É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|A destruição da convivência pacífica


Os governos autoritários querem acabar com o direito de todos de viver como quiserem

Por Lourival Sant'Anna

Afinal, no século 21, o que é um país? A carnificina conduzida pelos russos e a dolorosa resistência imposta pelos ucranianos estão recolocando essa pergunta. A globalização e, sobretudo no caso específico, a União Europeia, exigem uma nova resposta. E também já a reação a elas: a onda de populismo, seja de esquerda ou de direita (rótulos vazios), que explora a nostalgia por passados idealizados.

A Ucrânia foi um Estado independente por pouquíssimo tempo, no início do século 20 e a partir de 1991. Isso em si poderia ser uma motivação para lutar pela independência: a alma ucraniana traz a cicatriz de viver subjugada, principalmente pelos russos, mas também por poloneses e lituanos.

Morador de Mariupol, na Ucrânia, observa prédio destruído pelas tropas russas.  Foto: Alexei Alexandrov/ AP
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É fundamental não esquecer como esse conflito começou: quando o então presidente Viktor Yanukovich anunciou, depois de uma reunião com Vladimir Putin, em Moscou, no final de 2013, que a Ucrânia não poderia mais ingressar na UE. O povo foi às ruas e derrubou Yanukovich, e Putin interveio no leste da Ucrânia e anexou a Crimeia.

Pertencer ou não à Otan era um “sonho”, como o definiu o presidente Volodmir Zelenski na tentativa de acalmar Putin, que a Ucrânia engavetou em 2008, diante da invasão da Geórgia pela Rússia, por essa mesma razão. A proteção da Otan não é um objetivo em si mesmo, mas uma garantia de que um país europeu poderá realizar seus desejos, sem ser impedido pela Rússia.

Estive na última semana em Tashkent, Usbequistão, também uma ex-república soviética. O cientista político Anvar Nazir, diretor do centro de estudos Estrela do Turquestão (antigo nome dado pelos russos à Ásia Central), me explicou que uma das formas de Putin intervir no Uzbequistão é o apoio ao líder de extrema direita Abror Mukhtor Aliy, que milita contra os direitos das mulheres e dos homossexuais.

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Diversidade

No Usbequistão, muçulmanos conservadores e seculares liberais convivem sem atritos, e essa diversidade é valorizada pelos uzbeques. Com apoio do Kremlin, Aliy espalha desinformação e teorias conspirativas pelas redes sociais, na busca de dividir o país. O Ministério da Justiça tem feito advertências de que ele pode ser punido, mas o governo do presidente Shavkat Mirziyoyev tem receio de provocar a ira de Putin.

Nazir concorda com minha leitura de que, em países ameaçados pelo expansionismo russo, como o Azerbaijão, onde estive na semana anterior, e o próprio Usbequistão, a tentativa de extrair lições do que a Ucrânia teria “feito de errado” é uma defesa psicológica diante da sensação de vulnerabilidade que traz a conclusão de que não há nada que um país possa fazer para evitar uma tragédia como a invasão da Ucrânia. “Se Putin quiser, ele invade”, disse. Para pertencer a um país, as pessoas não precisam ser iguais, mas estar dispostas a defender o direito de todos de viver como quiserem. É isso que os autoritários querem destruir.

Afinal, no século 21, o que é um país? A carnificina conduzida pelos russos e a dolorosa resistência imposta pelos ucranianos estão recolocando essa pergunta. A globalização e, sobretudo no caso específico, a União Europeia, exigem uma nova resposta. E também já a reação a elas: a onda de populismo, seja de esquerda ou de direita (rótulos vazios), que explora a nostalgia por passados idealizados.

A Ucrânia foi um Estado independente por pouquíssimo tempo, no início do século 20 e a partir de 1991. Isso em si poderia ser uma motivação para lutar pela independência: a alma ucraniana traz a cicatriz de viver subjugada, principalmente pelos russos, mas também por poloneses e lituanos.

