Um cessar-fogo de quatro dias na guerra entre Israel e Hamas começou na madrugada desta sexta-feira, 24, em Gaza, como parte de um acordo que o Catar ajudou a intermediar. O acordo também inclui a libertação de dezenas de reféns mantidos por terroristas do Hamas e palestinos presos por Israel, o que deve ocorrer ainda nesta sexta-feira.
A interrupção dos combates promete um certo alívio para os 2,3 milhões de habitantes de Gaza, que enfrentaram semanas de bombardeios israelenses, bem como para as famílias em Israel, que temem pelo destino de seus entes levados em cativeiro durante o ataque do Hamas em 7 de outubro, que desencadeou a guerra.
O cessar-fogo iniciou às 7h da manhã, horário local, e deve durar pelo menos quatro dias. Durante esse período, o grupo terrorista Hamas, que governa Gaza, prometeu libertar pelo menos 50 dos cerca de 240 reféns que ele e outros militantes fizeram em 7 de outubro. O Hamas disse que Israel libertaria 150 prisioneiros palestinos.
Ambos os lados libertarão mulheres e crianças primeiro. Israel disse que a trégua seria estendida por mais um dia para cada 10 reféns adicionais libertados.
A trégua em troca de reféns foi alcançada em semanas de intensas negociações indiretas, com o Catar, os Estados Unidos e o Egito atuando como mediadores. Se for mantido, marcará a primeira pausa significativa nos combates desde que Israel declarou guerra ao Hamas, há sete semanas.
O acordo aumentou as esperanças de que a guerra, que arrasou vastas áreas de Gaza, alimentou uma onda de violência na Cisjordânia ocupada e despertou o temor de uma conflagração mais ampla no Oriente Médio, acabe.
Israel se opôs a essas especulações, dizendo que estava determinado a retomar sua ofensiva maciça assim que a trégua terminasse. O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse aos soldados na quinta-feira que o descanso seria curto e a guerra seria retomada com intensidade por pelo menos mais dois meses.
Um primeiro grupo de 13 mulheres e crianças detidas pelo Hamas será libertado na tarde de sexta-feira (11h da manhã em Brasília), de acordo com Majed al-Ansari, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar. Três prisioneiros palestinos, também mulheres e menores de idade, serão libertos para cada refém libertado.
O Ministério da Justiça de Israel publicou uma lista de 300 prisioneiros que podem ser libertados, principalmente adolescentes detidos no ano passado por atirar pedras e outros delitos menores.
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O retorno dos reféns pode aliviar a crise em Israel, onde a situação dos cativos tem dominado o debate público sobre o conflito no país. As famílias dos reféns realizaram manifestações em massa para pressionar o governo a trazê-los de volta. O gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse que notificou as famílias dos reféns listados para libertação na sexta-feira.
Ajuda humanitária
A ajuda humanitária aos palestinos começará a entrar em Gaza “o mais rápido possível”, disse al-Ansari na quinta-feira. A esperança é que o “impulso” desse acordo leve ao “fim da violência”, disse ele aos repórteres.
O Hamas disse que 200 caminhões por dia entrarão em Gaza levando ajuda. O Catar disse que a ajuda incluirá combustível, mas não deu detalhes sobre as quantidades.
Israel cortou todas as importações para Gaza no início da guerra, com exceção de uma pequena quantidade de alimentos, água e suprimentos médicos permitidos pelo Egito. A falta de combustível causou um apagão em todo o território, deixando as casas e os hospitais dependentes de geradores que estão falhando.
A guerra eclodiu quando terroristas do Hamas invadiram o sul de Israel, matando pelo menos 1.200 pessoas, a maioria civis, e fazendo dezenas de reféns, incluindo bebês, mulheres e idosos, além de soldados. Espera-se que o Hamas exija um grande número de prisioneiros de alto escalão em troca dos soldados.
Os bombardeios israelenses, que entraram na sétima semana, mataram mais de 13.300 palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, que retomou a contagem detalhada de vítimas da guerra em Gaza. O ministério havia parado de publicar a contagem de vítimas desde 11 de novembro, dizendo que havia perdido a capacidade de fazê-lo devido ao colapso do sistema de saúde no norte do país.
Os novos números não foram detalhados, mas as mulheres e os menores de idade sempre representaram cerca de dois terços dos mortos, porque são maioria na região. Os números não incluem os dados atualizados dos hospitais do norte. O ministério diz que cerca de 6 mil pessoas foram dadas como desaparecidas, temendo-se que estejam sob os escombros.
O ministério não faz distinção entre civis e militantes em seu número de mortos. Israel afirma ter matado milhares de combatentes do Hamas.
Ataques israelenses continuaram nas últimas horas antes da trégua
Na tarde de quinta-feira, um ataque destruiu um prédio residencial no campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza. Pelo menos 12 pessoas foram mortas, de acordo com funcionários do Hospital Al-Aqsa, localizado nas proximidades.
Um morador, Hosni Moharib, disse que sua esposa e vários filhos foram mortos e que outros parentes ficaram sob os escombros.“A bomba explodiu na casa, atingindo os bebês e as crianças pequenas. Todos os que estavam na casa morreram”, disse ele, chorando.
Netanyahu prometeu continuar a guerra após o término da trégua para destruir a capacidade militar do Hamas, acabar com seu domínio de 16 anos em Gaza e devolver todos os cerca de 240 prisioneiros mantidos em Gaza pelo Hamas e outros grupos.
“Continuaremos até atingirmos todos os nossos objetivos”, disse Netanyahu, acrescentando que havia transmitido a mesma mensagem em uma ligação telefônica para o presidente dos EUA, Joe Biden. Washington tem fornecido amplo apoio militar e diplomático a Israel desde o início da guerra.
Na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza, os palestinos saudaram a trégua do cessar-fogo que se aproxima, mas disseram que quatro dias pouco contribuiriam para aliviar o desastre humanitário causado pela guerra.
“Se Deus quiser, será um cessar-fogo total”, disse Jihan Qanan. “As pessoas tiveram suas casas derrubadas sobre suas cabeças, foram expulsas... Não há casas, nem dinheiro, nem bens. O mundo inteiro está destruído”.
Em Khan Younis, Israel lançou folhetos sobre a cidade, uma hora antes da trégua com um aviso: “A ameaça ainda não acabou”. Os folhetos, escritos em árabe, diziam que era “proibido” se deslocar para o norte da Faixa, de onde centenas de milhares de pessoas fugiram dos combates mais intensos das últimas semanas.
Enquanto os palestinos da parte sul de Gaza se sentiam mais confortáveis para se movimentar na manhã de sexta-feira, os do norte ainda enfrentavam riscos com as forças israelenses espalhadas pela área.
Em uma mensagem de voz enviada ao The Washington Post, Mahmoud, 36 anos, descreveu os tanques israelenses posicionados ao longo da Nader Street, no norte da Cidade de Gaza, um aviso claro para que os civis não entrem em grandes seções da cidade. Mahmoud, que pediu para não usar seu sobrenome para proteger sua segurança, disse que ouviu disparos de armas de grosso calibre nas proximidades. “A situação é muito perigosa”, disse ele. “Não é fácil.”
As Forças de Defesa de Israel enviaram um vídeo para o X, antigo Twitter, intitulado “Para os civis de Gaza” pouco antes do início da pausa, às 7h da manhã, horário local, na sexta-feira. “A guerra ainda não acabou”, disse Avichay Adraee, porta-voz da IDF para a mídia árabe. “A pausa humanitária é temporária”./AP e W.POST