É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|A crise do Reino Unido; leia a coluna de Lourival Sant’Anna


País precisa de um líder conservador que e apresente um plano convincente

Por Lourival Sant'Anna

A renúncia da premiê Liz Truss é mais um lance da corrosão do Partido Conservador e de seu impacto destrutivo sobre a estabilidade do Reino Unido. Esse processo remonta ao referendo sobre a permanência na União Europeia, em 2016, embora não tenha começado ali.

Liz Truss anuncia sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro; crise se arrastada desde o Brexit Foto: Daniel Leal/AFP

O referendo foi uma resposta ao sectarismo dentro do partido, dividido entre várias correntes, que correspondem a visões divergentes de como destravar o crescimento. Por esse debate passava também a centralização de parte das decisões em Bruxelas.

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O então primeiro-ministro David Cameron era um crítico da UE, mas defendia uma redução das interferências da Comissão Europeia, e não uma saída do país do bloco. Cameron imaginou que um referendo popular sepultaria a discussão e apaziguaria o partido.

Nem uma coisa nem outra aconteceu. Por estreita margem, a campanha do Brexit, liderada pelo então deputado Boris Johnson venceu. Cameron renunciou e foi sucedido por sua chanceler, Theresa May, que, como ele, tinha defendido a permanência na UE.

A relutância de May em adotar um plano de retirada completa levou a um impasse nas negociações com a Comissão e o Parlamento, e à renúncia dela. Johnson, na época ministro das Relações Exteriores, foi eleito pelos delegados do partido com o mandato de executar uma saída plena, custasse o que custasse.

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Discurso final de Boris Johnson como premiê britânico em Downing Street. Foto: Daniel Leal/ AFP Foto: Daniel Leal/ AFP

Ele chegou a induzir a então rainha Elizabeth II a suspender o Parlamento para evitar discussões que dificultassem a aprovação de seu plano. A Suprema Corte teve de intervir e anular a decisão da rainha. O Brexit causou escassez de mão de obra com a emigração de trabalhadores europeus e de produtos por causa das novas barreiras comerciais e logísticas.

Crise

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Como resultado, a economia britânica sofreu mais com a pandemia e a crise de energia provocada pela guerra na Ucrânia do que os países da UE. Desmoralizado por escândalos, Johnson renunciou em julho. Coube aos 160 mil filiados ao Partido Conservador escolher seu sucessor.

Eles são mais velhos, mais brancos e mais conservadores do que a média do país, e gostam de Johnson. Por isso, escolheram Truss, a mais fiel a Johnson dos candidatos, que prometeu o impossível: cortar impostos e aumentar gastos.

Quando ela tentou colocar isso em prática, o mercado perdeu a confiança na capacidade do governo de se financiar. Truss abandonou o plano, mas seu oportunismo e improvisação haviam golpeado sua credibilidade de forma irreversível.

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O Reino Unido precisa de um líder conservador que consiga unir o partido e apresente um plano convincente. A alternativa é convocar eleições, algo que os conservadores querem evitar. Pela lei, elas só teriam de ocorrer em 2025. Mas, se não superarem a crise, os conservadores seguirão sangrando – e, com eles, a imagem do país.

A renúncia da premiê Liz Truss é mais um lance da corrosão do Partido Conservador e de seu impacto destrutivo sobre a estabilidade do Reino Unido. Esse processo remonta ao referendo sobre a permanência na União Europeia, em 2016, embora não tenha começado ali.

Liz Truss anuncia sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro; crise se arrastada desde o Brexit Foto: Daniel Leal/AFP

O referendo foi uma resposta ao sectarismo dentro do partido, dividido entre várias correntes, que correspondem a visões divergentes de como destravar o crescimento. Por esse debate passava também a centralização de parte das decisões em Bruxelas.

O então primeiro-ministro David Cameron era um crítico da UE, mas defendia uma redução das interferências da Comissão Europeia, e não uma saída do país do bloco. Cameron imaginou que um referendo popular sepultaria a discussão e apaziguaria o partido.

