Israel promete ‘destruir’ o Hamas. Mas o que acontecerá com Gaza no final da guerra?


Em primeira reunião do governo de união nacional, premiê israelense disse que invasão pretende acabar com a alta hierarquia política e militar do Hamas, o grupo terrorista que controla a Faixa de Gaza

Por Steve Hendrix e Loveday Morris
Atualização:

JERUSALÉM - Enquanto Israel bombardeia Faixa de Gaza e suas forças se preparam para o início de uma grande guerra, muitos já estão se perguntando: o que acontecerá no final?

A coexistência incômoda que Israel e o grupo terrorista Hamas aperfeiçoaram ao longo de 17 anos - ciclos de escalada sangrenta seguidos por períodos de “paz econômica”, nos quais os habitantes de Gaza podiam trabalhar e exportar produtos para Israel - provavelmente não sobreviverá à conflagração que se aproxima, segundo especialistas.

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As imagens dos terroristas do Hamas massacrando famílias israelenses e sequestrando crianças acabaram com esse status quo. O que o substituirá ainda é impossível de prever.

“Nunca vimos isso antes”, disse Chuck Freilich, ex-vice-conselheiro de segurança nacional israelense. “Esta não é apenas mais uma rodada de agressões com o Hamas”.

Crianças palestinas escondidas nos escombros de um prédio destruído por bombardeios de Israel, em Rafah, na Faixa de Gaza  Foto: Hatem Ali/AP Photo
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A forma da próxima relação entre Israel e Gaza pode depender, entre outros fatores, do que restar do Hamas e de Gaza quando os combates cessarem. Os ataques aéreos de Israel já mataram mais de 2.450 pessoas e começaram a dizimar a infraestrutura pública.

À medida que a onda de choque de um tumulto do Hamas que matou 1.300 israelenses varreu antigas suposições, cenários que pareciam impossíveis há poucos dias podem estar em jogo: Israel reocupando Gaza, pelo menos temporariamente; o retorno da Autoridade Palestina ao enclave; forças de paz internacionais; um Hamas desmilitarizado que ainda detém tecnicamente a autoridade governamental.

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As autoridades israelenses não estão prontas para discutir publicamente as possibilidades. “Precisamos ver quanto tempo levará para destruir o Hamas. E então, acredito que haverá um entendimento internacional com Israel para o dia seguinte”, disse a ministra da Inteligência, Gila Gamliel, em uma entrevista. “Mas agora precisamos colocar toda a nossa força para vencer essa guerra.”

O objetivo declarado de Israel para a batalha que se aproxima é eliminar o Hamas - que é designado como um grupo terrorista pelos Estados Unidos e outros países - de uma vez por todas.

“Vamos esmagá-lo e destruí-lo”, prometeu o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu aos israelenses em um discurso televisionado na quarta-feira.

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O público israelense está apoiando essa meta de forma ampla e furiosa, por enquanto. “Destrua Gaza”, diz uma faixa pendurada em uma rodovia na cidade de Tel Aviv, de tendência esquerdista. Mas as guerras passadas sugerem que o clima pode mudar - e o apoio internacional pode diminuir - se a guerra terrestre esperada se arrastar e produzir uma terrível contagem de mortos.

As Forças Armadas de Israel são mais cautelosas do que seus principais políticos têm sido. As Forças de Defesa de Israel (IDF) informaram que estão reunindo tanques e tropas - uma das maiores mobilizações da história do país - com o objetivo operacional de derrotar o Hamas e eliminar todos os altos funcionários envolvidos. Isso equivaleria a uma versão bastante ampliada dos objetivos de guerra anteriores, nos quais a IDF se retirou assim que completou uma lista de alvos com o objetivo de degradar a capacidade militar do Hamas.

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Um cenário em que a ala política do Hamas sobreviva para governar o enclave é altamente improvável, mas não impossível, de acordo com Yossi Melman, colunista de inteligência de longa data do jornal Haaretz.

As autoridades consideram essa possibilidade principalmente porque ela apoiaria uma prioridade estratégica de Netanyahu: continuar a divisão do povo palestino entre o Hamas e a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia. “Esse sempre foi o cenário dos sonhos para Israel: um Hamas desarmado que permaneça no poder”, disse Melman.

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Mesmo que Israel mate todos os líderes do Hamas em Gaza e derrube todos os túneis, “destruir” a organização pode não ser possível, segundo os especialistas. O Hamas tem líderes exilados, mas ativos e conhecidos por circularem entre Beirute, Istambul e Doha, no Qatar. E os apoiadores do Hamas podem ser encontrados não apenas em Gaza, mas em toda a Cisjordânia e em outros lugares.

“O que significa esmagar o Hamas?” perguntou Melman. “O Hamas é uma ideologia, como o Estado Islâmico. É difícil esmagar uma ideia.”

O vácuo que se seguiria à deposição do Hamas precisaria ser preenchido por algum órgão governamental que pudesse reconstruir o enclave devastado e, ao mesmo tempo, impedir que o Hamas se regenerasse. Mas quem?

Israel desmantelou os assentamentos judaicos e retirou sua presença militar permanente de Gaza em 2005. A última vez que manteve forças militares dentro do enclave foi em 2014, durante parte de uma guerra de sete semanas que matou mais de 2.300 habitantes de Gaza e 73 israelenses.

Embora os analistas de segurança tenham dito que era fácil imaginar que essa guerra duraria ainda mais tempo, a possibilidade de Israel retornar a Gaza em tempo integral é vista como algo impensável.

