Lei Seca ainda sobrevive nos EUA, 100 anos depois


Após um século, americanos ainda convivem com resquícios do período proibicionista, um dos mais marcantes da história do país

Por Sébastien Duval
Atualização:

BALTIMORE - Há 100 anos, no dia 17 de janeiro de 1920, entrava em vigor a 18.ª Emenda à Constituição americana, que mergulhou o país por mais de uma década na Lei Seca, famosa por seus contrabandistas, mafiosos e bares clandestinos. Um século depois, os EUA ainda não fecharam completamente esse capítulo, um dos mais marcantes de sua história.

Clientes e funcionários do bar nova-iorquino Mc Sorley's Old Ale House posam para uma foto pouco antes do início da Lei Seca, em 13 de janeiro de 1920 Foto: W.A. Sprinkle/McSorley's Old Ale House via AP

Na época, duas grandes corujas enfeitavam o luxuoso bar do Hotel Belvedere, em Baltimore. Sem que ninguém dissesse nada, os fregueses observavam de perto as aves. Se elas piscassem, a festa começava: era um sinal de que o bar tinha acabado de receber um novo lote de bebida ilegal, um aviso de que não havia policiais por perto e os clientes poderiam beber em paz.

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A Lei Seca (que em inglês era chamada de Proibição) criou um volume grande de histórias e de locais como o Hotel Belvedere. Idealizada por Hollywood – em filmes como Os Intocáveis e Estrada para Perdição – e na literatura, ela marcou a mentalidade dos americanos.

Hoje, algumas cidades dos EUA assistem a um ressurgimento de festas temáticas dos anos 20 ou de bares inspirados nos chamados “speakeasies”, estabelecimentos clandestinos onde os clientes podiam beber cervejas e uísques contrabandeados. “Há uma nostalgia da mitologia dos anos 20”, afirma o historiador Michael Walsh, sentado no Owl Bar, do Hotel Belvedere, que ainda exibe uma das famosas corujas.

Barman prepara drinques no Owl Bar em Baltimore, Maryland Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP
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Segundo Walsh, a Lei Seca foi fruto de uma convergência de lutas que visavam muito além do alcoolismo endêmico da época e afetavam todos os aspectos da sociedade americana: religião, política, gênero e raça. “Diante do número considerável de violência conjugal, as mulheres formaram movimentos, entre eles a União Cristã de Mulheres da Abstinência, que lideraram a luta contra o consumo de álcool”, disse.

O “nobre experimento”, como o presidente Herbert Hoover o definiu, acabou em 1933, quando Franklin Roosevelt chegou ao poder em um país abalado pela Grande Depressão. A proibição da produção, da venda e do transporte de álcool criou um mercado negro explorado pelo crime organizado, que se expandiu pelos EUA, criando figuras míticas como Al Capone.

A 18.ª Emenda à Constituição americana é a única da história do país a ter sido abolida. Mas, para Walsh, que escreveu um livro sobre o tema, a Proibição não foi de todo ruim. “Nem tudo é preto no branco”, afirmou, apontando para uma redução das taxas de divórcios, de casos de cirrose e de admissões em hospitais psiquiátricos.

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Barris de cerveja são destruídos por agentes em Nova York, em junho de 1931 Foto: AP

A regulamentação do álcool acabou se tornando responsabilidade dos Estados americanos, que repassaram, em muitos casos, o estabelecimento de regras aos municípios. O resultado foi um emaranhado de leis que variam de condado para condado. Atualmente, existem centenas de “condados secos” e de “cidades secas” nos EUA, principalmente nos Estados religiosos do célebre Cinturão da Bíblia, como Kentucky e Arkansas. Neles, a venda de álcool é restrita ou proibida. Ironicamente, é o caso do condado de Moore, no Tennessee, onde fica a destilaria de uísque Jack Daniels.

