer perspectiva de avanço nas negociações, já paralisadas, para acabar com a guerra em Gaza.
Haniyeh foi morto quando estava em Teerã com outros membros importantes do chamado “eixo de resistência” do Irã - que inclui o Hamas em Gaza, o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iêmen - para participar da posse do recém-eleito presidente do Irã.
O Hamas e a mídia estatal iraniana culparam Israel pela morte de Haniyeh, o líder político do grupo terrorista, que era fundamental para suas negociações e diplomacia de alto risco. As Forças Armadas de Israel não comentaram o assassinato.
Aqui está um resumo do que se sabe até agora:
Haniyeh foi morto menos de um dia depois que Israel realizou um ataque contra um comandante do Hezbollah em um subúrbio de Beirute, em retaliação a um ataque do grupo radical islâmico no fim de semana em uma cidade controlada por Israel que matou 12 crianças e adolescentes.
O assassinato em Teerã faz com que Israel enfrente possíveis respostas tanto do Hamas quanto do Hezbollah pelos ataques a seus líderes e do Irã pelas mortes dentro de suas fronteiras.
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Antes dos ataques, havia expectativas de que Israel e o Hamas estivessem próximos de um cessar-fogo para interromper a guerra de quase 10 meses em Gaza, que deixou dezenas de milhares de mortos e provocou uma crise humanitária cada vez mais profunda no enclave.
Haniyeh estava entre os negociadores nas conversações em andamento entre Israel e o Hamas, mediadas pelo Egito, Qatar e Estados Unidos, para acabar com a guerra em Gaza em troca de reféns capturados no ataque liderado pelo Hamas contra Israel.
O local de sua morte, na capital do Irã, é significativo
Haniyeh liderava a facção política do grupo terrorista Hamas do exílio no Catar, onde está radicado desde 2017. Israel mantém laços informais com o Catar e não atacou os líderes do Hamas naquele país.
A incapacidade de proteger o líder de um aliado em sua capital é uma grave violação de segurança para o Irã. Haniyeh havia se reunido com o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, na terça-feira, 30, pouco antes de sua morte. Isso também levanta questões sobre a segurança dos principais líderes do Irã e a capacidade de Israel de atingi-los.
O Irã realizou uma reunião de emergência de seu Conselho Supremo de Segurança Nacional na residência do líder supremo. A televisão estatal iraniana, que reflete a opinião do líder supremo e do governo, disse na manhã de quarta-feira que o ataque levaria à retaliação de grupos militantes apoiados pelo Irã na região.
Israel realizou uma série de assassinatos de importantes figuras políticas no Irã nos últimos anos, o que gerou alarme na teocracia iraniana e levou a uma revisão dos protocolos de segurança.
Há anos, o Irã e Israel travam uma guerra secreta por meio de representantes e assassinatos direcionados. Em abril, o Irã lançou centenas de mísseis contra Israel após um ataque israelense contra comandantes iranianos na Síria.
O assassinato pode colocar em risco as negociações de cessar-fogo
Até o final da semana passada, as autoridades haviam dito que negociações para um cessar-fogo na guerra em Gaza “haviam feito progresso”, apesar das persistentes lacunas em várias questões críticas.
A morte de Haniyeh, uma figura-chave nas negociações, deixa a perspectiva de um acordo ainda mais incerta.
O Catar, que desempenhou um papel central na intermediação das conversações entre Israel e o Hamas, condenou o assassinato de Haniyeh, chamando-o de “um crime horrível e uma escalada perigosa”.
O Ministério das Relações Exteriores do Catar disse em um comunicado na quarta-feira que o assassinato e o “contínuo ataque a civis em Gaza” por parte de Israel estavam “levando a região ao caos”.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd J. Austin, disse nesta quarta-feira 31, que o governo americano, que também está mediando as negociações junto com o Catar e o Egito, “trabalhará arduamente para garantir que estamos fazendo coisas para ajudar a baixar a temperatura e abordar as questões por meios diplomáticos”./NYT