Israel não está disposto a sacrificar a vida de seus soldados mais do que o necessário, disse Kobi Michael, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv. Após o que poderia ser uma invasão brutal, permanecer em Gaza para governar não terá nenhum apelo. “Israel não vai ocupar Gaza e administrar a vida de 2 milhões de palestinos”, disse Michael.

Netanyahu conversa com soldado em kibbutz de Be'eri e Kfar Aza, no sábado: promessa de esmagar grupo terrorista Hamas  Foto: Avi Ohayon/EFE/

Uma força de manutenção da paz internacional ou árabe é uma opção, disse Michael. Outra é o eventual retorno da Autoridade Palestina, que foi o órgão governamental da Faixa de Gaza entre 1994 e 2006, quando o Hamas obteve uma surpreendente vitória eleitoral.

A restauração da autoridade, que já é vista por muitos palestinos como um agente corrupto das agências de segurança israelenses, precisaria ser cuidadosamente administrada, disse ele. Sua legitimidade sofreria outro golpe se Israel fosse visto como simplesmente introduzindo as forças de segurança da Autoridade Palestina quando a IDF estiver pronta para sair.

“Será percebido que elas foram levadas pela baioneta do exército israelense”, disse Melman.

Tanques israelenses esperam o aval do exército para iniciarem a incursão terrestre na Faixa de Gaza  Foto: Sergey Ponomarev/ NYT

Alguns analistas afirmam que o recente desanuviamento nas relações de Israel com os países árabes pode ser um caminho. Antes do ataque do Hamas, a Arábia Saudita estava conversando com o governo Biden sobre o estabelecimento de laços com Israel. É possível que Riad desempenhe um papel na intermediação da chegada da Autoridade Palestina à Cidade de Gaza.

Os sauditas vinham sinalizando que qualquer acordo bilateral com Israel precisava incluir provisões para os palestinos, provavelmente incluindo medidas para reforçar a Autoridade Palestina, que está diminuindo, observou Freilich.

“Talvez possa ser isso”, disse ele.

Tanques israelenses se movem em direção a fronteira de Israel com a Faixa de Gaza  Foto: Ariel Schalit / AP

No entanto, a disposição dos países do Golfo Pérsico e de outros governos em ajudar Israel a criar um acordo final pode depender do desfecho da guerra em Gaza. O mundo ficou chocado com a brutalidade do Hamas, mas a experiência mostra que as mortes de civis e a agonia humanitária em Gaza diminuirão o apoio do público.

“Agora vemos um forte apoio dos EUA e dos países ocidentais”, disse Freilich. “Mas o apoio do público mudará e se enfraquecerá à medida que a campanha em Gaza se tornar mais difícil.”

A posição de Netanyahu também será um fator importante. O primeiro-ministro está furioso por não ter conseguido evitar o massacre e pela estratégia que deu poder ao Hamas como rival da Autoridade Palestina.

O chefe do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza Yahya Al-Sinwar segura o filho de outro líder do Hamas, Ismail Haniyeh  Foto: Mohammed Salem/Reuters

A primeira-ministra Golda Meir deixou o cargo logo depois que a guerra do Yom Kippur de 1973 surpreendeu Israel, e Netanyahu pode esperar um acerto de contas semelhante, disse Solon Solomon, ex-advogado do Knesset e professor de direito internacional na Brunel University de Londres.

“É quase certo que, após o término da operação terrestre, depois de alguns meses, o primeiro-ministro Netanyahu deixará de exercer o cargo de primeiro-ministro”, disse ele.

JERUSALÉM - Enquanto Israel bombardeia Faixa de Gaza e suas forças se preparam para o início de uma grande guerra, muitos já estão se perguntando: o que acontecerá no final?

A coexistência incômoda que Israel e o grupo terrorista Hamas aperfeiçoaram ao longo de 17 anos - ciclos de escalada sangrenta seguidos por períodos de “paz econômica”, nos quais os habitantes de Gaza podiam trabalhar e exportar produtos para Israel - provavelmente não sobreviverá à conflagração que se aproxima, segundo especialistas.

As imagens dos terroristas do Hamas massacrando famílias israelenses e sequestrando crianças acabaram com esse status quo. O que o substituirá ainda é impossível de prever.

“Nunca vimos isso antes”, disse Chuck Freilich, ex-vice-conselheiro de segurança nacional israelense. “Esta não é apenas mais uma rodada de agressões com o Hamas”.

Crianças palestinas escondidas nos escombros de um prédio destruído por bombardeios de Israel, em Rafah, na Faixa de Gaza  Foto: Hatem Ali/AP Photo

A forma da próxima relação entre Israel e Gaza pode depender, entre outros fatores, do que restar do Hamas e de Gaza quando os combates cessarem. Os ataques aéreos de Israel já mataram mais de 2.450 pessoas e começaram a dizimar a infraestrutura pública.

À medida que a onda de choque de um tumulto do Hamas que matou 1.300 israelenses varreu antigas suposições, cenários que pareciam impossíveis há poucos dias podem estar em jogo: Israel reocupando Gaza, pelo menos temporariamente; o retorno da Autoridade Palestina ao enclave; forças de paz internacionais; um Hamas desmilitarizado que ainda detém tecnicamente a autoridade governamental.

