É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Abordagem de Netanyahu no conflito fracassou em todos os aspectos; leia coluna de Lourival Sant’anna


Só 33% dos israelenses acreditam que o primeiro-ministro age pelo bem do país, afirma pesquisa

Por Lourival Sant'Anna

A ilusão que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu vende há três décadas aos israelenses, de priorizar a segurança em detrimento da paz com os palestinos, parece finalmente chegar ao fim — com alto custo para ambos os povos. A abordagem é um fracasso de todos os pontos de vista: da segurança, da reputação, das relações com os aliados e até dos interesses eleitorais de Netanyahu.

Depois de 112 dias de pesados bombardeios aéreos e 93 dias de invasão terrestre na Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF) admitem ter neutralizado apenas 30% da capacidade de combate do Hamas. Nenhum líder importante do Hamas foi morto ou capturado no enclave. Ainda segundo a IDF, 556 soldados israelenses morreram — 221 durante a incursão do Hamas no dia 7 de outubro, e os outros 335 na operação na Faixa de Gaza.

As atrocidades cometidas pelo Hamas deixaram 1.200 mortos em Israel, e o grupo fez 240 reféns, dos quais 132 estão em cativeiro ou mortos. Os ataques israelenses mataram mais de 26 mil palestinos, segundo as autoridades de saúde subordinadas ao Hamas.

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Em dezembro, quando esse dado era 15.899, um alto funcionário israelense admitiu 5 mil mortes do Hamas e o dobro disso de civis, o que confirma a contagem das autoridades palestinas. Imagens de satélite indicam que um terço das casas e prédios, dois terços da infra-estrutura, 23 dos 36 hospitais e 70% das escolas foram destruídos.

A liberdade com que os terroristas agiram no 7 de outubro tem relação com as prioridades do governo Netanyahu. As atenções das forças de segurança estavam voltadas para a Cisjordânia, onde seu governo tem estimulado e armado os colonos judeus a hostilizar os moradores palestinos; e para Jerusalém, onde fanáticos judeus recebem proteção para rezar na área reservada aos muçulmanos na Esplanada das Mesquitas, gerando choques com os palestinos.

Manifestantes cobram libertação dos reféns, Tel-Aviv, 27 de janeiro de 2024. Foto: AHMAD GHARABLI / AFP
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Familiares dos reféns, que incluem bebês, têm feito protestos constantes, acusando o governo de não priorizar sua libertação. A CNN apurou que o chefe do Mossad, o serviço secreto israelense, David Barnea, ofereceu ao Hamas salvo-conduto para seus líderes deixarem a Faixa de Gaza, em meio a uma trégua, em troca da libertação dos reféns. Eles recusaram. O grupo exige um cessar-fogo permanente, o que Netanyahu rejeita, com a frase: “Nossos soldados teriam caído em vão”.

Essa é uma constatação a que os israelenses estão chegando amargamente. Segundo pesquisa do Canal 13,53% dos entrevistados acreditam que as decisões de Netanyahu na condução da guerra são motivadas por interesses pessoas, e só 33%, que ele esteja agindo pelo bem do país.

Se houvesse eleições, o Likud, partido do primeiro-ministro, reduziria seu número de cadeiras de 32 para 16, segundo a pesquisa. A União Nacional, de oposição, saltaria de 12 para 37 cadeiras, e seu líder, o general Benny Gantz, seria encarregado de formar governo.

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Antes dos ataques terroristas do Hamas, Israel vivia as maiores manifestações de sua história, contra a proposta de reforma do governo que tira a independência da Corte Suprema. Netanyahu e vários de seus ministros têm problemas com a Justiça. A guerra suspendeu esse embate.

A Corte Internacional de Justiça ordenou que Israel “adote medidas a seu alcance” para prevenir atos e incitação ao genocídio e garanta a entrada de mais ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Os 17 juízes acataram parcialmente a denúncia da África do Sul, rejeitando seu pedido de cessar-fogo. O tribunal ainda deve levar anos para julgar se Israel comete genocídio, o que é considerado improvável.