Nem uma coisa nem outra aconteceu. Por estreita margem, a campanha do Brexit, liderada pelo então deputado Boris Johnson venceu. Cameron renunciou e foi sucedido por sua chanceler, Theresa May, que, como ele, tinha defendido a permanência na UE.

A relutância de May em adotar um plano de retirada completa levou a um impasse nas negociações com a Comissão e o Parlamento, e à renúncia dela. Johnson, na época ministro das Relações Exteriores, foi eleito pelos delegados do partido com o mandato de executar uma saída plena, custasse o que custasse.

Discurso final de Boris Johnson como premiê britânico em Downing Street. Foto: Daniel Leal/ AFP Foto: Daniel Leal/ AFP

Ele chegou a induzir a então rainha Elizabeth II a suspender o Parlamento para evitar discussões que dificultassem a aprovação de seu plano. A Suprema Corte teve de intervir e anular a decisão da rainha. O Brexit causou escassez de mão de obra com a emigração de trabalhadores europeus e de produtos por causa das novas barreiras comerciais e logísticas.

Crise

Como resultado, a economia britânica sofreu mais com a pandemia e a crise de energia provocada pela guerra na Ucrânia do que os países da UE. Desmoralizado por escândalos, Johnson renunciou em julho. Coube aos 160 mil filiados ao Partido Conservador escolher seu sucessor.

Eles são mais velhos, mais brancos e mais conservadores do que a média do país, e gostam de Johnson. Por isso, escolheram Truss, a mais fiel a Johnson dos candidatos, que prometeu o impossível: cortar impostos e aumentar gastos.

Quando ela tentou colocar isso em prática, o mercado perdeu a confiança na capacidade do governo de se financiar. Truss abandonou o plano, mas seu oportunismo e improvisação haviam golpeado sua credibilidade de forma irreversível.

O Reino Unido precisa de um líder conservador que consiga unir o partido e apresente um plano convincente. A alternativa é convocar eleições, algo que os conservadores querem evitar. Pela lei, elas só teriam de ocorrer em 2025. Mas, se não superarem a crise, os conservadores seguirão sangrando – e, com eles, a imagem do país.

A renúncia da premiê Liz Truss é mais um lance da corrosão do Partido Conservador e de seu impacto destrutivo sobre a estabilidade do Reino Unido. Esse processo remonta ao referendo sobre a permanência na União Europeia, em 2016, embora não tenha começado ali.

Liz Truss anuncia sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro; crise se arrastada desde o Brexit Foto: Daniel Leal/AFP

O referendo foi uma resposta ao sectarismo dentro do partido, dividido entre várias correntes, que correspondem a visões divergentes de como destravar o crescimento. Por esse debate passava também a centralização de parte das decisões em Bruxelas.

O então primeiro-ministro David Cameron era um crítico da UE, mas defendia uma redução das interferências da Comissão Europeia, e não uma saída do país do bloco. Cameron imaginou que um referendo popular sepultaria a discussão e apaziguaria o partido.

Nem uma coisa nem outra aconteceu. Por estreita margem, a campanha do Brexit, liderada pelo então deputado Boris Johnson venceu. Cameron renunciou e foi sucedido por sua chanceler, Theresa May, que, como ele, tinha defendido a permanência na UE.

A relutância de May em adotar um plano de retirada completa levou a um impasse nas negociações com a Comissão e o Parlamento, e à renúncia dela. Johnson, na época ministro das Relações Exteriores, foi eleito pelos delegados do partido com o mandato de executar uma saída plena, custasse o que custasse.

Discurso final de Boris Johnson como premiê britânico em Downing Street. Foto: Daniel Leal/ AFP Foto: Daniel Leal/ AFP

Ele chegou a induzir a então rainha Elizabeth II a suspender o Parlamento para evitar discussões que dificultassem a aprovação de seu plano. A Suprema Corte teve de intervir e anular a decisão da rainha. O Brexit causou escassez de mão de obra com a emigração de trabalhadores europeus e de produtos por causa das novas barreiras comerciais e logísticas.