As autoridades israelenses não estão prontas para discutir publicamente as possibilidades. “Precisamos ver quanto tempo levará para destruir o Hamas. E então, acredito que haverá um entendimento internacional com Israel para o dia seguinte”, disse a ministra da Inteligência, Gila Gamliel, em uma entrevista. “Mas agora precisamos colocar toda a nossa força para vencer essa guerra.”

O objetivo declarado de Israel para a batalha que se aproxima é eliminar o Hamas - que é designado como um grupo terrorista pelos Estados Unidos e outros países - de uma vez por todas.

“Vamos esmagá-lo e destruí-lo”, prometeu o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu aos israelenses em um discurso televisionado na quarta-feira.

O público israelense está apoiando essa meta de forma ampla e furiosa, por enquanto. “Destrua Gaza”, diz uma faixa pendurada em uma rodovia na cidade de Tel Aviv, de tendência esquerdista. Mas as guerras passadas sugerem que o clima pode mudar - e o apoio internacional pode diminuir - se a guerra terrestre esperada se arrastar e produzir uma terrível contagem de mortos.

As Forças Armadas de Israel são mais cautelosas do que seus principais políticos têm sido. As Forças de Defesa de Israel (IDF) informaram que estão reunindo tanques e tropas - uma das maiores mobilizações da história do país - com o objetivo operacional de derrotar o Hamas e eliminar todos os altos funcionários envolvidos. Isso equivaleria a uma versão bastante ampliada dos objetivos de guerra anteriores, nos quais a IDF se retirou assim que completou uma lista de alvos com o objetivo de degradar a capacidade militar do Hamas.

Um cenário em que a ala política do Hamas sobreviva para governar o enclave é altamente improvável, mas não impossível, de acordo com Yossi Melman, colunista de inteligência de longa data do jornal Haaretz.

As autoridades consideram essa possibilidade principalmente porque ela apoiaria uma prioridade estratégica de Netanyahu: continuar a divisão do povo palestino entre o Hamas e a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia. “Esse sempre foi o cenário dos sonhos para Israel: um Hamas desarmado que permaneça no poder”, disse Melman.

Mesmo que Israel mate todos os líderes do Hamas em Gaza e derrube todos os túneis, “destruir” a organização pode não ser possível, segundo os especialistas. O Hamas tem líderes exilados, mas ativos e conhecidos por circularem entre Beirute, Istambul e Doha, no Qatar. E os apoiadores do Hamas podem ser encontrados não apenas em Gaza, mas em toda a Cisjordânia e em outros lugares.

“O que significa esmagar o Hamas?” perguntou Melman. “O Hamas é uma ideologia, como o Estado Islâmico. É difícil esmagar uma ideia.”

O vácuo que se seguiria à deposição do Hamas precisaria ser preenchido por algum órgão governamental que pudesse reconstruir o enclave devastado e, ao mesmo tempo, impedir que o Hamas se regenerasse. Mas quem?

Israel desmantelou os assentamentos judaicos e retirou sua presença militar permanente de Gaza em 2005. A última vez que manteve forças militares dentro do enclave foi em 2014, durante parte de uma guerra de sete semanas que matou mais de 2.300 habitantes de Gaza e 73 israelenses.

Embora os analistas de segurança tenham dito que era fácil imaginar que essa guerra duraria ainda mais tempo, a possibilidade de Israel retornar a Gaza em tempo integral é vista como algo impensável.

Israel não está disposto a sacrificar a vida de seus soldados mais do que o necessário, disse Kobi Michael, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv. Após o que poderia ser uma invasão brutal, permanecer em Gaza para governar não terá nenhum apelo. “Israel não vai ocupar Gaza e administrar a vida de 2 milhões de palestinos”, disse Michael.

Netanyahu conversa com soldado em kibbutz de Be'eri e Kfar Aza, no sábado: promessa de esmagar grupo terrorista Hamas  Foto: Avi Ohayon/EFE/

Uma força de manutenção da paz internacional ou árabe é uma opção, disse Michael. Outra é o eventual retorno da Autoridade Palestina, que foi o órgão governamental da Faixa de Gaza entre 1994 e 2006, quando o Hamas obteve uma surpreendente vitória eleitoral.

A restauração da autoridade, que já é vista por muitos palestinos como um agente corrupto das agências de segurança israelenses, precisaria ser cuidadosamente administrada, disse ele. Sua legitimidade sofreria outro golpe se Israel fosse visto como simplesmente introduzindo as forças de segurança da Autoridade Palestina quando a IDF estiver pronta para sair.

“Será percebido que elas foram levadas pela baioneta do exército israelense”, disse Melman.

Tanques israelenses esperam o aval do exército para iniciarem a incursão terrestre na Faixa de Gaza  Foto: Sergey Ponomarev/ NYT

Alguns analistas afirmam que o recente desanuviamento nas relações de Israel com os países árabes pode ser um caminho. Antes do ataque do Hamas, a Arábia Saudita estava conversando com o governo Biden sobre o estabelecimento de laços com Israel. É possível que Riad desempenhe um papel na intermediação da chegada da Autoridade Palestina à Cidade de Gaza.

Os sauditas vinham sinalizando que qualquer acordo bilateral com Israel precisava incluir provisões para os palestinos, provavelmente incluindo medidas para reforçar a Autoridade Palestina, que está diminuindo, observou Freilich.

“Talvez possa ser isso”, disse ele.

