É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Alinhamento do Brasil com China e Rússia ameaça relação com o Ocidente


Além de contrariar um princípio caro da política externa brasileira, o da soberania, a Rússia atraiu contra si uma união militar no Ocidente inédita desde a 2.ª Guerra Mundial

Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

A simpatia do governo Lula pelo expansionismo militar russo tornou-se ainda mais explícita na reunião do chanceler chinês, Wang Yi, e do assessor especial brasileiro, Celso Amorim, em Pequim. As conclusões do encontro colocaram na órbita da China a política do Brasil para a Ucrânia.

Em comunicado conjunto divulgado depois do encontro, Brasil e China apelam para que todas as partes envolvidas se comprometam em não expandir o campo de batalha, não escalar os combates e não provocar a outra. Não houve condenação à invasão.

Essas condições equivalem a dizer que a Ucrânia não tem o direito de se defender. Já que ela é o país invadido, os combates terrestres se concentram, por definição, na Ucrânia, com os ucranianos tentando conter os avanços russos e recuperar território.

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Ministro das relações exteriores da China, Wang Yi, em uma conferência em Jacarta, na Indonésia, em abril  Foto: Willy Kurniawan/Reuters

Desde a invasão em grande escala da Rússia, em fevereiro de 2022, a Ucrânia recuperou 54% do novo território ocupado. Outros 18% continuam ocupados, incluindo os 8% invadidos em 2014. A atitude do Ocidente de normalizar essa ocupação em 2014, a mesma que Brasil e China adotam até hoje, incentivou Vladimir Putin a ampliá-la.

Amorim, que esteve na Rússia há um mês, contou com otimismo a repórteres brasileiros em Pequim ter ouvido de um de seus interlocutores russos que eles querem uma “neutralização”, e “uma zona tampão com tamanho suficiente para que não haja armas que atinjam diretamente Moscou.”

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O assessor especial brasileiro demonstra crer que a Rússia invadiu a Ucrânia para se defender de uma ameaça. Não há a menor base factual para essa leitura, promovida pela propaganda de Putin.

Ao contrário, o governo de Volodmir Zelenski fez de tudo para não dar pretextos à invasão russa. Mesmo quando mais de 100 mil soldados russos se concentravam na fronteira, e a Rússia promovia um bloqueio naval contra a costa ucraniana, em dezembro de 2021, Zelenski desautorizou providências típicas para a defesa de um país sob ataque iminente, como a convocação de reservistas ou a escavação de trincheiras.

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Em várias etapas da agressão russa à Ucrânia, o Kremlin enviou sinais contraditórios sobre suas intenções de tentar congelar o front ou agarrar mais território. Esses sinais dependeram, em parte, da dinâmica no terreno e da disposição de EUA e Europa de seguir ajudando a Ucrânia, e em parte das táticas russas de guerra informacional.

Putin nunca demonstrou disposição real de negociar garantias de segurança em troca da devolução de território ucraniano. Aceitar, como fazem Brasil e China, uma solução que não contemple essa devolução é renunciar ao princípio da soberania.

Assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, discursa em reunião do Conselho de Segurança da Rússia, em São Petersburgo Foto: Reprodução
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Para a China, esse racional é conveniente. Primeiro, porque Xi Jinping tem deixado claro que pretende anexar Taiwan. A China assedia a ilha regularmente, por mar e ar, como fez nos últimos dias com 46 aviões de guerra.

Em segundo lugar, as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia criaram uma dependência do país em relação à China, que aproveita para comprar seu petróleo e gás a preços abaixo do mercado, vender-lhe produtos industrializados e até instalar fábricas para substituir as mais de mil empresas ocidentais que se retiraram do país.

Por último, ao obrigar o Ocidente a ajudar a Ucrânia, a campanha russa drena recursos das democracias na América do Norte e na Europa, que rivalizam com a China na disputa por influência global.

