GENEBRA - A Organização Mundial de Saúde (OMS) criticou nesta quinta-feira, 1º, a “inaceitável” lentidão da vacinação contra a covid-19 na Europa, que enfrenta a situação epidêmica “mais preocupante em meses”, agravada pela circulação de novas variantes, como a britânica – presente em 50 países da região.
“O ritmo lento da vacinação prolonga a pandemia”, lamentou o braço europeu da OMS, ressaltando que o número de novos casos na Europa aumentou fortemente nas últimas cinco semanas, levando vários países a impor novamente duras restrições contra a covid-19. Atualmente, 27 países europeus estão em confinamento total, ou parcial, dos quais 21 adotaram toque de recolher.
“As vacinas são a nossa melhor saída para a pandemia. Não apenas funcionam, mas também são muito eficazes para limitar as infecções. Mas a aplicação dessas vacinas é inaceitavelmente lenta”, disse o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge, em um comunicado.
Até o momento, mais de 152 milhões de doses foram injetadas na zona Europa da OMS, ou seja, um quarto (25,5%) das doses administradas em todo mundo, enquanto esta zona, de cerca de 50 países - incluindo Rússia e vários Estados da Ásia Central -, abriga apenas 12% da população mundial.
Em média, 0,31% da população da zona recebe uma dose por dia. Ainda que esta taxa seja quase o dobro da do restante do mundo (0,18%), é significativamente menor que a da zona que inclui Estados Unidos e Canadá (0,82%). "Deixe-me ser claro: precisamos acelerar o processo, aumentando a produção, reduzindo as barreiras e usando todas as doses que tivermos em estoque", frisou Kluge. "Atualmente, a situação regional é a mais preocupante que observamos em vários meses", queixou-se.
Na zona Europa da OMS, o número de novas mortes ultrapassou 24 mil na semana passada e está "rapidamente" se aproximando da marca de um milhão, segundo a organização. O número de novos casos semanais chegou a 1,6 milhão, enquanto havia caído para menos de um milhão há apenas cinco semanas, aponta a OMS.
Temor de novas variantes
As novas infecções estão aumentando em todas as faixas etárias, exceto entre aqueles com 80 anos, ou mais - uma vez que a vacinação deste grupo está começando a dar frutos. A rápida disseminação do vírus também faz a organização temer o aparecimento de novas variantes consideradas "preocupantes".
Segundo a OMS, a variante inglesa, que é mais transmissível e também pode aumentar o risco de hospitalização, é hoje a variante mais comum na Europa, presente em 50 países da região.
A organização lança um apelo aos governos para que usem e fortaleçam os testes, o isolamento, rastreamento de contatos, quarentenas e sequenciamento para conter a propagação, mas acredita que os confinamentos devem ser "evitados por meio de intervenções de saúde pública oportunas e direcionadas".
O confinamento "deve ser usado quando a doença pressiona a capacidade dos serviços de saúde de administrar os pacientes de forma adequada", explicou. Hoje, 27 países da região estão em confinamento total, ou parcial.
A poucos dias da Páscoa e a duas semanas do início do Ramadã, a organização também exortou na quarta-feira, 31, que as festas sejam organizadas em espaços externos em países onde os encontros ainda são permitidos.
Restrições
Nas últimas duas semanas, 23 países europeus endureceram suas restrições para conter a propagação do coronavírus, mas 13 relaxaram as medidas e foram criticadas pela OMS.
Portugal reforçou os controles nas fronteiras terrestres a partir desta quinta-feira e obrigará uma quarentena por 14 dias para viajantes provenientes do Reino Unido, Brasil, África do Sul e países com incidência superior a 500 casos por 100 mil habitantes, como França ou Itália, e exames negativos de PCR para todos.
Apesar da exigência da quarentena, os voos do Brasil e do Reino Unido continuam suspensos. Portugal – que soma 16.848 mortes e 821.722 casos – também adotou um novo período de 15 dias de estado de emergência.
A França reforçou hoje o lockdown anunciado na quarta-feira ao proibir o consumo de bebidas alcoólicas em público e grupos com mais de seis pessoas em jardins ou às margens do Rio Sena. O país tem mais de 95 mil mortos, 4,7 milhões de casos e vem registrando mais de 50 mil novos contágios por dia. /AFP e EFE