JERUSALÉM - Terroristas palestinos na Faixa de Gaza realizaram um ataque sem precedentes no sul de Israel no sábado, dia 7, e dispararam milhares de projéteis contra o território israelense, enquanto o grupo Hamas, que governa o enclave, anunciava o início de uma nova operação. Em resposta, Israel atacou alvos em Gaza, em um conflito que caminha para ser um dos mais pesados entre os dois lados, que vêm se enfrentando há anos.
De acordo com números atualizados pelo serviço de emergência de Israel, subiu para 300 o número de mortos nos confrontos com milicianos palestinos. Mais de 1400 pessoas foram hospitalizadas, números que tendem a aumentar.
O Ministério da Saúde palestino em Gaza, por sua vez, afirma que pelo menos 256 pessoas foram mortas e mais de 1,8 mil ficaram feridas no território, por conta dos contra-ataques de Israel.
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Além disso, os militares israelenses afirmam que os militantes do Hamas em Gaza estão mantendo civis e soldados de Israel como reféns em cativeiros no enclave palestino, marcando uma grande escalada nos combates.
Os militares confirmaram as alegações do Hamas de que seus combatentes haviam sequestrado vários israelenses depois de se infiltrarem na cerca de separação altamente fortificada de Israel e invadirem comunidades israelenses no sul do país.
O exército não forneceu mais detalhes, recusando-se a comentar quantos israelenses haviam sido sequestrados.
‘Estamos em guerra’
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que o país está “em guerra” com a “milícia radical”. Ele ordenou a convocação de reservistas e prometeu que o Hamas “pagará um preço que nunca conheceu antes”.
“Estamos em guerra”, disse Netanyahu. “Não em uma ‘operação’, não em um ‘ataque’, mas em guerra”. Ele também ordenou que o exército limpasse as cidades infiltradas de militantes do Hamas que ainda estavam envolvidos em tiroteios com soldados.
A grave invasão coincide com o Simchat Torah, um dia normalmente festivo, em que os judeus completam o ciclo anual de leitura de seu livro sagrado, a Torah, e reaviva a dolorosa memória da Guerra do Yom Kippur, de 1973. Naquela ocasião, os inimigos de Israel lançaram um ataque surpresa no dia mais sagrado do calendário judaico.
As comparações com um dos momentos mais traumáticos da história israelense aguçaram as críticas a Netanyahu e seus aliados de extrema direita, que defenderam medidas mais agressivas contra as ameaças de Gaza. Os comentaristas políticos criticaram o governo por não ter conseguido prever o que parecia ser um ataque sem precedentes do Hamas, devido ao seu nível de planejamento e coordenação.
As forças armadas de Israel atacaram alvos em Gaza em resposta aos cerca de 2,5 mil foguetes que constantemente fizeram soar sirenes antiaéreas até o norte de Tel-Aviv e Jerusalém, a cerca de 80 quilômetros de distância. A informação de Israel era que as forças estavam envolvidas em tiroteios com insurgentes do Hamas que haviam se infiltrado em pelo menos sete locais. Os combatentes se esgueiraram pela cerca da fronteira e chegaram até mesmo por via aérea em um parapente, acrescentou.
A televisão israelense transmitiu imagens de explosões que romperam a cerca da fronteira, seguidas pelo que pareciam ser homens armados palestinos entrando em solo israelense em motocicletas. Alguns insurgentes estariam viajando em caminhonetes.
Não ficou imediatamente claro o que motivou a operação do Hamas, que provavelmente exigiu meses de preparação.
No entanto, no ano passado, o governo de extrema direita de Israel acelerou a construção de assentamentos na Cisjordânia ocupada, a violência dos colonos deslocou centenas de palestinos que viviam nessas áreas e as tensões aumentaram em relação ao local sagrado judaico e muçulmano em Jerusalém.
Vídeos postados nas redes sociais mostraram o que pareciam ser atiradores palestinos uniformizados dentro da cidade fronteiriça israelense de Sderot. Um vídeo de Gaza mostrou o que parecia ser o corpo sem vida de um soldado israelense pisoteado por uma multidão enfurecida que gritava “Deus é grande”. Outro parecia mostrar insurgentes palestinos arrastando um soldado israelense vivo em uma motocicleta.
Em outra filmagem, uma multidão de homens palestinos dançava ao redor e em cima de um tanque israelense em chamas. A autenticidade dos vídeos não pôde ser verificada imediatamente.
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O líder da ala militar do Hamas, Mohammed Deif, anunciou o início do que ele chamou de “Operação Tempestade Al-Aqsa”. O complexo da mesquita de Al-Aqsa, localizado na Cidade Velha de Jerusalém, é o terceiro local mais sagrado do Islã e o primeiro para os judeus, que se referem a ele como o Monte do Templo.
“Já chega”, disse Deif, que não é visto em público, em uma mensagem gravada na qual conclamou os palestinos do leste de Jerusalém e do norte de Israel a se juntarem à luta. “Hoje, o povo retoma sua revolução”.
Em um discurso televisionado, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, alertou que a milícia havia cometido “um grave erro” e prometeu que “o Estado de Israel vencerá essa guerra”.
Salah Arouri, um líder exilado do Hamas, disse que a operação foi uma resposta “aos crimes da ocupação” e observou que os combatentes estavam defendendo a mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém e os milhares de prisioneiros palestinos mantidos por Israel.
Israel ergueu uma enorme cerca ao longo de sua fronteira com o enclave palestino para impedir a entrada. A cerca é equipada com câmeras, sensores de alta tecnologia e tecnologia de escuta. A incursão dos insurgentes é uma grande conquista para o Hamas.
Como os ataques continuaram no centro e no sul de Israel, milhões de israelenses receberam ordens de ficar perto de abrigos antibombas em suas casas. O exército disse que os residentes próximos a Gaza deveriam ficar em casa por causa do “incidente de segurança”.
A ofensiva palestina coincide com semanas de tensões crescentes ao longo da volátil fronteira de Gaza e com fortes combates na Cisjordânia ocupada por Israel.
Israel mantém um bloqueio na Faixa de Gaza desde que o Hamas, um grupo insurgente islâmico que se opõe a Israel, assumiu o controle do território, em 2007. Os inimigos ferrenhos travaram quatro guerras desde então. Além disso, houve vários pequenos confrontos entre as tropas israelenses e o Hamas e outros grupos menores no território.
O bloqueio, que restringe a entrada e a saída de pessoas e mercadorias, devastou a economia da Faixa. Israel afirma que é necessário impedir que grupos insurgentes expandam seus arsenais, mas os palestinos argumentam que isso equivale a punição coletiva.
Os disparos de foguetes ocorrem em um momento de fortes combates na Cisjordânia, onde quase 200 palestinos foram mortos em ataques israelenses neste ano. Israel afirma que a maioria dos mortos são insurgentes, mas as baixas também incluem jovens palestinos que lançavam pedras em protesto e pedestres inocentes.
Os ataques palestinos contra israelenses causaram a morte de mais de 30 pessoas desde o início do ano.
Israel conquistou a Cisjordânia, bem como Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza, na Guerra dos Seis Dias de 1967.