É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Argentina fracassa porque nunca equilibrou as contas públicas; leia coluna de Lourival Sant’Anna


O FMI já negociou com a Argentina vários planos de resgate nas últimas décadas. Todos fracassaram, porque o país não cumpriu sua parte

Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

As declarações de Lula ao lado do presidente argentino, Alberto Fernández, após reunião e jantar, na terça-feira, criaram um espetáculo constrangedor. Fernández foi humilhado, tratado como mendigo que ademais sai de mãos vazias, enquanto Lula fazia promessas impossíveis de cumprir.

“A reunião foi longa, difícil, e ainda teremos muitas outras reuniões dessa”, avisou Lula. “Do ponto de vista político, me comprometi com meu amigo que vou fazer todo e qualquer sacrifício para ajudar a Argentina neste momento difícil.”

Lula arrematou: “Alberto Fernández é um companheiro que chegou aqui muito apreensivo e vai voltar mais tranquilo, é verdade, sem dinheiro”. Enquanto Lula se divertia, o presidente argentino sorria sem graça, sem dizer palavra.

continua após a publicidade
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (direita) durante reunião com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, no começo do mês; tentativa de conseguir dinheiro  Foto: Wilton Junior / Estadão

Na véspera, os ministros da Fazenda dos dois países, Fernando Haddad e Sergio Massa, haviam conversado longamente por videoconferência, ladeados de seus assessores. E não haviam chegado ao que Haddad chamou de “equação” para garantir que os exportadores brasileiros “não tenham problemas para receber”.

A Argentina não tem dólares para importar o que necessita. Na cotação oficial, o dólar se valorizou quase 100% frente ao peso nos últimos 12 meses. Nenhum país, nem mesmo a China, com sua influência crescente sobre o vizinho, que lhe valeu o apelido de “Argenchina”, aceitaria uma moeda que derrete a cada dia.

continua após a publicidade

O que a China tem feito é o tradicional escambo: a troca de manufaturados por soja e carne argentinas. Como se trata de commodities, o preço é cotado em dólares e se faz o crédito que permite à Argentina comprar os produtos chineses. Foi dessa forma que a China ultrapassou o Brasil como maior parceiro comercial da Argentina.

Lula contou que, durante a reunião com Fernández, ligou para Dilma Rousseff, recém-nomeada presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, o “banco dos Brics”). Era cedo em Xangai e ela parou de fazer seu exercício de bicicleta para lhe dar a notícia de que o presidente, Xi Jinping, enviaria seu chanceler para falar com ela sobre como o banco poderia “ajudar a Argentina”.

continua após a publicidade

O país vizinho não é sócio do banco. Mesmo que fosse, o NDB não é uma instituição de resgate financeiro, mas de custeio de projetos de infraestrutura. A governança do banco pode estar ameaçada.

Lula prometeu pedir ao FMI, esse sim o credor de última instância, “tirar a faca do pescoço” da Argentina. “O FMI sabe como a Argentina contraiu a dívida e não pode continuar pressionando um país que só quer crescer.”

O FMI já negociou com a Argentina vários planos de resgate nas últimas décadas. Todos fracassaram, porque o país não cumpriu sua parte: equilibrar as contas públicas. Em 15 desses 20 anos, a Argentina foi governada por companheiros de esquerda: Néstor e Cristina Kirchner e o próprio Fernández.

As declarações de Lula ao lado do presidente argentino, Alberto Fernández, após reunião e jantar, na terça-feira, criaram um espetáculo constrangedor. Fernández foi humilhado, tratado como mendigo que ademais sai de mãos vazias, enquanto Lula fazia promessas impossíveis de cumprir.

“A reunião foi longa, difícil, e ainda teremos muitas outras reuniões dessa”, avisou Lula. “Do ponto de vista político, me comprometi com meu amigo que vou fazer todo e qualquer sacrifício para ajudar a Argentina neste momento difícil.”

