CIDADE DE GAZA - As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) conduzem uma operação militar dentro do hospital de Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, desde a madrugada desta quarta-feira, 15, (noite de terça-feira, 14, em Brasília). O objetivo da operação, segundo os militares israelenses, é encontrar postos de comando do grupo terrorista Hamas.
Uma fonte do Exército de Israel disse ao NYT que os militares estão revistando e interrogando pessoas dentro do terreno do hospital. Ainda de acordo com essa fonte, armas teriam sido encontradas na operação. Líderes da Autoridade Palestina, que controla a Cisjordânia, agências humanitárias da ONU que trabalham em Gaza e autoridades da Turquia e da Jordânia criticaram a operação, que teve poucos detalhes revelados ao público. Comunicações telefônicas e via internet na região do hospital estão intermitentes.
Após a invasão, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse na rede social X, o antigo Twitter, que ‘não há nenhum local em Gaza que esteja fora do alcance de Israel’. Segundo a ONU, havia no hospital no momento da operação 700 pacientes, 400 membros da equipe médica e 3 mil pessoas que procuraram refúgio no local desde o início da guerra.
Segundo a AFP, os soldados israelenses mandaram todos os homens com mais de 16 anos presentes no complexo se render. Ao menos 200 foram presos.
A operação foi lançada poucas horas depois de o governo de Israel ter publicado vídeos com armas que teriam sido encontradas dentro dos hospital. Os Estados Unidos apoiaram a afirmação de Israel de que o Hamas estaria operando em túneis embaixo do hospital. Médicos que trabalham em Al-Shifa, bem como porta-vozes do grupo terrorista, negam as acusações.
“Com base na informação de inteligência e na necessidade operacional, as Forças de Defesa de Israel realizam uma operação seletiva e de precisão contra o Hamas em um setor específico do hospital Al Shifa”, declarou o Exército em um comunicado em inglês.
Escassez
Ainda de acordo com a AFP, que tem um jornalista no complexo, dentro do hospital, os soldados israelenses atiram para o alto de quarto em quarto, em busca de combatentes do Hamas. Mulheres e crianças assustadas e chorando foram revistadas, e outras tiveram de passar por um posto equipado com uma câmera de reconhecimento, segundo o jornalista.
Os detidos foram revistados e tiveram de tirar parte de suas roupas. Tanques israelenses entraram no complexo médico e foram estacionados diante de várias unidades, incluindo o pronto-socorro.
Natalie Thurtle, uma das coordenadoras da organização Médicos Sem Fronteiras nos Territórios Palestinos, explicou à AFP que não será possível retirar os pacientes, “que, em sua maioria, não podem se deslocar, e levando-se em consideração a situação de segurança nos arredores do hospital”.
- Incubadoras -
Ao menos nove bebês prematuros morreram depois que foram retirados de suas incubadoras. Vinte e sete pacientes que estavam no CTI faleceram, porque não tinham um respirador operacional, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Uma vala comum foi aberta no complexo, onde já foram enterrados 179 corpos, informou o diretor do hospital, o médico Mohammed Abu Salmiya.
O governo de Israel diz ter doado incubadoras e outros suprimentos ao hospital, mas tem resistido a liberar a entrada de combustível em Gaza, com o temor de que ele seja confiscado pelo Hamas. Apesar disso, uma pequena carga entrou pela fronteira com o Egito nesta manhã.
Ao menos seis bebês já morreram por falta de combustível para gerar a energia elétrica que alimenta as incubadoras, segundo médicos do hospital.
Não há detalhes sobre o escopo, a escala ou o prazo da operação dentro do hospital, que está incomunicável, segundo o NYT.
O diretor do hospital, Dr. Mohammed Abu Salmiya, disse que os médicos realizaram cirurgias na segunda-feira sem anestesia e oxigênio e que os pacientes morreram. O hospital teve que enterrar corpos em decomposição no local, disseram ele e autoridades de saúde de Gaza, que são comandadas pelo Hamas.
Os militares israelenses disseram que o objetivo do ataque de quarta-feira não era prejudicar os civis e que suas tropas estavam acompanhadas por equipes médicas fluentes em árabe. Os militares afirmaram num comunicado que as “autoridades relevantes em Gaza” foram avisadas na segunda-feira de que “todas as atividades militares dentro do hospital devem cessar dentro de 12 horas” e que não o fizeram.
Apoio americano
Na tarde de terça-feira, John F. Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, disse que a inteligência recolhida de fontes geradas pelos EUA mostrava que o Hamas tinha utilizado hospitais em Gaza, incluindo Al-Shifa, como centros de comando e depósitos de munições. Ele se recusou a fornecer detalhes sobre a inteligência, mas disse que ela veio de “uma variedade de nossos próprios métodos de inteligência”.
O Hamas divulgou um comunicado dizendo que considera o Exército de Israel e o presidente Biden “totalmente responsáveis” pelo ataque, dizendo que a Casa Branca deu “luz verde” a Israel com os comentários de Kirby.
Expectativas
De qualquer forma, as autoridades israelenses esperam que o controle militar sobre o hospital possa ser apresentado como uma vitória simbólica para o público israelita, de acordo com um funcionário israelita que falou anonimamente para discutir um assunto delicado.
A operação ocorreu no momento em que o governo deliberava se concordaria com uma pausa nos combates, bem como com um acordo para trocar prisioneiros palestinos em Israel por alguns dos cerca de 240 reféns sequestrados em Gaza em 7 de outubro, de acordo com autoridades e diplomatas informados sobre a situação. negociações.
Antes da operação, a Organização Mundial da Saúde disse que o hospital havia parado de funcionar e os funcionários do hospital descreveram condições sombrias para os pacientes. Eles disseram que os remédios, os anestésicos e o combustível praticamente acabaram, desligando geradores e equipamentos salva-vidas. As autoridades disseram que cerca de três dúzias de bebês prematuros corriam risco particular.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Jordânia condenou a entrada de forças do exército israelita no Hospital Al-Shifa na quarta-feira como uma violação do direito internacional, particularmente da Convenção de Genebra para a Protecção de Pessoas Civis em Tempo de Guerra./ AFP, NYT e W. POST