Assassinado nesta quarta-feira, 7, no Haiti, Jovenel Moise construiu uma carreira empresarial de sucesso antes de assumir o cargo de presidente do país.
Muito isolado nos últimos meses, com um Parlamento suspenso e governando por decreto, ele encerrou tragicamente seu mandato aos 53 anos, vítima de um comando.
Pai de dois filhos, foi incapaz de deter a espiral descendente do país, o mais pobre do continente americano, mas em particular a violência que assola seus habitantes, principalmente aquela promovida por gangues na capital Porto Príncipe.
De origem modesta, seu pai era mecânico e agricultor e sua mãe costureira e comerciante. Ele nasceu em 26 de junho de 1968 em Trou du Nord, no nordeste, e mudou-se em 1974 com sua família para Porto Príncipe, onde estudou na Faculdade de Ciências da Educação da Universidade Haitiana Quisqueya.
Em 1996, já casado com Martine Etienne Joseph, voltou à sua região de origem com um sonho: fazer do Haiti um país "essencialmente agrícola" a partir do desenvolvimento do interior.
Criou então, com fundos de capital privado, uma empresa de autopeças ao mesmo tempo em que instalava em um campo uma primeira plantação de banana de 10 hectares.
Sua plantação de banana orgânica é a maior do país, com quase mil hectares. Dali saiu o apelido cunhado após sua entrada na corrida presidencial: "Nèg Bannan nan", "o homem da banana", em língua crioula.
Sensibilizado com a importância da água potável no país castigado, fez parceria com a empresa especializada Culligan e em 2001 abriu uma unidade de distribuição nas províncias do nordeste e do noroeste. A partir daí se interessou pela eletrificação regional e criou em 2008 junto com diversos sócios uma empresa neste setor.
Em 2012, inaugurou a primeira zona franca agrícola do Haiti e estabeleceu sua empresa Agritrans, para a qual obteve um empréstimo participativo de US $ 6 milhões do governo daquele que seria seu antecessor, Michel Martelly.
De acordo com o site oficial de Moise, esse mecanismo possibilitou o desenvolvimento de dezenas de projetos agrícolas e "a geração de cerca de 3 mil empregos diretos e 10 mil indiretos".
Foi em 2015 que Moise rumou para a política. Poucos meses depois, foi eleito para governar o país, após um processo eleitoral acidentado e longo.
A sua entrada na política também é atribuída a Martelly, que, impedido de concorrer a um segundo mandato, o escolheu em 2015 para representar o seu partido, o Tet Kale (PHTK), garantindo assim a sua sucessão.
Começou então uma intensa campanha eleitoral - especialmente nas redes sociais ainda subestimadas pela classe política tradicional - financiada por grandes industriais e membros da elite econômica, a mesma minoria rica que cercava Martelly.
Uma vez eleito, Moise prometeu acabar com a corrupção galopante. Mas em pouco tempo, alguns de seus próprios colaboradores foram acusados de desvio de verbas públicas.
Ano após ano, as investigações parlamentares, de algumas ONGs ou do Tribunal de Contas, confirmaram que a corrupção reina nas instituições haitianas, apesar das constantes mudanças de ministros e altos funcionários.
Como grande parte da classe política que atuou antes dele, Moise teve dificuldade em explicar o destino do dinheiro obtido com o programa Petrocaribe, lançado pelo falecido presidente venezuelano Hugo Chávez para permitir aos países caribenhos comprar petróleo barato.
Moise nomeou sete primeiros-ministros em quatro anos e não conseguiu concretizar uma importante reforma constitucional que buscava, o que gerou críticas até mesmo em seu próprio campo.
O trágico fim de seu mandato foi precedido por outra amarga polêmica, decorrente de sua determinação de permanecer no cargo até 7 de fevereiro de 2022, enquanto que para a oposição e parte da sociedade civil seu mandato terminou em 7 de fevereiro de 2021.
A divergência se deveu ao fato de ter sido eleito em uma votação anulada por fraude e reeleito um ano depois. /AFP