A discussão sobre os meios de conter Vladimir Putin ganhou novos contornos depois da ameaça do presidente russo de usar armas nucleares sob pretexto de garantir a “integridade territorial” de seu país. Não porque a chantagem seja nova, mas porque veio acompanhada de preparativos para a anexação de quatro províncias da Ucrânia ocupadas pelos militares russos.
Repetindo o roteiro seguido na Crimeia e em partes de Donetsk e Luhansk, a administração militar russa impôs a realização de referendos sobre integrar-se à Rússia. A “consulta” é feita sob coação dos militares, que chegam a bater na porta de moradores para colher seu voto verbal. O resultado é uma previsível e fraudulenta vitória do “sim”.
O próximo passo é a anexação ao território russo das províncias de Kherson e Zaporizhzia, ao sul, e das partes recém-conquistadas de Donetsk e Luhansk, ao leste. A comunidade internacional não reconhecerá essas anexações.
Mas elas bastarão para Putin alegar que a contraofensiva para recuperar os territórios ucranianos viola a soberania russa. E assim recorrer ao arsenal nuclear, embora a doutrina aceita entre as potências nucleares é a de que esse tipo de arma só pode ser empregado para se defender de um ataque nuclear.
Putin encara a derrota na Ucrânia como ameaça existencial. As premissas são as mesmas que o levaram à invasão: a simulação de uma ameaça externa para justificar sua perpetuação no poder como único líder capaz de proteger a Rússia.
Imagens da invasão da Ucrânia pela Rússia
Desespero
▲Natali Sevriukova reage, ao lado de sua casa, em região que foi atingida por um míssil, em Kiev, na Ucrânia
Foto: Emilio Morenatti/AP Photo ▲Pessoas se escondem em abrigo anti-bomba em Kiev, na Ucrânia
Foto: Sergei Chuzavkov/AFP ▲Militar ucraniano é visto em uma janela residencial danificada no subúrbio de Kiev, na Ucrânia
Foto: Daniel Leal/AFP ▲Pessoas realizam protesto contra a invação da Rússia à Ucrânia, em Taipei, em Taiwan
Foto: Ritchie B. Tongo EFE/EPA ▲Um soldado do exército ucraniano inspeciona fragmentos de uma aeronave abatida, em Kiev, na Ucrânia
Foto: Vadim Zamirovsky/AP Photo ▲Imagem mostra prédio de escola que, de acordo com locais, foi danificado por bombardeio, na região de Donetsk, na Ucrânia
Foto: Alexander Ermochenko/REUTERS ▲Pessoas descansam no metrô de Kiev, na Ucrânia, usando-o como "abrigo" anti-bomba
Foto: Emilio Morenatti/AP Photo ▲Soldados ucranianos tomando posição sob uma ponte, em Kiev, na Ucrânia
Foto: Emilio Morenatti/AP Photo ▲Pessoas fungindo dos conflitos entre Ucrânia e Rússia recebem bebidas quentes na fronteira ucraniana com a Polônia
Foto: Czarek Sokolowski/AP Photo ▲Consequências de uma noite de bombardeios em Kiev, na Ucrânia
Foto: Sergey Dolzhenko/EFE/EPA ▲Imagem mostra mísseis do exército russo, em Kharkiv, na Ucrânia
Foto: Maksim Levin/Reuters ▲Pessoas descansam no chão de uma estação de metrô, em Kiev
Foto: Irakli Gedenidze/Reuters ▲Mulher ferida do lado de fora de um hospital na Ucrânia
Foto: Aris Messinis/AFP ▲Veículos militares em Kiev, na Ucrânia
Foto: Daniel Leal/AFP - 24/02/2022 ▲Mulher reage à situação na Ucrânia enquanto aguarda um trem partir, em Kiev, na Ucrânia
Foto: Emilio Morenatti/AP Photo ▲Bombeiros lutam contra incêndio, em Chuguiv, na Ucrânia
Foto: Aris Messinis/AFP ▲Pessoas se abraçando do lado de fora de estação de metrô em Kiev, na Ucrânia
Foto: Daniel Leal/AFP ▲Radar danificado em instalação militar ucraniana;
Foto: Sergei Grits/AP Photo ▲Fumaça e chamas em Kiev, na Ucrânia
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo ▲Tráfego intenso em Kiev, na Ucrânia
Foto: Sergey Dolzhenko/EFE/EPA ▲Mulher anda enquanto foge da Ucrânia para a Hungria
Foto: Bernadett Szabo/Reuters ▲Pessoas fazendo fila em farmácia em Kiev, na Ucrânia
Foto: Genya Savilov/AFP ▲Mulher e criança em Sievierodonetsk, região de Luhansk, na Ucrânia
Foto: Vadim Ghirda/AP Photo ▲Pessoas ao lado de fragmentos de equipamentos militares, em Kharkiv, na Ucrânia
Foto: Andrew Marienko/AP Photo ▲Pessoas em estação de metrô de Kiev, na Ucrânia
Foto: Daniel Leal/AFP ▲Fumaça em aeroporto militar em Chuguyev, próximo de Kharkiv, na Ucrânia
Foto: Aris Messinis/AFP ▲Pessoas em fila de ônibus, no centro de Kiev, na Ucrânia
Foto: Emile Ducke/The New York Times) ▲Pessoa segura uma placa com a frase "Pare, Putin", em Riga, na Letônia
Foto: Toms Kalnins/EFE/EPA ▲Patrulha armada em Kiev, na Ucrânia
Foto: Stringer/EFE/EPA ▲Caminhões incendiados na Ucrânia
Foto: Evgeniy Maloletka/AP Photo ▲Pessoas ao lado do corpo de parente morto na Ucrânia;
Foto: Aris Messinis/AFP ▲Ele é acusado de tantos crimes que, se deixar o poder, corre o risco de terminar a vida na prisão.
A mobilização de até 300 mil soldados russos não surtirá resultados, porque eles estarão ainda menos treinados e motivados que seus precursores. O caminho da Rússia está mapeado. Tudo depende agora de como a Otan responderá ao eventual emprego de armas nucleares. Ao que tudo indica, serão armas táticas, de potência limitada a um raio pequeno, mas com as mesmas consequências calamitosas da radiação.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que a organização “não se envolverá no mesmo tipo de retórica nuclear imprudente e perigosa que o presidente Putin”. Mas acrescentou: “Fomos claros em nossas comunicações com a Rússia sobre as consequências sem precedentes, sobre o fato de que a guerra nuclear não pode ser vencida pela Rússia.”
Significa que a Otan usará todos os meios de que dispõe para que os crimes de guerra de Putin não compensem. As etapas serão: prover a Ucrânia com mais armas e treinamento; se não for suficiente, enfrentar os russos numa guerra convencional; finalmente, em caso extremo, recorrer ao arsenal nuclear.
* COLUNISTA DO ‘ESTADÃO’ E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS