RAFAH, Faixa de Gaza (AP) - Israel ordenou novas saídas de moradores da cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, neste sábado, 11, forçando dezenas de milhares de pessoas a se deslocarem, à medida que o país se prepara para expandir a sua operação militar e acrescenta que está também se deslocando para uma área no norte da Faixa de Gaza, onde o Hamas se reagrupou.
Israel já evacuou o terço leste de Rafah, empurrando a operação para as bordas da área central densamente povoada, embora o movimento de Israel para a cidade tenha sido, até o momento, inferior à invasão em grande escala que planejava.
A ordem vem em face da forte oposição e crítica internacional. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já disse que não fornecerá armas ofensivas a Israel para Rafah e, na sexta-feira 10, os EUA disseram que havia evidências “razoáveis” de que Israel havia violado a lei internacional que protege os civis na forma como conduziu sua guerra contra o Hamas - a declaração mais forte que o governo Biden já fez sobre o assunto.
As Nações Unidas e outras agências têm alertado há semanas que um ataque israelense a Rafah, que faz fronteira com o Egito perto dos principais pontos de entrada de ajuda, prejudicaria as operações humanitárias e causaria um aumento desastroso de vítimas civis.
Mais de 1,4 milhão de palestinos, metade da população de Gaza, estão abrigados em Rafah, a maioria depois de fugir das ofensivas de Israel em outros lugares. Considerado o último refúgio na faixa, as evacuações estão forçando as pessoas a voltarem para o norte, onde as áreas estão devastadas por ataques israelenses anteriores. As agências de ajuda estimam que 110 mil pessoas já haviam feito isso antes da ordem de sábado, que acrescentou mais 40 mil a esse número.
As pessoas foram deslocadas várias vezes e restam poucos lugares para onde se mudar na faixa em conflito. Aqueles que fugiram dos combates no início desta semana ergueram novos acampamentos na cidade de Khan Younis - que foi parcialmente destruída em uma ofensiva israelense anterior - e na cidade de Deir al-Balah, sobrecarregando a infraestrutura.
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Georgios Petropoulos, funcionário do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU em Rafah, disse que os trabalhadores humanitários não tinham suprimentos para ajudá-los a se instalar em novos locais. “Simplesmente não temos barracas, nem cobertores, nem roupas de cama, nenhum dos itens que se espera que uma população em movimento consiga obter do sistema humanitário”, disse ele.
As tropas israelenses capturaram o lado de Gaza da passagem de Rafah para o Egito, forçando-a a fechar. Rafah era o principal ponto de entrada de combustível.
O Programa Mundial de Alimentos alertou que ficará sem alimentos para distribuição no sul de Gaza até sábado, disse Petropoulos. Grupos de ajuda humanitária disseram que o combustível também se esgotará em breve, forçando os hospitais a encerrarem operações críticas e paralisando os caminhões que entregam ajuda no sul e no centro de Gaza.
Também estão ocorrendo combates pesados no norte de Gaza, onde o Hamas parece ter se reagrupado mais uma vez em uma área onde Israel já lançou ataques punitivos. O porta-voz do Exército israelense, Avichay Adraee, disse aos palestinos das cidades de Jabaliya e Beit Lahiya e das áreas vizinhas que deixassem suas casas e se dirigissem a abrigos no oeste da Cidade de Gaza, alertando que as pessoas estavam em “uma perigosa zona de combate” e que Israel atacaria com “grande força”.
As batalhas eclodiram esta semana na área de Zeitoun, nos arredores da Cidade de Gaza. O norte de Gaza foi o primeiro alvo da ofensiva terrestre. Israel disse no final do ano passado que havia desmantelado o Hamas na área em sua maior parte.
A agência das Nações Unidas de apoio às pessoas em Gaza, conhecida como UNRWA na sigla em inglês, disse que cerca de 300 mil pessoas foram afetadas pelas ordens de evacuação em Rafah e Jabaliya, mas os números provavelmente podem ser maiores, já que essas são áreas muito urbanizadas.
“Estamos extremamente preocupados com o fato de essas ordens de evacuação terem vindo tanto para o centro de Rafah quanto para Jabaliya”, disse Louise Wateridge, porta-voz da UNRWA em Rafah, à The Associated Press.
Enquanto isso, os ataques continuam em Gaza.
Pelo menos 19 pessoas, incluindo oito mulheres e oito crianças, foram mortas durante a noite no centro de Gaza em ataques que atingiram as áreas de Zawaida, Maghazi e Deir al Balah, de acordo com o Al Aqsa Martyrs Hospital em Deir al Balah e um jornalista da Associated Press que contou os corpos.
O bombardeio e as ofensivas terrestres de Israel em Gaza mataram mais de 34,8 mil palestinos, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que não faz distinção entre civis e combatentes em seus números. / ASSOCIATED PRESS