É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Debate nos EUA aumenta a chance de Trump voltar à Casa Branca


Caso Trump vença as eleições, mundo poderá retroceder em relação à ordem internacional, à democracia, ao livre comércio e às mudanças climáticas

Por Lourival Sant'Anna

Depois do debate de quinta-feira, 27, a perspectiva de Donald Trump voltar à Casa Branca se torna ainda mais palpável. Se isso se materializar nas eleições de novembro, o mundo pode passar por importantes retrocessos, no que diz respeito à ordem internacional, à democracia, ao livre comércio e às mudanças climáticas.

Trump deixou claro no debate da CNN que pretende abandonar a Ucrânia e a Europa à própria sorte, frente ao imperialismo russo. Ele alegou que, a cada vez que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, visita os Estados Unidos, “ganha US$ 60 bilhões”. Pelos seus cálculos, os americanos contribuíram com o dobro dos europeus, embora a guerra seja no seu continente e as economias de ambos tenham o mesmo tamanho.

Na verdade, a assistência americana à Ucrânia soma US$ 175 bilhões, dos quais US$ 107 bilhões em ajuda direta e o restante, em ações de apoio ao esforço de guerra. Já os 27 países da União Europeia proporcionaram US$ 110 bilhões em ajuda financeira, militar, humanitária e a refugiados.

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Ex-presidente dos EUA Donald Trump durante debate com atual presidente Joe Biden Foto: Gerald Herbert/AP

O presidente Joe Biden rebateu dizendo que essa ajuda é em armas fabricadas nos Estados Unidos e que, sem ela, Vladimir Putin não pararia na Ucrânia, e invadiria aliados da Otan no Leste Europeu. A divisão representa uma inversão histórica de papéis entre os partidos Republicano e Democrata.

Tradicionalmente, os republicanos são fiscalmente conservadores, mas esse conservadorismo não se aplica à segurança nacional. George W. Bush, para ficar no caso mais recente, levou os Estados Unidos a enterrar trilhões de dólares no Afeganistão e no Iraque. Trump encampou uma característica democrata: a prioridade aos interesses mais domésticos e imediatos dos americanos.

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O único aliado que Trump se torna disposto a apoiar incondicionalmente continua sendo Israel. Biden argumentou que só quem quer a guerra é o Hamas. Trump rebateu que é Israel quem quer a guerra, e tem razão de querer. A predileção de Trump vai além de Israel: ele é amigo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, acusado de crimes de guerra em sua campanha na Faixa de Gaza.

Trump reafirmou sua habilidade de se relacionar com ditadores, como Putin, Xi Jinping e Kim Jong-un. Como muitas ideias que ele lança no ar, essa é carregada de ambivalência. Para seus seguidores, significa que ele saberia defender os Estados Unidos melhor contra esses adversários. Na realidade, Trump cultivou boas relações com os três, antes de ser frustrado por Kim nas negociações de paz e de culpar a China pela pandemia.

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O ex-presidente acusou Biden de não adotar as sobretaxações que ele impôs aos produtos chineses porque supostamente receberia dinheiro da China – uma de muitas acusações graves sem provas. Em contraste, Biden impôs restrições ao acesso da China a semicondutores sofisticados, cujas patentes são controladas pelos EUA, de forma a retardar o desenvolvimento tecnológico civil e militar do país rival. O atual presidente também abandonou a chamada ambiguidade estratégica e afirmou claramente que defenderia Taiwan – fabricante de 90% dos chips do mundo - em caso de invasão chinesa.

Trump retirou os Estados Unidos da Parceria Trans-Pacífico, arquitetada por Barack Obama para excluir a China do desenho das regras do comércio, serviços e investimentos na sua própria região e restante do mundo. Tudo isso é consequência da abordagem mercantilista, tática, e não estratégica, de Trump.

Por último, Trump defendeu a ruptura do Acordo de Paris, por ele promovida, e revertida por Biden. Na visão dele, não é justo os Estados Unidos, segundo maior poluidor do mundo, arcarem muito mais com os custos das mudanças climáticas e da transição energética do que a China, maior poluidora. O critério, justo ou não, é o grau de desenvolvimento de cada país.

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Enfraquecimento geopolítico dos EUA

O conjunto dessas posições resulta no enfraquecimento moral e geopolítico dos EUA e consequente fortalecimento do eixo de ditaduras formado por China, Rússia, Coreia do Norte e Irã. Essas posições confirmam a imagem dos EUA como potência egoísta e incoerente, que dita regras para o mundo mas não as cumpre e impõe seus interesses pela força militar e econômica.

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Essas posições deixam ditaduras expansionistas como a China e a Rússia mais à vontade, tanto do ponto de vista militar quanto moral, para impor seus desejos pela força bruta, enquanto valores morais, democracia e direitos humanos perdem a força como critérios nas relações internacionais.

