Diversos documentos judiciais até então sigilosos relacionados a Jeffrey Epstein se tornaram públicos na última quarta-feira, 3. Os materiais mencionam figuras cujos nomes já eram conhecidos, incluindo amigos importantes de Epstein e vítimas que falaram publicamente. Entre os famosos, são citados o príncipe Andrew, segundo filho da Rainha Elizabeth II; os artistas Michael Jackson e David Copperfield; o cientista Stephen Hawking; e os ex-presidentes americanos Bill Clinton (entenda aqui a relação entre ele e Esptein) e Donald Trump, por exemplo. Nem todos são acusados de condutas inadequadas - caso de Michael Jackson, Copperfield, Hawking, Clinton e Trump, por exemplo.
Epstein foi inicialmente preso em Palm Beach, Flórida, em 2005, depois de ter sido acusado de pagar uma menina de 14 anos para fazer sexo. Dezenas de outras menores de idade descreveram abusos sexuais similares, mas os promotores acabaram permitindo que o financiador se declarasse culpado em 2008 de uma acusação envolvendo uma única vítima. Ele cumpriu 13 meses em um programa de liberação de trabalho na prisão.
Alguns famosos abandonaram Epstein depois de sua condenação, , mas muitos seguiram o apoiando. Reportagens do jornal Miami Herald renovaram o interesse no escândalo, e os promotores federais de Nova York acusaram Epstein em 2019 de tráfico sexual. Ele se suicidou na prisão enquanto aguardava o julgamento.
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Veja como alguns famosos estão relacionados ao caso
Príncipe Andrew
Os documentos abertos fazem parte de um processo de 2015 movido contra Ghislaine Maxwell, companheira de Epstein e socialite em Londres, por uma das vítimas de Epstein, Virginia Giuffre. Maxwell foi condenada em 2021 por ajudar Epstein a recrutar e abusar sexualmente de vítimas menores de idade. A sua pena foi de 20 anos.
Giuffre alegou que Maxwell a atraiu para a órbita de Epstein sob a falsa pretensão de trabalhar como massagista profissional. Em vez disso, Giuffre afirmou que Maxwell “me treinou como uma escrava sexual”, de acordo com documentos judiciais que foram abertos.
Giuffre é uma das dezenas de mulheres que processaram Epstein dizendo que ele as abusou em suas casas na Flórida, em Nova York, nas Ilhas Virgens dos EUA e no Novo México. Ela relatou que foi pressionada a fazer sexo com homens do ciclo social de Epstein, como o príncipe Andrew do Reino Unido, o ex-governador de New México Bill Richardson o ex-senador dos EUA George Mitchell e o bilionário Glenn Dubin, entre outros. Todos esses homens afirmaram que as acusações eram invenção.
Ela abriu uma ação judicial contra príncipe Andrew. Giuffre afirma que foi forçada a fazer sexo com Andrew por diversas vezes quando ela tinha 17 anos, a pedido de Maxwell. Ela diz que Andrew a agrediu sexualmente na casa de Maxwell, depois de uma festa em março de 2001. Andrew negou suas alegações, dizendo que não se lembrava de tê-la conhecido.
Giuffre afirma ainda que foi vítima de tráfico sexual nas mãos de Epstein e Maxwell, que foi condenada por recrutar e aliciar menores para abuso sexual por parte de Epstein, expondo um mundo dramático de tráfico sexual entre os ricos e poderosos.
O príncipe Andrew e Giuffre chegaram a um acordo em fevereiro de 2022 e o caso civil não foi a um julgamento com júri. O acordo também isentou Andrew de ser interrogado sob juramento pelos advogados de Giuffre. Como parte do acerto, o príncipe prometeu uma doação substancial para uma instituição de caridade fundada por Giuffre que apoia vítimas de tráfico sexual.
O caso afetou a reputação do príncipe, que se retirou da vida pública como membro da realeza em 2019, depois de uma entrevista da BBC amplamente criticada, na qual ele tentou se justificar da acusação, não demonstrou simpatia pelas vítimas e se recusou a se desculpar por sua amizade com Epstein. A família real retirou, no início de 2022, os títulos militares de Andrew e patrocínios reais.
Entre os documentos revelados na última quarta-feira também estava um extenso depoimento de maio de 2016 de Johanna Sjoberg, uma das supostas vítimas de Epstein, que disse ter convivido com o financista de 2001 a 2006. Ela testemunhou que, quando foi apresentada ao príncipe pela primeira vez, ele colocou a mão em seu peito.
Ela testemunhou que pegaram um boneco do príncipe Andrew feito para um programa de televisão britânico. “Eles decidiram tirar uma foto com ele, na qual Virginia e Andrew sentaram-se em um sofá”, disse Sjoberg. “Colocaram o boneco no colo de Virginia, e eu sentei no colo de Andrew, e eles colocaram a mão do boneco no peito de Virginia, e Andrew colocou a mão no meu peito, e tiraram uma foto.”
