KIEV - Quatro líderes europeus visitaram a Ucrânia nesta quinta-feira, 16, em uma demonstração de apoio em meio aos temores de Kiev de que a determinação ocidental de ajudar o país possa diminuir à medida que a guerra avança. Na capital ucraniana, os líderes disseram que apoiam a rápida adesão da Ucrânia como candidata oficial à União Europeia, mas receberam críticas por promessas anteriores não cumpridas.
O presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Olaf Scholz e o primeiro-ministro italiano Mario Draghi prometeram o apoio depois de viajar em um trem noturno para Kiev. O presidente romeno Klaus Iohannis, que também está visitando a capital para se encontrar com Volodmir Zelenski, os acompanhou.
A visita, que incluiu uma reunião com Zelenski, carrega um grande peso simbólico, já que os líderes da França, Alemanha e Itália enfrentaram críticas por continuarem se envolvendo com o presidente russo Vladimir Putin – e por não fornecerem à Ucrânia a escala de armamento que disse ser necessário para afastar os russos.
“É um momento importante. É uma mensagem de unidade que estamos enviando aos ucranianos, de apoio, para falar tanto sobre o presente quanto sobre o futuro, já que as próximas semanas, como sabemos, serão muito difíceis”, disse Macron a repórteres na estação de trem em Kiev.
Depois de chegar a Kiev ao som de sirenes de ataque aéreo, os líderes se dirigiram a Irpin , um subúrbio da capital que foi palco de intensos combates no início da guerra e onde muitos civis foram mortos. Eles denunciaram a destruição lá.
Promessas
A visita ocorre enquanto os líderes da União Europeia se preparam para tomar uma decisão na próxima semana sobre o pedido da Ucrânia de se tornar um candidato a membro do bloco, e antes de uma importante cúpula da Otan no final do mês.
O presidente Emmanuel Macron disse em entrevista coletiva que os líderes “estão fazendo de tudo para que a Ucrânia sozinha possa decidir seu destino”, e prometeu seis canhões de artilharia montados em caminhões mais poderosos.
Desde que a Rússia lançou sua invasão em grande escala, Zelenski argumenta que a Ucrânia deveria ser admitida no bloco de 27 membros sob um procedimento especial e acelerado. Altos funcionários ucranianos rejeitaram a ideia de adesão condicional, dizendo que o ponto de partida para qualquer discussão é o status legal da Ucrânia.
A adesão plena, disse Zelenski, “provaria que as palavras sobre o desejo do povo ucraniano de fazer parte da família europeia não são apenas palavras”.
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Imagens gravadas com uma GoPro mostram o momento em que um grupo de jornalistas é atacado e ferido por bombardeios russos enquanto cobriam o conflito em Luhansk
Embora o apoio da Alemanha, França, Itália e da Comissão dê impulso à candidatura da Ucrânia à adesão, todos os 27 estados membros ainda precisarão concordar – e diplomatas da UE esperam debate e divisão significativos.
Mesmo depois que o status de candidato é concedido, o processo geralmente leva anos. Todo o corpo de leis de um membro em potencial deve ser escolhido e colocado em conformidade com os padrões estabelecidos em Bruxelas. Macron alertou recentemente que pode levar “décadas” até que a Ucrânia seja um membro pleno.
Antes da reunião com Zelenski, o líder chanceler Olaf Scholz observou que as autoridades devem ter em mente a destruição das cenas horríveis em todas as suas decisões.
“Civis inocentes foram atingidos, casas foram destruídas; uma cidade inteira foi destruída na qual não havia nenhuma infraestrutura militar”, disse Scholz. “E isso diz muito sobre a brutalidade da guerra de agressão russa, que visa simplesmente a destruição e a conquista. Devemos ter isso em mente em tudo o que decidirmos.”
O primeiro-ministro Mario Draghi disse durante a visita a Irpin que os apoiadores da Ucrânia vão reconstruir “tudo” com a ajuda europeia. “Eles destruíram as creches, os playgrounds e tudo será reconstruído”, disse Draghi.