Paradoxalmente, por tudo isso, a eleição de Trump beneficia o presidente Lula, que se alinha a essas ditaduras na contestação da liderança americana e dos valores ocidentais.

Depois do debate de quinta-feira, 27, a perspectiva de Donald Trump voltar à Casa Branca se torna ainda mais palpável. Se isso se materializar nas eleições de novembro, o mundo pode passar por importantes retrocessos, no que diz respeito à ordem internacional, à democracia, ao livre comércio e às mudanças climáticas.

Trump deixou claro no debate da CNN que pretende abandonar a Ucrânia e a Europa à própria sorte, frente ao imperialismo russo. Ele alegou que, a cada vez que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, visita os Estados Unidos, “ganha US$ 60 bilhões”. Pelos seus cálculos, os americanos contribuíram com o dobro dos europeus, embora a guerra seja no seu continente e as economias de ambos tenham o mesmo tamanho.

Na verdade, a assistência americana à Ucrânia soma US$ 175 bilhões, dos quais US$ 107 bilhões em ajuda direta e o restante, em ações de apoio ao esforço de guerra. Já os 27 países da União Europeia proporcionaram US$ 110 bilhões em ajuda financeira, militar, humanitária e a refugiados.

Ex-presidente dos EUA Donald Trump durante debate com atual presidente Joe Biden Foto: Gerald Herbert/AP

O presidente Joe Biden rebateu dizendo que essa ajuda é em armas fabricadas nos Estados Unidos e que, sem ela, Vladimir Putin não pararia na Ucrânia, e invadiria aliados da Otan no Leste Europeu. A divisão representa uma inversão histórica de papéis entre os partidos Republicano e Democrata.

Tradicionalmente, os republicanos são fiscalmente conservadores, mas esse conservadorismo não se aplica à segurança nacional. George W. Bush, para ficar no caso mais recente, levou os Estados Unidos a enterrar trilhões de dólares no Afeganistão e no Iraque. Trump encampou uma característica democrata: a prioridade aos interesses mais domésticos e imediatos dos americanos.

O único aliado que Trump se torna disposto a apoiar incondicionalmente continua sendo Israel. Biden argumentou que só quem quer a guerra é o Hamas. Trump rebateu que é Israel quem quer a guerra, e tem razão de querer. A predileção de Trump vai além de Israel: ele é amigo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, acusado de crimes de guerra em sua campanha na Faixa de Gaza.

Trump reafirmou sua habilidade de se relacionar com ditadores, como Putin, Xi Jinping e Kim Jong-un. Como muitas ideias que ele lança no ar, essa é carregada de ambivalência. Para seus seguidores, significa que ele saberia defender os Estados Unidos melhor contra esses adversários. Na realidade, Trump cultivou boas relações com os três, antes de ser frustrado por Kim nas negociações de paz e de culpar a China pela pandemia.

O ex-presidente acusou Biden de não adotar as sobretaxações que ele impôs aos produtos chineses porque supostamente receberia dinheiro da China – uma de muitas acusações graves sem provas. Em contraste, Biden impôs restrições ao acesso da China a semicondutores sofisticados, cujas patentes são controladas pelos EUA, de forma a retardar o desenvolvimento tecnológico civil e militar do país rival. O atual presidente também abandonou a chamada ambiguidade estratégica e afirmou claramente que defenderia Taiwan – fabricante de 90% dos chips do mundo - em caso de invasão chinesa.

Trump retirou os Estados Unidos da Parceria Trans-Pacífico, arquitetada por Barack Obama para excluir a China do desenho das regras do comércio, serviços e investimentos na sua própria região e restante do mundo. Tudo isso é consequência da abordagem mercantilista, tática, e não estratégica, de Trump.

Por último, Trump defendeu a ruptura do Acordo de Paris, por ele promovida, e revertida por Biden. Na visão dele, não é justo os Estados Unidos, segundo maior poluidor do mundo, arcarem muito mais com os custos das mudanças climáticas e da transição energética do que a China, maior poluidora. O critério, justo ou não, é o grau de desenvolvimento de cada país.

Enfraquecimento geopolítico dos EUA

O conjunto dessas posições resulta no enfraquecimento moral e geopolítico dos EUA e consequente fortalecimento do eixo de ditaduras formado por China, Rússia, Coreia do Norte e Irã. Essas posições confirmam a imagem dos EUA como potência egoísta e incoerente, que dita regras para o mundo mas não as cumpre e impõe seus interesses pela força militar e econômica.

Essas posições deixam ditaduras expansionistas como a China e a Rússia mais à vontade, tanto do ponto de vista militar quanto moral, para impor seus desejos pela força bruta, enquanto valores morais, democracia e direitos humanos perdem a força como critérios nas relações internacionais.

Paradoxalmente, por tudo isso, a eleição de Trump beneficia o presidente Lula, que se alinha a essas ditaduras na contestação da liderança americana e dos valores ocidentais.