Michael Jackson
Michael Jackson é apenas citado nos documentos, mas não foi acusado de nenhum crime no caso. Sjoberg afirmou que o falecido músico esteve na mansão de Palm Beach de Epstein. Quando questionada se ela fez massagem em Jackson, Sjoberg disse que não.
David Copperfield
Sjoberg também afirmou que conheceu o famoso ilusionista David Copperfield em um jantar em uma das casas de Epstein e que ele “fez alguns truques de mágica”. Questionada sobre se ela percebeu David Copperfield como amigo de Jeffrey Epstein, Sjoberg respondeu que sim.
“Copperfield já discutiu com você o envolvimento de Jeffrey com jovens garotas?”, ela foi questionada. “Ele me perguntou se eu sabia que garotas estavam sendo pagas para encontrar outras garotas.” Ela afirmou na declaração que Copperfield não forneceu detalhes específicos sobre essa pergunta. “Ele disse algo sobre elas serem adolescentes ou algo nesse sentido?”, ela também foi questionada. “Ele não disse”, respondeu Sjoberg.
Donald Trump
Donald Trump, cuja associação com Epstein foi amplamente divulgada, também foi mencionado nos documentos - o ex-presidente dos EUA não é acusado de conduta inadequada. Na declaração de Sjoberg, ela disse que foram a um dos cassinos de Trump em Atlantic City quando uma tempestade impediu o avião de Epstein de pousar na cidade de Nova York.
“Jeffrey disse, ótimo, ligaremos para Trump e iremos para - não lembro o nome do cassino, mas - iremos para o cassino.” Sjoberg afirmou que não fez nenhuma massagem em Trump.
Imagens de vídeo descobertas pela NBC News após a acusação federal de Epstein em 2019 mostraram os dois conversando em uma festa em 1992 na propriedade Mar-a-Lago, um resort de luxo em Palm Beach, na Flórida, que pertence a Trump.
O vídeo foi gravado como parte de um perfil de Trump, que estava recentemente divorciado na época. Mostra o futuro presidente cercado por jovens mulheres, identificadas pela NBC como líderes de torcida do Buffalo Bills. Mais tarde no vídeo, Epstein chega à propriedade da Flórida de Trump, e os dois homens são vistos conversando e gesticulando para as mulheres na pista de dança.
“Eu o conhecia, como todo mundo em Palm Beach o conhecia”, disse Trump quando o vídeo surgiu. “Ele era uma figura em Palm Beach. Tive um desentendimento com ele há muito tempo. Acho que não falo com ele há 15 anos.”
Giuffre disse que no verão em que completou 17 anos ela foi atraída de um emprego como atendente de spa no clube Mar-a-Lago para se tornar uma “massagista” de Epstein, em um trabalho que envolvia a realização de atos sexuais.
Stephen Hawking
Os novos registros incluem uma única referência ao falecido físico teórico Stephen Hawking. Seu nome aparece, com erro ortográfico, em um e-mail que Epstein enviou propondo uma recompensa a ser paga a quem pudesse desmentir uma alegação infundada de que Hawking havia participado de “uma orgia com menores”. Hawking, que morreu em 2018, havia participado de um dos encontros acadêmicos de Epstein em 2006.
Glenn Dubin
Os registros incluem uma alegação de Giuffre de que ela foi pressionada a ter relações sexuais com o bilionário Glenn Dubin, alegação que ele nega. Giuffre afirmou em um depoimento que Maxwell “me disse para ir a Glenn Dubin e dar a ele uma massagem, o que significa sexo”.
Dubin afirmou ter registros de voo e outras evidências que comprovam que as alegações de Giuffre contra ele são falsas. Epstein namorou Eva Andersson-Dubin, ex-Miss Suécia, intermitentemente na década de 1980, e os dois permaneceram amigos após o rompimento.
Andersson-Dubin mais tarde se casou com Dubin, com quem teve três filhos. Andersson-Dubin testemunhou no julgamento federal de Maxwell, dizendo que confiava em Epstein com suas filhas pequenas e negando ter participado de um encontro sexual em grupo com uma acusadora-chave.
Bill Richardson
Giuffre também alega ter sido pressionada a ter relações sexuais com Bill Richardson, ex-embaixador dos EUA e governador do Novo México. Os novos documentos incluem algumas menções a Richardson, incluindo um depoimento no qual Giuffre diz que recebeu ordens para dar a ele uma massagem. Richardson, que faleceu no ano passado, afirmou anteriormente que as alegações de Giuffre eram fabricadas. Um porta-voz negou em 2019 que Richardson tivesse conhecido Giuffre.
George Mitchell
O ex-senador dos EUA George Mitchell também está entre os homens que Giuffre afirma tê-la abusado. Assim como Richardson, Mitchell também negou ter conhecido ela. Os novos registros contêm poucas menções a Mitchell./COM AP e WP