Tanques israelenses se movem em direção a fronteira de Israel com a Faixa de Gaza  Foto: Ariel Schalit / AP

No entanto, a disposição dos países do Golfo Pérsico e de outros governos em ajudar Israel a criar um acordo final pode depender do desfecho da guerra em Gaza. O mundo ficou chocado com a brutalidade do Hamas, mas a experiência mostra que as mortes de civis e a agonia humanitária em Gaza diminuirão o apoio do público.

“Agora vemos um forte apoio dos EUA e dos países ocidentais”, disse Freilich. “Mas o apoio do público mudará e se enfraquecerá à medida que a campanha em Gaza se tornar mais difícil.”

A posição de Netanyahu também será um fator importante. O primeiro-ministro está furioso por não ter conseguido evitar o massacre e pela estratégia que deu poder ao Hamas como rival da Autoridade Palestina.

O chefe do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza Yahya Al-Sinwar segura o filho de outro líder do Hamas, Ismail Haniyeh  Foto: Mohammed Salem/Reuters

A primeira-ministra Golda Meir deixou o cargo logo depois que a guerra do Yom Kippur de 1973 surpreendeu Israel, e Netanyahu pode esperar um acerto de contas semelhante, disse Solon Solomon, ex-advogado do Knesset e professor de direito internacional na Brunel University de Londres.

“É quase certo que, após o término da operação terrestre, depois de alguns meses, o primeiro-ministro Netanyahu deixará de exercer o cargo de primeiro-ministro”, disse ele.

JERUSALÉM - Enquanto Israel bombardeia Faixa de Gaza e suas forças se preparam para o início de uma grande guerra, muitos já estão se perguntando: o que acontecerá no final?

A coexistência incômoda que Israel e o grupo terrorista Hamas aperfeiçoaram ao longo de 17 anos - ciclos de escalada sangrenta seguidos por períodos de “paz econômica”, nos quais os habitantes de Gaza podiam trabalhar e exportar produtos para Israel - provavelmente não sobreviverá à conflagração que se aproxima, segundo especialistas.

As imagens dos terroristas do Hamas massacrando famílias israelenses e sequestrando crianças acabaram com esse status quo. O que o substituirá ainda é impossível de prever.

“Nunca vimos isso antes”, disse Chuck Freilich, ex-vice-conselheiro de segurança nacional israelense. “Esta não é apenas mais uma rodada de agressões com o Hamas”.

Crianças palestinas escondidas nos escombros de um prédio destruído por bombardeios de Israel, em Rafah, na Faixa de Gaza  Foto: Hatem Ali/AP Photo

A forma da próxima relação entre Israel e Gaza pode depender, entre outros fatores, do que restar do Hamas e de Gaza quando os combates cessarem. Os ataques aéreos de Israel já mataram mais de 2.450 pessoas e começaram a dizimar a infraestrutura pública.

À medida que a onda de choque de um tumulto do Hamas que matou 1.300 israelenses varreu antigas suposições, cenários que pareciam impossíveis há poucos dias podem estar em jogo: Israel reocupando Gaza, pelo menos temporariamente; o retorno da Autoridade Palestina ao enclave; forças de paz internacionais; um Hamas desmilitarizado que ainda detém tecnicamente a autoridade governamental.

As autoridades israelenses não estão prontas para discutir publicamente as possibilidades. “Precisamos ver quanto tempo levará para destruir o Hamas. E então, acredito que haverá um entendimento internacional com Israel para o dia seguinte”, disse a ministra da Inteligência, Gila Gamliel, em uma entrevista. “Mas agora precisamos colocar toda a nossa força para vencer essa guerra.”

O objetivo declarado de Israel para a batalha que se aproxima é eliminar o Hamas - que é designado como um grupo terrorista pelos Estados Unidos e outros países - de uma vez por todas.

“Vamos esmagá-lo e destruí-lo”, prometeu o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu aos israelenses em um discurso televisionado na quarta-feira.

O público israelense está apoiando essa meta de forma ampla e furiosa, por enquanto. “Destrua Gaza”, diz uma faixa pendurada em uma rodovia na cidade de Tel Aviv, de tendência esquerdista. Mas as guerras passadas sugerem que o clima pode mudar - e o apoio internacional pode diminuir - se a guerra terrestre esperada se arrastar e produzir uma terrível contagem de mortos.

As Forças Armadas de Israel são mais cautelosas do que seus principais políticos têm sido. As Forças de Defesa de Israel (IDF) informaram que estão reunindo tanques e tropas - uma das maiores mobilizações da história do país - com o objetivo operacional de derrotar o Hamas e eliminar todos os altos funcionários envolvidos. Isso equivaleria a uma versão bastante ampliada dos objetivos de guerra anteriores, nos quais a IDF se retirou assim que completou uma lista de alvos com o objetivo de degradar a capacidade militar do Hamas.

Um cenário em que a ala política do Hamas sobreviva para governar o enclave é altamente improvável, mas não impossível, de acordo com Yossi Melman, colunista de inteligência de longa data do jornal Haaretz.

As autoridades consideram essa possibilidade principalmente porque ela apoiaria uma prioridade estratégica de Netanyahu: continuar a divisão do povo palestino entre o Hamas e a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia. “Esse sempre foi o cenário dos sonhos para Israel: um Hamas desarmado que permaneça no poder”, disse Melman.

Mesmo que Israel mate todos os líderes do Hamas em Gaza e derrube todos os túneis, “destruir” a organização pode não ser possível, segundo os especialistas. O Hamas tem líderes exilados, mas ativos e conhecidos por circularem entre Beirute, Istambul e Doha, no Qatar. E os apoiadores do Hamas podem ser encontrados não apenas em Gaza, mas em toda a Cisjordânia e em outros lugares.

“O que significa esmagar o Hamas?” perguntou Melman. “O Hamas é uma ideologia, como o Estado Islâmico. É difícil esmagar uma ideia.”

O vácuo que se seguiria à deposição do Hamas precisaria ser preenchido por algum órgão governamental que pudesse reconstruir o enclave devastado e, ao mesmo tempo, impedir que o Hamas se regenerasse. Mas quem?

Israel desmantelou os assentamentos judaicos e retirou sua presença militar permanente de Gaza em 2005. A última vez que manteve forças militares dentro do enclave foi em 2014, durante parte de uma guerra de sete semanas que matou mais de 2.300 habitantes de Gaza e 73 israelenses.

Embora os analistas de segurança tenham dito que era fácil imaginar que essa guerra duraria ainda mais tempo, a possibilidade de Israel retornar a Gaza em tempo integral é vista como algo impensável.

Israel não está disposto a sacrificar a vida de seus soldados mais do que o necessário, disse Kobi Michael, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv. Após o que poderia ser uma invasão brutal, permanecer em Gaza para governar não terá nenhum apelo. “Israel não vai ocupar Gaza e administrar a vida de 2 milhões de palestinos”, disse Michael.

Netanyahu conversa com soldado em kibbutz de Be'eri e Kfar Aza, no sábado: promessa de esmagar grupo terrorista Hamas  Foto: Avi Ohayon/EFE/

Uma força de manutenção da paz internacional ou árabe é uma opção, disse Michael. Outra é o eventual retorno da Autoridade Palestina, que foi o órgão governamental da Faixa de Gaza entre 1994 e 2006, quando o Hamas obteve uma surpreendente vitória eleitoral.

A restauração da autoridade, que já é vista por muitos palestinos como um agente corrupto das agências de segurança israelenses, precisaria ser cuidadosamente administrada, disse ele. Sua legitimidade sofreria outro golpe se Israel fosse visto como simplesmente introduzindo as forças de segurança da Autoridade Palestina quando a IDF estiver pronta para sair.

“Será percebido que elas foram levadas pela baioneta do exército israelense”, disse Melman.

Tanques israelenses esperam o aval do exército para iniciarem a incursão terrestre na Faixa de Gaza  Foto: Sergey Ponomarev/ NYT

Alguns analistas afirmam que o recente desanuviamento nas relações de Israel com os países árabes pode ser um caminho. Antes do ataque do Hamas, a Arábia Saudita estava conversando com o governo Biden sobre o estabelecimento de laços com Israel. É possível que Riad desempenhe um papel na intermediação da chegada da Autoridade Palestina à Cidade de Gaza.

Os sauditas vinham sinalizando que qualquer acordo bilateral com Israel precisava incluir provisões para os palestinos, provavelmente incluindo medidas para reforçar a Autoridade Palestina, que está diminuindo, observou Freilich.

“Talvez possa ser isso”, disse ele.

Tanques israelenses se movem em direção a fronteira de Israel com a Faixa de Gaza  Foto: Ariel Schalit / AP

No entanto, a disposição dos países do Golfo Pérsico e de outros governos em ajudar Israel a criar um acordo final pode depender do desfecho da guerra em Gaza. O mundo ficou chocado com a brutalidade do Hamas, mas a experiência mostra que as mortes de civis e a agonia humanitária em Gaza diminuirão o apoio do público.

“Agora vemos um forte apoio dos EUA e dos países ocidentais”, disse Freilich. “Mas o apoio do público mudará e se enfraquecerá à medida que a campanha em Gaza se tornar mais difícil.”

A posição de Netanyahu também será um fator importante. O primeiro-ministro está furioso por não ter conseguido evitar o massacre e pela estratégia que deu poder ao Hamas como rival da Autoridade Palestina.

O chefe do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza Yahya Al-Sinwar segura o filho de outro líder do Hamas, Ismail Haniyeh  Foto: Mohammed Salem/Reuters

A primeira-ministra Golda Meir deixou o cargo logo depois que a guerra do Yom Kippur de 1973 surpreendeu Israel, e Netanyahu pode esperar um acerto de contas semelhante, disse Solon Solomon, ex-advogado do Knesset e professor de direito internacional na Brunel University de Londres.

“É quase certo que, após o término da operação terrestre, depois de alguns meses, o primeiro-ministro Netanyahu deixará de exercer o cargo de primeiro-ministro”, disse ele.

JERUSALÉM - Enquanto Israel bombardeia Faixa de Gaza e suas forças se preparam para o início de uma grande guerra, muitos já estão se perguntando: o que acontecerá no final?

A coexistência incômoda que Israel e o grupo terrorista Hamas aperfeiçoaram ao longo de 17 anos - ciclos de escalada sangrenta seguidos por períodos de “paz econômica”, nos quais os habitantes de Gaza podiam trabalhar e exportar produtos para Israel - provavelmente não sobreviverá à conflagração que se aproxima, segundo especialistas.

As imagens dos terroristas do Hamas massacrando famílias israelenses e sequestrando crianças acabaram com esse status quo. O que o substituirá ainda é impossível de prever.

“Nunca vimos isso antes”, disse Chuck Freilich, ex-vice-conselheiro de segurança nacional israelense. “Esta não é apenas mais uma rodada de agressões com o Hamas”.