Depois do debate de quinta-feira, 27, a perspectiva de Donald Trump voltar à Casa Branca se torna ainda mais palpável. Se isso se materializar nas eleições de novembro, o mundo pode passar por importantes retrocessos, no que diz respeito à ordem internacional, à democracia, ao livre comércio e às mudanças climáticas.

Trump deixou claro no debate da CNN que pretende abandonar a Ucrânia e a Europa à própria sorte, frente ao imperialismo russo. Ele alegou que, a cada vez que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, visita os Estados Unidos, “ganha US$ 60 bilhões”. Pelos seus cálculos, os americanos contribuíram com o dobro dos europeus, embora a guerra seja no seu continente e as economias de ambos tenham o mesmo tamanho.

Na verdade, a assistência americana à Ucrânia soma US$ 175 bilhões, dos quais US$ 107 bilhões em ajuda direta e o restante, em ações de apoio ao esforço de guerra. Já os 27 países da União Europeia proporcionaram US$ 110 bilhões em ajuda financeira, militar, humanitária e a refugiados.

Ex-presidente dos EUA Donald Trump durante debate com atual presidente Joe Biden Foto: Gerald Herbert/AP

O presidente Joe Biden rebateu dizendo que essa ajuda é em armas fabricadas nos Estados Unidos e que, sem ela, Vladimir Putin não pararia na Ucrânia, e invadiria aliados da Otan no Leste Europeu. A divisão representa uma inversão histórica de papéis entre os partidos Republicano e Democrata.

Tradicionalmente, os republicanos são fiscalmente conservadores, mas esse conservadorismo não se aplica à segurança nacional. George W. Bush, para ficar no caso mais recente, levou os Estados Unidos a enterrar trilhões de dólares no Afeganistão e no Iraque. Trump encampou uma característica democrata: a prioridade aos interesses mais domésticos e imediatos dos americanos.

O único aliado que Trump se torna disposto a apoiar incondicionalmente continua sendo Israel. Biden argumentou que só quem quer a guerra é o Hamas. Trump rebateu que é Israel quem quer a guerra, e tem razão de querer. A predileção de Trump vai além de Israel: ele é amigo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, acusado de crimes de guerra em sua campanha na Faixa de Gaza.

Trump reafirmou sua habilidade de se relacionar com ditadores, como Putin, Xi Jinping e Kim Jong-un. Como muitas ideias que ele lança no ar, essa é carregada de ambivalência. Para seus seguidores, significa que ele saberia defender os Estados Unidos melhor contra esses adversários. Na realidade, Trump cultivou boas relações com os três, antes de ser frustrado por Kim nas negociações de paz e de culpar a China pela pandemia.

O ex-presidente acusou Biden de não adotar as sobretaxações que ele impôs aos produtos chineses porque supostamente receberia dinheiro da China – uma de muitas acusações graves sem provas. Em contraste, Biden impôs restrições ao acesso da China a semicondutores sofisticados, cujas patentes são controladas pelos EUA, de forma a retardar o desenvolvimento tecnológico civil e militar do país rival. O atual presidente também abandonou a chamada ambiguidade estratégica e afirmou claramente que defenderia Taiwan – fabricante de 90% dos chips do mundo - em caso de invasão chinesa.

Trump retirou os Estados Unidos da Parceria Trans-Pacífico, arquitetada por Barack Obama para excluir a China do desenho das regras do comércio, serviços e investimentos na sua própria região e restante do mundo. Tudo isso é consequência da abordagem mercantilista, tática, e não estratégica, de Trump.

Por último, Trump defendeu a ruptura do Acordo de Paris, por ele promovida, e revertida por Biden. Na visão dele, não é justo os Estados Unidos, segundo maior poluidor do mundo, arcarem muito mais com os custos das mudanças climáticas e da transição energética do que a China, maior poluidora. O critério, justo ou não, é o grau de desenvolvimento de cada país.

Enfraquecimento geopolítico dos EUA

O conjunto dessas posições resulta no enfraquecimento moral e geopolítico dos EUA e consequente fortalecimento do eixo de ditaduras formado por China, Rússia, Coreia do Norte e Irã. Essas posições confirmam a imagem dos EUA como potência egoísta e incoerente, que dita regras para o mundo mas não as cumpre e impõe seus interesses pela força militar e econômica.

Essas posições deixam ditaduras expansionistas como a China e a Rússia mais à vontade, tanto do ponto de vista militar quanto moral, para impor seus desejos pela força bruta, enquanto valores morais, democracia e direitos humanos perdem a força como critérios nas relações internacionais.

Paradoxalmente, por tudo isso, a eleição de Trump beneficia o presidente Lula, que se alinha a essas ditaduras na contestação da liderança americana e dos valores ocidentais.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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