Israel é capaz de bombardear as instalações nucleares do Irã?


Por 22 anos, as forças israelenses fizeram planos para este momento, mas parece improvável que elas tenham sucesso sem a ajuda americana

Por David E. Sanger, Eric Schmitt e Ronen Bergman

Dois anos atrás, dezenas de caças israelenses sobrevoaram o Mar Mediterrâneo, simulando um ataque às instalações nucleares do Irã, um ensaio que as forças de defesa israelenses anunciaram abertamente como um exercício de “voo de longo alcance, reabastecimento aéreo e ataque a alvos distantes”.

O objetivo do exercício não era simplesmente intimidar os iranianos. Ele também foi projetado para enviar uma mensagem ao governo Biden: a força aérea israelense estava treinando para conduzir a operação sozinha, embora as chances de sucesso fossem muito maiores se os Estados Unidos — com seu arsenal de mísseis “bunker buster” de 13,5 toneladas — participassem do ataque.

Em entrevistas, antigos e atuais funcionários israelenses do alto escalão admitiram ter dúvidas quanto à capacidade do país para causar danos significativos às instalações nucleares do Irã. No entanto, nos dias mais recentes, autoridades do Pentágono têm se perguntado silenciosamente se os israelenses estão se preparando para agir sozinhos, após concluírem que talvez nunca mais tenham um momento como este.

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O presidente Biden os alertou contra ataques a instalações nucleares ou de energia, dizendo que qualquer resposta deve ser “proporcional” ao ataque iraniano a Israel na semana passada, essencialmente reconhecendo que algum tipo de contra-ataque seria apropriado. O secretário de Defesa, Lloyd Austin III, foi claro com seu colega israelense, Yoav Gallant, ao expor o desejo dos EUA de evitar que Israel optasse por medidas retaliatórias que resultariam em nova escalada por parte dos iranianos. Gallant deve se encontrar com Austin em Washington na quarta feira.

Judeus ultraortodoxos inspecionam os destroços do que se acredita ser um míssil iraniano interceptado perto da cidade de Arad, no sul de Israel, em abril. Foto: AP/ Ohad Zwigenberg, arquivo

É provável que a primeira retaliação de Israel contra o Irã pelos ataques de mísseis de terça-feira se concentre em bases militares e, quem sabe, em alguns locais de inteligência ou liderança, dizem as autoridades. Pelo menos inicialmente, parece improvável que Israel vá atrás das joias da coroa do programa nuclear do país. Após considerável debate, esses alvos parecem ter sido reservados para mais tarde, se os iranianos intensificarem seus próprios contra-ataques.

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No entanto, há um apelo crescente dentro de Israel, ecoado por alguns nos EUA, defendendo que se aproveite o momento para atrasar — em anos ou mais — uma capacidade iraniana que autoridades de inteligência americanas e especialistas externos dizem estar cada vez mais próxima do limiar de produção de uma bomba. Embora grande parte da discussão pública tenha se concentrado no fato de que o Irã poderia quase certamente aumentar o enriquecimento para produzir urânio da qualidade necessária para uma bomba em questão de semanas, o fato mais relevante é que os engenheiros iranianos levariam meses ou talvez mais de um ano para transformar esse combustível em uma arma acionável.

“Israel tem agora sua melhor oportunidade em 50 anos para mudar a face do Oriente Médio”, Naftali Bennett, um nacionalista linha-dura e ex-primeiro-ministro que certa vez se descreveu como à direita do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, escreveu recentemente nas redes sociais. “Devemos agir *agora* para destruir o programa nuclear do Irã e suas instalações centrais de energia, e paralisar fatalmente esse regime terrorista.”

Ele acrescentou: “Temos a justificativa. Temos as ferramentas. Agora que o Hezbollah e o Hamas estão paralisados, o Irã está exposto”.

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Autoridades americanas, começando com Biden, montaram uma campanha para excluir tais ataques das opções, dizendo que eles provavelmente seriam ineficazes e poderiam mergulhar a região em uma guerra em grande escala.

A questão de como atacar o Irã se tornou uma questão de campanha. O ex-presidente Donald Trump argumentou que Israel deveria “atacar primeiro o nuclear e se preocupar com o resto depois”. É uma abordagem que até ele evitou como presidente. No domingo, o deputado Michael Turner, presidente da Comissão de Inteligência da Câmara, criticou Biden no programa “Face the Nation”, da CBS, dizendo que “é completamente irresponsável o presidente dizer que esta solução não vale, quando ele disse anteriormente que valia”.