Outro resquício dessa era que é menos conhecido é o Partido Proibicionista. Fundado em 1869, atualmente é o terceiro partido político mais antigo dos EUA. A legenda tem um camelo como mascote e apresentará, como faz a cada quatro anos, um candidato às eleições presidenciais de novembro.

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Nesta foto, de 1930, Rae Samuels segura a última garrafa de cerveja destilada antes da Lei Seca chegar a Chicago Foto: AP

“Após a abolição da Proibição, muitas pessoas ainda compactuavam com os princípios do partido de lembrar as pessoas dos efeitos prejudiciais que o álcool pode ter em termos de doenças ou acidentes de trânsito”, disse o atual candidato presidencial do partido, Phil Collins.

Os proibicionistas esperam sair das urnas em novembro com um resultado melhor do que os 5 mil votos que tiveram em 2016. Donald Trump perdeu o irmão mais velho Fred em decorrência do alcoolismo e é abstêmio convicto. Em campanha pela reeleição, o presidente não prometeu restabelecer a Lei Seca nos EUA – por enquanto.

BALTIMORE - Há 100 anos, no dia 17 de janeiro de 1920, entrava em vigor a 18.ª Emenda à Constituição americana, que mergulhou o país por mais de uma década na Lei Seca, famosa por seus contrabandistas, mafiosos e bares clandestinos. Um século depois, os EUA ainda não fecharam completamente esse capítulo, um dos mais marcantes de sua história.

Clientes e funcionários do bar nova-iorquino Mc Sorley's Old Ale House posam para uma foto pouco antes do início da Lei Seca, em 13 de janeiro de 1920 Foto: W.A. Sprinkle/McSorley's Old Ale House via AP

Na época, duas grandes corujas enfeitavam o luxuoso bar do Hotel Belvedere, em Baltimore. Sem que ninguém dissesse nada, os fregueses observavam de perto as aves. Se elas piscassem, a festa começava: era um sinal de que o bar tinha acabado de receber um novo lote de bebida ilegal, um aviso de que não havia policiais por perto e os clientes poderiam beber em paz.

A Lei Seca (que em inglês era chamada de Proibição) criou um volume grande de histórias e de locais como o Hotel Belvedere. Idealizada por Hollywood – em filmes como Os Intocáveis e Estrada para Perdição – e na literatura, ela marcou a mentalidade dos americanos.

Hoje, algumas cidades dos EUA assistem a um ressurgimento de festas temáticas dos anos 20 ou de bares inspirados nos chamados “speakeasies”, estabelecimentos clandestinos onde os clientes podiam beber cervejas e uísques contrabandeados. “Há uma nostalgia da mitologia dos anos 20”, afirma o historiador Michael Walsh, sentado no Owl Bar, do Hotel Belvedere, que ainda exibe uma das famosas corujas.

Barman prepara drinques no Owl Bar em Baltimore, Maryland Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Segundo Walsh, a Lei Seca foi fruto de uma convergência de lutas que visavam muito além do alcoolismo endêmico da época e afetavam todos os aspectos da sociedade americana: religião, política, gênero e raça. “Diante do número considerável de violência conjugal, as mulheres formaram movimentos, entre eles a União Cristã de Mulheres da Abstinência, que lideraram a luta contra o consumo de álcool”, disse.

O “nobre experimento”, como o presidente Herbert Hoover o definiu, acabou em 1933, quando Franklin Roosevelt chegou ao poder em um país abalado pela Grande Depressão. A proibição da produção, da venda e do transporte de álcool criou um mercado negro explorado pelo crime organizado, que se expandiu pelos EUA, criando figuras míticas como Al Capone.

A 18.ª Emenda à Constituição americana é a única da história do país a ter sido abolida. Mas, para Walsh, que escreveu um livro sobre o tema, a Proibição não foi de todo ruim. “Nem tudo é preto no branco”, afirmou, apontando para uma redução das taxas de divórcios, de casos de cirrose e de admissões em hospitais psiquiátricos.

