Estados Unidos e Irã estão perto de um acordo nuclear, com vastas consequências econômicas e geopolíticas. Fatores de várias ordens dão sentido de urgência às negociações, que podem ter desfecho dentro de semanas.
O barril caiu 20% desde o começo de julho, por causa da expectativa de retração da economia mundial e do acordo nuclear, que permitiria ao Irã exportar o seu petróleo. A queda do preço e a possibilidade do retorno do Irã ao mercado abriram uma discussão na Opep, que reúne os grandes exportadores, sobre cortar sua produção. Isso causou alta de 4,4% na última semana.
No fim do ano, a maioria dos países da União Europeia terá de parar totalmente de comprar petróleo russo. As exceções são Hungria, Eslováquia e República Checa, que dependem do petróleo russo fornecido pelo oleoduto Druzhba.
Do lado americano, o incentivo está nas eleições de 8 de novembro, que renovarão toda a Câmara e um terço do Senado. A aprovação do acordo muito perto da eleição teria um custo político para o governo democrata, porque não daria tempo para produzir o efeito benéfico da queda do preço global da energia. Ficariam só as queixas de Israel, exploradas pelos republicanos.
O Irã tem todo o interesse de levantar as sanções contra seu petróleo, antes que o preço caia ainda mais. As principais concessões têm partido de Teerã, que retirou a condição, por exemplo, da retirada da designação de terrorista da Guarda Revolucionária Islâmica, a força militar de elite do regime.
O país continua exigindo indenização em caso de os EUA romperem o acordo, como fez o então presidente Donald Trump, em maio de 2018. E também de voltar a ter acesso a seu parque de centrífugas, que preferencialmente ficariam seladas e inacessíveis em seu próprio território, ou em um país amigo, como Casaquistão ou Rússia.
Urgência
Pelo acordo de 2015, o Irã não enriqueceria urânio acima de 3,7% – o nível exigido para produzir energia – nem 300 kg, ou 3% de seu estoque, ao longo de 15 anos. Com a ruptura do acordo por Trump, o Irã enriqueceu 43 kg ao patamar de pureza de 60%.
Para construir a bomba, são necessários 90%, mas a partir de 60% os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica não conseguem diferenciar um do outro.
O Irã ainda não domina a tecnologia para colocar uma ogiva nuclear em um míssil e dispará-lo contra um alvo de longo alcance. Mas já poderia despejar bombas de avião, como os EUA fizeram no Japão, em 1945. O Irã estreitou a aliança militar com a Rússia, que recebe drones sofisticados da classe Shahid para empregar na Ucrânia. Os russos poderiam retribuir com a transferência da tecnologia nuclear que falta ao Irã. O tempo urge.