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O debate repentino a respeito de um ataque levantou novas questões. Se Israel atacasse, o quanto isso realmente poderia atrasar as capacidades nucleares do Irã? Ou o resultado seria simplesmente empurrar o programa nuclear do Irã para cada vez mais mais fundo no subsolo, levando o Irã a barrar os poucos inspetores nucleares que ainda têm acesso regular, embora limitado, às suas principais instalações? E se um ataque israelense levar os líderes do Irã a finalmente decidirem correr para obter uma bomba — a linha diante da qual os mulás e generais do Irã, por quase um quarto de século, se detiveram antes de cruzar?

Por 22 anos, o foco da atenção de Israel — e de Washington — no Irã tem sido a usina de enriquecimento nuclear de Natanz, enterrada no deserto a uma profundidade de cerca de três andares.

Israel desenvolveu planos para destruir ou paralisar o gigantesco salão de centrífugas, onde milhares de máquinas altas e prateadas giram em velocidades supersônicas até que o urânio se aproxime do material de qualidade para a fabricação de uma bomba. Enquanto Teerã nega oficialmente que esteja tentando desenvolver uma bomba, nos meses mais recentes algumas autoridades e comentaristas iranianos têm debatido intensamente se uma fatwa emitida em 2003 pelo aiatolá Ali Khamenei, proibindo a posse de armas nucleares, deveria ser revertida.

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Enquanto isso, o Irã aumentou a produção de urânio enriquecido para 60% de pureza, quase o grau usado em bombas. Agora, o país tem combustível suficiente para três ou quatro bombas, acreditam os especialistas, e levar esse combustível ao grau de enriquecimento usado em bombas, a 90%, seria questão de apenas alguns dias.

Foto de satélite do Planet Labs mostra a usina nuclear de Natanz, no Irã. A usina de enriquecimento nuclear de Natanz capturou a atenção de Israel por 22 anos. Foto: Planet Labs via The New York Times

Se Natanz seria um alvo bastante fácil, atingi-la seria um ato de guerra. Então, nos 15 anos mais recentes, os EUA têm usado diplomacia, sabotagem e sanções, não bombas, para atrapalhar o programa. E têm impedido ativamente Israel de obter as armas de que precisaria para destruir outra instalação de centrífugas, chamada Fordow, construída sob uma montanha.

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O presidente George W. Bush rejeitou as exigências de Israel para dar à sua força aérea as maiores bombas anti-bunker americanas e os bombardeiros B-2 necessários para lançá-las. Essas armas seriam essenciais para qualquer esforço para eliminar Fordow e outras instalações profundas e pesadamente reforçadas.

A decisão de Bush desencadeou uma discussão dentro da Casa Branca. O vice-presidente Dick Cheney abraçou a ideia de um ataque, mas Bush se manteve firme, argumentando que os EUA não poderiam arriscar outra guerra no Oriente Médio. Ehud Barak, que serviu como o oficial uniformizado de mais alta patente de Israel e também como primeiro-ministro, disse em uma entrevista ao Times em 2019 que o aviso de Bush “de fato não fez nenhuma diferença para nós”. No final de 2008, ele disse que Israel não tinha um plano viável para atacar o Irã.

Logo, vários planos foram desenvolvidos. A discussão a respeito dos penetradores de bunkers ajudou a dar origem a uma enorme operação secreta conhecida como “Jogos Olímpicos”, um programa israelense-americano altamente confidencial para destruir as centrífugas usando uma arma cibernética. Mais de 1.000 centrífugas foram destruídas pelo que ficou conhecido como vírus Stuxnet, atrasando o programa em um ano ou mais.

Mas os Jogos Olímpicos não foram uma bala de prata: os iranianos reconstruíram as instalações, adicionando milhares de centrífugas. Eles transferiram mais de seus esforços para o subsolo. E o fato de que o código de computador malicioso escapou da usina e foi revelado ao mundo levou outros países a se concentrarem no desenvolvimento de seus próprios ataques de infraestrutura, incluindo redes elétricas e sistemas de água.

Os israelenses também assassinaram cientistas e atacaram instalações de enriquecimento acima do solo, atacaram centros de fabricação de centrífugas com drones e investiram enormes recursos na preparação para um possível ataque às instalações.

Ex-premiê de Israel Naftali Bennett (esquerda) e o primeiro-ministro interino Yair Lapid. Bennett ficou chocado com a falta de preparo de Israel para atacar o programa iraniano em 2021. Foto: Gil Cohen-magen/AP

Os esforços israelenses fracassaram depois que o governo Obama chegou a um acordo nuclear com o Irã que levou o país a enviar grande parte de seu combustível nuclear para fora do país. E mais tarde, quando Trump saiu do acordo, ele e Netanyahu estavam convencidos de que os iranianos desistiriam de seus projetos em resposta às ameaças de Washington. As Forças de Defesa de Israel se concentraram no Hezbollah e nos túneis subterrâneos onde o grupo armazenava mísseis produzidos pelo Irã.