Lula arrematou: “Alberto Fernández é um companheiro que chegou aqui muito apreensivo e vai voltar mais tranquilo, é verdade, sem dinheiro”. Enquanto Lula se divertia, o presidente argentino sorria sem graça, sem dizer palavra.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (direita) durante reunião com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, no começo do mês; tentativa de conseguir dinheiro  Foto: Wilton Junior / Estadão

Na véspera, os ministros da Fazenda dos dois países, Fernando Haddad e Sergio Massa, haviam conversado longamente por videoconferência, ladeados de seus assessores. E não haviam chegado ao que Haddad chamou de “equação” para garantir que os exportadores brasileiros “não tenham problemas para receber”.

A Argentina não tem dólares para importar o que necessita. Na cotação oficial, o dólar se valorizou quase 100% frente ao peso nos últimos 12 meses. Nenhum país, nem mesmo a China, com sua influência crescente sobre o vizinho, que lhe valeu o apelido de “Argenchina”, aceitaria uma moeda que derrete a cada dia.

O que a China tem feito é o tradicional escambo: a troca de manufaturados por soja e carne argentinas. Como se trata de commodities, o preço é cotado em dólares e se faz o crédito que permite à Argentina comprar os produtos chineses. Foi dessa forma que a China ultrapassou o Brasil como maior parceiro comercial da Argentina.

Lula contou que, durante a reunião com Fernández, ligou para Dilma Rousseff, recém-nomeada presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, o “banco dos Brics”). Era cedo em Xangai e ela parou de fazer seu exercício de bicicleta para lhe dar a notícia de que o presidente, Xi Jinping, enviaria seu chanceler para falar com ela sobre como o banco poderia “ajudar a Argentina”.

O país vizinho não é sócio do banco. Mesmo que fosse, o NDB não é uma instituição de resgate financeiro, mas de custeio de projetos de infraestrutura. A governança do banco pode estar ameaçada.

Lula prometeu pedir ao FMI, esse sim o credor de última instância, “tirar a faca do pescoço” da Argentina. “O FMI sabe como a Argentina contraiu a dívida e não pode continuar pressionando um país que só quer crescer.”

O FMI já negociou com a Argentina vários planos de resgate nas últimas décadas. Todos fracassaram, porque o país não cumpriu sua parte: equilibrar as contas públicas. Em 15 desses 20 anos, a Argentina foi governada por companheiros de esquerda: Néstor e Cristina Kirchner e o próprio Fernández.

As declarações de Lula ao lado do presidente argentino, Alberto Fernández, após reunião e jantar, na terça-feira, criaram um espetáculo constrangedor. Fernández foi humilhado, tratado como mendigo que ademais sai de mãos vazias, enquanto Lula fazia promessas impossíveis de cumprir.

“A reunião foi longa, difícil, e ainda teremos muitas outras reuniões dessa”, avisou Lula. “Do ponto de vista político, me comprometi com meu amigo que vou fazer todo e qualquer sacrifício para ajudar a Argentina neste momento difícil.”

Lula arrematou: “Alberto Fernández é um companheiro que chegou aqui muito apreensivo e vai voltar mais tranquilo, é verdade, sem dinheiro”. Enquanto Lula se divertia, o presidente argentino sorria sem graça, sem dizer palavra.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (direita) durante reunião com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, no começo do mês; tentativa de conseguir dinheiro  Foto: Wilton Junior / Estadão

Na véspera, os ministros da Fazenda dos dois países, Fernando Haddad e Sergio Massa, haviam conversado longamente por videoconferência, ladeados de seus assessores. E não haviam chegado ao que Haddad chamou de “equação” para garantir que os exportadores brasileiros “não tenham problemas para receber”.

A Argentina não tem dólares para importar o que necessita. Na cotação oficial, o dólar se valorizou quase 100% frente ao peso nos últimos 12 meses. Nenhum país, nem mesmo a China, com sua influência crescente sobre o vizinho, que lhe valeu o apelido de “Argenchina”, aceitaria uma moeda que derrete a cada dia.

O que a China tem feito é o tradicional escambo: a troca de manufaturados por soja e carne argentinas. Como se trata de commodities, o preço é cotado em dólares e se faz o crédito que permite à Argentina comprar os produtos chineses. Foi dessa forma que a China ultrapassou o Brasil como maior parceiro comercial da Argentina.