Barris de cerveja são destruídos por agentes em Nova York, em junho de 1931 Foto: AP

A regulamentação do álcool acabou se tornando responsabilidade dos Estados americanos, que repassaram, em muitos casos, o estabelecimento de regras aos municípios. O resultado foi um emaranhado de leis que variam de condado para condado. Atualmente, existem centenas de “condados secos” e de “cidades secas” nos EUA, principalmente nos Estados religiosos do célebre Cinturão da Bíblia, como Kentucky e Arkansas. Neles, a venda de álcool é restrita ou proibida. Ironicamente, é o caso do condado de Moore, no Tennessee, onde fica a destilaria de uísque Jack Daniels.

Outro resquício dessa era que é menos conhecido é o Partido Proibicionista. Fundado em 1869, atualmente é o terceiro partido político mais antigo dos EUA. A legenda tem um camelo como mascote e apresentará, como faz a cada quatro anos, um candidato às eleições presidenciais de novembro.

Nesta foto, de 1930, Rae Samuels segura a última garrafa de cerveja destilada antes da Lei Seca chegar a Chicago Foto: AP

“Após a abolição da Proibição, muitas pessoas ainda compactuavam com os princípios do partido de lembrar as pessoas dos efeitos prejudiciais que o álcool pode ter em termos de doenças ou acidentes de trânsito”, disse o atual candidato presidencial do partido, Phil Collins.

Os proibicionistas esperam sair das urnas em novembro com um resultado melhor do que os 5 mil votos que tiveram em 2016. Donald Trump perdeu o irmão mais velho Fred em decorrência do alcoolismo e é abstêmio convicto. Em campanha pela reeleição, o presidente não prometeu restabelecer a Lei Seca nos EUA – por enquanto.

BALTIMORE - Há 100 anos, no dia 17 de janeiro de 1920, entrava em vigor a 18.ª Emenda à Constituição americana, que mergulhou o país por mais de uma década na Lei Seca, famosa por seus contrabandistas, mafiosos e bares clandestinos. Um século depois, os EUA ainda não fecharam completamente esse capítulo, um dos mais marcantes de sua história.

Clientes e funcionários do bar nova-iorquino Mc Sorley's Old Ale House posam para uma foto pouco antes do início da Lei Seca, em 13 de janeiro de 1920 Foto: W.A. Sprinkle/McSorley's Old Ale House via AP

Na época, duas grandes corujas enfeitavam o luxuoso bar do Hotel Belvedere, em Baltimore. Sem que ninguém dissesse nada, os fregueses observavam de perto as aves. Se elas piscassem, a festa começava: era um sinal de que o bar tinha acabado de receber um novo lote de bebida ilegal, um aviso de que não havia policiais por perto e os clientes poderiam beber em paz.

A Lei Seca (que em inglês era chamada de Proibição) criou um volume grande de histórias e de locais como o Hotel Belvedere. Idealizada por Hollywood – em filmes como Os Intocáveis e Estrada para Perdição – e na literatura, ela marcou a mentalidade dos americanos.

Hoje, algumas cidades dos EUA assistem a um ressurgimento de festas temáticas dos anos 20 ou de bares inspirados nos chamados “speakeasies”, estabelecimentos clandestinos onde os clientes podiam beber cervejas e uísques contrabandeados. “Há uma nostalgia da mitologia dos anos 20”, afirma o historiador Michael Walsh, sentado no Owl Bar, do Hotel Belvedere, que ainda exibe uma das famosas corujas.

Barman prepara drinques no Owl Bar em Baltimore, Maryland Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Segundo Walsh, a Lei Seca foi fruto de uma convergência de lutas que visavam muito além do alcoolismo endêmico da época e afetavam todos os aspectos da sociedade americana: religião, política, gênero e raça. “Diante do número considerável de violência conjugal, as mulheres formaram movimentos, entre eles a União Cristã de Mulheres da Abstinência, que lideraram a luta contra o consumo de álcool”, disse.