Quando Bennett se tornou primeiro-ministro em 2021, autoridades israelenses dizem que ele ficou chocado com a falta de preparo de Israel para atacar o programa iraniano, ordenando novos exercícios para simular voos de longas distâncias até o Irã e despejando novos recursos nos preparativos. Mesmo hoje, a capacidade de Israel é limitada. O país depende de uma frota envelhecida de aviões de reabastecimento aéreo Boeing 707, e levará anos até que modelos mais novos, capazes de transportar combustível para alcances muito maiores, sejam entregues pelos EUA.

Os próprios penetradores de abrigos de Israel têm sido eficazes contra os tipos de túneis onde o Hezbollah armazena mísseis e permitiram que as forças israelenses matassem Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah, no mês passado. Os israelenses acreditam que podem derrubar as defesas aéreas em torno de muitas das instalações nucleares; eles atingiram uma, para enviar uma mensagem, em uma troca de mísseis com o Irã em abril. Mas Israel simplesmente não pode entrar em instalações nucleares altamente reforçadas escavadas nas montanhas.

“O alvo nuclear é um alvo muito difícil”, disse o general Frank McKenzie, que estava encarregado dos planos de guerra contra o Irã quando chefiava o Comando Central dos Estados Unidos. “Há muitas outras alternativas para esse alvo”, disse ele, acrescentando que muitas delas — incluindo infraestrutura de energia — seriam mais fáceis de executar.

Quer Israel ataque as instalações nucleares do Irã ou não, há novos motivos para preocupação a respeito do futuro nuclear do Irã.

O primeiro é aquele que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, levantou repetidamente nas semanas mais recentes: ele afirmou, com base em informações a respeito das quais os EUA se recusam a falar, que a Rússia está compartilhando tecnologia com o Irã em questões nucleares. As autoridades descrevem a ajuda como “assistência técnica” e dizem que não há evidências de que os russos estejam fornecendo ao Irã o equipamento de que o país precisa para fazer uma ogiva.

Mas, até a guerra estourar na Ucrânia, a Rússia havia cooperado com os EUA e a Europa para restringir o programa nuclear iraniano, até mesmo se juntando às negociações de 2015 ao lado das nações ocidentais. Agora, se os relatórios americanos estiverem certos, a demanda da Rússia por drones iranianos e outras armas significa que ela poderia acelerar o progresso do Irã em direção à construção de um dispositivo nuclear.

A segunda preocupação é que os danos causados ao Hezbollah nas semanas mais recentes, incluindo a decapitação de sua liderança, podem fazer o Irã se sentir vulnerável. O país não pode mais contar com a capacidade do grupo terrorista de atacar Israel. Acelerar a obtenção de uma arma nuclear pode se tornar sua única maneira real de dissuadir Israel.

E a terceira preocupação é que o programa iraniano só ficará cada vez mais difícil de atingir. Vários anos atrás, sob os olhos atentos dos satélites americanos e israelenses, o Irã começou a cavar uma vasta rede de túneis ao sul de Natanz, para o que os EUA acreditam ser um novo centro de enriquecimento, o maior do Irã. Ele ainda não está instalado e funcionando. No passado — quando Israel destruiu reatores nucleares ainda não concluídos no Iraque em 1981 e na Síria em 2007 — esse foi exatamente o momento escolhido para realizar ataques preventivos./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Dois anos atrás, dezenas de caças israelenses sobrevoaram o Mar Mediterrâneo, simulando um ataque às instalações nucleares do Irã, um ensaio que as forças de defesa israelenses anunciaram abertamente como um exercício de “voo de longo alcance, reabastecimento aéreo e ataque a alvos distantes”.

O objetivo do exercício não era simplesmente intimidar os iranianos. Ele também foi projetado para enviar uma mensagem ao governo Biden: a força aérea israelense estava treinando para conduzir a operação sozinha, embora as chances de sucesso fossem muito maiores se os Estados Unidos — com seu arsenal de mísseis “bunker buster” de 13,5 toneladas — participassem do ataque.

Em entrevistas, antigos e atuais funcionários israelenses do alto escalão admitiram ter dúvidas quanto à capacidade do país para causar danos significativos às instalações nucleares do Irã. No entanto, nos dias mais recentes, autoridades do Pentágono têm se perguntado silenciosamente se os israelenses estão se preparando para agir sozinhos, após concluírem que talvez nunca mais tenham um momento como este.

O presidente Biden os alertou contra ataques a instalações nucleares ou de energia, dizendo que qualquer resposta deve ser “proporcional” ao ataque iraniano a Israel na semana passada, essencialmente reconhecendo que algum tipo de contra-ataque seria apropriado. O secretário de Defesa, Lloyd Austin III, foi claro com seu colega israelense, Yoav Gallant, ao expor o desejo dos EUA de evitar que Israel optasse por medidas retaliatórias que resultariam em nova escalada por parte dos iranianos. Gallant deve se encontrar com Austin em Washington na quarta feira.

