Em 2007, visitei a Libéria pela primeira vez. O país ainda se reconstruía. Mas uma informação confesso que me marcou. O governo local receberia a visita de George W. Bush e, para garantir que ele chegasse à Monrovia, decidiram construir às pressas uma estrada entre o aeroporto e a cidade. Tinham um só problema: o prazo para a obra era curtíssimo. Encontraram apenas um candidato disposto a completar a estrada no tempo estipulado: a China.
Hoje, na OMC em Genebra, a China passou por sua sabatina sobre sua política comercial. 1730 perguntas lançadas contra os chineses por todo o mundo. Críticas e mais críticas.
Mas uma informação me chamou a atenção. Pequim anunciou que, até 2015, enviaria aos paises mais pobres 3 mil agrônomos e técnicos para ajudar na produção. Para a China, uma gota d´água em termos de sua população. Mas, diplomaticamente, um verdadeiro ato de política externa, capaz de trazer para sua órbita vários governos em diversas regiões, além de impôr seus métodos de produção e sua cultura.
Não anunciaram o envio de tanques, nem de alimentos despejados a partir de helicópteros a famintos. Anunciaram o envio de 3 mil profissionais para ajudar a África a produzir.
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Do Sudão à Libéria, doações chinesas fazem parte já do cenário. Dezenas de "pontes da amizade" foram construídas pelos chineses pela África nos últimos anos. Cerca de 30 estádios de futebol também entraram nas "doações".
Mas Pequim não esconde que seu avanço não irá parar. A suposta solidariedade vem repleta de interesses comerciais. Desde 2009, a China já é o maior parceiro comercial da África, suplantando os americanos e europeus. O "safari chinês" também garantiu o abastecimento de energia e minérios.
Mas essa presença também tende a moldar o cenário político e até no comportamento de muitos. Em Abuja, o melhor restaurante da cidade é um chinês. Trabalhadores chineses já começaram a se casar com mulheres africanas, ainda que poucos sejam aqueles que tenham a coragem de leva-las de volta para a China. Um recente artigo do New York Times revelou como a censura contra a imprensa na África tem ganhado novos contornos, justamente como influência chinesa.
O primeiro desembarque chines na África ocorreu há 600 anos, quando o almirante Zheng He chegou às contas do Quênia, muito antes que os portugueses. No início do século XX, 60 mil chineses chegaram à África do Sul para trabalhar nas minas de ouro. Hoje, a estima é de que 1 milhão de chineses estão vivendo na África. E não sairão tão cedo. Pelo menos enquanto houver petróleo e minérios.