O “nobre experimento”, como o presidente Herbert Hoover o definiu, acabou em 1933, quando Franklin Roosevelt chegou ao poder em um país abalado pela Grande Depressão. A proibição da produção, da venda e do transporte de álcool criou um mercado negro explorado pelo crime organizado, que se expandiu pelos EUA, criando figuras míticas como Al Capone.

A 18.ª Emenda à Constituição americana é a única da história do país a ter sido abolida. Mas, para Walsh, que escreveu um livro sobre o tema, a Proibição não foi de todo ruim. “Nem tudo é preto no branco”, afirmou, apontando para uma redução das taxas de divórcios, de casos de cirrose e de admissões em hospitais psiquiátricos.

Barris de cerveja são destruídos por agentes em Nova York, em junho de 1931 Foto: AP

A regulamentação do álcool acabou se tornando responsabilidade dos Estados americanos, que repassaram, em muitos casos, o estabelecimento de regras aos municípios. O resultado foi um emaranhado de leis que variam de condado para condado. Atualmente, existem centenas de “condados secos” e de “cidades secas” nos EUA, principalmente nos Estados religiosos do célebre Cinturão da Bíblia, como Kentucky e Arkansas. Neles, a venda de álcool é restrita ou proibida. Ironicamente, é o caso do condado de Moore, no Tennessee, onde fica a destilaria de uísque Jack Daniels.

Outro resquício dessa era que é menos conhecido é o Partido Proibicionista. Fundado em 1869, atualmente é o terceiro partido político mais antigo dos EUA. A legenda tem um camelo como mascote e apresentará, como faz a cada quatro anos, um candidato às eleições presidenciais de novembro.

Nesta foto, de 1930, Rae Samuels segura a última garrafa de cerveja destilada antes da Lei Seca chegar a Chicago Foto: AP

“Após a abolição da Proibição, muitas pessoas ainda compactuavam com os princípios do partido de lembrar as pessoas dos efeitos prejudiciais que o álcool pode ter em termos de doenças ou acidentes de trânsito”, disse o atual candidato presidencial do partido, Phil Collins.

Os proibicionistas esperam sair das urnas em novembro com um resultado melhor do que os 5 mil votos que tiveram em 2016. Donald Trump perdeu o irmão mais velho Fred em decorrência do alcoolismo e é abstêmio convicto. Em campanha pela reeleição, o presidente não prometeu restabelecer a Lei Seca nos EUA – por enquanto.

BALTIMORE - Há 100 anos, no dia 17 de janeiro de 1920, entrava em vigor a 18.ª Emenda à Constituição americana, que mergulhou o país por mais de uma década na Lei Seca, famosa por seus contrabandistas, mafiosos e bares clandestinos. Um século depois, os EUA ainda não fecharam completamente esse capítulo, um dos mais marcantes de sua história.

Clientes e funcionários do bar nova-iorquino Mc Sorley's Old Ale House posam para uma foto pouco antes do início da Lei Seca, em 13 de janeiro de 1920 Foto: W.A. Sprinkle/McSorley's Old Ale House via AP

Na época, duas grandes corujas enfeitavam o luxuoso bar do Hotel Belvedere, em Baltimore. Sem que ninguém dissesse nada, os fregueses observavam de perto as aves. Se elas piscassem, a festa começava: era um sinal de que o bar tinha acabado de receber um novo lote de bebida ilegal, um aviso de que não havia policiais por perto e os clientes poderiam beber em paz.

A Lei Seca (que em inglês era chamada de Proibição) criou um volume grande de histórias e de locais como o Hotel Belvedere. Idealizada por Hollywood – em filmes como Os Intocáveis e Estrada para Perdição – e na literatura, ela marcou a mentalidade dos americanos.