Judeus ultraortodoxos inspecionam os destroços do que se acredita ser um míssil iraniano interceptado perto da cidade de Arad, no sul de Israel, em abril. Foto: AP/ Ohad Zwigenberg, arquivo

É provável que a primeira retaliação de Israel contra o Irã pelos ataques de mísseis de terça-feira se concentre em bases militares e, quem sabe, em alguns locais de inteligência ou liderança, dizem as autoridades. Pelo menos inicialmente, parece improvável que Israel vá atrás das joias da coroa do programa nuclear do país. Após considerável debate, esses alvos parecem ter sido reservados para mais tarde, se os iranianos intensificarem seus próprios contra-ataques.

No entanto, há um apelo crescente dentro de Israel, ecoado por alguns nos EUA, defendendo que se aproveite o momento para atrasar — em anos ou mais — uma capacidade iraniana que autoridades de inteligência americanas e especialistas externos dizem estar cada vez mais próxima do limiar de produção de uma bomba. Embora grande parte da discussão pública tenha se concentrado no fato de que o Irã poderia quase certamente aumentar o enriquecimento para produzir urânio da qualidade necessária para uma bomba em questão de semanas, o fato mais relevante é que os engenheiros iranianos levariam meses ou talvez mais de um ano para transformar esse combustível em uma arma acionável.

“Israel tem agora sua melhor oportunidade em 50 anos para mudar a face do Oriente Médio”, Naftali Bennett, um nacionalista linha-dura e ex-primeiro-ministro que certa vez se descreveu como à direita do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, escreveu recentemente nas redes sociais. “Devemos agir *agora* para destruir o programa nuclear do Irã e suas instalações centrais de energia, e paralisar fatalmente esse regime terrorista.”

Ele acrescentou: “Temos a justificativa. Temos as ferramentas. Agora que o Hezbollah e o Hamas estão paralisados, o Irã está exposto”.

Autoridades americanas, começando com Biden, montaram uma campanha para excluir tais ataques das opções, dizendo que eles provavelmente seriam ineficazes e poderiam mergulhar a região em uma guerra em grande escala.

A questão de como atacar o Irã se tornou uma questão de campanha. O ex-presidente Donald Trump argumentou que Israel deveria “atacar primeiro o nuclear e se preocupar com o resto depois”. É uma abordagem que até ele evitou como presidente. No domingo, o deputado Michael Turner, presidente da Comissão de Inteligência da Câmara, criticou Biden no programa “Face the Nation”, da CBS, dizendo que “é completamente irresponsável o presidente dizer que esta solução não vale, quando ele disse anteriormente que valia”.

O debate repentino a respeito de um ataque levantou novas questões. Se Israel atacasse, o quanto isso realmente poderia atrasar as capacidades nucleares do Irã? Ou o resultado seria simplesmente empurrar o programa nuclear do Irã para cada vez mais mais fundo no subsolo, levando o Irã a barrar os poucos inspetores nucleares que ainda têm acesso regular, embora limitado, às suas principais instalações? E se um ataque israelense levar os líderes do Irã a finalmente decidirem correr para obter uma bomba — a linha diante da qual os mulás e generais do Irã, por quase um quarto de século, se detiveram antes de cruzar?

Por 22 anos, o foco da atenção de Israel — e de Washington — no Irã tem sido a usina de enriquecimento nuclear de Natanz, enterrada no deserto a uma profundidade de cerca de três andares.

Israel desenvolveu planos para destruir ou paralisar o gigantesco salão de centrífugas, onde milhares de máquinas altas e prateadas giram em velocidades supersônicas até que o urânio se aproxime do material de qualidade para a fabricação de uma bomba. Enquanto Teerã nega oficialmente que esteja tentando desenvolver uma bomba, nos meses mais recentes algumas autoridades e comentaristas iranianos têm debatido intensamente se uma fatwa emitida em 2003 pelo aiatolá Ali Khamenei, proibindo a posse de armas nucleares, deveria ser revertida.

Enquanto isso, o Irã aumentou a produção de urânio enriquecido para 60% de pureza, quase o grau usado em bombas. Agora, o país tem combustível suficiente para três ou quatro bombas, acreditam os especialistas, e levar esse combustível ao grau de enriquecimento usado em bombas, a 90%, seria questão de apenas alguns dias.

