Com as candidaturas de Donald Trump e Joe Biden praticamente asseguradas, esta Superterça funcionou como uma grande pesquisa do mundo real para medir as chances de cada um deles na eleição presidencial de 5 de novembro. O que farão os eleitores republicanos de Nikki Haley, quando ela desistir das primárias? Até onde vai o descontentamento de negros, latinos, jovens, esquerdistas, árabes e muçulmanos que deram vitória a Biden em 2020?
Não haverá tomada de pulso do eleitor real mais ampla do que a desta terça-feira, quando mais de um terço dos delegados dos dois partidos for eleito em 15 dos 50 Estados americanos. Será necessário mais tempo para digerir todos os dados (e voltarei com a análise definitiva no fim de semana). Mas, numa análise a quente, a tomada de temperatura expõe mais fragilidades de Trump, o favorito nas pesquisas.
Dos 50 Estados americanos, 6 são considerados “pêndulos”, que oscilam entre vitórias de democratas e republicanos: Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. Outros dois atraem a atenção porque tiveram resultados com margens de menos de 3 pontos porcentuais em 2020: Carolina do Norte e Nevada. Além desses, Virgínia também é interessante por causa de seu eleitorado republicano moderado, embora o Estado tenha elegido democratas desde a primeira eleição de Barack Obama, em 2008.
Carolina do Norte e Virgínia estiveram na Superterça, que incluiu Califórnia e Texas, os dois maiores eleitorados do país. Mas, nesses casos, com resultados absolutamente previsíveis: a maioria dos californianos elege democratas e dos texanos, republicanos.
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Na Virgínia, a CNN projetava uma vitória de Trump por 63% a 35%, o que representa mais um desempenho robusto da desafiante do ex-presidente. Eleitores republicanos que votaram em Haley nas primárias dizem que votarão em Biden na eleição. Na Carolina do Norte, a projeção da CNN era de 69% para Trump e 28% para Haley.
A pré-candidata republicana não fez promessas de continuar depois dessa Superterça e não tem compromissos de campanha a partir de agora. A continuidade dela na disputa dependerá, como sempre depende no caso das primárias, de os doadores seguirem financiando sua campanha.
Nos dois primeiros meses deste ano, Haley arrecadou o mesmo que Trump: cerca de US$ 28 milhões. Em janeiro, as doações para a ex-embaixadora na ONU no governo Trump superaram a de seu antigo chefe. Esse desempenho indica uma rejeição significativa a Trump no interior do Partido Republicano.
Em pesquisa de boca-de-urna da CNN, 36% dos republicanos da Virgínia disseram que, se Trump for confirmado candidato, ficarão insatisfeitos. Na na Carolina do Norte, esse índice foi de 24%.
Apenas 31% dos republicanos da Virgínia se declararam seguidores do movimento Maga (Faça a América Grande de Novo), liderado por Trump, e 39% na Carolina do Norte. À pergunta sobre se Trump seria adequado para a presidência se for condenado em um dos quatro processos em que é réu por 91 crimes, 40% dos republicanos que votaram nas primárias responderam que não na Virgínia 40% e 32%, Carolina do Norte.
Na Virgínia, 27% dos republicanos se declaram moderados e 8%, liberais. Na Carolina do Norte, 20% são moderados e 3%, liberais. Todos esses dados são consistentes no sentido de indicar que, nesses dois Estados críticos, há espaço para um terço ou um quarto dos republicanos votar em Biden ou, na hipóteses mais benigna para Trump, não sair para votar.
Antes dessa Superterça, Haley teve 43% dos votos em New Hampshire, 39% na Carolina do Sul, 27% no Michigan, 13% em Idaho, 63% em Washington DC, 14% em Dakota do Norte. Média até antes da Superterça: 32% contra 64% para Trump.
Biden estava com 89% dos votos na Virgínia e 90,5% na Carolina do Norte. Esse Estado prevê o voto de protesto, que somava 9,5%. O Iowa teve caucus antes da Superterça, mas o resultado saiu ontem. O Estado também possibilita o voto “descompromissado”, que somou 4%, em comparação com 91% dos votos no presidente.
Esses votos de democratas descontentes do Biden podem lhe fazer falta em alguns distritos na disputa com Trump em novembro. Por outro lado, eles não representam um crescimento do movimento iniciado no Michigan, onde os votos de protesto somaram 13%. Pela regra, se alcançarem 15%, esses votos elegem delegados contrários a Biden.
Em 2020, dois terços dos eleitores latinos e negros votaram em Biden. O presidente está perdendo parte desse eleitorado sobretudo, de baixa renda. Isso por causa da inflação, que no seu pico atingiu 9,1% em junho de 2022, e do juro aplicado pelo Banco Central para contê-la, que hoje está entre 5,25% e 5,50%. A inflação caiu para 3,1%. Mas os preços estacionaram em um patamar alto. Além disso, os juros aplicados em empréstimos pessoais subiram de 9,38% em 2021 para 12,35% em novembro de 2023.
Assim como acontece com os seguidores de Haley em relação a Trump, esses eleitores democratas podem votar no ex-presidente republicano, por considerar que a economia era melhor gerida no governo dele, ou simplesmente não sair de casa no dia 5 de novembro.
Essas nuances definirão quem será o próximo presidente americano.