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Aharon Barak, o mais renomado jurista de Israel, apontado pelo país para participar do júri, votou com a maioria, com o objetivo de “reduzir as tensões e desencorajar retórica danosa”. No julgamento foram citadas declarações de integrantes do governo que incitam à desumanização, violência e expulsão dos palestinos de seus territórios.

Apesar da importância do lobby judaico e do apoio do eleitorado evangélico a Israel, o governo de Joe Biden não disfarça sua irritação com os excessos cometidos pela IDF. O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, “deplorou” o ataque de tanques israelenses contra um complexo da ONU que abriga 30 mil palestinos em Khan Younis, que deixou 9 mortos e 75 feridos. Ele exigiu a proteção de civis e de instalações da ONU.

Netanyahu rejeita a proposta de Biden de criar um Estado palestino como condição para uma paz permanente. O primeiro-ministro continua preso à ideia de que isso ameaçaria a segurança de Israel. Netanyahu e seus ministros são hoje, ao lado do Hamas, os maiores obstáculos tanto à paz quanto à segurança. Uma não é possível sem a outra.

A ilusão que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu vende há três décadas aos israelenses, de priorizar a segurança em detrimento da paz com os palestinos, parece finalmente chegar ao fim — com alto custo para ambos os povos. A abordagem é um fracasso de todos os pontos de vista: da segurança, da reputação, das relações com os aliados e até dos interesses eleitorais de Netanyahu.

Depois de 112 dias de pesados bombardeios aéreos e 93 dias de invasão terrestre na Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF) admitem ter neutralizado apenas 30% da capacidade de combate do Hamas. Nenhum líder importante do Hamas foi morto ou capturado no enclave. Ainda segundo a IDF, 556 soldados israelenses morreram — 221 durante a incursão do Hamas no dia 7 de outubro, e os outros 335 na operação na Faixa de Gaza.

As atrocidades cometidas pelo Hamas deixaram 1.200 mortos em Israel, e o grupo fez 240 reféns, dos quais 132 estão em cativeiro ou mortos. Os ataques israelenses mataram mais de 26 mil palestinos, segundo as autoridades de saúde subordinadas ao Hamas.

Em dezembro, quando esse dado era 15.899, um alto funcionário israelense admitiu 5 mil mortes do Hamas e o dobro disso de civis, o que confirma a contagem das autoridades palestinas. Imagens de satélite indicam que um terço das casas e prédios, dois terços da infra-estrutura, 23 dos 36 hospitais e 70% das escolas foram destruídos.

A liberdade com que os terroristas agiram no 7 de outubro tem relação com as prioridades do governo Netanyahu. As atenções das forças de segurança estavam voltadas para a Cisjordânia, onde seu governo tem estimulado e armado os colonos judeus a hostilizar os moradores palestinos; e para Jerusalém, onde fanáticos judeus recebem proteção para rezar na área reservada aos muçulmanos na Esplanada das Mesquitas, gerando choques com os palestinos.

Manifestantes cobram libertação dos reféns, Tel-Aviv, 27 de janeiro de 2024. Foto: AHMAD GHARABLI / AFP

Familiares dos reféns, que incluem bebês, têm feito protestos constantes, acusando o governo de não priorizar sua libertação. A CNN apurou que o chefe do Mossad, o serviço secreto israelense, David Barnea, ofereceu ao Hamas salvo-conduto para seus líderes deixarem a Faixa de Gaza, em meio a uma trégua, em troca da libertação dos reféns. Eles recusaram. O grupo exige um cessar-fogo permanente, o que Netanyahu rejeita, com a frase: “Nossos soldados teriam caído em vão”.

Essa é uma constatação a que os israelenses estão chegando amargamente. Segundo pesquisa do Canal 13,53% dos entrevistados acreditam que as decisões de Netanyahu na condução da guerra são motivadas por interesses pessoas, e só 33%, que ele esteja agindo pelo bem do país.

Se houvesse eleições, o Likud, partido do primeiro-ministro, reduziria seu número de cadeiras de 32 para 16, segundo a pesquisa. A União Nacional, de oposição, saltaria de 12 para 37 cadeiras, e seu líder, o general Benny Gantz, seria encarregado de formar governo.