Foto de satélite do Planet Labs mostra a usina nuclear de Natanz, no Irã. A usina de enriquecimento nuclear de Natanz capturou a atenção de Israel por 22 anos. Foto: Planet Labs via The New York Times

Se Natanz seria um alvo bastante fácil, atingi-la seria um ato de guerra. Então, nos 15 anos mais recentes, os EUA têm usado diplomacia, sabotagem e sanções, não bombas, para atrapalhar o programa. E têm impedido ativamente Israel de obter as armas de que precisaria para destruir outra instalação de centrífugas, chamada Fordow, construída sob uma montanha.

O presidente George W. Bush rejeitou as exigências de Israel para dar à sua força aérea as maiores bombas anti-bunker americanas e os bombardeiros B-2 necessários para lançá-las. Essas armas seriam essenciais para qualquer esforço para eliminar Fordow e outras instalações profundas e pesadamente reforçadas.

A decisão de Bush desencadeou uma discussão dentro da Casa Branca. O vice-presidente Dick Cheney abraçou a ideia de um ataque, mas Bush se manteve firme, argumentando que os EUA não poderiam arriscar outra guerra no Oriente Médio. Ehud Barak, que serviu como o oficial uniformizado de mais alta patente de Israel e também como primeiro-ministro, disse em uma entrevista ao Times em 2019 que o aviso de Bush “de fato não fez nenhuma diferença para nós”. No final de 2008, ele disse que Israel não tinha um plano viável para atacar o Irã.

Logo, vários planos foram desenvolvidos. A discussão a respeito dos penetradores de bunkers ajudou a dar origem a uma enorme operação secreta conhecida como “Jogos Olímpicos”, um programa israelense-americano altamente confidencial para destruir as centrífugas usando uma arma cibernética. Mais de 1.000 centrífugas foram destruídas pelo que ficou conhecido como vírus Stuxnet, atrasando o programa em um ano ou mais.

Mas os Jogos Olímpicos não foram uma bala de prata: os iranianos reconstruíram as instalações, adicionando milhares de centrífugas. Eles transferiram mais de seus esforços para o subsolo. E o fato de que o código de computador malicioso escapou da usina e foi revelado ao mundo levou outros países a se concentrarem no desenvolvimento de seus próprios ataques de infraestrutura, incluindo redes elétricas e sistemas de água.

Os israelenses também assassinaram cientistas e atacaram instalações de enriquecimento acima do solo, atacaram centros de fabricação de centrífugas com drones e investiram enormes recursos na preparação para um possível ataque às instalações.

Ex-premiê de Israel Naftali Bennett (esquerda) e o primeiro-ministro interino Yair Lapid. Bennett ficou chocado com a falta de preparo de Israel para atacar o programa iraniano em 2021. Foto: Gil Cohen-magen/AP

Os esforços israelenses fracassaram depois que o governo Obama chegou a um acordo nuclear com o Irã que levou o país a enviar grande parte de seu combustível nuclear para fora do país. E mais tarde, quando Trump saiu do acordo, ele e Netanyahu estavam convencidos de que os iranianos desistiriam de seus projetos em resposta às ameaças de Washington. As Forças de Defesa de Israel se concentraram no Hezbollah e nos túneis subterrâneos onde o grupo armazenava mísseis produzidos pelo Irã.

Quando Bennett se tornou primeiro-ministro em 2021, autoridades israelenses dizem que ele ficou chocado com a falta de preparo de Israel para atacar o programa iraniano, ordenando novos exercícios para simular voos de longas distâncias até o Irã e despejando novos recursos nos preparativos. Mesmo hoje, a capacidade de Israel é limitada. O país depende de uma frota envelhecida de aviões de reabastecimento aéreo Boeing 707, e levará anos até que modelos mais novos, capazes de transportar combustível para alcances muito maiores, sejam entregues pelos EUA.

Os próprios penetradores de abrigos de Israel têm sido eficazes contra os tipos de túneis onde o Hezbollah armazena mísseis e permitiram que as forças israelenses matassem Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah, no mês passado. Os israelenses acreditam que podem derrubar as defesas aéreas em torno de muitas das instalações nucleares; eles atingiram uma, para enviar uma mensagem, em uma troca de mísseis com o Irã em abril. Mas Israel simplesmente não pode entrar em instalações nucleares altamente reforçadas escavadas nas montanhas.

“O alvo nuclear é um alvo muito difícil”, disse o general Frank McKenzie, que estava encarregado dos planos de guerra contra o Irã quando chefiava o Comando Central dos Estados Unidos. “Há muitas outras alternativas para esse alvo”, disse ele, acrescentando que muitas delas — incluindo infraestrutura de energia — seriam mais fáceis de executar.

Quer Israel ataque as instalações nucleares do Irã ou não, há novos motivos para preocupação a respeito do futuro nuclear do Irã.