Crianças palestinas escondidas nos escombros de um prédio destruído por bombardeios de Israel, em Rafah, na Faixa de Gaza  Foto: Hatem Ali/AP Photo

A forma da próxima relação entre Israel e Gaza pode depender, entre outros fatores, do que restar do Hamas e de Gaza quando os combates cessarem. Os ataques aéreos de Israel já mataram mais de 2.450 pessoas e começaram a dizimar a infraestrutura pública.

À medida que a onda de choque de um tumulto do Hamas que matou 1.300 israelenses varreu antigas suposições, cenários que pareciam impossíveis há poucos dias podem estar em jogo: Israel reocupando Gaza, pelo menos temporariamente; o retorno da Autoridade Palestina ao enclave; forças de paz internacionais; um Hamas desmilitarizado que ainda detém tecnicamente a autoridade governamental.

As autoridades israelenses não estão prontas para discutir publicamente as possibilidades. “Precisamos ver quanto tempo levará para destruir o Hamas. E então, acredito que haverá um entendimento internacional com Israel para o dia seguinte”, disse a ministra da Inteligência, Gila Gamliel, em uma entrevista. “Mas agora precisamos colocar toda a nossa força para vencer essa guerra.”

O objetivo declarado de Israel para a batalha que se aproxima é eliminar o Hamas - que é designado como um grupo terrorista pelos Estados Unidos e outros países - de uma vez por todas.

“Vamos esmagá-lo e destruí-lo”, prometeu o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu aos israelenses em um discurso televisionado na quarta-feira.

O público israelense está apoiando essa meta de forma ampla e furiosa, por enquanto. “Destrua Gaza”, diz uma faixa pendurada em uma rodovia na cidade de Tel Aviv, de tendência esquerdista. Mas as guerras passadas sugerem que o clima pode mudar - e o apoio internacional pode diminuir - se a guerra terrestre esperada se arrastar e produzir uma terrível contagem de mortos.

As Forças Armadas de Israel são mais cautelosas do que seus principais políticos têm sido. As Forças de Defesa de Israel (IDF) informaram que estão reunindo tanques e tropas - uma das maiores mobilizações da história do país - com o objetivo operacional de derrotar o Hamas e eliminar todos os altos funcionários envolvidos. Isso equivaleria a uma versão bastante ampliada dos objetivos de guerra anteriores, nos quais a IDF se retirou assim que completou uma lista de alvos com o objetivo de degradar a capacidade militar do Hamas.

Um cenário em que a ala política do Hamas sobreviva para governar o enclave é altamente improvável, mas não impossível, de acordo com Yossi Melman, colunista de inteligência de longa data do jornal Haaretz.

As autoridades consideram essa possibilidade principalmente porque ela apoiaria uma prioridade estratégica de Netanyahu: continuar a divisão do povo palestino entre o Hamas e a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia. “Esse sempre foi o cenário dos sonhos para Israel: um Hamas desarmado que permaneça no poder”, disse Melman.

Mesmo que Israel mate todos os líderes do Hamas em Gaza e derrube todos os túneis, “destruir” a organização pode não ser possível, segundo os especialistas. O Hamas tem líderes exilados, mas ativos e conhecidos por circularem entre Beirute, Istambul e Doha, no Qatar. E os apoiadores do Hamas podem ser encontrados não apenas em Gaza, mas em toda a Cisjordânia e em outros lugares.

“O que significa esmagar o Hamas?” perguntou Melman. “O Hamas é uma ideologia, como o Estado Islâmico. É difícil esmagar uma ideia.”

O vácuo que se seguiria à deposição do Hamas precisaria ser preenchido por algum órgão governamental que pudesse reconstruir o enclave devastado e, ao mesmo tempo, impedir que o Hamas se regenerasse. Mas quem?

Israel desmantelou os assentamentos judaicos e retirou sua presença militar permanente de Gaza em 2005. A última vez que manteve forças militares dentro do enclave foi em 2014, durante parte de uma guerra de sete semanas que matou mais de 2.300 habitantes de Gaza e 73 israelenses.

Embora os analistas de segurança tenham dito que era fácil imaginar que essa guerra duraria ainda mais tempo, a possibilidade de Israel retornar a Gaza em tempo integral é vista como algo impensável.

Israel não está disposto a sacrificar a vida de seus soldados mais do que o necessário, disse Kobi Michael, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv. Após o que poderia ser uma invasão brutal, permanecer em Gaza para governar não terá nenhum apelo. “Israel não vai ocupar Gaza e administrar a vida de 2 milhões de palestinos”, disse Michael.

Netanyahu conversa com soldado em kibbutz de Be'eri e Kfar Aza, no sábado: promessa de esmagar grupo terrorista Hamas  Foto: Avi Ohayon/EFE/

Uma força de manutenção da paz internacional ou árabe é uma opção, disse Michael. Outra é o eventual retorno da Autoridade Palestina, que foi o órgão governamental da Faixa de Gaza entre 1994 e 2006, quando o Hamas obteve uma surpreendente vitória eleitoral.

A restauração da autoridade, que já é vista por muitos palestinos como um agente corrupto das agências de segurança israelenses, precisaria ser cuidadosamente administrada, disse ele. Sua legitimidade sofreria outro golpe se Israel fosse visto como simplesmente introduzindo as forças de segurança da Autoridade Palestina quando a IDF estiver pronta para sair.

“Será percebido que elas foram levadas pela baioneta do exército israelense”, disse Melman.

