PYONGYANG - O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un supervisionou o lançamento de um novo míssil balístico intercontinental em sua primeira aparição pública ao lado da filha, informou neste sábado, 19, a agência estatal KCNA. Analistas dizem que ainda é cedo para inferir o que esta aparição significa, mas observam que a menina, cujo nome não foi revelado, surge como possível sucessora do líder.
Kim posou para fotos ao lado da esposa e da filha, na primeira referência da imprensa estatal a seus filhos. As imagens mostram o ditador ao lado de uma menina de casaco branco e sapatos vermelhos caminhando diante do míssil. A imprensa não divulgou o nome da filha de Kim Jong-un.
Na sexta-feira, 18, Kim já havia declarado que responderá às ameaças nucleares dos Estados Unidos com suas próprias armas nucleares ao supervisionar o disparo do míssil que, segundo a KCNA, era um Hwasong-17, uma arma que especialistas denominaram “míssil monstro”. O lançamento do novo projétil foi um sucesso, também de acordo com a KCNA, que destacou como “o teste demonstrou claramente a confiabilidade do novo sistema de armas estratégicas”.
Quarta geração
O mais significativo sobre o lançamento do ICBM na sexta-feira é “a permanência do programa armamentista do regime de Kim, porque é parte integrante da sobrevivência e da continuidade” do reinado de sua família, declarou à AFP a ex-analista da CIA Soo Kim, que agora trabalha para o centro de pesquisas Rand Corporation.
Ao comentar a cobertura da imprensa estatal, ela resumiu: “Vimos com nossos próprios olhos a quarta geração da família Kim”.
Kim Jong-un - que é neto do fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung, e a terceira geração que está no poder - se casou com Ri Sol-ju em 2009, segundo a agência de inteligência da Coreia do Sul, já que pouco é revelado sobre a vida pessoal do líder norte-coreano pela imprensa local. Um ano depois o casal teve o primeiro filho e os seguintes nasceram em 2013 e 2017, de acordo com a agência sul-coreana.
A única confirmação anterior a respeito dos filhos de Kim veio do ex-astro da NBA Dennis Rodman, que visitou a Coreia do Norte em 2013 e afirmou ter conhecido a filha bebê de Kim, chamada Ju-ae.
Analistas acreditam que a menina que aparece nas fotos é Ju-ae, que provavelmente é a segunda filha de Kim, afirmou Cheong Seong-chang, do Centro de Estudos sobre a Coreia do Norte no Instituto Sejong, na Coreia do Sul.
Linhagem Paektu
As identidades dos filhos de Kim são uma fonte de forte interesse externo, já que o governante de 38 anos não nomeou publicamente um herdeiro aparente.
Quando ele desapareceu dos olhos do público por um longo período em 2020 em meio a rumores não confirmados sobre problemas de saúde, explodiram especulações sobre quem seria o próximo na fila para governar um país empobrecido, mas com armas nucleares. Muitos observadores disseram na época que a irmã mais nova de Kim, Kim Yo-jong, entraria em cena e governaria o país se seu irmão estivesse incapacitado.
A família Kim governa a Coreia do Norte em torno do culto a uma personalidade forte, construída em torno de membros importantes da família desde que seu avô fundou o país em 1948. A chamada linhagem Paektu da família, em homenagem à montanha mais sagrada do Norte, permite apenas membros diretos da família para governar o país.
“É muito cedo para inferir qualquer coisa sobre a sucessão dentro do regime de Kim”, disse Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha, em Seul. “No entanto, incluir publicamente sua esposa e filha no que Kim afirma ser um teste de míssil historicamente bem-sucedido associa o negócio familiar de governar a Coreia do Norte junto aos programas de mísseis do país.”
“Esta pode ser uma tentativa de compensar as poucas realizações econômicas de Kim para apoiar sua legitimidade doméstica”, disse Easley.
O analista Cheong Seong-Chang disse que se Kim continuar a levar sua filha a eventos públicos importantes, isso pode sinalizar que ela se tornará a sucessora de Kim. “Sob o sistema da Coreia do Norte, os filhos de Kim Jong-un teriam o status de príncipe ou princesa, como em uma dinastia. Como o jornal Rodong Sinmnum divulgou a foto da filha, que tanto se parecia com Kim Jong-un e Ri Sol-ju, ela não tem escolha a não ser viver uma vida especial”, disse Cheong.
Precedentes
Outros observadores dizem que Kim levando sua família a um local de teste de míssil indicou que ele estava confiante no lançamento bem-sucedido da arma, ou que ele pode ter tentado polir uma imagem de líder normal, incluindo sua família em seus negócios. A revelação da menina pegou muitos observadores da Coreia do Norte de surpresa.
Foi apenas em 2010 que Kim, então com 26 anos, foi mencionado publicamente pela primeira vez na mídia estatal ao assumir uma série de cargos importantes antes de herdar o poder após a morte de seu pai, Kim Jong-il, no ano seguinte.
Kim Jong-il também tinha 31 anos quando conquistou um cargo importante no Partido dos Trabalhadores em 1973 - uma nomeação vista como um passo fundamental no caminho para suceder seu pai, Kim Il-sung. A posição de Kim Jong-il como sucessor foi tornada pública no congresso do partido em 1980.
Segundo Cheong, Kim Jong-il afirmou em particular a associados em 1992 que Kim Jong-un, seu terceiro filho e o mais novo, o sucederia. Cheong disse que a tia de Kim e seu marido, que havia desertado para os Estados Unidos, lhe disseram que uma música elogiando Kim Jong-un foi tocada e que Kim Jong-il disse que Kim Jong-un era seu sucessor no aniversário de 8 anos do menino.
“Kim Jong-un pode ter sua filha, que mais se parece com ele em sua mente, como sua sucessora”, disse Cheong./AFP e AP