O primeiro é aquele que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, levantou repetidamente nas semanas mais recentes: ele afirmou, com base em informações a respeito das quais os EUA se recusam a falar, que a Rússia está compartilhando tecnologia com o Irã em questões nucleares. As autoridades descrevem a ajuda como “assistência técnica” e dizem que não há evidências de que os russos estejam fornecendo ao Irã o equipamento de que o país precisa para fazer uma ogiva.

Mas, até a guerra estourar na Ucrânia, a Rússia havia cooperado com os EUA e a Europa para restringir o programa nuclear iraniano, até mesmo se juntando às negociações de 2015 ao lado das nações ocidentais. Agora, se os relatórios americanos estiverem certos, a demanda da Rússia por drones iranianos e outras armas significa que ela poderia acelerar o progresso do Irã em direção à construção de um dispositivo nuclear.

A segunda preocupação é que os danos causados ao Hezbollah nas semanas mais recentes, incluindo a decapitação de sua liderança, podem fazer o Irã se sentir vulnerável. O país não pode mais contar com a capacidade do grupo terrorista de atacar Israel. Acelerar a obtenção de uma arma nuclear pode se tornar sua única maneira real de dissuadir Israel.

E a terceira preocupação é que o programa iraniano só ficará cada vez mais difícil de atingir. Vários anos atrás, sob os olhos atentos dos satélites americanos e israelenses, o Irã começou a cavar uma vasta rede de túneis ao sul de Natanz, para o que os EUA acreditam ser um novo centro de enriquecimento, o maior do Irã. Ele ainda não está instalado e funcionando. No passado — quando Israel destruiu reatores nucleares ainda não concluídos no Iraque em 1981 e na Síria em 2007 — esse foi exatamente o momento escolhido para realizar ataques preventivos./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Dois anos atrás, dezenas de caças israelenses sobrevoaram o Mar Mediterrâneo, simulando um ataque às instalações nucleares do Irã, um ensaio que as forças de defesa israelenses anunciaram abertamente como um exercício de “voo de longo alcance, reabastecimento aéreo e ataque a alvos distantes”.

O objetivo do exercício não era simplesmente intimidar os iranianos. Ele também foi projetado para enviar uma mensagem ao governo Biden: a força aérea israelense estava treinando para conduzir a operação sozinha, embora as chances de sucesso fossem muito maiores se os Estados Unidos — com seu arsenal de mísseis “bunker buster” de 13,5 toneladas — participassem do ataque.

Em entrevistas, antigos e atuais funcionários israelenses do alto escalão admitiram ter dúvidas quanto à capacidade do país para causar danos significativos às instalações nucleares do Irã. No entanto, nos dias mais recentes, autoridades do Pentágono têm se perguntado silenciosamente se os israelenses estão se preparando para agir sozinhos, após concluírem que talvez nunca mais tenham um momento como este.

O presidente Biden os alertou contra ataques a instalações nucleares ou de energia, dizendo que qualquer resposta deve ser “proporcional” ao ataque iraniano a Israel na semana passada, essencialmente reconhecendo que algum tipo de contra-ataque seria apropriado. O secretário de Defesa, Lloyd Austin III, foi claro com seu colega israelense, Yoav Gallant, ao expor o desejo dos EUA de evitar que Israel optasse por medidas retaliatórias que resultariam em nova escalada por parte dos iranianos. Gallant deve se encontrar com Austin em Washington na quarta feira.

Judeus ultraortodoxos inspecionam os destroços do que se acredita ser um míssil iraniano interceptado perto da cidade de Arad, no sul de Israel, em abril. Foto: AP/ Ohad Zwigenberg, arquivo

É provável que a primeira retaliação de Israel contra o Irã pelos ataques de mísseis de terça-feira se concentre em bases militares e, quem sabe, em alguns locais de inteligência ou liderança, dizem as autoridades. Pelo menos inicialmente, parece improvável que Israel vá atrás das joias da coroa do programa nuclear do país. Após considerável debate, esses alvos parecem ter sido reservados para mais tarde, se os iranianos intensificarem seus próprios contra-ataques.

No entanto, há um apelo crescente dentro de Israel, ecoado por alguns nos EUA, defendendo que se aproveite o momento para atrasar — em anos ou mais — uma capacidade iraniana que autoridades de inteligência americanas e especialistas externos dizem estar cada vez mais próxima do limiar de produção de uma bomba. Embora grande parte da discussão pública tenha se concentrado no fato de que o Irã poderia quase certamente aumentar o enriquecimento para produzir urânio da qualidade necessária para uma bomba em questão de semanas, o fato mais relevante é que os engenheiros iranianos levariam meses ou talvez mais de um ano para transformar esse combustível em uma arma acionável.