Tanques israelenses esperam o aval do exército para iniciarem a incursão terrestre na Faixa de Gaza  Foto: Sergey Ponomarev/ NYT

Alguns analistas afirmam que o recente desanuviamento nas relações de Israel com os países árabes pode ser um caminho. Antes do ataque do Hamas, a Arábia Saudita estava conversando com o governo Biden sobre o estabelecimento de laços com Israel. É possível que Riad desempenhe um papel na intermediação da chegada da Autoridade Palestina à Cidade de Gaza.

Os sauditas vinham sinalizando que qualquer acordo bilateral com Israel precisava incluir provisões para os palestinos, provavelmente incluindo medidas para reforçar a Autoridade Palestina, que está diminuindo, observou Freilich.

“Talvez possa ser isso”, disse ele.

Tanques israelenses se movem em direção a fronteira de Israel com a Faixa de Gaza  Foto: Ariel Schalit / AP

No entanto, a disposição dos países do Golfo Pérsico e de outros governos em ajudar Israel a criar um acordo final pode depender do desfecho da guerra em Gaza. O mundo ficou chocado com a brutalidade do Hamas, mas a experiência mostra que as mortes de civis e a agonia humanitária em Gaza diminuirão o apoio do público.

“Agora vemos um forte apoio dos EUA e dos países ocidentais”, disse Freilich. “Mas o apoio do público mudará e se enfraquecerá à medida que a campanha em Gaza se tornar mais difícil.”

A posição de Netanyahu também será um fator importante. O primeiro-ministro está furioso por não ter conseguido evitar o massacre e pela estratégia que deu poder ao Hamas como rival da Autoridade Palestina.

O chefe do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza Yahya Al-Sinwar segura o filho de outro líder do Hamas, Ismail Haniyeh  Foto: Mohammed Salem/Reuters

A primeira-ministra Golda Meir deixou o cargo logo depois que a guerra do Yom Kippur de 1973 surpreendeu Israel, e Netanyahu pode esperar um acerto de contas semelhante, disse Solon Solomon, ex-advogado do Knesset e professor de direito internacional na Brunel University de Londres.

“É quase certo que, após o término da operação terrestre, depois de alguns meses, o primeiro-ministro Netanyahu deixará de exercer o cargo de primeiro-ministro”, disse ele.

JERUSALÉM - Enquanto Israel bombardeia Faixa de Gaza e suas forças se preparam para o início de uma grande guerra, muitos já estão se perguntando: o que acontecerá no final?

A coexistência incômoda que Israel e o grupo terrorista Hamas aperfeiçoaram ao longo de 17 anos - ciclos de escalada sangrenta seguidos por períodos de “paz econômica”, nos quais os habitantes de Gaza podiam trabalhar e exportar produtos para Israel - provavelmente não sobreviverá à conflagração que se aproxima, segundo especialistas.

As imagens dos terroristas do Hamas massacrando famílias israelenses e sequestrando crianças acabaram com esse status quo. O que o substituirá ainda é impossível de prever.

“Nunca vimos isso antes”, disse Chuck Freilich, ex-vice-conselheiro de segurança nacional israelense. “Esta não é apenas mais uma rodada de agressões com o Hamas”.

Crianças palestinas escondidas nos escombros de um prédio destruído por bombardeios de Israel, em Rafah, na Faixa de Gaza  Foto: Hatem Ali/AP Photo

A forma da próxima relação entre Israel e Gaza pode depender, entre outros fatores, do que restar do Hamas e de Gaza quando os combates cessarem. Os ataques aéreos de Israel já mataram mais de 2.450 pessoas e começaram a dizimar a infraestrutura pública.

À medida que a onda de choque de um tumulto do Hamas que matou 1.300 israelenses varreu antigas suposições, cenários que pareciam impossíveis há poucos dias podem estar em jogo: Israel reocupando Gaza, pelo menos temporariamente; o retorno da Autoridade Palestina ao enclave; forças de paz internacionais; um Hamas desmilitarizado que ainda detém tecnicamente a autoridade governamental.

As autoridades israelenses não estão prontas para discutir publicamente as possibilidades. “Precisamos ver quanto tempo levará para destruir o Hamas. E então, acredito que haverá um entendimento internacional com Israel para o dia seguinte”, disse a ministra da Inteligência, Gila Gamliel, em uma entrevista. “Mas agora precisamos colocar toda a nossa força para vencer essa guerra.”

O objetivo declarado de Israel para a batalha que se aproxima é eliminar o Hamas - que é designado como um grupo terrorista pelos Estados Unidos e outros países - de uma vez por todas.

“Vamos esmagá-lo e destruí-lo”, prometeu o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu aos israelenses em um discurso televisionado na quarta-feira.

O público israelense está apoiando essa meta de forma ampla e furiosa, por enquanto. “Destrua Gaza”, diz uma faixa pendurada em uma rodovia na cidade de Tel Aviv, de tendência esquerdista. Mas as guerras passadas sugerem que o clima pode mudar - e o apoio internacional pode diminuir - se a guerra terrestre esperada se arrastar e produzir uma terrível contagem de mortos.

As Forças Armadas de Israel são mais cautelosas do que seus principais políticos têm sido. As Forças de Defesa de Israel (IDF) informaram que estão reunindo tanques e tropas - uma das maiores mobilizações da história do país - com o objetivo operacional de derrotar o Hamas e eliminar todos os altos funcionários envolvidos. Isso equivaleria a uma versão bastante ampliada dos objetivos de guerra anteriores, nos quais a IDF se retirou assim que completou uma lista de alvos com o objetivo de degradar a capacidade militar do Hamas.