Antes dos ataques terroristas do Hamas, Israel vivia as maiores manifestações de sua história, contra a proposta de reforma do governo que tira a independência da Corte Suprema. Netanyahu e vários de seus ministros têm problemas com a Justiça. A guerra suspendeu esse embate.

A Corte Internacional de Justiça ordenou que Israel “adote medidas a seu alcance” para prevenir atos e incitação ao genocídio e garanta a entrada de mais ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Os 17 juízes acataram parcialmente a denúncia da África do Sul, rejeitando seu pedido de cessar-fogo. O tribunal ainda deve levar anos para julgar se Israel comete genocídio, o que é considerado improvável.

Aharon Barak, o mais renomado jurista de Israel, apontado pelo país para participar do júri, votou com a maioria, com o objetivo de “reduzir as tensões e desencorajar retórica danosa”. No julgamento foram citadas declarações de integrantes do governo que incitam à desumanização, violência e expulsão dos palestinos de seus territórios.

Apesar da importância do lobby judaico e do apoio do eleitorado evangélico a Israel, o governo de Joe Biden não disfarça sua irritação com os excessos cometidos pela IDF. O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, “deplorou” o ataque de tanques israelenses contra um complexo da ONU que abriga 30 mil palestinos em Khan Younis, que deixou 9 mortos e 75 feridos. Ele exigiu a proteção de civis e de instalações da ONU.

Netanyahu rejeita a proposta de Biden de criar um Estado palestino como condição para uma paz permanente. O primeiro-ministro continua preso à ideia de que isso ameaçaria a segurança de Israel. Netanyahu e seus ministros são hoje, ao lado do Hamas, os maiores obstáculos tanto à paz quanto à segurança. Uma não é possível sem a outra.

A ilusão que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu vende há três décadas aos israelenses, de priorizar a segurança em detrimento da paz com os palestinos, parece finalmente chegar ao fim — com alto custo para ambos os povos. A abordagem é um fracasso de todos os pontos de vista: da segurança, da reputação, das relações com os aliados e até dos interesses eleitorais de Netanyahu.

Depois de 112 dias de pesados bombardeios aéreos e 93 dias de invasão terrestre na Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF) admitem ter neutralizado apenas 30% da capacidade de combate do Hamas. Nenhum líder importante do Hamas foi morto ou capturado no enclave. Ainda segundo a IDF, 556 soldados israelenses morreram — 221 durante a incursão do Hamas no dia 7 de outubro, e os outros 335 na operação na Faixa de Gaza.

As atrocidades cometidas pelo Hamas deixaram 1.200 mortos em Israel, e o grupo fez 240 reféns, dos quais 132 estão em cativeiro ou mortos. Os ataques israelenses mataram mais de 26 mil palestinos, segundo as autoridades de saúde subordinadas ao Hamas.

Em dezembro, quando esse dado era 15.899, um alto funcionário israelense admitiu 5 mil mortes do Hamas e o dobro disso de civis, o que confirma a contagem das autoridades palestinas. Imagens de satélite indicam que um terço das casas e prédios, dois terços da infra-estrutura, 23 dos 36 hospitais e 70% das escolas foram destruídos.

A liberdade com que os terroristas agiram no 7 de outubro tem relação com as prioridades do governo Netanyahu. As atenções das forças de segurança estavam voltadas para a Cisjordânia, onde seu governo tem estimulado e armado os colonos judeus a hostilizar os moradores palestinos; e para Jerusalém, onde fanáticos judeus recebem proteção para rezar na área reservada aos muçulmanos na Esplanada das Mesquitas, gerando choques com os palestinos.

Manifestantes cobram libertação dos reféns, Tel-Aviv, 27 de janeiro de 2024. Foto: AHMAD GHARABLI / AFP

Familiares dos reféns, que incluem bebês, têm feito protestos constantes, acusando o governo de não priorizar sua libertação. A CNN apurou que o chefe do Mossad, o serviço secreto israelense, David Barnea, ofereceu ao Hamas salvo-conduto para seus líderes deixarem a Faixa de Gaza, em meio a uma trégua, em troca da libertação dos reféns. Eles recusaram. O grupo exige um cessar-fogo permanente, o que Netanyahu rejeita, com a frase: “Nossos soldados teriam caído em vão”.