Hoje, algumas cidades dos EUA assistem a um ressurgimento de festas temáticas dos anos 20 ou de bares inspirados nos chamados “speakeasies”, estabelecimentos clandestinos onde os clientes podiam beber cervejas e uísques contrabandeados. “Há uma nostalgia da mitologia dos anos 20”, afirma o historiador Michael Walsh, sentado no Owl Bar, do Hotel Belvedere, que ainda exibe uma das famosas corujas.

Barman prepara drinques no Owl Bar em Baltimore, Maryland Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Segundo Walsh, a Lei Seca foi fruto de uma convergência de lutas que visavam muito além do alcoolismo endêmico da época e afetavam todos os aspectos da sociedade americana: religião, política, gênero e raça. “Diante do número considerável de violência conjugal, as mulheres formaram movimentos, entre eles a União Cristã de Mulheres da Abstinência, que lideraram a luta contra o consumo de álcool”, disse.

O “nobre experimento”, como o presidente Herbert Hoover o definiu, acabou em 1933, quando Franklin Roosevelt chegou ao poder em um país abalado pela Grande Depressão. A proibição da produção, da venda e do transporte de álcool criou um mercado negro explorado pelo crime organizado, que se expandiu pelos EUA, criando figuras míticas como Al Capone.

A 18.ª Emenda à Constituição americana é a única da história do país a ter sido abolida. Mas, para Walsh, que escreveu um livro sobre o tema, a Proibição não foi de todo ruim. “Nem tudo é preto no branco”, afirmou, apontando para uma redução das taxas de divórcios, de casos de cirrose e de admissões em hospitais psiquiátricos.

Barris de cerveja são destruídos por agentes em Nova York, em junho de 1931 Foto: AP

A regulamentação do álcool acabou se tornando responsabilidade dos Estados americanos, que repassaram, em muitos casos, o estabelecimento de regras aos municípios. O resultado foi um emaranhado de leis que variam de condado para condado. Atualmente, existem centenas de “condados secos” e de “cidades secas” nos EUA, principalmente nos Estados religiosos do célebre Cinturão da Bíblia, como Kentucky e Arkansas. Neles, a venda de álcool é restrita ou proibida. Ironicamente, é o caso do condado de Moore, no Tennessee, onde fica a destilaria de uísque Jack Daniels.

Outro resquício dessa era que é menos conhecido é o Partido Proibicionista. Fundado em 1869, atualmente é o terceiro partido político mais antigo dos EUA. A legenda tem um camelo como mascote e apresentará, como faz a cada quatro anos, um candidato às eleições presidenciais de novembro.

Nesta foto, de 1930, Rae Samuels segura a última garrafa de cerveja destilada antes da Lei Seca chegar a Chicago Foto: AP

“Após a abolição da Proibição, muitas pessoas ainda compactuavam com os princípios do partido de lembrar as pessoas dos efeitos prejudiciais que o álcool pode ter em termos de doenças ou acidentes de trânsito”, disse o atual candidato presidencial do partido, Phil Collins.

Os proibicionistas esperam sair das urnas em novembro com um resultado melhor do que os 5 mil votos que tiveram em 2016. Donald Trump perdeu o irmão mais velho Fred em decorrência do alcoolismo e é abstêmio convicto. Em campanha pela reeleição, o presidente não prometeu restabelecer a Lei Seca nos EUA – por enquanto.

BALTIMORE - Há 100 anos, no dia 17 de janeiro de 1920, entrava em vigor a 18.ª Emenda à Constituição americana, que mergulhou o país por mais de uma década na Lei Seca, famosa por seus contrabandistas, mafiosos e bares clandestinos. Um século depois, os EUA ainda não fecharam completamente esse capítulo, um dos mais marcantes de sua história.

Clientes e funcionários do bar nova-iorquino Mc Sorley's Old Ale House posam para uma foto pouco antes do início da Lei Seca, em 13 de janeiro de 1920 Foto: W.A. Sprinkle/McSorley's Old Ale House via AP

Na época, duas grandes corujas enfeitavam o luxuoso bar do Hotel Belvedere, em Baltimore. Sem que ninguém dissesse nada, os fregueses observavam de perto as aves. Se elas piscassem, a festa começava: era um sinal de que o bar tinha acabado de receber um novo lote de bebida ilegal, um aviso de que não havia policiais por perto e os clientes poderiam beber em paz.

