HONG KONG - Enquanto o governo de Hong Kong tenta reprimir cada vez mais os protestos violentos na cidade, a líder do governo - em apuros - anunciou nesta sexta-feira, 4, a aplicação de uma lei de emergência para banir as máscaras nas manifestações, implementando uma legislação raramente utilizada que pode piorar ainda mais as tensões no território semiautônomo.
A decisão tomada pela chefe do Executivo local, Carrie Lam, reflete a intensidade crescente do movimento que já dura meses e a pressão que o governo enfrenta para agir.
Mais cedo nesta semana, milhares de manifestantes invadiram as ruas da cidade em protesto para tentar ofuscar o aniversário de 70 anos da República Comunista da China. As ações evoluíram rapidamente para confrontos violentos entre ativistas e policiais. Um estudante de 18 anos chegou a ser baleado no peito por um agente de segurança.
Tiro pela culatra
A decisão de Carrie pode ser um tiro pela culatra já que aumenta as preocupações sobre uma invasão do governo às liberdades civis das quais os cidadãos de Hong Kong desfrutam e a influência de Pequim sobre o território.
Durante uma entrevista coletiva, Carrie enfatizou que não estava declarando uma emergência, mas agindo sob uma disposição da lei local que permite a emissão de regulamentos em resposta a “um estado de perigo grave”.
“Estamos preocupados principalmente com o fato de que muitos estudantes estão participando” dos protestos violentos, “colocando em risco sua segurança e até mesmo seu futuro”, disse a chefe de governo. “Como um governo responsável, temos o dever de usar todos os meios possíveis para frear a escalada da violência e restaurar a calma na sociedade.”
A proibição do uso de máscaras, que começará a valer a partir da 0h de sábado, prevê punição de até 1 ano de prisão e multa. A medida será aplicada a todos os eventos públicos.
Outros usos das máscaras
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Câmeras flagraram o momento em que um manifestante levou um tiro no peito durante protestos em Hong Kong durante ação da Polícia. Esta é a primeira vez em quatro meses de manifestações que uma pessoa é ferida por arma de fogo.
O uso de máscaras em protestos é comum em Hong Kong. Muitos manifestantes, assim como atendentes de primeiros socorros e jornalistas, usam máscaras para se proteger das bombas de gás lacrimogêneo utilizadas pelos policiais para dispersar a multidão.
Alguns utilizam para proteger sua identidade, com medo de que sejam vistos em fotos e por equipamentos de segurança e, depois, sofram retaliação.
São poucas as pessoas que vão às manifestações sem máscara, mesmo em atos pacíficos. Quando Carrie realizou a primeira reunião com moradores na semana passada sobre o uso do artigo, muitos membros da comunidade a questionaram sobre alguns pontos específicos.
Por exemplo, em Hong Kong, além dos manifestantes, as pessoas são regularmente vistas com máscaras em razão do temor de doenças, especialmente após o surto de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2003, e da poluição.
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Os manifestantes pró-democracia saíram às ruas nesta terça-feira em Hong Kong em resposta a uma convocação para um "Dia de Dor" e para perturbar a celebração dos 70 anos de criação do regime comunista chinês.
Barricadas
Pouco após o anúncio do governo, manifestantes com máscaras estabeleceram barricadas no centro do distrito comercial de Hong Kong nesta sexta.
Dezenas de ativistas usavam barreiras de plástico, pedaços de madeira e cones de trânsito para bloquear as ruas no centro, onde ficam as sedes de importantes empresas internacionais.
Também foram erguidas barricadas no bairro de Kowloon Tong. Além disso, centenas de pessoas com os rostos cobertos organizaram um protesto em um centro comercial de Sha Tin. / NYT e AFP