É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|A Itália caminha para a direita; leia coluna de Lourival Sant’Anna


Eleição no país introduz novas tensões na UE, que deixa de ter em Roma um parceiro confiável

Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

A vitória de Giorgia Meloni e de seus Irmãos da Itália nas eleições parlamentares de domingo passado coloca várias perguntas. Quem é ela e seu partido? Por que os eleitores italianos os escolheram? Quais as consequências para a Itália, a União Europeia e a guerra na Ucrânia?

No livro Io Sono Giorgia (“Eu Sou Giorgia”), Meloni conta que seu pai abandonou a família para viver uma aventura nas Ilhas Canárias num barco chamado Cavallo Pazzo (Cavalo Louco). Sua mãe considerou abortar quando estava grávida dela. A ausência do pai e a ameaça do aborto moldariam suas convicções morais.

Na adolescência, Meloni se filiou ao Movimento Social Italiano, formado por admiradores do ditador Benito Mussolini. Em 2012, liderou a fundação do partido Irmãos da Itália. Fui a um comício deles em Roma na eleição anterior, em 2018, quando eram o parceiro menor na coalizão liderada pela Liga, de Matteo Salvini, e Força Itália, de Silvio Berlusconi.

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Líder do Irmãos da Itália celebra na sede de seu partido, em Roma  Foto: Guglielmo Mangiapane/Reuters - 26/09/2022

O partido evita o rótulo de “neofascista”, que só lhe traz problemas, mas conserva o lema do movimento, “Deus, Pátria e Família”, em voga no Brasil, também. O slogan resume o impulso de excluir quem não é cristão, imigrantes, homossexuais e o direito ao aborto.

Dos principais candidatos, Meloni foi a única que não participou de governos. E os italianos, como sempre, queriam mudança. Ela os conquistou com a promessa de reduzir impostos e aumentar o valor do benefício previdenciário mínimo, as chances de se aposentar mais cedo, vagas nas creches públicas e incentivos para quem tem filhos.

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Para conciliar essas promessas, Meloni terá de aumentar o endividamento da Itália, que já viola as regras macroeconômicas da UE. Movimento semelhante do Reino Unido, que tem as contas bem melhores, está causando furor no mercado e balançando o novo governo.

As posições de Meloni sobre homossexuais e aborto atropelam os princípios de direitos humanos da UE, mas a coalizão que ela encabeça não terá maioria de dois terços para mudar a Constituição.

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Berlusconi e Salvini são fãs de Vladimir Putin. Meloni apoia as sanções com o argumento de que o êxito da Rússia fortaleceria a China – uma adversária que a direita nativista reconhece com mais facilidade.

Se, como tudo indica, a crise energética se agravar, os parceiros de coalizão de Meloni a pressionarão a ser mais suave com a Rússia. Por outro lado, a Itália depende dos 190 bilhões de euros do fundo europeu de recuperação da pandemia.

A eleição introduz novas tensões na UE, que deixa de ter na terceira economia do bloco, até aqui governada pelo ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi, um parceiro confiável.

A vitória de Giorgia Meloni e de seus Irmãos da Itália nas eleições parlamentares de domingo passado coloca várias perguntas. Quem é ela e seu partido? Por que os eleitores italianos os escolheram? Quais as consequências para a Itália, a União Europeia e a guerra na Ucrânia?

No livro Io Sono Giorgia (“Eu Sou Giorgia”), Meloni conta que seu pai abandonou a família para viver uma aventura nas Ilhas Canárias num barco chamado Cavallo Pazzo (Cavalo Louco). Sua mãe considerou abortar quando estava grávida dela. A ausência do pai e a ameaça do aborto moldariam suas convicções morais.

Na adolescência, Meloni se filiou ao Movimento Social Italiano, formado por admiradores do ditador Benito Mussolini. Em 2012, liderou a fundação do partido Irmãos da Itália. Fui a um comício deles em Roma na eleição anterior, em 2018, quando eram o parceiro menor na coalizão liderada pela Liga, de Matteo Salvini, e Força Itália, de Silvio Berlusconi.

Líder do Irmãos da Itália celebra na sede de seu partido, em Roma  Foto: Guglielmo Mangiapane/Reuters - 26/09/2022

O partido evita o rótulo de “neofascista”, que só lhe traz problemas, mas conserva o lema do movimento, “Deus, Pátria e Família”, em voga no Brasil, também. O slogan resume o impulso de excluir quem não é cristão, imigrantes, homossexuais e o direito ao aborto.