A Lei Seca (que em inglês era chamada de Proibição) criou um volume grande de histórias e de locais como o Hotel Belvedere. Idealizada por Hollywood – em filmes como Os Intocáveis e Estrada para Perdição – e na literatura, ela marcou a mentalidade dos americanos.

Hoje, algumas cidades dos EUA assistem a um ressurgimento de festas temáticas dos anos 20 ou de bares inspirados nos chamados “speakeasies”, estabelecimentos clandestinos onde os clientes podiam beber cervejas e uísques contrabandeados. “Há uma nostalgia da mitologia dos anos 20”, afirma o historiador Michael Walsh, sentado no Owl Bar, do Hotel Belvedere, que ainda exibe uma das famosas corujas.

Barman prepara drinques no Owl Bar em Baltimore, Maryland Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Segundo Walsh, a Lei Seca foi fruto de uma convergência de lutas que visavam muito além do alcoolismo endêmico da época e afetavam todos os aspectos da sociedade americana: religião, política, gênero e raça. “Diante do número considerável de violência conjugal, as mulheres formaram movimentos, entre eles a União Cristã de Mulheres da Abstinência, que lideraram a luta contra o consumo de álcool”, disse.

O “nobre experimento”, como o presidente Herbert Hoover o definiu, acabou em 1933, quando Franklin Roosevelt chegou ao poder em um país abalado pela Grande Depressão. A proibição da produção, da venda e do transporte de álcool criou um mercado negro explorado pelo crime organizado, que se expandiu pelos EUA, criando figuras míticas como Al Capone.

A 18.ª Emenda à Constituição americana é a única da história do país a ter sido abolida. Mas, para Walsh, que escreveu um livro sobre o tema, a Proibição não foi de todo ruim. “Nem tudo é preto no branco”, afirmou, apontando para uma redução das taxas de divórcios, de casos de cirrose e de admissões em hospitais psiquiátricos.

Barris de cerveja são destruídos por agentes em Nova York, em junho de 1931 Foto: AP

A regulamentação do álcool acabou se tornando responsabilidade dos Estados americanos, que repassaram, em muitos casos, o estabelecimento de regras aos municípios. O resultado foi um emaranhado de leis que variam de condado para condado. Atualmente, existem centenas de “condados secos” e de “cidades secas” nos EUA, principalmente nos Estados religiosos do célebre Cinturão da Bíblia, como Kentucky e Arkansas. Neles, a venda de álcool é restrita ou proibida. Ironicamente, é o caso do condado de Moore, no Tennessee, onde fica a destilaria de uísque Jack Daniels.

Outro resquício dessa era que é menos conhecido é o Partido Proibicionista. Fundado em 1869, atualmente é o terceiro partido político mais antigo dos EUA. A legenda tem um camelo como mascote e apresentará, como faz a cada quatro anos, um candidato às eleições presidenciais de novembro.

Nesta foto, de 1930, Rae Samuels segura a última garrafa de cerveja destilada antes da Lei Seca chegar a Chicago Foto: AP

“Após a abolição da Proibição, muitas pessoas ainda compactuavam com os princípios do partido de lembrar as pessoas dos efeitos prejudiciais que o álcool pode ter em termos de doenças ou acidentes de trânsito”, disse o atual candidato presidencial do partido, Phil Collins.

Os proibicionistas esperam sair das urnas em novembro com um resultado melhor do que os 5 mil votos que tiveram em 2016. Donald Trump perdeu o irmão mais velho Fred em decorrência do alcoolismo e é abstêmio convicto. Em campanha pela reeleição, o presidente não prometeu restabelecer a Lei Seca nos EUA – por enquanto.

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