Um cenário em que a ala política do Hamas sobreviva para governar o enclave é altamente improvável, mas não impossível, de acordo com Yossi Melman, colunista de inteligência de longa data do jornal Haaretz.

As autoridades consideram essa possibilidade principalmente porque ela apoiaria uma prioridade estratégica de Netanyahu: continuar a divisão do povo palestino entre o Hamas e a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia. “Esse sempre foi o cenário dos sonhos para Israel: um Hamas desarmado que permaneça no poder”, disse Melman.

Mesmo que Israel mate todos os líderes do Hamas em Gaza e derrube todos os túneis, “destruir” a organização pode não ser possível, segundo os especialistas. O Hamas tem líderes exilados, mas ativos e conhecidos por circularem entre Beirute, Istambul e Doha, no Qatar. E os apoiadores do Hamas podem ser encontrados não apenas em Gaza, mas em toda a Cisjordânia e em outros lugares.

“O que significa esmagar o Hamas?” perguntou Melman. “O Hamas é uma ideologia, como o Estado Islâmico. É difícil esmagar uma ideia.”

O vácuo que se seguiria à deposição do Hamas precisaria ser preenchido por algum órgão governamental que pudesse reconstruir o enclave devastado e, ao mesmo tempo, impedir que o Hamas se regenerasse. Mas quem?

Israel desmantelou os assentamentos judaicos e retirou sua presença militar permanente de Gaza em 2005. A última vez que manteve forças militares dentro do enclave foi em 2014, durante parte de uma guerra de sete semanas que matou mais de 2.300 habitantes de Gaza e 73 israelenses.

Embora os analistas de segurança tenham dito que era fácil imaginar que essa guerra duraria ainda mais tempo, a possibilidade de Israel retornar a Gaza em tempo integral é vista como algo impensável.

Israel não está disposto a sacrificar a vida de seus soldados mais do que o necessário, disse Kobi Michael, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv. Após o que poderia ser uma invasão brutal, permanecer em Gaza para governar não terá nenhum apelo. “Israel não vai ocupar Gaza e administrar a vida de 2 milhões de palestinos”, disse Michael.

Netanyahu conversa com soldado em kibbutz de Be'eri e Kfar Aza, no sábado: promessa de esmagar grupo terrorista Hamas  Foto: Avi Ohayon/EFE/

Uma força de manutenção da paz internacional ou árabe é uma opção, disse Michael. Outra é o eventual retorno da Autoridade Palestina, que foi o órgão governamental da Faixa de Gaza entre 1994 e 2006, quando o Hamas obteve uma surpreendente vitória eleitoral.

A restauração da autoridade, que já é vista por muitos palestinos como um agente corrupto das agências de segurança israelenses, precisaria ser cuidadosamente administrada, disse ele. Sua legitimidade sofreria outro golpe se Israel fosse visto como simplesmente introduzindo as forças de segurança da Autoridade Palestina quando a IDF estiver pronta para sair.

“Será percebido que elas foram levadas pela baioneta do exército israelense”, disse Melman.

Tanques israelenses esperam o aval do exército para iniciarem a incursão terrestre na Faixa de Gaza  Foto: Sergey Ponomarev/ NYT

Alguns analistas afirmam que o recente desanuviamento nas relações de Israel com os países árabes pode ser um caminho. Antes do ataque do Hamas, a Arábia Saudita estava conversando com o governo Biden sobre o estabelecimento de laços com Israel. É possível que Riad desempenhe um papel na intermediação da chegada da Autoridade Palestina à Cidade de Gaza.

Os sauditas vinham sinalizando que qualquer acordo bilateral com Israel precisava incluir provisões para os palestinos, provavelmente incluindo medidas para reforçar a Autoridade Palestina, que está diminuindo, observou Freilich.

“Talvez possa ser isso”, disse ele.

Tanques israelenses se movem em direção a fronteira de Israel com a Faixa de Gaza  Foto: Ariel Schalit / AP

No entanto, a disposição dos países do Golfo Pérsico e de outros governos em ajudar Israel a criar um acordo final pode depender do desfecho da guerra em Gaza. O mundo ficou chocado com a brutalidade do Hamas, mas a experiência mostra que as mortes de civis e a agonia humanitária em Gaza diminuirão o apoio do público.

“Agora vemos um forte apoio dos EUA e dos países ocidentais”, disse Freilich. “Mas o apoio do público mudará e se enfraquecerá à medida que a campanha em Gaza se tornar mais difícil.”

A posição de Netanyahu também será um fator importante. O primeiro-ministro está furioso por não ter conseguido evitar o massacre e pela estratégia que deu poder ao Hamas como rival da Autoridade Palestina.

O chefe do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza Yahya Al-Sinwar segura o filho de outro líder do Hamas, Ismail Haniyeh  Foto: Mohammed Salem/Reuters

A primeira-ministra Golda Meir deixou o cargo logo depois que a guerra do Yom Kippur de 1973 surpreendeu Israel, e Netanyahu pode esperar um acerto de contas semelhante, disse Solon Solomon, ex-advogado do Knesset e professor de direito internacional na Brunel University de Londres.

“É quase certo que, após o término da operação terrestre, depois de alguns meses, o primeiro-ministro Netanyahu deixará de exercer o cargo de primeiro-ministro”, disse ele.

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