Essa é uma constatação a que os israelenses estão chegando amargamente. Segundo pesquisa do Canal 13,53% dos entrevistados acreditam que as decisões de Netanyahu na condução da guerra são motivadas por interesses pessoas, e só 33%, que ele esteja agindo pelo bem do país.

Se houvesse eleições, o Likud, partido do primeiro-ministro, reduziria seu número de cadeiras de 32 para 16, segundo a pesquisa. A União Nacional, de oposição, saltaria de 12 para 37 cadeiras, e seu líder, o general Benny Gantz, seria encarregado de formar governo.

Antes dos ataques terroristas do Hamas, Israel vivia as maiores manifestações de sua história, contra a proposta de reforma do governo que tira a independência da Corte Suprema. Netanyahu e vários de seus ministros têm problemas com a Justiça. A guerra suspendeu esse embate.

A Corte Internacional de Justiça ordenou que Israel “adote medidas a seu alcance” para prevenir atos e incitação ao genocídio e garanta a entrada de mais ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Os 17 juízes acataram parcialmente a denúncia da África do Sul, rejeitando seu pedido de cessar-fogo. O tribunal ainda deve levar anos para julgar se Israel comete genocídio, o que é considerado improvável.

Aharon Barak, o mais renomado jurista de Israel, apontado pelo país para participar do júri, votou com a maioria, com o objetivo de “reduzir as tensões e desencorajar retórica danosa”. No julgamento foram citadas declarações de integrantes do governo que incitam à desumanização, violência e expulsão dos palestinos de seus territórios.

Apesar da importância do lobby judaico e do apoio do eleitorado evangélico a Israel, o governo de Joe Biden não disfarça sua irritação com os excessos cometidos pela IDF. O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, “deplorou” o ataque de tanques israelenses contra um complexo da ONU que abriga 30 mil palestinos em Khan Younis, que deixou 9 mortos e 75 feridos. Ele exigiu a proteção de civis e de instalações da ONU.

Netanyahu rejeita a proposta de Biden de criar um Estado palestino como condição para uma paz permanente. O primeiro-ministro continua preso à ideia de que isso ameaçaria a segurança de Israel. Netanyahu e seus ministros são hoje, ao lado do Hamas, os maiores obstáculos tanto à paz quanto à segurança. Uma não é possível sem a outra.

A ilusão que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu vende há três décadas aos israelenses, de priorizar a segurança em detrimento da paz com os palestinos, parece finalmente chegar ao fim — com alto custo para ambos os povos. A abordagem é um fracasso de todos os pontos de vista: da segurança, da reputação, das relações com os aliados e até dos interesses eleitorais de Netanyahu.

Depois de 112 dias de pesados bombardeios aéreos e 93 dias de invasão terrestre na Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF) admitem ter neutralizado apenas 30% da capacidade de combate do Hamas. Nenhum líder importante do Hamas foi morto ou capturado no enclave. Ainda segundo a IDF, 556 soldados israelenses morreram — 221 durante a incursão do Hamas no dia 7 de outubro, e os outros 335 na operação na Faixa de Gaza.

As atrocidades cometidas pelo Hamas deixaram 1.200 mortos em Israel, e o grupo fez 240 reféns, dos quais 132 estão em cativeiro ou mortos. Os ataques israelenses mataram mais de 26 mil palestinos, segundo as autoridades de saúde subordinadas ao Hamas.

Em dezembro, quando esse dado era 15.899, um alto funcionário israelense admitiu 5 mil mortes do Hamas e o dobro disso de civis, o que confirma a contagem das autoridades palestinas. Imagens de satélite indicam que um terço das casas e prédios, dois terços da infra-estrutura, 23 dos 36 hospitais e 70% das escolas foram destruídos.

