O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, trabalha nesta semana na confirmação dos nomes que devem compor o gabinete do seu novo governo. Até o momento, a maior incerteza em relação às indicações encontra-se na pasta mais sensível — e de maior impacto — em meio à crise da Argentina: o ministério da Economia.
Na quinta-feira, 23, o futuro chefe de gabinete do governo de Milei, Nicolás Posse, reuniu-se com o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro das Finanças da Argentina, Luis “Toto” Caputo, aumentando as expectativas em torno à indicação do economista para o cargo de ministro da Economia na administração do político libertário.
“Toto” Caputo foi recomendado a Milei por Santiago Caputo, sobrinho do economista. Santiago é um consultor político de 38 anos apontado como o “arquiteto da vitória” do presidente eleito. Luis Caputo foi ministro das Finanças e presidente do Banco Central do país durante a presidência de Mauricio Macri. Ele estudou no mesmo colégio de Macri e é primo de um dos melhores amigos do ex-presidente
A nomeação seria uma maneira de evitar uma crise política interna com o grupo ligado ao ex-presidente argentino, que apoiou Milei no segundo turno e foi um dos pilares para conseguir votos da centro-direita para Milei.
O encontro, que foi mantido em secreto até ser revelado por membros da Associação de Empresários da Argentina, ocorre após a queda do nome de Emilio Ocampo — um dos principais colaboradores do plano econômico de Milei — como possível indicado ao Banco Central.
Na quarta-feira, 22, Milei disse em entrevista a um canal argentino de televisão o economista teria a “expertise necessária” para ser o chefe da pasta de Economia durante seu governo. Caputo é “alguém em condições de estar nessa posição, sem dúvida”, disse Milei. “Ele é alguém que tem a expertise necessária para desarmar o problema monetário que temos e encontrar uma solução de mercado financeiro para acabar com o problema da dívida do banco central e os controles de moeda”, afirmou o libertário.
Caputo, de 58 anos, é formado em economia pela Universidade de Buenos Aires e é professor de economia e finanças na Universidade Católica da Argentina. Sua experiência em Wall Street catapultou seu prestígio nacional, e durante o governo de Mauricio Macri, chegou a liderar entre 2015 e 2017 a Secretaria de Finanças, e posteriormente o Banco Central.
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Antes, Caputo trabalhou no banco de investimentos americano JP Morgan como chefe de Trading para a América Latina entre 1994 e 1998 e, depois disso, liderou a filial argentina do Deutsche Bank.
Na Secretaria de Finanças, que depois viraria ministério, Caputo teve a tarefa de comandar o retorno da Argentina aos mercados internacionais e garantir financiamento externo em um contexto macroeconômico complicado para o país, que havia herdado a inadimplência de Cristina Kirchner diante dos credores globais. Caputo foi um dos principais atores na negociação que a Argentina realizou com o Fundo Monetário Internacional na era Macri, em que
“Caputo é uma pessoa de muito prestígio no setor financeiro nacional”, disse o economista argentino Fabio Rodríguez em entrevista ao Estadão. Ele foi encarregado do difícil processo de restruturação da dívida Argentina, e Macri confia muito nele. É um nome que liderou a economia nos momentos de abertura nacional e também nos piores momentos do governo de Macri”.
“Ele não conseguiu dominar a crise, mas seus resultados deixaram bastante satisfeitos a uma boa parcela do setor financeiro, que viu com bons olhos seu trabalho”, afirmou Rodríguez
De acordo com o economista, Caputo não estava na lista de equipes e nomes de confiança de Milei, mas com a mudança de estratégia do libertário, o nome de confiança de Macri pode ser confirmado como o líder da economia argentina nos próximos dias.
“As negociações com Caputo são resultado direto da aproximação entre Macri e Milei. Mas outra leitura importante disto é que Milei estaria buscando um funcionário que o ajudasse a trazer de volta os financiamentos internacionais que a Argentina tanto precisa, deixando para outro momento a proposta de dolarização, da qual Caputo não é favorável”, explicou Rodríguez ao Estadão.
Nesta semana, o presidente eleito afirmou que não levantaria os controles cambiários até estabilizar a situação da dívida a curto prazo do Banco Central.
Luis Caputo é casado e tem seis filhos. Ele foi colega de escola de Macri.