Morador de Mariupol, na Ucrânia, observa prédio destruído pelas tropas russas.  Foto: Alexei Alexandrov/ AP

É fundamental não esquecer como esse conflito começou: quando o então presidente Viktor Yanukovich anunciou, depois de uma reunião com Vladimir Putin, em Moscou, no final de 2013, que a Ucrânia não poderia mais ingressar na UE. O povo foi às ruas e derrubou Yanukovich, e Putin interveio no leste da Ucrânia e anexou a Crimeia.

Pertencer ou não à Otan era um “sonho”, como o definiu o presidente Volodmir Zelenski na tentativa de acalmar Putin, que a Ucrânia engavetou em 2008, diante da invasão da Geórgia pela Rússia, por essa mesma razão. A proteção da Otan não é um objetivo em si mesmo, mas uma garantia de que um país europeu poderá realizar seus desejos, sem ser impedido pela Rússia.

Estive na última semana em Tashkent, Usbequistão, também uma ex-república soviética. O cientista político Anvar Nazir, diretor do centro de estudos Estrela do Turquestão (antigo nome dado pelos russos à Ásia Central), me explicou que uma das formas de Putin intervir no Uzbequistão é o apoio ao líder de extrema direita Abror Mukhtor Aliy, que milita contra os direitos das mulheres e dos homossexuais.

Diversidade

No Usbequistão, muçulmanos conservadores e seculares liberais convivem sem atritos, e essa diversidade é valorizada pelos uzbeques. Com apoio do Kremlin, Aliy espalha desinformação e teorias conspirativas pelas redes sociais, na busca de dividir o país. O Ministério da Justiça tem feito advertências de que ele pode ser punido, mas o governo do presidente Shavkat Mirziyoyev tem receio de provocar a ira de Putin.

Nazir concorda com minha leitura de que, em países ameaçados pelo expansionismo russo, como o Azerbaijão, onde estive na semana anterior, e o próprio Usbequistão, a tentativa de extrair lições do que a Ucrânia teria “feito de errado” é uma defesa psicológica diante da sensação de vulnerabilidade que traz a conclusão de que não há nada que um país possa fazer para evitar uma tragédia como a invasão da Ucrânia. “Se Putin quiser, ele invade”, disse. Para pertencer a um país, as pessoas não precisam ser iguais, mas estar dispostas a defender o direito de todos de viver como quiserem. É isso que os autoritários querem destruir.

Afinal, no século 21, o que é um país? A carnificina conduzida pelos russos e a dolorosa resistência imposta pelos ucranianos estão recolocando essa pergunta. A globalização e, sobretudo no caso específico, a União Europeia, exigem uma nova resposta. E também já a reação a elas: a onda de populismo, seja de esquerda ou de direita (rótulos vazios), que explora a nostalgia por passados idealizados.

A Ucrânia foi um Estado independente por pouquíssimo tempo, no início do século 20 e a partir de 1991. Isso em si poderia ser uma motivação para lutar pela independência: a alma ucraniana traz a cicatriz de viver subjugada, principalmente pelos russos, mas também por poloneses e lituanos.

Morador de Mariupol, na Ucrânia, observa prédio destruído pelas tropas russas.  Foto: Alexei Alexandrov/ AP

É fundamental não esquecer como esse conflito começou: quando o então presidente Viktor Yanukovich anunciou, depois de uma reunião com Vladimir Putin, em Moscou, no final de 2013, que a Ucrânia não poderia mais ingressar na UE. O povo foi às ruas e derrubou Yanukovich, e Putin interveio no leste da Ucrânia e anexou a Crimeia.

Pertencer ou não à Otan era um “sonho”, como o definiu o presidente Volodmir Zelenski na tentativa de acalmar Putin, que a Ucrânia engavetou em 2008, diante da invasão da Geórgia pela Rússia, por essa mesma razão. A proteção da Otan não é um objetivo em si mesmo, mas uma garantia de que um país europeu poderá realizar seus desejos, sem ser impedido pela Rússia.

Estive na última semana em Tashkent, Usbequistão, também uma ex-república soviética. O cientista político Anvar Nazir, diretor do centro de estudos Estrela do Turquestão (antigo nome dado pelos russos à Ásia Central), me explicou que uma das formas de Putin intervir no Uzbequistão é o apoio ao líder de extrema direita Abror Mukhtor Aliy, que milita contra os direitos das mulheres e dos homossexuais.