A liberdade com que os terroristas agiram no 7 de outubro tem relação com as prioridades do governo Netanyahu. As atenções das forças de segurança estavam voltadas para a Cisjordânia, onde seu governo tem estimulado e armado os colonos judeus a hostilizar os moradores palestinos; e para Jerusalém, onde fanáticos judeus recebem proteção para rezar na área reservada aos muçulmanos na Esplanada das Mesquitas, gerando choques com os palestinos.

Manifestantes cobram libertação dos reféns, Tel-Aviv, 27 de janeiro de 2024. Foto: AHMAD GHARABLI / AFP

Familiares dos reféns, que incluem bebês, têm feito protestos constantes, acusando o governo de não priorizar sua libertação. A CNN apurou que o chefe do Mossad, o serviço secreto israelense, David Barnea, ofereceu ao Hamas salvo-conduto para seus líderes deixarem a Faixa de Gaza, em meio a uma trégua, em troca da libertação dos reféns. Eles recusaram. O grupo exige um cessar-fogo permanente, o que Netanyahu rejeita, com a frase: “Nossos soldados teriam caído em vão”.

Essa é uma constatação a que os israelenses estão chegando amargamente. Segundo pesquisa do Canal 13,53% dos entrevistados acreditam que as decisões de Netanyahu na condução da guerra são motivadas por interesses pessoas, e só 33%, que ele esteja agindo pelo bem do país.

Se houvesse eleições, o Likud, partido do primeiro-ministro, reduziria seu número de cadeiras de 32 para 16, segundo a pesquisa. A União Nacional, de oposição, saltaria de 12 para 37 cadeiras, e seu líder, o general Benny Gantz, seria encarregado de formar governo.

Antes dos ataques terroristas do Hamas, Israel vivia as maiores manifestações de sua história, contra a proposta de reforma do governo que tira a independência da Corte Suprema. Netanyahu e vários de seus ministros têm problemas com a Justiça. A guerra suspendeu esse embate.

A Corte Internacional de Justiça ordenou que Israel “adote medidas a seu alcance” para prevenir atos e incitação ao genocídio e garanta a entrada de mais ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Os 17 juízes acataram parcialmente a denúncia da África do Sul, rejeitando seu pedido de cessar-fogo. O tribunal ainda deve levar anos para julgar se Israel comete genocídio, o que é considerado improvável.

Aharon Barak, o mais renomado jurista de Israel, apontado pelo país para participar do júri, votou com a maioria, com o objetivo de “reduzir as tensões e desencorajar retórica danosa”. No julgamento foram citadas declarações de integrantes do governo que incitam à desumanização, violência e expulsão dos palestinos de seus territórios.

Apesar da importância do lobby judaico e do apoio do eleitorado evangélico a Israel, o governo de Joe Biden não disfarça sua irritação com os excessos cometidos pela IDF. O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, “deplorou” o ataque de tanques israelenses contra um complexo da ONU que abriga 30 mil palestinos em Khan Younis, que deixou 9 mortos e 75 feridos. Ele exigiu a proteção de civis e de instalações da ONU.

Netanyahu rejeita a proposta de Biden de criar um Estado palestino como condição para uma paz permanente. O primeiro-ministro continua preso à ideia de que isso ameaçaria a segurança de Israel. Netanyahu e seus ministros são hoje, ao lado do Hamas, os maiores obstáculos tanto à paz quanto à segurança. Uma não é possível sem a outra.

A ilusão que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu vende há três décadas aos israelenses, de priorizar a segurança em detrimento da paz com os palestinos, parece finalmente chegar ao fim — com alto custo para ambos os povos. A abordagem é um fracasso de todos os pontos de vista: da segurança, da reputação, das relações com os aliados e até dos interesses eleitorais de Netanyahu.

Depois de 112 dias de pesados bombardeios aéreos e 93 dias de invasão terrestre na Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF) admitem ter neutralizado apenas 30% da capacidade de combate do Hamas. Nenhum líder importante do Hamas foi morto ou capturado no enclave. Ainda segundo a IDF, 556 soldados israelenses morreram — 221 durante a incursão do Hamas no dia 7 de outubro, e os outros 335 na operação na Faixa de Gaza.

