LONDRES - O ex-líder do Partido Trabalhista da Grã-Bretanha, Jeremy Corbyn, não será readmitido como Membro Trabalhista do Parlamento (MP) depois de minar os esforços para combater o antissemitismo, disse o atual líder Keir Starmer nesta quarta-feira, 18.
A decisão deve aprofundar as divisões no principal partido da oposição, alguns dos quais permanecem ferozmente leais a Corbyn, 71, que comandou o partido por quase cinco anos e revigorou os apoiadores de esquerda ao seguir uma agenda fortemente socialista.
A situação explodiu no final de outubro quando a Comissão de Igualdade e Direitos Humanos, um órgão britânico independente, decidiu que sob a liderança de Corbyn o Partido Trabalhista minimizou, subestimou ou ignorou as queixas de seus membros judeus de antissemitismo e às vezes interferiu para proteger os acusados.
Em um relatório, a comissão denunciou o assédio, a discriminação e a falta de vontade de combater as ações.
Defensor de longa data da causa palestina e membro da ala mais esquerdista do Partido Trabalhista, Corbyn reconheceu em 2018 que havia um "problema real" internamente e que havia sido "muito lento" para impor sanções.
Mas não foi o suficiente para reprimir a indignação dos judeus britânicos.
Principalmente quando, em reação à denúncia, o ex-sindicalista de 71 anos defendeu sua gestão, garantindo que “o problema foi dramaticamente exagerado por motivos políticos por opositores dentro e fora do partido.”
Essa resposta levou à sua suspensão por três semanas para conduzir uma investigação sobre sua conduta.
O novo líder, o centrista Keir Starmer, um ex-advogado de 58 anos que sucedeu Corbyn em abril, pediu então ao partido que evitasse uma fratura interna.
“Não quero uma divisão. Candidatei-me às eleições assumindo que iria unir esse partido, mas também para enfrentar o antissemitismo”, disse ele. “Podemos fazer as duas coisas. Não há razão para haver uma guerra civil”, acrescentou.
Reações mistas dentro do Partido Trabalhista
Após sua suspensão, Corbyn recebeu forte apoio de sindicalistas e membros da ala mais à esquerda do partido.
Afastar o homem que relançou a popularidade do Partido Trabalhista, atraindo tantos novos membros que o tornou o maior partido da Europa, ameaçou reacender tensões internas entre radicais e moderados.
O ex-líder afirmou pelo Twitter que estava "feliz" e convocou o partido a "derrotar o governo conservador profundamente prejudicial" de Boris Johnson.
Corbyn foi readmitido ao partido na terça-feira depois de ser suspenso por comentários que minimizaram o relatório crítico do tratamento trabalhista das queixas de antissemitismo sob sua liderança.
Ele disse que não tinha a intenção de exacerbar ou prolongar a dor que as acusações de antissemitismo causaram à comunidade judaica.
“Nunca devemos tolerar o anti-semitismo ou menosprezar as preocupações sobre ele”, disse, em declaração feita na terça-feira.
Mas Starmer, afastado desta primeira decisão que descreveu como "mais um dia doloroso para a comunidade judaica", optou um dia depois por não o reinstalar na bancada do Partido Trabalhista, o que significa que ele não representaria oficialmente o Partido Trabalhista no parlamento e continuaria a ser classificado como um MP “independente.”
“As ações de Jeremy Corbyn em resposta ao relatório da Comissão de Igualdade e Direitos Humanos minaram e atrasaram nosso trabalho de restaurar a confiança na capacidade do Partido Trabalhista de combater o antissemitismo”, tuitou Starmer.
“Vou manter esta situação sob revisão”, disse ele.
A atitude foi aplaudida pelo grupo Trabalhismo Contra o Antisemitismo, para quem "a autoridade de Keir Starmer foi completamente minada pelo levantamento da suspensão de ontem."
No entanto, para a organização Momentum, o grande apoio de Corbyn dentro do partido, sua expulsão do grupo parlamentar "é um ataque político flagrante à esquerda em um momento em que o Trabalhismo deveria se unir para enfrentar os Conservadores."
"Um painel disciplinar descobriu que Jeremy Corbyn não violou nenhuma regra, então agora Keir Starmer está inventando no caminho", disse seu copresidente Andrew Scattergood, abrindo ainda mais a lacuna entre as duas alas.
Corbyn ainda não comentou a decisão de Starmer. /AFP, Reuters