A vice-presidente Kamala Harris apresentou a eleição como a escolha entre duas visões diferentes para os Estados Unidos: a sua, com foco no futuro, e a de Donald Trump, que seria um “retrocesso”. Muito aplaudida pela multidão, ela deu a largada na campanha com o comício da tarde desta terça-feira, 23, em Wisconsin, um Estado-chave, e apelou diretamente à classe média, eleitorado que será decisivo.
“Nós estamos focados no futuro. A outra campanha, no passado. Acreditamos num futuro em que todas as pessoas tenham a oportunidade, não apenas de sobreviver, mas de progredir”, destacou ao listar sua visão de futuro. “Tudo isso para dizer que a construção da classe média será uma meta determinante da minha presidência.”
Em oposição, ela citou o Projeto 2025, programa conservador para o próximo governo republicano do qual Donald Trump tem tentado se desvencilhar. “Trump quer fazer o país retroceder. Ele o seu Projeto 2025 extremista querem enfraquecer a classe média”, seguiu, afirmando que o republicano quer cortar benefícios sociais e, ao mesmo tempo, aliviar os impostos para os mais ricos.
“Mas nós não vamos retroceder!”, exclamou, interrompida pela multidão aos gritos de “we’re not going back”.
Além da ideia de futuro versus retrocesso, Harris se contrapôs a Donald Trump ao afirmar que ele “conta com o apoio de bilionários e grandes corporações” enquanto ela faz uma campanha “do povo”. E celebrou as doações recordes que recebeu desde domingo, quando Joe Biden desistiu de tentar a reeleição e passou a apoiá-la.
Kamala repetiu que conhece o “tipo de Donald Trump” e, assim como fez ontem ao falar do QG de campanha, equiparou o adversário com criminosos que processou enquanto promotora na Califórnia. “Terei orgulho de comparar meu histórico com o dele.”
O comício foi planejado quando Kamala Harris ainda era candidata a vice-presidente e sua equipe precisou buscar de última hora um lugar maior para o evento. Pouco antes do discurso, o seu porta-voz Kevin Munoz disse que esperava receber cerca de 3 mil pessoas, participação maior que qualquer evento de campanha liderado por Joe Biden.
Kamala aproveitou a oportunidade para defender o seu governo, e exaltou o democrata como um presidente com “legado incomparável”. Mas dedicou mais tempo a falar do futuro e de propostas, como a proibir armas de assalto e a ampliar o acesso ao aborto por meio de lei.
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“Nós, que acreditamos na liberdade reprodutiva, vamos parar as proibições extremas de aborto de Donald Trump porque confiamos que as mulheres podem tomar decisões sobre seu próprio corpo”, disse aos apoiadores. “Quando o Congresso aprovar uma lei para restaurar as liberdades reprodutivas, como presidente dos Estados Unidos, eu a assinarei”, prometeu.
Trump costuma se vangloriar por ter indicado juízes conservadores que derrubaram Roe versus Wade, mas o que pareceu uma vitória contribuiu com a mobilização dos democratas nas eleições de meio de mandato. Agora, enquanto o republicano busca uma posição mais moderada, que a decisão cabe aos Estados, os adversários tentam colar nele as leis mais restritivas adotadas após a mudança no entendimento da Suprema Corte.
Suas propostas — fortalecer a classe média e os sindicatos e expandir o acesso ao aborto — são essencialmente as mesmas de Joe Biden na campanha à reeleição. O que mudou foi o mensageiro. A multidão gritava ao ouvir o discurso de Kamala Harris que concluiu se opondo a Donald Trump mais uma vez.
“A questão é: que tipo de país queremos viver? O país da liberdade, da compaixão, do respeito às leis? Ou o país do caos, do medo e do ódio? A beleza desse momento é que temos o poder de responder a essa questão”.
O comício marca a largada na campanha de Kamala Harris, que deve ser confirmada para disputar a Casa Branca. Depois de conquistar mais delegados que o necessário para ser nomeada, ela recebeu apoio formal dos líderes do partido no Senado, Chuck Schumer, e na Câmara, Hakeem Jeffries. Até então, eles adotavam uma postura mais cautelosa enquanto os democratas embarcavam rapidamente na candidatura./COM NY TIMES