As atrocidades cometidas pelo Hamas deixaram 1.200 mortos em Israel, e o grupo fez 240 reféns, dos quais 132 estão em cativeiro ou mortos. Os ataques israelenses mataram mais de 26 mil palestinos, segundo as autoridades de saúde subordinadas ao Hamas.

Em dezembro, quando esse dado era 15.899, um alto funcionário israelense admitiu 5 mil mortes do Hamas e o dobro disso de civis, o que confirma a contagem das autoridades palestinas. Imagens de satélite indicam que um terço das casas e prédios, dois terços da infra-estrutura, 23 dos 36 hospitais e 70% das escolas foram destruídos.

A liberdade com que os terroristas agiram no 7 de outubro tem relação com as prioridades do governo Netanyahu. As atenções das forças de segurança estavam voltadas para a Cisjordânia, onde seu governo tem estimulado e armado os colonos judeus a hostilizar os moradores palestinos; e para Jerusalém, onde fanáticos judeus recebem proteção para rezar na área reservada aos muçulmanos na Esplanada das Mesquitas, gerando choques com os palestinos.

Manifestantes cobram libertação dos reféns, Tel-Aviv, 27 de janeiro de 2024. Foto: AHMAD GHARABLI / AFP

Familiares dos reféns, que incluem bebês, têm feito protestos constantes, acusando o governo de não priorizar sua libertação. A CNN apurou que o chefe do Mossad, o serviço secreto israelense, David Barnea, ofereceu ao Hamas salvo-conduto para seus líderes deixarem a Faixa de Gaza, em meio a uma trégua, em troca da libertação dos reféns. Eles recusaram. O grupo exige um cessar-fogo permanente, o que Netanyahu rejeita, com a frase: “Nossos soldados teriam caído em vão”.

Essa é uma constatação a que os israelenses estão chegando amargamente. Segundo pesquisa do Canal 13,53% dos entrevistados acreditam que as decisões de Netanyahu na condução da guerra são motivadas por interesses pessoas, e só 33%, que ele esteja agindo pelo bem do país.

Se houvesse eleições, o Likud, partido do primeiro-ministro, reduziria seu número de cadeiras de 32 para 16, segundo a pesquisa. A União Nacional, de oposição, saltaria de 12 para 37 cadeiras, e seu líder, o general Benny Gantz, seria encarregado de formar governo.

Antes dos ataques terroristas do Hamas, Israel vivia as maiores manifestações de sua história, contra a proposta de reforma do governo que tira a independência da Corte Suprema. Netanyahu e vários de seus ministros têm problemas com a Justiça. A guerra suspendeu esse embate.

A Corte Internacional de Justiça ordenou que Israel “adote medidas a seu alcance” para prevenir atos e incitação ao genocídio e garanta a entrada de mais ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Os 17 juízes acataram parcialmente a denúncia da África do Sul, rejeitando seu pedido de cessar-fogo. O tribunal ainda deve levar anos para julgar se Israel comete genocídio, o que é considerado improvável.

Aharon Barak, o mais renomado jurista de Israel, apontado pelo país para participar do júri, votou com a maioria, com o objetivo de “reduzir as tensões e desencorajar retórica danosa”. No julgamento foram citadas declarações de integrantes do governo que incitam à desumanização, violência e expulsão dos palestinos de seus territórios.

Apesar da importância do lobby judaico e do apoio do eleitorado evangélico a Israel, o governo de Joe Biden não disfarça sua irritação com os excessos cometidos pela IDF. O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, “deplorou” o ataque de tanques israelenses contra um complexo da ONU que abriga 30 mil palestinos em Khan Younis, que deixou 9 mortos e 75 feridos. Ele exigiu a proteção de civis e de instalações da ONU.

Netanyahu rejeita a proposta de Biden de criar um Estado palestino como condição para uma paz permanente. O primeiro-ministro continua preso à ideia de que isso ameaçaria a segurança de Israel. Netanyahu e seus ministros são hoje, ao lado do Hamas, os maiores obstáculos tanto à paz quanto à segurança. Uma não é possível sem a outra.

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