Crise

Como resultado, a economia britânica sofreu mais com a pandemia e a crise de energia provocada pela guerra na Ucrânia do que os países da UE. Desmoralizado por escândalos, Johnson renunciou em julho. Coube aos 160 mil filiados ao Partido Conservador escolher seu sucessor.

Eles são mais velhos, mais brancos e mais conservadores do que a média do país, e gostam de Johnson. Por isso, escolheram Truss, a mais fiel a Johnson dos candidatos, que prometeu o impossível: cortar impostos e aumentar gastos.

Quando ela tentou colocar isso em prática, o mercado perdeu a confiança na capacidade do governo de se financiar. Truss abandonou o plano, mas seu oportunismo e improvisação haviam golpeado sua credibilidade de forma irreversível.

O Reino Unido precisa de um líder conservador que consiga unir o partido e apresente um plano convincente. A alternativa é convocar eleições, algo que os conservadores querem evitar. Pela lei, elas só teriam de ocorrer em 2025. Mas, se não superarem a crise, os conservadores seguirão sangrando – e, com eles, a imagem do país.

A renúncia da premiê Liz Truss é mais um lance da corrosão do Partido Conservador e de seu impacto destrutivo sobre a estabilidade do Reino Unido. Esse processo remonta ao referendo sobre a permanência na União Europeia, em 2016, embora não tenha começado ali.

Liz Truss anuncia sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro; crise se arrastada desde o Brexit Foto: Daniel Leal/AFP

O referendo foi uma resposta ao sectarismo dentro do partido, dividido entre várias correntes, que correspondem a visões divergentes de como destravar o crescimento. Por esse debate passava também a centralização de parte das decisões em Bruxelas.

O então primeiro-ministro David Cameron era um crítico da UE, mas defendia uma redução das interferências da Comissão Europeia, e não uma saída do país do bloco. Cameron imaginou que um referendo popular sepultaria a discussão e apaziguaria o partido.

Nem uma coisa nem outra aconteceu. Por estreita margem, a campanha do Brexit, liderada pelo então deputado Boris Johnson venceu. Cameron renunciou e foi sucedido por sua chanceler, Theresa May, que, como ele, tinha defendido a permanência na UE.

A relutância de May em adotar um plano de retirada completa levou a um impasse nas negociações com a Comissão e o Parlamento, e à renúncia dela. Johnson, na época ministro das Relações Exteriores, foi eleito pelos delegados do partido com o mandato de executar uma saída plena, custasse o que custasse.

Discurso final de Boris Johnson como premiê britânico em Downing Street. Foto: Daniel Leal/ AFP Foto: Daniel Leal/ AFP

Ele chegou a induzir a então rainha Elizabeth II a suspender o Parlamento para evitar discussões que dificultassem a aprovação de seu plano. A Suprema Corte teve de intervir e anular a decisão da rainha. O Brexit causou escassez de mão de obra com a emigração de trabalhadores europeus e de produtos por causa das novas barreiras comerciais e logísticas.

Crise

Como resultado, a economia britânica sofreu mais com a pandemia e a crise de energia provocada pela guerra na Ucrânia do que os países da UE. Desmoralizado por escândalos, Johnson renunciou em julho. Coube aos 160 mil filiados ao Partido Conservador escolher seu sucessor.

Eles são mais velhos, mais brancos e mais conservadores do que a média do país, e gostam de Johnson. Por isso, escolheram Truss, a mais fiel a Johnson dos candidatos, que prometeu o impossível: cortar impostos e aumentar gastos.

Quando ela tentou colocar isso em prática, o mercado perdeu a confiança na capacidade do governo de se financiar. Truss abandonou o plano, mas seu oportunismo e improvisação haviam golpeado sua credibilidade de forma irreversível.

O Reino Unido precisa de um líder conservador que consiga unir o partido e apresente um plano convincente. A alternativa é convocar eleições, algo que os conservadores querem evitar. Pela lei, elas só teriam de ocorrer em 2025. Mas, se não superarem a crise, os conservadores seguirão sangrando – e, com eles, a imagem do país.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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