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O alinhamento do Brasil, um país grande e democrático, é valioso para a China, porque demonstra capacidade de atrair para seu campo não apenas ditaduras africanas e asiáticas dependentes de seu poder econômico, projeção política e militar e ideologia autoritária.

Xi Jinping recebe Vladimir Putin em Pequim, 16 de maio de 2024. Foto: Sergei Bobylev/Reuters

E o que o Brasil ganha com isso? Wang Yi declarou que China e Brasil “têm economias altamente complementares e interesses profundamente integrados, que é o ativo estratégico mais precioso”. A primeira parte é verdadeira: o Brasil é exportador de alimentos e a China, de manufaturados.

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Mas a própria complementaridade torna desnecessário um alinhamento geopolítico para impulsionar o comércio: ele se movimenta por si, e não depende da proximidade entre os governos, como ficou claro quando Jair Bolsonaro, detrator da China, era presidente.

A segunda parte é problemática. Alinhar-se à China não corresponde aos interesses nacionais do Brasil.

Além de contrariar um princípio caro da política externa brasileira, o da soberania, a Rússia atraiu contra si uma união militar no Ocidente inédita desde a 2.ª Guerra Mundial. A complacência com a agressão russa aliena o Brasil do Ocidente e o coloca como um parceiro não confiável.

A simpatia do governo Lula pelo expansionismo militar russo tornou-se ainda mais explícita na reunião do chanceler chinês, Wang Yi, e do assessor especial brasileiro, Celso Amorim, em Pequim. As conclusões do encontro colocaram na órbita da China a política do Brasil para a Ucrânia.

Em comunicado conjunto divulgado depois do encontro, Brasil e China apelam para que todas as partes envolvidas se comprometam em não expandir o campo de batalha, não escalar os combates e não provocar a outra. Não houve condenação à invasão.

Essas condições equivalem a dizer que a Ucrânia não tem o direito de se defender. Já que ela é o país invadido, os combates terrestres se concentram, por definição, na Ucrânia, com os ucranianos tentando conter os avanços russos e recuperar território.

Ministro das relações exteriores da China, Wang Yi, em uma conferência em Jacarta, na Indonésia, em abril  Foto: Willy Kurniawan/Reuters

Desde a invasão em grande escala da Rússia, em fevereiro de 2022, a Ucrânia recuperou 54% do novo território ocupado. Outros 18% continuam ocupados, incluindo os 8% invadidos em 2014. A atitude do Ocidente de normalizar essa ocupação em 2014, a mesma que Brasil e China adotam até hoje, incentivou Vladimir Putin a ampliá-la.

Amorim, que esteve na Rússia há um mês, contou com otimismo a repórteres brasileiros em Pequim ter ouvido de um de seus interlocutores russos que eles querem uma “neutralização”, e “uma zona tampão com tamanho suficiente para que não haja armas que atinjam diretamente Moscou.”

O assessor especial brasileiro demonstra crer que a Rússia invadiu a Ucrânia para se defender de uma ameaça. Não há a menor base factual para essa leitura, promovida pela propaganda de Putin.

Ao contrário, o governo de Volodmir Zelenski fez de tudo para não dar pretextos à invasão russa. Mesmo quando mais de 100 mil soldados russos se concentravam na fronteira, e a Rússia promovia um bloqueio naval contra a costa ucraniana, em dezembro de 2021, Zelenski desautorizou providências típicas para a defesa de um país sob ataque iminente, como a convocação de reservistas ou a escavação de trincheiras.

Em várias etapas da agressão russa à Ucrânia, o Kremlin enviou sinais contraditórios sobre suas intenções de tentar congelar o front ou agarrar mais território. Esses sinais dependeram, em parte, da dinâmica no terreno e da disposição de EUA e Europa de seguir ajudando a Ucrânia, e em parte das táticas russas de guerra informacional.

Putin nunca demonstrou disposição real de negociar garantias de segurança em troca da devolução de território ucraniano. Aceitar, como fazem Brasil e China, uma solução que não contemple essa devolução é renunciar ao princípio da soberania.

Assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, discursa em reunião do Conselho de Segurança da Rússia, em São Petersburgo Foto: Reprodução

Para a China, esse racional é conveniente. Primeiro, porque Xi Jinping tem deixado claro que pretende anexar Taiwan. A China assedia a ilha regularmente, por mar e ar, como fez nos últimos dias com 46 aviões de guerra.

Em segundo lugar, as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia criaram uma dependência do país em relação à China, que aproveita para comprar seu petróleo e gás a preços abaixo do mercado, vender-lhe produtos industrializados e até instalar fábricas para substituir as mais de mil empresas ocidentais que se retiraram do país.

Por último, ao obrigar o Ocidente a ajudar a Ucrânia, a campanha russa drena recursos das democracias na América do Norte e na Europa, que rivalizam com a China na disputa por influência global.

O alinhamento do Brasil, um país grande e democrático, é valioso para a China, porque demonstra capacidade de atrair para seu campo não apenas ditaduras africanas e asiáticas dependentes de seu poder econômico, projeção política e militar e ideologia autoritária.

Xi Jinping recebe Vladimir Putin em Pequim, 16 de maio de 2024. Foto: Sergei Bobylev/Reuters

E o que o Brasil ganha com isso? Wang Yi declarou que China e Brasil “têm economias altamente complementares e interesses profundamente integrados, que é o ativo estratégico mais precioso”. A primeira parte é verdadeira: o Brasil é exportador de alimentos e a China, de manufaturados.

Mas a própria complementaridade torna desnecessário um alinhamento geopolítico para impulsionar o comércio: ele se movimenta por si, e não depende da proximidade entre os governos, como ficou claro quando Jair Bolsonaro, detrator da China, era presidente.

A segunda parte é problemática. Alinhar-se à China não corresponde aos interesses nacionais do Brasil.

Além de contrariar um princípio caro da política externa brasileira, o da soberania, a Rússia atraiu contra si uma união militar no Ocidente inédita desde a 2.ª Guerra Mundial. A complacência com a agressão russa aliena o Brasil do Ocidente e o coloca como um parceiro não confiável.

A simpatia do governo Lula pelo expansionismo militar russo tornou-se ainda mais explícita na reunião do chanceler chinês, Wang Yi, e do assessor especial brasileiro, Celso Amorim, em Pequim. As conclusões do encontro colocaram na órbita da China a política do Brasil para a Ucrânia.

Em comunicado conjunto divulgado depois do encontro, Brasil e China apelam para que todas as partes envolvidas se comprometam em não expandir o campo de batalha, não escalar os combates e não provocar a outra. Não houve condenação à invasão.

Essas condições equivalem a dizer que a Ucrânia não tem o direito de se defender. Já que ela é o país invadido, os combates terrestres se concentram, por definição, na Ucrânia, com os ucranianos tentando conter os avanços russos e recuperar território.

Ministro das relações exteriores da China, Wang Yi, em uma conferência em Jacarta, na Indonésia, em abril  Foto: Willy Kurniawan/Reuters

Desde a invasão em grande escala da Rússia, em fevereiro de 2022, a Ucrânia recuperou 54% do novo território ocupado. Outros 18% continuam ocupados, incluindo os 8% invadidos em 2014. A atitude do Ocidente de normalizar essa ocupação em 2014, a mesma que Brasil e China adotam até hoje, incentivou Vladimir Putin a ampliá-la.

Amorim, que esteve na Rússia há um mês, contou com otimismo a repórteres brasileiros em Pequim ter ouvido de um de seus interlocutores russos que eles querem uma “neutralização”, e “uma zona tampão com tamanho suficiente para que não haja armas que atinjam diretamente Moscou.”

O assessor especial brasileiro demonstra crer que a Rússia invadiu a Ucrânia para se defender de uma ameaça. Não há a menor base factual para essa leitura, promovida pela propaganda de Putin.

