A decisão de Mark Zuckerberg de eliminar a curadoria de conteúdos nas redes sociais da Meta — Facebook, Instagram e Threads — por meio da verificação de fatos representa um ataque à liberdade, ao contrário do que seus defensores argumentam.
Milênios de experiência demonstram que a ausência de limites e de regras para o convívio social faz prevalecer a lei do mais forte e, com ela, a tirania. A única liberdade que resta é a de quem tem mais poder, por meio da força bruta, do domínio econômico e da capacidade de manipulação.
A palavra censura só pode ser aplicada à supressão da liberdade de expressar algo que não viole direitos fundamentais. Noutras palavras, a liberdade de expressão só é um direito quando o conteúdo que transmite não ameaça outros direitos.
No vídeo em que anunciou a substituição da checagem de fatos pelos comentários dos usuários, Zuckerberg exemplificou a imigração e o gênero como temas que não serão mais objeto de filtragem. As duas frentes criam amplo espaço para o discurso de ódio. A primeira interessa a Donald Trump e a segunda, a Elon Musk — as duas figuras mais poderosas do país, que ele quer agradar.
Trump tem dito que os imigrantes “envenenam o sangue da América”. Na convenção republicana, espalhou a mentira de que imigrantes haitianos estavam comendo bichos de estimação em uma cidade do Ohio.
A retirada das restrições impulsionará a exclusão e a violência contra pessoas que, por sua orientação sexual ou de gênero, serão tratadas como aberrações. Isso viola uma liberdade fundamental, de as pessoas serem quem elas são. Musk tem uma filha transgênero e está numa cruzada contra a liberdade de gênero.
Para não deixar dúvidas, Zuckerberg transferirá as equipes de moderação da Califórnia, Estado liberal, para o Texas, conservador.
O sistema de moderação do antigo Twitter — eliminado por Musk — e da Meta não pode ser considerado censura porque não impede o acesso aos conteúdos. Mediante a constatação de informação factualmente falsa, que possa prejudicar outras pessoas, ele coloca um selo na postagem avisando sobre isso, e reduz o impulso do algoritmo. A publicação continua disponível e pode ser compartilhada.
É evidente que esse sistema não é perfeito, como nenhum outro é, e pode eventualmente sofrer a influência do viés ideológico de quem o opera. Mas esse é um dano menor e mais fácil de corrigir do que o seu contrário: a proliferação descontrolada da mentira e do ódio.
Musk e Zuckerberg estão beneficiando quem usa intencionalmente as redes sociais para mentir e espalhar o ódio, e transferindo o ônus de se proteger para as parcelas mais vulneráveis da sociedade.