“Israel tem agora sua melhor oportunidade em 50 anos para mudar a face do Oriente Médio”, Naftali Bennett, um nacionalista linha-dura e ex-primeiro-ministro que certa vez se descreveu como à direita do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, escreveu recentemente nas redes sociais. “Devemos agir *agora* para destruir o programa nuclear do Irã e suas instalações centrais de energia, e paralisar fatalmente esse regime terrorista.”

Ele acrescentou: “Temos a justificativa. Temos as ferramentas. Agora que o Hezbollah e o Hamas estão paralisados, o Irã está exposto”.

Autoridades americanas, começando com Biden, montaram uma campanha para excluir tais ataques das opções, dizendo que eles provavelmente seriam ineficazes e poderiam mergulhar a região em uma guerra em grande escala.

A questão de como atacar o Irã se tornou uma questão de campanha. O ex-presidente Donald Trump argumentou que Israel deveria “atacar primeiro o nuclear e se preocupar com o resto depois”. É uma abordagem que até ele evitou como presidente. No domingo, o deputado Michael Turner, presidente da Comissão de Inteligência da Câmara, criticou Biden no programa “Face the Nation”, da CBS, dizendo que “é completamente irresponsável o presidente dizer que esta solução não vale, quando ele disse anteriormente que valia”.

O debate repentino a respeito de um ataque levantou novas questões. Se Israel atacasse, o quanto isso realmente poderia atrasar as capacidades nucleares do Irã? Ou o resultado seria simplesmente empurrar o programa nuclear do Irã para cada vez mais mais fundo no subsolo, levando o Irã a barrar os poucos inspetores nucleares que ainda têm acesso regular, embora limitado, às suas principais instalações? E se um ataque israelense levar os líderes do Irã a finalmente decidirem correr para obter uma bomba — a linha diante da qual os mulás e generais do Irã, por quase um quarto de século, se detiveram antes de cruzar?

Por 22 anos, o foco da atenção de Israel — e de Washington — no Irã tem sido a usina de enriquecimento nuclear de Natanz, enterrada no deserto a uma profundidade de cerca de três andares.

Israel desenvolveu planos para destruir ou paralisar o gigantesco salão de centrífugas, onde milhares de máquinas altas e prateadas giram em velocidades supersônicas até que o urânio se aproxime do material de qualidade para a fabricação de uma bomba. Enquanto Teerã nega oficialmente que esteja tentando desenvolver uma bomba, nos meses mais recentes algumas autoridades e comentaristas iranianos têm debatido intensamente se uma fatwa emitida em 2003 pelo aiatolá Ali Khamenei, proibindo a posse de armas nucleares, deveria ser revertida.

Enquanto isso, o Irã aumentou a produção de urânio enriquecido para 60% de pureza, quase o grau usado em bombas. Agora, o país tem combustível suficiente para três ou quatro bombas, acreditam os especialistas, e levar esse combustível ao grau de enriquecimento usado em bombas, a 90%, seria questão de apenas alguns dias.

Foto de satélite do Planet Labs mostra a usina nuclear de Natanz, no Irã. A usina de enriquecimento nuclear de Natanz capturou a atenção de Israel por 22 anos. Foto: Planet Labs via The New York Times

Se Natanz seria um alvo bastante fácil, atingi-la seria um ato de guerra. Então, nos 15 anos mais recentes, os EUA têm usado diplomacia, sabotagem e sanções, não bombas, para atrapalhar o programa. E têm impedido ativamente Israel de obter as armas de que precisaria para destruir outra instalação de centrífugas, chamada Fordow, construída sob uma montanha.

O presidente George W. Bush rejeitou as exigências de Israel para dar à sua força aérea as maiores bombas anti-bunker americanas e os bombardeiros B-2 necessários para lançá-las. Essas armas seriam essenciais para qualquer esforço para eliminar Fordow e outras instalações profundas e pesadamente reforçadas.

A decisão de Bush desencadeou uma discussão dentro da Casa Branca. O vice-presidente Dick Cheney abraçou a ideia de um ataque, mas Bush se manteve firme, argumentando que os EUA não poderiam arriscar outra guerra no Oriente Médio. Ehud Barak, que serviu como o oficial uniformizado de mais alta patente de Israel e também como primeiro-ministro, disse em uma entrevista ao Times em 2019 que o aviso de Bush “de fato não fez nenhuma diferença para nós”. No final de 2008, ele disse que Israel não tinha um plano viável para atacar o Irã.

Logo, vários planos foram desenvolvidos. A discussão a respeito dos penetradores de bunkers ajudou a dar origem a uma enorme operação secreta conhecida como “Jogos Olímpicos”, um programa israelense-americano altamente confidencial para destruir as centrífugas usando uma arma cibernética. Mais de 1.000 centrífugas foram destruídas pelo que ficou conhecido como vírus Stuxnet, atrasando o programa em um ano ou mais.