Críticas
A visita ocorre em um momento em que as reclamações aumentam em Kiev sobre entregas lentas de armas, com autoridades dizendo esta semana que a Ucrânia recebeu apenas 10% das armas que havia solicitado do Ocidente.
Embora imagens chocantes da devastação no país tenham conquistado o apoio ocidental, autoridades na Ucrânia expressaram temores de que a “fadiga da guerra” possa acabar com isso – principalmente porque o aumento dos preços e as próximas eleições nos Estados Unidos estão dominando cada vez mais as preocupações das pessoas.
Os EUA e seus aliados europeus doaram bilhões de dólares em armamento para a Ucrânia, e a Alemanha e os EUA anunciaram recentemente novos carregamentos de armas. Essas armas têm sido a chave para o surpreendente sucesso do país em impedir que os russos tomem a capital, mas autoridades em Kiev disseram que muito mais será necessário para expulsar as forças de Moscou.
Muitos na Ucrânia esperavam que a visita dos líderes pudesse marcar um ponto de virada, abrindo caminho para novos suprimentos significativos de armas.
Scholz tornou-se o principal alvo de reclamações, com a Ucrânia particularmente descontente com a ajuda militar da Alemanha. O embaixador do país em Berlim, Andrij Melnyk, disse à emissora alemã NTV que esperava que Scholz entregasse armas pesadas que haviam sido prometidas há muito tempo, mas ainda não haviam sido entregues.
O Ministério da Defesa alemão disse que 15 canhões antiaéreos autopropulsados Gepard prometidos serão entregues em julho, enquanto obuses Panzerhaubitze 2000 serão enviados “em breve”.
A visita de Scholz ocorre após meses de crescente pressão para fazê-lo. Ele também disse que não desejava simplesmente visitar o país para uma oportunidade de foto, mas sim para decisões concretas - aumentando as expectativas de um anúncio durante a viagem.
Os líderes também foram criticados por não visitarem Kiev antes. Vários outros líderes europeus já fizeram a longa viagem por terra para mostrar solidariedade a uma nação sob ataque, mesmo em tempos em que os combates se alastraram mais perto da capital do que agora.
Perdas territoriais
Há temores em Kiev de que os três líderes pressionem a Ucrânia a aceitar um acordo de paz favorável a Vladimir Putin, já que a Rússia continua a obter ganhos na região do Donbas e atualmente ocupa cerca de 20% do território da Ucrânia.
A visita ocorre em um momento crucial no terreno. Zelenski alertou que a Ucrânia está sofrendo “perdas dolorosas” em Donbas, e instou a Europa a fornecer mais apoio militar.
Ele disse que, se a ajuda de defesa não for significativamente aumentada, a guerra corre o risco de se transformar em um impasse sangrento, já que as forças russas continuam os ataques terrestres à estratégica cidade oriental de Severodonetsk.
O governador Serhi Haidai, de Luhansk, que também faz parte do Donbas, disse que a visita não trará nenhum progresso se os líderes pedirem à Ucrânia que assine um tratado de paz com a Rússia que envolva abrir mão de território.
“Tenho certeza de que nosso presidente, Volodmir Zelenski, não fará concessões e comercializará nossos territórios. Se alguém quiser parar a Rússia dando-lhe territórios, a Alemanha tem a Baviera, a Itália tem a Toscana, os franceses podem conceder a Provença, por exemplo”, disse ele.
“Hoje será um território, amanhã outro, depois de amanhã outro”, disse ele.
Na Ucrânia, Macron respondeu às críticas à resposta da França, incluindo seu recente comentário de que a Rússia não deveria ser “humilhada”, o que irritou profundamente os ucranianos. Ele insistiu que “a França está ao lado da Ucrânia desde o primeiro dia”./REUTERS, AP, NYT e W.POST