Dos principais candidatos, Meloni foi a única que não participou de governos. E os italianos, como sempre, queriam mudança. Ela os conquistou com a promessa de reduzir impostos e aumentar o valor do benefício previdenciário mínimo, as chances de se aposentar mais cedo, vagas nas creches públicas e incentivos para quem tem filhos.

Para conciliar essas promessas, Meloni terá de aumentar o endividamento da Itália, que já viola as regras macroeconômicas da UE. Movimento semelhante do Reino Unido, que tem as contas bem melhores, está causando furor no mercado e balançando o novo governo.

As posições de Meloni sobre homossexuais e aborto atropelam os princípios de direitos humanos da UE, mas a coalizão que ela encabeça não terá maioria de dois terços para mudar a Constituição.

Berlusconi e Salvini são fãs de Vladimir Putin. Meloni apoia as sanções com o argumento de que o êxito da Rússia fortaleceria a China – uma adversária que a direita nativista reconhece com mais facilidade.

Se, como tudo indica, a crise energética se agravar, os parceiros de coalizão de Meloni a pressionarão a ser mais suave com a Rússia. Por outro lado, a Itália depende dos 190 bilhões de euros do fundo europeu de recuperação da pandemia.

A eleição introduz novas tensões na UE, que deixa de ter na terceira economia do bloco, até aqui governada pelo ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi, um parceiro confiável.

A vitória de Giorgia Meloni e de seus Irmãos da Itália nas eleições parlamentares de domingo passado coloca várias perguntas. Quem é ela e seu partido? Por que os eleitores italianos os escolheram? Quais as consequências para a Itália, a União Europeia e a guerra na Ucrânia?

No livro Io Sono Giorgia (“Eu Sou Giorgia”), Meloni conta que seu pai abandonou a família para viver uma aventura nas Ilhas Canárias num barco chamado Cavallo Pazzo (Cavalo Louco). Sua mãe considerou abortar quando estava grávida dela. A ausência do pai e a ameaça do aborto moldariam suas convicções morais.

Na adolescência, Meloni se filiou ao Movimento Social Italiano, formado por admiradores do ditador Benito Mussolini. Em 2012, liderou a fundação do partido Irmãos da Itália. Fui a um comício deles em Roma na eleição anterior, em 2018, quando eram o parceiro menor na coalizão liderada pela Liga, de Matteo Salvini, e Força Itália, de Silvio Berlusconi.

Líder do Irmãos da Itália celebra na sede de seu partido, em Roma  Foto: Guglielmo Mangiapane/Reuters - 26/09/2022

O partido evita o rótulo de “neofascista”, que só lhe traz problemas, mas conserva o lema do movimento, “Deus, Pátria e Família”, em voga no Brasil, também. O slogan resume o impulso de excluir quem não é cristão, imigrantes, homossexuais e o direito ao aborto.

Dos principais candidatos, Meloni foi a única que não participou de governos. E os italianos, como sempre, queriam mudança. Ela os conquistou com a promessa de reduzir impostos e aumentar o valor do benefício previdenciário mínimo, as chances de se aposentar mais cedo, vagas nas creches públicas e incentivos para quem tem filhos.

Para conciliar essas promessas, Meloni terá de aumentar o endividamento da Itália, que já viola as regras macroeconômicas da UE. Movimento semelhante do Reino Unido, que tem as contas bem melhores, está causando furor no mercado e balançando o novo governo.

As posições de Meloni sobre homossexuais e aborto atropelam os princípios de direitos humanos da UE, mas a coalizão que ela encabeça não terá maioria de dois terços para mudar a Constituição.

Berlusconi e Salvini são fãs de Vladimir Putin. Meloni apoia as sanções com o argumento de que o êxito da Rússia fortaleceria a China – uma adversária que a direita nativista reconhece com mais facilidade.

Se, como tudo indica, a crise energética se agravar, os parceiros de coalizão de Meloni a pressionarão a ser mais suave com a Rússia. Por outro lado, a Itália depende dos 190 bilhões de euros do fundo europeu de recuperação da pandemia.

A eleição introduz novas tensões na UE, que deixa de ter na terceira economia do bloco, até aqui governada pelo ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi, um parceiro confiável.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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