Mas os Jogos Olímpicos não foram uma bala de prata: os iranianos reconstruíram as instalações, adicionando milhares de centrífugas. Eles transferiram mais de seus esforços para o subsolo. E o fato de que o código de computador malicioso escapou da usina e foi revelado ao mundo levou outros países a se concentrarem no desenvolvimento de seus próprios ataques de infraestrutura, incluindo redes elétricas e sistemas de água.

Os israelenses também assassinaram cientistas e atacaram instalações de enriquecimento acima do solo, atacaram centros de fabricação de centrífugas com drones e investiram enormes recursos na preparação para um possível ataque às instalações.

Ex-premiê de Israel Naftali Bennett (esquerda) e o primeiro-ministro interino Yair Lapid. Bennett ficou chocado com a falta de preparo de Israel para atacar o programa iraniano em 2021. Foto: Gil Cohen-magen/AP

Os esforços israelenses fracassaram depois que o governo Obama chegou a um acordo nuclear com o Irã que levou o país a enviar grande parte de seu combustível nuclear para fora do país. E mais tarde, quando Trump saiu do acordo, ele e Netanyahu estavam convencidos de que os iranianos desistiriam de seus projetos em resposta às ameaças de Washington. As Forças de Defesa de Israel se concentraram no Hezbollah e nos túneis subterrâneos onde o grupo armazenava mísseis produzidos pelo Irã.

Quando Bennett se tornou primeiro-ministro em 2021, autoridades israelenses dizem que ele ficou chocado com a falta de preparo de Israel para atacar o programa iraniano, ordenando novos exercícios para simular voos de longas distâncias até o Irã e despejando novos recursos nos preparativos. Mesmo hoje, a capacidade de Israel é limitada. O país depende de uma frota envelhecida de aviões de reabastecimento aéreo Boeing 707, e levará anos até que modelos mais novos, capazes de transportar combustível para alcances muito maiores, sejam entregues pelos EUA.

Os próprios penetradores de abrigos de Israel têm sido eficazes contra os tipos de túneis onde o Hezbollah armazena mísseis e permitiram que as forças israelenses matassem Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah, no mês passado. Os israelenses acreditam que podem derrubar as defesas aéreas em torno de muitas das instalações nucleares; eles atingiram uma, para enviar uma mensagem, em uma troca de mísseis com o Irã em abril. Mas Israel simplesmente não pode entrar em instalações nucleares altamente reforçadas escavadas nas montanhas.

“O alvo nuclear é um alvo muito difícil”, disse o general Frank McKenzie, que estava encarregado dos planos de guerra contra o Irã quando chefiava o Comando Central dos Estados Unidos. “Há muitas outras alternativas para esse alvo”, disse ele, acrescentando que muitas delas — incluindo infraestrutura de energia — seriam mais fáceis de executar.

Quer Israel ataque as instalações nucleares do Irã ou não, há novos motivos para preocupação a respeito do futuro nuclear do Irã.

O primeiro é aquele que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, levantou repetidamente nas semanas mais recentes: ele afirmou, com base em informações a respeito das quais os EUA se recusam a falar, que a Rússia está compartilhando tecnologia com o Irã em questões nucleares. As autoridades descrevem a ajuda como “assistência técnica” e dizem que não há evidências de que os russos estejam fornecendo ao Irã o equipamento de que o país precisa para fazer uma ogiva.

Mas, até a guerra estourar na Ucrânia, a Rússia havia cooperado com os EUA e a Europa para restringir o programa nuclear iraniano, até mesmo se juntando às negociações de 2015 ao lado das nações ocidentais. Agora, se os relatórios americanos estiverem certos, a demanda da Rússia por drones iranianos e outras armas significa que ela poderia acelerar o progresso do Irã em direção à construção de um dispositivo nuclear.

A segunda preocupação é que os danos causados ao Hezbollah nas semanas mais recentes, incluindo a decapitação de sua liderança, podem fazer o Irã se sentir vulnerável. O país não pode mais contar com a capacidade do grupo terrorista de atacar Israel. Acelerar a obtenção de uma arma nuclear pode se tornar sua única maneira real de dissuadir Israel.

E a terceira preocupação é que o programa iraniano só ficará cada vez mais difícil de atingir. Vários anos atrás, sob os olhos atentos dos satélites americanos e israelenses, o Irã começou a cavar uma vasta rede de túneis ao sul de Natanz, para o que os EUA acreditam ser um novo centro de enriquecimento, o maior do Irã. Ele ainda não está instalado e funcionando. No passado — quando Israel destruiu reatores nucleares ainda não concluídos no Iraque em 1981 e na Síria em 2007 — esse foi exatamente o momento escolhido para realizar ataques preventivos./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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