Ao contrário, o governo de Volodmir Zelenski fez de tudo para não dar pretextos à invasão russa. Mesmo quando mais de 100 mil soldados russos se concentravam na fronteira, e a Rússia promovia um bloqueio naval contra a costa ucraniana, em dezembro de 2021, Zelenski desautorizou providências típicas para a defesa de um país sob ataque iminente, como a convocação de reservistas ou a escavação de trincheiras.

Em várias etapas da agressão russa à Ucrânia, o Kremlin enviou sinais contraditórios sobre suas intenções de tentar congelar o front ou agarrar mais território. Esses sinais dependeram, em parte, da dinâmica no terreno e da disposição de EUA e Europa de seguir ajudando a Ucrânia, e em parte das táticas russas de guerra informacional.

Putin nunca demonstrou disposição real de negociar garantias de segurança em troca da devolução de território ucraniano. Aceitar, como fazem Brasil e China, uma solução que não contemple essa devolução é renunciar ao princípio da soberania.

Assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, discursa em reunião do Conselho de Segurança da Rússia, em São Petersburgo Foto: Reprodução

Para a China, esse racional é conveniente. Primeiro, porque Xi Jinping tem deixado claro que pretende anexar Taiwan. A China assedia a ilha regularmente, por mar e ar, como fez nos últimos dias com 46 aviões de guerra.

Em segundo lugar, as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia criaram uma dependência do país em relação à China, que aproveita para comprar seu petróleo e gás a preços abaixo do mercado, vender-lhe produtos industrializados e até instalar fábricas para substituir as mais de mil empresas ocidentais que se retiraram do país.

Por último, ao obrigar o Ocidente a ajudar a Ucrânia, a campanha russa drena recursos das democracias na América do Norte e na Europa, que rivalizam com a China na disputa por influência global.

O alinhamento do Brasil, um país grande e democrático, é valioso para a China, porque demonstra capacidade de atrair para seu campo não apenas ditaduras africanas e asiáticas dependentes de seu poder econômico, projeção política e militar e ideologia autoritária.

Xi Jinping recebe Vladimir Putin em Pequim, 16 de maio de 2024. Foto: Sergei Bobylev/Reuters

E o que o Brasil ganha com isso? Wang Yi declarou que China e Brasil “têm economias altamente complementares e interesses profundamente integrados, que é o ativo estratégico mais precioso”. A primeira parte é verdadeira: o Brasil é exportador de alimentos e a China, de manufaturados.

Mas a própria complementaridade torna desnecessário um alinhamento geopolítico para impulsionar o comércio: ele se movimenta por si, e não depende da proximidade entre os governos, como ficou claro quando Jair Bolsonaro, detrator da China, era presidente.

A segunda parte é problemática. Alinhar-se à China não corresponde aos interesses nacionais do Brasil.

Além de contrariar um princípio caro da política externa brasileira, o da soberania, a Rússia atraiu contra si uma união militar no Ocidente inédita desde a 2.ª Guerra Mundial. A complacência com a agressão russa aliena o Brasil do Ocidente e o coloca como um parceiro não confiável.

A simpatia do governo Lula pelo expansionismo militar russo tornou-se ainda mais explícita na reunião do chanceler chinês, Wang Yi, e do assessor especial brasileiro, Celso Amorim, em Pequim. As conclusões do encontro colocaram na órbita da China a política do Brasil para a Ucrânia.

Em comunicado conjunto divulgado depois do encontro, Brasil e China apelam para que todas as partes envolvidas se comprometam em não expandir o campo de batalha, não escalar os combates e não provocar a outra. Não houve condenação à invasão.

Essas condições equivalem a dizer que a Ucrânia não tem o direito de se defender. Já que ela é o país invadido, os combates terrestres se concentram, por definição, na Ucrânia, com os ucranianos tentando conter os avanços russos e recuperar território.