Diversidade

No Usbequistão, muçulmanos conservadores e seculares liberais convivem sem atritos, e essa diversidade é valorizada pelos uzbeques. Com apoio do Kremlin, Aliy espalha desinformação e teorias conspirativas pelas redes sociais, na busca de dividir o país. O Ministério da Justiça tem feito advertências de que ele pode ser punido, mas o governo do presidente Shavkat Mirziyoyev tem receio de provocar a ira de Putin.

Nazir concorda com minha leitura de que, em países ameaçados pelo expansionismo russo, como o Azerbaijão, onde estive na semana anterior, e o próprio Usbequistão, a tentativa de extrair lições do que a Ucrânia teria “feito de errado” é uma defesa psicológica diante da sensação de vulnerabilidade que traz a conclusão de que não há nada que um país possa fazer para evitar uma tragédia como a invasão da Ucrânia. “Se Putin quiser, ele invade”, disse. Para pertencer a um país, as pessoas não precisam ser iguais, mas estar dispostas a defender o direito de todos de viver como quiserem. É isso que os autoritários querem destruir.

Afinal, no século 21, o que é um país? A carnificina conduzida pelos russos e a dolorosa resistência imposta pelos ucranianos estão recolocando essa pergunta. A globalização e, sobretudo no caso específico, a União Europeia, exigem uma nova resposta. E também já a reação a elas: a onda de populismo, seja de esquerda ou de direita (rótulos vazios), que explora a nostalgia por passados idealizados.

A Ucrânia foi um Estado independente por pouquíssimo tempo, no início do século 20 e a partir de 1991. Isso em si poderia ser uma motivação para lutar pela independência: a alma ucraniana traz a cicatriz de viver subjugada, principalmente pelos russos, mas também por poloneses e lituanos.

Morador de Mariupol, na Ucrânia, observa prédio destruído pelas tropas russas.  Foto: Alexei Alexandrov/ AP

É fundamental não esquecer como esse conflito começou: quando o então presidente Viktor Yanukovich anunciou, depois de uma reunião com Vladimir Putin, em Moscou, no final de 2013, que a Ucrânia não poderia mais ingressar na UE. O povo foi às ruas e derrubou Yanukovich, e Putin interveio no leste da Ucrânia e anexou a Crimeia.

Pertencer ou não à Otan era um “sonho”, como o definiu o presidente Volodmir Zelenski na tentativa de acalmar Putin, que a Ucrânia engavetou em 2008, diante da invasão da Geórgia pela Rússia, por essa mesma razão. A proteção da Otan não é um objetivo em si mesmo, mas uma garantia de que um país europeu poderá realizar seus desejos, sem ser impedido pela Rússia.

Estive na última semana em Tashkent, Usbequistão, também uma ex-república soviética. O cientista político Anvar Nazir, diretor do centro de estudos Estrela do Turquestão (antigo nome dado pelos russos à Ásia Central), me explicou que uma das formas de Putin intervir no Uzbequistão é o apoio ao líder de extrema direita Abror Mukhtor Aliy, que milita contra os direitos das mulheres e dos homossexuais.

Diversidade

No Usbequistão, muçulmanos conservadores e seculares liberais convivem sem atritos, e essa diversidade é valorizada pelos uzbeques. Com apoio do Kremlin, Aliy espalha desinformação e teorias conspirativas pelas redes sociais, na busca de dividir o país. O Ministério da Justiça tem feito advertências de que ele pode ser punido, mas o governo do presidente Shavkat Mirziyoyev tem receio de provocar a ira de Putin.

Nazir concorda com minha leitura de que, em países ameaçados pelo expansionismo russo, como o Azerbaijão, onde estive na semana anterior, e o próprio Usbequistão, a tentativa de extrair lições do que a Ucrânia teria “feito de errado” é uma defesa psicológica diante da sensação de vulnerabilidade que traz a conclusão de que não há nada que um país possa fazer para evitar uma tragédia como a invasão da Ucrânia. “Se Putin quiser, ele invade”, disse. Para pertencer a um país, as pessoas não precisam ser iguais, mas estar dispostas a defender o direito de todos de viver como quiserem. É isso que os autoritários querem destruir.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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