As declarações de Lula ao lado do presidente argentino, Alberto Fernández, após reunião e jantar, na terça-feira, criaram um espetáculo constrangedor. Fernández foi humilhado, tratado como mendigo que ademais sai de mãos vazias, enquanto Lula fazia promessas impossíveis de cumprir.
“A reunião foi longa, difícil, e ainda teremos muitas outras reuniões dessa”, avisou Lula. “Do ponto de vista político, me comprometi com meu amigo que vou fazer todo e qualquer sacrifício para ajudar a Argentina neste momento difícil.”
Lula arrematou: “Alberto Fernández é um companheiro que chegou aqui muito apreensivo e vai voltar mais tranquilo, é verdade, sem dinheiro”. Enquanto Lula se divertia, o presidente argentino sorria sem graça, sem dizer palavra.
Na véspera, os ministros da Fazenda dos dois países, Fernando Haddad e Sergio Massa, haviam conversado longamente por videoconferência, ladeados de seus assessores. E não haviam chegado ao que Haddad chamou de “equação” para garantir que os exportadores brasileiros “não tenham problemas para receber”.
A Argentina não tem dólares para importar o que necessita. Na cotação oficial, o dólar se valorizou quase 100% frente ao peso nos últimos 12 meses. Nenhum país, nem mesmo a China, com sua influência crescente sobre o vizinho, que lhe valeu o apelido de “Argenchina”, aceitaria uma moeda que derrete a cada dia.
O que a China tem feito é o tradicional escambo: a troca de manufaturados por soja e carne argentinas. Como se trata de commodities, o preço é cotado em dólares e se faz o crédito que permite à Argentina comprar os produtos chineses. Foi dessa forma que a China ultrapassou o Brasil como maior parceiro comercial da Argentina.
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Lula contou que, durante a reunião com Fernández, ligou para Dilma Rousseff, recém-nomeada presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, o “banco dos Brics”). Era cedo em Xangai e ela parou de fazer seu exercício de bicicleta para lhe dar a notícia de que o presidente, Xi Jinping, enviaria seu chanceler para falar com ela sobre como o banco poderia “ajudar a Argentina”.
O país vizinho não é sócio do banco. Mesmo que fosse, o NDB não é uma instituição de resgate financeiro, mas de custeio de projetos de infraestrutura. A governança do banco pode estar ameaçada.
Lula prometeu pedir ao FMI, esse sim o credor de última instância, “tirar a faca do pescoço” da Argentina. “O FMI sabe como a Argentina contraiu a dívida e não pode continuar pressionando um país que só quer crescer.”
O FMI já negociou com a Argentina vários planos de resgate nas últimas décadas. Todos fracassaram, porque o país não cumpriu sua parte: equilibrar as contas públicas. Em 15 desses 20 anos, a Argentina foi governada por companheiros de esquerda: Néstor e Cristina Kirchner e o próprio Fernández.