Ministro das relações exteriores da China, Wang Yi, em uma conferência em Jacarta, na Indonésia, em abril  Foto: Willy Kurniawan/Reuters

Desde a invasão em grande escala da Rússia, em fevereiro de 2022, a Ucrânia recuperou 54% do novo território ocupado. Outros 18% continuam ocupados, incluindo os 8% invadidos em 2014. A atitude do Ocidente de normalizar essa ocupação em 2014, a mesma que Brasil e China adotam até hoje, incentivou Vladimir Putin a ampliá-la.

Amorim, que esteve na Rússia há um mês, contou com otimismo a repórteres brasileiros em Pequim ter ouvido de um de seus interlocutores russos que eles querem uma “neutralização”, e “uma zona tampão com tamanho suficiente para que não haja armas que atinjam diretamente Moscou.”

O assessor especial brasileiro demonstra crer que a Rússia invadiu a Ucrânia para se defender de uma ameaça. Não há a menor base factual para essa leitura, promovida pela propaganda de Putin.

Ao contrário, o governo de Volodmir Zelenski fez de tudo para não dar pretextos à invasão russa. Mesmo quando mais de 100 mil soldados russos se concentravam na fronteira, e a Rússia promovia um bloqueio naval contra a costa ucraniana, em dezembro de 2021, Zelenski desautorizou providências típicas para a defesa de um país sob ataque iminente, como a convocação de reservistas ou a escavação de trincheiras.

Em várias etapas da agressão russa à Ucrânia, o Kremlin enviou sinais contraditórios sobre suas intenções de tentar congelar o front ou agarrar mais território. Esses sinais dependeram, em parte, da dinâmica no terreno e da disposição de EUA e Europa de seguir ajudando a Ucrânia, e em parte das táticas russas de guerra informacional.

Putin nunca demonstrou disposição real de negociar garantias de segurança em troca da devolução de território ucraniano. Aceitar, como fazem Brasil e China, uma solução que não contemple essa devolução é renunciar ao princípio da soberania.

Assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, discursa em reunião do Conselho de Segurança da Rússia, em São Petersburgo Foto: Reprodução

Para a China, esse racional é conveniente. Primeiro, porque Xi Jinping tem deixado claro que pretende anexar Taiwan. A China assedia a ilha regularmente, por mar e ar, como fez nos últimos dias com 46 aviões de guerra.

Em segundo lugar, as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia criaram uma dependência do país em relação à China, que aproveita para comprar seu petróleo e gás a preços abaixo do mercado, vender-lhe produtos industrializados e até instalar fábricas para substituir as mais de mil empresas ocidentais que se retiraram do país.

Por último, ao obrigar o Ocidente a ajudar a Ucrânia, a campanha russa drena recursos das democracias na América do Norte e na Europa, que rivalizam com a China na disputa por influência global.

O alinhamento do Brasil, um país grande e democrático, é valioso para a China, porque demonstra capacidade de atrair para seu campo não apenas ditaduras africanas e asiáticas dependentes de seu poder econômico, projeção política e militar e ideologia autoritária.

Xi Jinping recebe Vladimir Putin em Pequim, 16 de maio de 2024. Foto: Sergei Bobylev/Reuters

E o que o Brasil ganha com isso? Wang Yi declarou que China e Brasil “têm economias altamente complementares e interesses profundamente integrados, que é o ativo estratégico mais precioso”. A primeira parte é verdadeira: o Brasil é exportador de alimentos e a China, de manufaturados.

Mas a própria complementaridade torna desnecessário um alinhamento geopolítico para impulsionar o comércio: ele se movimenta por si, e não depende da proximidade entre os governos, como ficou claro quando Jair Bolsonaro, detrator da China, era presidente.

A segunda parte é problemática. Alinhar-se à China não corresponde aos interesses nacionais do Brasil.

Além de contrariar um princípio caro da política externa brasileira, o da soberania, a Rússia atraiu contra si uma união militar no Ocidente inédita desde a 2.ª Guerra Mundial. A complacência com a agressão russa aliena o Brasil do Ocidente e o coloca como um parceiro não confiável.

Opinião por Lourival Sant'Anna

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