Lula contou que, durante a reunião com Fernández, ligou para Dilma Rousseff, recém-nomeada presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, o “banco dos Brics”). Era cedo em Xangai e ela parou de fazer seu exercício de bicicleta para lhe dar a notícia de que o presidente, Xi Jinping, enviaria seu chanceler para falar com ela sobre como o banco poderia “ajudar a Argentina”.

O país vizinho não é sócio do banco. Mesmo que fosse, o NDB não é uma instituição de resgate financeiro, mas de custeio de projetos de infraestrutura. A governança do banco pode estar ameaçada.

Lula prometeu pedir ao FMI, esse sim o credor de última instância, “tirar a faca do pescoço” da Argentina. “O FMI sabe como a Argentina contraiu a dívida e não pode continuar pressionando um país que só quer crescer.”

O FMI já negociou com a Argentina vários planos de resgate nas últimas décadas. Todos fracassaram, porque o país não cumpriu sua parte: equilibrar as contas públicas. Em 15 desses 20 anos, a Argentina foi governada por companheiros de esquerda: Néstor e Cristina Kirchner e o próprio Fernández.

As declarações de Lula ao lado do presidente argentino, Alberto Fernández, após reunião e jantar, na terça-feira, criaram um espetáculo constrangedor. Fernández foi humilhado, tratado como mendigo que ademais sai de mãos vazias, enquanto Lula fazia promessas impossíveis de cumprir.

“A reunião foi longa, difícil, e ainda teremos muitas outras reuniões dessa”, avisou Lula. “Do ponto de vista político, me comprometi com meu amigo que vou fazer todo e qualquer sacrifício para ajudar a Argentina neste momento difícil.”

Lula arrematou: “Alberto Fernández é um companheiro que chegou aqui muito apreensivo e vai voltar mais tranquilo, é verdade, sem dinheiro”. Enquanto Lula se divertia, o presidente argentino sorria sem graça, sem dizer palavra.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (direita) durante reunião com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, no começo do mês; tentativa de conseguir dinheiro  Foto: Wilton Junior / Estadão

Na véspera, os ministros da Fazenda dos dois países, Fernando Haddad e Sergio Massa, haviam conversado longamente por videoconferência, ladeados de seus assessores. E não haviam chegado ao que Haddad chamou de “equação” para garantir que os exportadores brasileiros “não tenham problemas para receber”.

A Argentina não tem dólares para importar o que necessita. Na cotação oficial, o dólar se valorizou quase 100% frente ao peso nos últimos 12 meses. Nenhum país, nem mesmo a China, com sua influência crescente sobre o vizinho, que lhe valeu o apelido de “Argenchina”, aceitaria uma moeda que derrete a cada dia.

O que a China tem feito é o tradicional escambo: a troca de manufaturados por soja e carne argentinas. Como se trata de commodities, o preço é cotado em dólares e se faz o crédito que permite à Argentina comprar os produtos chineses. Foi dessa forma que a China ultrapassou o Brasil como maior parceiro comercial da Argentina.

Lula contou que, durante a reunião com Fernández, ligou para Dilma Rousseff, recém-nomeada presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, o “banco dos Brics”). Era cedo em Xangai e ela parou de fazer seu exercício de bicicleta para lhe dar a notícia de que o presidente, Xi Jinping, enviaria seu chanceler para falar com ela sobre como o banco poderia “ajudar a Argentina”.

O país vizinho não é sócio do banco. Mesmo que fosse, o NDB não é uma instituição de resgate financeiro, mas de custeio de projetos de infraestrutura. A governança do banco pode estar ameaçada.

Lula prometeu pedir ao FMI, esse sim o credor de última instância, “tirar a faca do pescoço” da Argentina. “O FMI sabe como a Argentina contraiu a dívida e não pode continuar pressionando um país que só quer crescer.”

O FMI já negociou com a Argentina vários planos de resgate nas últimas décadas. Todos fracassaram, porque o país não cumpriu sua parte: equilibrar as contas públicas. Em 15 desses 20 anos, a Argentina foi governada por companheiros de esquerda: Néstor e Cristina Kirchner e o próprio Fernández.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.